segunda-feira, 24 de setembro de 2012

De Lisboa a Barcelona




Quando escrevi sobre Lisboa disse que para mim ela era ainda uma cidade sem som, tão calma e quieta que se mostrou em minha chegada. Agora, pensando um pouco nisso, percebo que o quê me fez falta foram os típicos sons de uma cidade grande para nós brasileiros. Em Lisboa, pelo menos no fim de semana, não se percebe o som de carros a arrancar, buzinas e afins. O som que ela me trouxe foi o da música e o da poesia brasileira e portuguesa num festival que ocorre na cidade. Para os portugueses e para mim começou o ano do Brasil em Portugal. O Rossio foi um pedaço do Brasil, e eu nele.

Já Barcelona apresentou-se de uma forma completamente diferente, talvez porque saiba que será minha casa por três semanas. Aqui tudo foi som. Descubro a primeira vantagem, e talvez a melhor delas, que temos ao viajar sozinhos: conhecer gente. Pois, menos de vinte e quatro horas depois de minha chegada, já conheço quatro brasileiros, dois alemães, uma peruana, um venezuelano, uma holandesa e um mexicano. Com eles vem muita conversa, risadas, música e uma festa pela frente.

Pessoas que entram e saem de nossas vidas feito chuva no sertão: elas são passageiras, mas enquanto caem são uma graça verdadeira.  Tudo isso graças à Gabriela, paulista e corintiana, que em poucas horas me apresentou a toda essa gente. E pela primeira vez sinto aquilo que todos os outros falam do povo brasileiro: somos acolhedores e simpáticos por natureza.

A cidade está no meio do Festival de La Merce, uma das festas mais importantes da cidade que acontece nas ruas durante quase quatro dias; algo como um carnaval catalão com desfiles de bonecos gigantes, apresentações acrobáticas e pirotécnicas e música, claro. Alguém já viu festa sem música?

Ontem pela noite ocorreu o Correfog que consiste em homens e mulheres vestidos de diabo a correr pelas ruas com tridentes em chamas, seguidos por dragões e bandas com percursionistas.  A diversão está em colocar-se frente às chamas dos fogos de artifício com alguma proteção, e dançar abraçado aos diabos que passam pela rua. Eu, sem grandes intenções de abraçar o diabo mesmo em Barcelona, vi a festa da calçada e me lembrei das lutas de espadas de fogo, típicas do nordeste brasileiro, e dos festivais chineses com seus dragões. Quanto mais se anda, mais se percebe que este mundo é mesmo um só. Ficou a primeira impressão de Barcelona: eles são mesmo muito malucos.

Um beijo e saudades de todos


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