terça-feira, 8 de outubro de 2013

incômodo


Hoje sinto grande inveja dos seres pequenos,
simples,
miúdos em seu existir tanto na forma quanto no conteúdo.
Seres com poucos quereres e cheios de paz
por sua capacidade de simplesmente serem quem são
sem decepções,
contradições,
segredos. Sem o tormento.
Queria ser inseto de vida curta e objetiva,
sem tempo para tanto pensar em suas parcas horas de existência e,
portanto,
completamente ignorante de sua miudeza.
Ser pássaro,
lagarto,
o gato que preguiçoso passa todas as tarde de inverno
a banhar-se de sol no telhado.
Um de meus vizinhos, alguém sem nome para mim e que morava
no edifício em frente,
                                    a apenas alguns passo daqui de casa,

jogou-se
do décimo
quarto
andar
há pouco mais de uma semana; e seu sangue ainda vivo depois dele virou poça que lentamente escorreu pelo chão.

Cansado da vida de gente, ele quis ser pássaro ou um inseto qualquer;
mas pássaros e qualquer inseto que se conheça
não se jogam de janelas, sejam elas altas ou baixas demais.
Homens não são pássaros ou insetos,
e o meu vizinho, hoje, causa-me admiração e medo
com sua covarde-coragem
de tentar voar.





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