Estamos às vésperas de um ano
novo. Lá vem 2018 a dizer-nos ao que veio em poucos dias, e a primeira coisa
que me assombra é perceber que já são 18 anos deste século onde a relatividade
do tempo parece-me uma realidade mais concreta. Tudo acontece
rápido demais e, ao mesmo tempo, em alguns casos, os minutos arrastam-se feito
lesma preguiçosa. Conectados numa rede infinita via Wi-fi sabemos de tudo o que
se passa no mundo quase que instantaneamente e, contudo, não conseguimos
resolver nossos problemas mais rapidamente. Não senhores.
Vivemos um tempo de guerras
eternas, crises econômicas sem fim, e de um retrocesso antidemocrático mundial mais
assustador do que qualquer filme de terror. Haja alho e galho de arruda para
afastar assombração nesses tempos nos quais as posições mais extremistas
parecem ser a melhor solução para muitos. Ave cruz virge crispim, como diria a
Céu. Não tem dó de mim.
Pois, apesar dessa impressão
horrorosa de que a humanidade está a dar passos para trás, a verdade é que há
muita gente boa por aí; e por aqui também. O negócio é não darmos tanta importância
àqueles que se acham gente importante na vida, e olharmos com mais cuidado e
atenção aos que estão do nosso lado. E se olharmos direitinho, não há como não
ver, há muita gente boa no pedaço. Gente de coração gigante, gente altruísta,
gente que está sempre disposta a nos apoiar, a ajudar.
Sendo assim, e apesar de toda a
porcaria que aconteceu no velho 2017, o fato é que se olharmos com mais
cuidado, de perto e bem divagar, podemos ver que a humanidade não está assim
tão perdida, e nem o nosso tempo. Apenas andamos a dar poder e importância demais
às pessoas erradas. E isso sim, isso devemos mudar.
Então, que venha 2018 e que nele
eu tenha mais tempo para dar atenção a quem realmente merece: à família, aos
amigos; aos meus queridos. Que este ano novo tenha mais sorte que os anteriores
e que não possamos estragá-lo muito antes que chegue ao seu fim. Oxalá!
O Brasil tem mais de 8,5 milhões
de quilômetros quadrados, exatamente, 8.514.875,5 Km2 de extensão territorial. Sendo
assim, e mesmo levando em consideração que somos quase 208 milhões de
brasileiros, não podemos dizer que falta-nos espaço. Não, não nos falta espaço.
Somos um gigante que ocupa quase a metade de todo o território da América do
Sul e o quinto maior país em extensão territorial do planeta. Pois 1, somos
grandes pra caramba!
Na fila esperando ser atendida
para resolver uma dessas pendências burocráticas da vida, revista Piauí nas
mãos, li mais uma vez um artigo sobre o Massacre de Pau D’Arco. Nele dez homens
e mulheres, trabalhadores rurais que lutavam pela reforma agrária, foram
assassinados numa emboscada por policiais civis e militares. Motivos e
motivações políticas à parte de ambos os lados da questão, o que pensar de um
país do tamanho do nosso que assassina aos seus cidadãos por disputa de terras?
Pois 2, somos grandes,
entretanto, estamos a centenas de anos-luz de sermos grandiosos. Como povo
temos nos mostrado, em grande parte, medíocres materialistas de caráter
duvidoso. Seres humanos de alma pequena, aplaudimos o fato de haver privilégios
para alguns poucos desde que sejamos um deles e ensinamos aos nossos filhos que
há sim cidadãos de segunda e terceira classe em nosso país através de nossas ações,
apesar do discurso politicamente correto que carregamos na ponta da língua para
mostrar que não.
No Brasil andamos a criticar muito aos norte-americanos,
aos europeus e a qualquer outro povo que não veja com bons olhos a chegada de
imigrantes às suas terras. Porém, em sincronicidade bipolar, tratamos de forma
abusiva e indigna aos cidadãos brasileiros em seu próprio país, negando aos
mais pobres, e por consequência mais indefesos, os direitos básicos de qualquer
cidadão.
