Quando escrevi sobre Lisboa disse
que para mim ela era ainda uma cidade sem som, tão calma e quieta que se
mostrou em minha chegada. Agora, pensando um pouco nisso, percebo que o quê me
fez falta foram os típicos sons de uma cidade grande para nós brasileiros. Em
Lisboa, pelo menos no fim de semana, não se percebe o som de carros a arrancar,
buzinas e afins. O som que ela me trouxe foi o da música e o da poesia brasileira
e portuguesa num festival que ocorre na cidade. Para os portugueses e para mim
começou o ano do Brasil em Portugal. O Rossio foi um pedaço do Brasil, e eu
nele.
Já Barcelona apresentou-se de uma
forma completamente diferente, talvez porque saiba que será minha casa por três
semanas. Aqui tudo foi som. Descubro a primeira vantagem, e talvez a melhor
delas, que temos ao viajar sozinhos: conhecer gente. Pois, menos de vinte e
quatro horas depois de minha chegada, já conheço quatro brasileiros, dois
alemães, uma peruana, um venezuelano, uma holandesa e um mexicano. Com eles vem
muita conversa, risadas, música e uma festa pela frente.
Pessoas que entram e saem de nossas
vidas feito chuva no sertão: elas são passageiras, mas enquanto caem são uma
graça verdadeira. Tudo isso graças à Gabriela,
paulista e corintiana, que em poucas horas me apresentou a toda essa gente. E pela
primeira vez sinto aquilo que todos os outros falam do povo brasileiro: somos
acolhedores e simpáticos por natureza.
A cidade está no meio do Festival
de La Merce, uma das festas mais importantes da cidade que acontece nas ruas
durante quase quatro dias; algo como um carnaval catalão com desfiles de
bonecos gigantes, apresentações acrobáticas e pirotécnicas e música, claro. Alguém
já viu festa sem música?
Ontem pela noite ocorreu o
Correfog que consiste em homens e mulheres vestidos de diabo a correr pelas
ruas com tridentes em chamas, seguidos por dragões e bandas com
percursionistas. A diversão está em
colocar-se frente às chamas dos fogos de artifício com alguma proteção, e
dançar abraçado aos diabos que passam pela rua. Eu, sem grandes intenções de
abraçar o diabo mesmo em Barcelona, vi a festa da calçada e me lembrei das
lutas de espadas de fogo, típicas do nordeste brasileiro, e dos festivais
chineses com seus dragões. Quanto mais se anda, mais se percebe que este mundo
é mesmo um só. Ficou a primeira impressão de Barcelona: eles são mesmo muito
malucos.
Um beijo e saudades de todos
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