Noutro dia li algo que me trouxe
um desconforto diferente, novo. Numa placa no meio de uma praça em Montevideo
lia-se: “Me estoy felizmente desacostumbrando de mí.”. Pensei o quão bom seria
se, por apenas alguns dias de vez em quando, pudéssemos nos esquecer de quem
somos; esquecer tudo que nos incomoda, estorva. Sei que este não é o significado
da frase em si, mas foi o que me veio à mente.
Veio-me porque a tal frase
remeteu-me a algo dito há quase um ano atrás por alguém muito importante para.
Disse-me, um tanto indiretamente, que meu problema era querer encontrar alguém
nesta vida que me salvasse de mim mesma. E dá-me uma raiva ainda lembrar-me
disso como se fora dito ontem. Por que eu não me esqueço das coisas? Por que,
simplesmente, não as deixo para trás? Eu seria tão mais feliz se tivesse esta
capacidade camaleônica de transformar-me de maneira mais rápida. Seria tão bom
acostumar-me com uma nova versão de mim mesma.
Pois, um ano depois ainda custa-me
caro aguentar-me como sou: uma composição irônica de sonhadora-teimosa com
direito a veia dramática e etecetera e tal. E a ideia de movimento que a frase
da praça preconiza parece-me à tábua de minha salvação particular. Quão bom
seria eu desacostumar-me de quem sou e, por isso, ser capaz de ser outra e
poder, verdadeiramente, mudar. Seria realmente muito bom.
Isso não quer dizer que não haja
nenhuma mudança, claro que não. Ela existe constante e determinada, mas não
profunda o bastante para tornar-me outra; como não ocorre com quase ninguém,
penso eu. Mudamos na velocidade de lesmas preguiçosas, e uma vida constitui
pouco tempo para muita coisa. Isso também não quer dizer que eu arrependa-me de
tudo que fiz na vida, claro que não 2. Não me arrependo. E, pelo contrário, como
boa teimosa, arrependo-me daquilo que não consegui fazer e continuo, feito mula
empacada, a acreditar que ainda tenho razão de querer todo o meu querer.
A verdade é que a vida como eu a sinto
e imagino, por vezes, está um tanto longe do real, e eu gostaria muito de ser
uma pessoa mais objetiva; realista. Talvez nem todo o tempo desta vida tenha a
capacidade de mudar-me tanto assim. Talvez. Contudo, imaginar-me outra é algo
no mínimo divertido, não? Por isso, sorrio todas as vezes que penso na tal
frase – “Me estoy felizmente desacostumbrando de mí.”.
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