Num país de gente míope, que vê com
bons olhos a possível eleição de um hipócrita à la Jair Bolsonaro, bradamos que
qualquer contraventor de origem pobre, do ladrãozinho de galinha ao grande traficante
seja condenado e morto sem julgamento
enquanto aplaudimos e reverenciamos aos políticos e/ou homens de negócio, donos
de mundos e fundos, que são os verdadeiros chefes do tráfico e os bandidos mais
perigosos desse país.
Eu, de minha parte, vejo minha
vergonha de ser brasileira crescer e crescer e crescer... Afinal o que sentir pelo
meu pais, brasil (grafado com letra minúscula propositalmente) o país dos privilégios
e das injustiças sociais? Dos 193 países nesse planeta imenso, o brasil figura entre um dos dez países de maior desigualdade socioeconômica de acordo com a ONU. Ou seja, em nossa pátria a única coisa grandiosa por estes dias é a pequenez da alma brasileira.
Pitadas de
Ariano Suassuna que morreu cedo, ainda muito jovem aos 87 anos. Ele me faz saudades há
03 anos. Saudades do brasileiro que foi e do escritor que sempre será. Saudades
de suas palavras que fazem minha alma sorrir. Contagem regressiva para que seu novo livro se poste diante de meus olhos. "Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores" são mil páginas escritas durante 33 anos, lançamento póstumo dele para a minha futura alegria.
Suassunices
“Que eu não
perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do
mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas.”
“Tenho duas
armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo
e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de
viver.”
“Cumpriu sua
sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do
nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala
tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo,
morre.”
In O Auto da
Compadecida
“O sonho é
que leva a gente para a frente. Se a gente for seguir a razão, fica aquietado,
acomodado.”
“O autor que
se julga um grande escritor, além de antipático é burro, imbecil. Um escritor
só pode ser julgado depois da sua morte. Muito tempo depois.”
Só o teu
nome é o que importa!
Todos os
outros são erros.
Tu tens a
chave da porta
dos sonhos e
pesadelos.
“O ser
humano é o mesmo em qualquer lugar, em qualquer tempo, em qualquer que seja a
sua condição. Você pode ser rico ou pobre, mas os problemas que afetam
verdadeiramente o ser humano são os mesmos.”
“Eu não tenho
imaginação, eu copio. Tenho simpatia por mentiroso e doido. Como sou do ramo,
identifico mentiroso logo.”
“Se os
alemães não leram Guimarães Rosa, Euclides da Cunha ou Machado de Assis, quem
perde são eles.”
“A
globalização é o novo nome do imperialismo, e o gosto médio é uma peste, é
muito pior do que o mau gosto.”
“Não tenho
medo (da morte). Só tenho medo de morrer sem terminar um livro que eu esteja
escrevendo; e não ter uma morte limpa. Eu quero pelo menos uma morte limpa.”
Quando eu era
muito mais jovem do que hoje, menina mesmo, a ideia de que algum dia, num
futuro longínquo, eu morreria assustava-me muito. Sentia-me em pânico, paralisada
pelo desespero que me dava a lembrança de que minha vida seria finita. Pois 1,
apesar de ser algo óbvio afinal todos morreremos um dia, a verdade é que
ignoramos que a morte seja algo real a maioria do tempo. A verdade é que sempre
achamos que temos mais tempo, e que sempre será cedo.
Como bem dizia
minha mãe: “não nascemos para ser semente”, ou seja, não estaremos aqui parados
em estado latente para sempre. A mudança é parte integrante de quem somos e está
impressa em nosso DNA, portanto, a transformação será Ad Eternum nossa sina. Nascemos para crescer, aprender e aprender
mais. Para nos transformarmos; para mudar uma e tantas outras vezes antes da
mudança definitivamente deste planeta.
Seremos então anjo, uma energia, alma penada, e etc. e tal.
