Hoje fui acordada pelo Sete de Setembro
a entrar pela janela aberta do meu quarto às sete da manhã. E eu a sentir uma
raiva absurda desta mania de soldado de acordar cedo; já não basta o castigo de
ter que lutar em guerras, não? Estas pobres almas têm que acordar cedo todos os
dias, sempre, também? E fica a dúvida: guerra só se faz pela manhã? Sendo muito
sincera, nem mesmo se eu fosse a mais patriótica das mulheres essa teria sido
uma experiência prazerosa. Pois, por mais que eu goste de música, isso de gente
marchando ao som dos tambores está para meus ouvidos como os estridentes
despertadores da minha infância a acordar cedíssimo para estar às 07:15 no
colégio: Desagradáveis.
E passam homens vestidos com seus
uniformes verdes, brancos e azuis, tão simétricos e parecidos com seu andar
nada natural que chamamos de marcha; tão parecidos entre si que mais parecem
brinquedos de corda todos idênticos daqui do apartamento. E passam estudantes que
chegaram até a Avenida Beira Mar em ônibus vindos, todos eles, de escolas
públicas. Porque no Brasil, como em todos os outros países deste mundo, o amor
à Pátria é proporcionalmente maior quanto menor for o poder aquisitivo do
cidadão quando a questão é ir dar a cara à tapa e arriscar a vida. Os meninos
das escolas particulares estão, como eu, por aí: viajando, descansando,
dormindo ou aproveitando o feriadão para fazer o que mais lhes dá prazer.
E já são quase 04 horas de
desfile e eu começo a me sentir em Cuba, na China ou na antiga União Soviética,
terras nada democráticas e artificialmente patrióticas com seus desfiles e
discursos de horas e horas feitos sob medida para povos que não podiam dar-se
ao luxo de pensar. Mas hoje, tudo é muito diferente. A União se desfez, Fidel não
discursa mais para ninguém, a China de comunista só tem o nome e no Brasil o
fato de uma mulher ser a presidente não causa nenhum estranhamento. Quem diria?
E passa banda marcial, carro de
polícia e caminhão do exército, em dia de festa, em alto e bom som a concorrer
com o Chico Buarque que toca no meu computador. Vencem as sirenes e tambores
que parecem que ainda soarão por muito tempo. Agora começo a me arrepender por
não ter descido de bandeira verde-amarela na mão para fazer número no desfile,
afinal, me é impossível não fazer parte dele mesmo estando dentro da minha
casa. Será? E uma pergunta me vem à mente: será que estas viaturas têm mesmo
que desfilar com as sirenes ligadas? Não bastava passarem bem quietinhas e
imponentes num patriotismo mais discreto? Tem que fazer este barulho todo para
mostrar o quê, hein? Pelo amor de Deus!
Pode até parecer que não gosto do
meu país por toda esta minha má vontade para com o dever cívico e patriótico. Eu
sei. Mas não é bem assim não. Gosto muito de ser brasileira, de fazer parte
deste povo mesclado e misturado de cultura rica, múltipla e interessantíssima. Um
povo de fala doce e que nasceu para dançar e cantar muito mais do que para a
guerra para a minha alegria. Contudo, queria ver neste dia tanto o país quanto
seus cidadãos fazendo algo mais importante do que desfilar sob um sol e um
calor terríveis numa manhã de feriado.
Queria ver uma batalha por melhores
escolas, por um país mais justo para todos, por uma justiça imparcial e efetiva
sempre, pelo respeito às individualidades tanto quanto ao bem comum e social. Por um punhado de coisas que fazem muita falta
à Nação. Mas, e apesar de ter mudado muito nos últimos anos, nem o mundo nem o
Brasil dos desfiles, futebol, carnaval e todos os seus eteceteras e tais, mudou
tanto assim. Bora desfilar?
Beijo e bom feriado verde-amarelo
a todos.
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