La ventana de mi piso en Barcelona (obsessão minha por janelas) |
Sempre que viajo gosto de fazer as coisas que são comuns
àqueles que vivem onde estou. Então, ir ao mercado, à farmácia, andar pelo
bairro, usar os transportes públicos e ver as pessoas em suas rotinas sempre me
agrada muito. Gosto disso porque são
nestes momentos e lugares, muito mais e profundamente do que nos monumentos históricos,
que vemos o quão diferente a vida pode ser. Apenas daí percebe-se claramente
que este mundo não é o seu e que tudo o que nos é óbvio e corriqueiro deixa de
ser.
Claro que de uma boa distância, algo como uma visão macro,
todos somos iguais sempre. Hoje, passeando pelo bairro, vi as crianças saindo
da escola e aqui, como na minha terra, vemos as meninas pequenas de mãos dadas
a sair uniformizadas e falantes pelas calçadas com suas mães caminhando perto
delas, ao passo que os meninos vão a correr e brincar enquanto suas mães lhes
gritam que esperem. Tudo isso acontece no Brasil também, mas, aqui, assusta-me
a facilidade com que as mães deixam as crianças bem pequenas a correr soltas
pelas calçadas. E fica a impressão que elas são muito mais independentes e
responsáveis do que os nossos meninos. Talvez?
Ir ao mercado é sempre um espetáculo à parte, um assombro e
um momento para muitos descobrimentos. Ou não descobrimentos porque há coisas
que, simplesmente, não encontramos jamais. Como, por exemplo, um pano de prato
ou de chão feito de saco na Espanha e um coador de café no Chile. E me
pergunto: Deus do céu, como se seca a louça ou faz-se café nestes lugares?
Dúvidas aparecem o tempo todo e tem-se que aprender como
fazer coisas simples como colocar o lixo na rua, abrir a porta dos trens no
metrô e entender um endereço. E, assim, vendo a vida dos outros de perto, me
sinto cada vez mais brasileira. E me dá uma saudade danada do Pão de Açúcar que
eu tanto conheço depois de dar várias voltas no supermercado para encontrar
detergente ou arroz, e a expressão “peixe fora d’água” se aplica tão bem neste
momento que até dói, afinal, onde está tudo aquilo que eu costumo ter à mão?
Cadê a tal da globalização?
Porém, e apesar do sofrimento com o sono que não se encontra
com a noite que chega muito antes com este “jet lag” de cinco horas e “otras
cositas más”, ver um mundo pensado e criado por outros olhos é um exercício que
todos deveríamos fazer. É genial poder caminhar pelas ruas a qualquer hora da
noite ou do dia sem perigo algum, perceber o respeito e a noção clara de
cidadania que todos têm e ver como, delicadamente, a história desta gente ainda
está presente em todo canto por aqui.
Viver, mesmo que seja um pouco, noutro país abre os olhos e a
alma da gente e nos faz entender melhor o quão incomum e, por isso mesmo,
precioso é o viver de todas as gentes.
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