Há alguns anos
perdi completamente o medo da morte, apesar de ainda temer muitas das maneiras de
morrer. Como canta Gilberto Gil: “Não
tenho medo da morte, mas sim medo de morrer... É que a morte já é depois que eu
deixar de respirar. Morrer ainda é aqui... Ainda pode haver dor ou vontade de
mijar.” Pois 2, com o passar do tempo eu aprendi e compreendi que a minha morte
será aquela menos sentida por mim. De mim mesma não sentirei saudades, não
haverá lágrimas nos meus olhos pela minha morte; e eu não sentirei falta do meu
abraço e de ouvir a minha própria voz. Mais do que medo, atualmente sinto uma
curiosidade interessante. Como será o lado de lá?
Muito mais difícil
que morrer é perder a alguém que amamos; fato. A perda de quem amamos é dor estranha
que não passa e que se torna nossa companheira diária; uma espécie de mágoa que
nos transforma definitivamente. Eu, por exemplo, sinto-me diferente depois que
a Mima voltou a ser anjo. Sem a Dona Odila aqui me faltam uns pedaços, feito um
quebra-cabeça que perdeu algumas peças. Ainda sou eu, porém, agora há alguns
espaços vazios e sou diferente.
Bom, c’est la vie! Já somos adultos e a vida
continua. E depois de um tempo, ela volta a ser muito boa. Volta a ser a vida
de sempre com seus altos e baixos; com direito a dias mais tristonhos e outros
alegres por demais da conta. Com o tempo, aprendemos que as saudades de todos e
de cada um tem seu espaço dentro da gente. Afinal, nosso coração figurativo,
aquele onde guardamos os sentimentos, terá sempre mais espaço para os amores e as
saudades boas.
A verdade, é que
mais do que a morte de minha mãe, vê-la sofrer me apavorava. Ela não merecia;
ninguém merece. Lembro-me de pedir a Deus que ela não sofresse sem me importar
o quanto tempo teríamos. Ela poderia ir antes de sofrer mais do que pouco; essa
era a única coisa que eu queria. E assim foi, e eu sou grata a Deus. Vê-la
partir foi milhares de vezes mais fácil do que vê-la sofrer. Sendo assim, desejo
a todos que o sofrimento nesta vida seja bem pouco, pouquinho mesmo, e que as
saudades dos que amam sejam bonitas e boas como as minhas saudades da Mima são.
E elas são brilhantes. Amém!
Já quis prender o tempo entre os
dedos para ele passar bem devagar, já quis que ele avançasse mais veloz que a
luz para que o futuro chegasse. Há dois anos desejo que ele volte um pouco, uns
quatro anos pelo menos, para eu poder reviver meses e dias que me dão muita
saudade. Queria poder ter feito as coisas de maneira melhor. Queria que a vida
fosse como eu imagino que ela devesse ser, e ser um ser “super”, cheio de
poderes, para poder mandar no tempo. Apenas gosto que as coisas sejam como eu
quero que elas sejam. É pedir demais? (Risos...)
Sim, sou um tanto ansiosa e um bocado
mandona; sei bem. Minha mãe dizia que eu sou ranzinza. E sim 2, tenho o meu
bocado de mau humor a correr pelas veias. Bem, o tempo não volta e, apesar de
todos os erros, tentei verdadeiramente fazer sempre o melhor com o tempo que
tive. Se não o fiz foi porque não sabia como fazê-lo então por falta de
conhecimento, de amadurecimento, de um tanto de coragem vez ou outra. Errei. Todos
nós erramos e não há o que fazer. Pois... Deveríamos ter um tempo para os
ensaios na vida também, não? Seria bom; seria muito bom.
Bom, amanhã minha mãe faria 76
anos se ainda estivesse por aqui. Para mim ela faz 76 anos amanhã; e hoje, como
há um ano, sentei-me para escrever porque me lembrei dela. Porque me lembrei dela
com mais saudades do que as costumeiras. Pois2... Já vivi o bastante para
carregar comigo, de braço dado, um par de saudades cheias de dengos de gentes
que, por um ou outro motivo, não estão perto de mim. Fico assim-assim, um tanto melancólica, nestes
dias de saudades porque a falta de quem se ama dói num lugar mais profundo n’alma.
Dias difíceis de pieguices memoráveis e escritas chorosas. Haja doce e vinho
para aguentar tal jornada!
