Somos tantos e tão múltiplos,
nada únicos nesta falsa unidade
que aparenta ter todo o ser,
que pergunto-me se te reconhecerei
quando passar por ti.
Mesmo conhecendo tanto
tudo que de ti faz parte e me toca:
conheço teus olhos, o formato do nariz,
o tamanho da boca, a curva do queixo,
o desenho pouco
definido das
sobrancelhas.
Mesmo assim, não sei se te reconhecerei quando te vir.
Será o mesmo homem que me habita desde muito tempo
ou um estranho de quem mal sei o nome?
Duvido que me reconhecerás e que, mesmo em ato impensado,
virarás a cabeça quanto por ti eu passar.
Nem mesmo a esse simples gesto reflexo terei direito,
e passarei por ti feito fantasma
fazendo jus a falta de importância da pouca massa
que constitui o meu corpo.
Não existo em tudo o que realmente sou. Sou apenas palavras.
E, tal fantasma, não a de me ver passar.
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