Bem, como o tempo não volta a
trás já que ele é bicho, milhares de vezes, mais teimoso do que eu. Resta-me desejar
a minha mãe um feliz Aniversário à distância e sem a certeza de que a mensagem
chegará até ela. Feito cartas sem endereço certo; cartas em tempo de guerra.
Mima, queria que você estivesse aqui para os beijos e abraços de aniversário de
carne e osso. Como não está, mando-os via pensamento. Esteja certa de que te amo
demais da conta e para sempre, porque para o meu amor o tempo é inexistente.
William Waack, um jornalista com
profundos conhecimentos sociológicos e econômicos, é um inteligente homem de 65
anos com décadas de experiência na profissão. Podemos concordar ou não com seus
pontos de vista político-econômicos, contudo, não há como negar que ele é um
profundo conhecedor dos assuntos pelo qual versa e, via de regra, uma opinião a
ser ouvida. Eu gosto de ouvir suas análises políticas e econômicas sobre nosso
país, América Latina, Rússia, sobre os EUA e outros; mesmo que nem sempre
concorde com o que ele diz.
Bem, gostava de ouvi-lo até seu
afastamento da TV. O Sr. Waack foi afastado por ter feito, sem saber que estava
sendo gravado, um comentário de intenção jocosa, verdadeiramente de mau gosto,
e um tanto racista. Pois, ele cometeu um erro. Vale deixar claro aqui, antes de
continuar, que não haverá nem um ataque ao dito jornalista, nem tão pouco uma
eloquente defesa de sua figura. Mas sim e apenas uma reflexão sobre o fato em
si, sem paixões e ou radicalismos.
Parêntesis: (Não gosto do
radicalismo assumido pelo pensamento brasileiro, seja ele de esquerda e ou de
direita; como, aliás, não acredito mais haver algo que possamos chamar de
esquerda e ou direita na política. Para mim há interesses econômico-financeiros
e a busca do poder e ponto.).
Bom, sendo mulher, desde sempre eu
soube que vivia num mundo que não era completamente meu. O mundo, não obstante
todas as mudanças e conquistas das ditas minorias, ainda pertence aos homens heterossexuais,
brancos e com dinheiro. Uma parte cada vez menor da população mundial é a nossa
dita maioria, não? Ou seja, estamos caminhando para uma sociedade muito
distinta daquela que hoje temos, não há dúvidas, mas ainda há muito que andar. E
sim, ainda temos que fincar o pé em alguns momentos e lutar por uma realidade
mais igualitária para todos nós. Porém, a polarização de opiniões e as ações
radicais são mais nocivas do que qualquer outra coisa.
Eu, particularmente, fiquei
decepcionada com a tal “piadinha” preconceituosa do Sr. Waack porque não espero
algo assim de pessoas inteligentes; pelo menos não das verdadeiramente inteligentes.
Contudo, apesar de saber que ele está errado e que não devemos diminuir em
demasia a importância do ato, também sei que comentários do gênero sobre
mulheres, gays, pobres, velhos, negros, sobre os filhinhos de papai, os gordos,
sobre as pessoas feias, ou seja, sobre todo e qualquer tipo de pessoa podem ser
ditos por todos nós. Somos, todos nós, seres cheios de defeitos, e esperar a
perfeição de qualquer um será sempre um erro.
Portanto, apesar de não gostar do
que ouvi de William Waack e de compreender que como uma figura pública seus
atos reverberam de forma mais ampla, também não acho correto crucificá-lo. Compreendo
porque a empresa resolveu afastá-lo durante um tempo já que em tudo isso há a
necessidade da manutenção de uma face politicamente correta da empresa. Mesmo que
a realidade não seja bem assim, afinal, negócios são negócios. No entanto, isso
está muito distante da caça às bruxas que alguns fomentam. Se não achamos
correto que haja as KKKs a acender suas tochas por aí, e não o é obviamente,
não devemos nós acender as nossas também. Devemos?
Em 1992 nos achávamos muito espertos e que
daquele momento em diante faríamos tudo certo. Um novo Brasil nascia, a
ditadura que marcara nossa infância ficara para trás e a democracia
solidificava-se com eleições diretas. Votamos, em 1989, nas primeiras eleições
presidenciais desde o início dos anos 60 e, em 1992, saímos às ruas para
protestar contra o corrupto presidente Fernando Collor de Mello e toda a sua
hipocrisia.
Gabriel o Pensador, eu e toda a nossa
geração, acreditávamos que nosso país seria diferente daquele ponto em diante,
o Brasil estava mudando para melhor. Pois... Depois tivemos Itamar Franco,
Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma e, finalmente, Temer (o nosso Lord Sidious
tupiniquim) e, vinte e cinco anos depois, nós todos temos a certeza de que
fomos e somos feitos de bobos, de que a merda continua literalmente a mesma e,
de que nem sequer as moscas mudaram tanto assim.
Hoje
fica mais do que claro que toda a nossa crença se deu muito mais por sermos
todos imaturos demais, inocentes, do que por fatos que a validassem. Uma das
poucas coisas que mudou, e que ficou clara para nós agora, é a de que a
corrupção no Brasil e a falta de caráter de praticamente todos que nos governam
evoluiu exponencialmente, profissionalizando-se de forma inimaginável; coisa de
filme de cinema com trama criativa.
Em 1992 Gabriel o Pensador lançou a canção “Tô
Feliz (Matei o Presidente)” porque à época a tal canção e seu título um tanto
agressivo faziam todo o sentido. Pois (nº2), vinte e cinco anos depois temos o
lançamento de “Tô Feliz (Matei o Presidente) 2 e a canção, ao contrário da vida
aqui no país, nunca fez tanto sentido como o faz agora. Apesar de gostar muito
de tudo o que Gabriel canta e de ter adorado a tal nova versão, não há como não
sentir, vinte e cinco anos depois, uma profunda tristeza e uma imensa decepção
por ainda ter que gritar o mesmo refrão.
Tô Feliz (Matei o Presidente) 2
Gabriel O Pensador
Todo mundo bateu palma quando o copo caiu
Eu acabava de matar o presidente do Brasil
A criminalidade toma conta da minha mente
Achei que não teria que fazê-lo novamente
Mas tenho pesadelos recorrentes, o Temer na minha frente
E eu cantando: Tô feliz, matei o presidente
Fantasmas do passado, dos meus tempos de assassino
Quando eu matei o outro, eu era apenas um menino
Agora, palestrante, autor de livro infantil
Não fica bem matar o presidente do Brasil
Mas a vontade é grande, tá difícil segurar
Já sei, vamo pra DP, vou me entregar
Chama o delegado, por favor
Sou Gabriel O Pensador
O homem que eles amam odiar
Cantei FDP, Pega Ladrão, Nunca Serão
Agora Chega! Até Quando a gente vai ter que apanhar?
Porrada da esquerda e da direita
Derrubaram algumas peças, mas a mesa tá difícil de virar
Anota o meu depoimento e me prende aqui dentro
Que eu não quero ir pra Brasília dar um tiro no Michel
Aí, que maravilha! Mata mesmo esse vampiro
Mas um tiro é muito pouco, Gabriel
Mata e canta assim
Hoje eu tô feliz, hoje eu tô feliz
Hoje eu tô feliz, matei o presidente
Hoje eu tô feliz, matei o presidente
Matei o presidente, matei o presidente
Hoje eu tô feliz, hoje eu tô feliz
Hoje eu tô feliz, matei o presidente
Hoje eu tô feliz, matei o presidente
Matei o presidente, matei o presidente
Fiquei até surpreso quando correu a notícia
E a polícia ofereceu apoio pra minha missão
Ninguém vai te prender, policial também é povo
Já matamo presidente, irmão, vai lá e faz de novo
Que é isso?! Eu sou da paz, detesto arma de fogo
Deve ter outro jeito de o Brasil virar o jogo
Que nada, Pensador! Vai lá e não deixa ninguém vivo
Se é contra arma de fogo, vai no estilo dos nativos
Invade a Câmara e pega os sacanas distraídos
Com veneno na zarabatana, bem no pé do ouvido
Em nome da Amazônia desmatada
Leva um arco e muitas flechas e finca uma no coração de cada
Cambada de demônio; demorou, manda pro inferno
Já tão todos de terno, e pro enterro vai facilitar
Envia pro capeta com as maletas de dinheiro sujo
De sangue de tantos brasileiros e vamos cantar
Hoje eu tô feliz, hoje eu tô feliz
Hoje eu tô feliz, matei o presidente
Hoje eu tô feliz, matei o presidente
Matei o presidente, matei o presidente
Hoje eu tô feliz, hoje eu tô feliz
Hoje eu tô feliz, matei o presidente
Hoje eu tô feliz, matei o presidente
Matei o presidente, matei o presidente
Áudio e vídeo divulgados, crime escancarado
Mas nem é julgado
Já tinha comprado vários deputados
Fora o foro privilegiado
Então mata o desgraçado
Na comemoração tem a decapitação
Cabeça vira bola e a pelada vai rolar (Chuta!)
Corta a cabeça dele sem perdão
Que essa cabeça rolando vale mais do que o Neymar
(É Pensador, é Pensador, é Gabriel O Pensador
É Pensador, é Pensador, é Gabriel O Pensador)
Fácil, um tiro só, bem no olho do safado
E não me arrependo nem um pouco do que eu fiz
Tomei uma providência que me fez muito feliz
Hoje eu tô feliz, hoje eu tô feliz
Hoje eu tô feliz, matei o presidente
Hoje eu tô feliz, matei o presidente
Matei o presidente, matei o presidente
Matei o presidente
(Matei o presidente, matei o presidente, matei o presidente)
Eu não matei nem vou matar literalmente um presidente
Mas se todos corruptos morressem de repente
Ia ser tudo diferente, ia sobrar tanto dinheiro
Que andaríamos nas ruas sem temer o tempo inteiro
Seu pai não ia ser assaltado, seu filho não ia virar ladrão
Sua mãe não ia morrer na fila do hospital
E seu primo não ia se matar no Natal
Seu professor não ia lecionar sem esperança
Você não ia querer fazer uma mudança de país?
Sua filha ia poder brincar com outras crianças
E ninguém teria que matar ninguém pra ser feliz
Hoje, estar feliz é uma ilusão
E é o povo desunido que se mata por partido
Sem razão e sem noção
Chamando políticos ridículos de mito
E às vezes nem acredito num futuro mais bonito
Quando o grito é sufocado pelo crime organizado instituído
Que censura, tortura e fatura em cima da desgraça
Mas, no fundo, ainda creio no poder da massa
Nossa voz tomando as praças, encurtando as diferenças
A polícia chegara não mais de
cinco minutos depois de ter sido chamada, e o pequeno apartamento estava cheia
de homens sérios. Ajoelhado no chão, André chorava com a cabeça de Ana ensanguentada
nas mãos. Havia sangue nas roupas dele e o que parecia ser a arma do crime no
chão; uma colher de sopa suja. O desespero e a confusão de André gritavam pelos
olhos, ele não entendia quem podia ter feito aquilo. Por que alguém ferira Ana
de maneira tão cruel?
Os paramédicos afastaram o namorado para cuidar
da mulher desmaiada no chão. André foi colocado na poltrona azul celeste à
esquerda de Ana na sala de estar. A televisão ainda estava ligada e o volume
baixo dificultava a audição do que o repórter dizia no jornal da noite. Algo
sobre a política no país talvez. Daquela perspectiva André via claramente o
rosto de sua namorada e algo curioso o intrigava; Ana parecia tranquila. Apesar
do sangue, apesar da confusão estabelecida desde que ele entrara e a vira no
chão; apesar de tudo, ela parecia dormir como sempre. Profundamente, sem sonhos
ou pesadelos. Sem avisos, de um repente instantâneo, André vomitou ruidosamente
nos sapatos do policial que o assistia. Ele vira, sem margem a qualquer dúvida,
os paramédicos abrirem a mão de sua namorada e dela retirarem um globo ocular.
Um par de dias havia passado e
Ana continuava no hospital, calada. Seu namorado a acompanhava cuidadosamente,
porém eram nítidos o sofrimento e o incômodo dele. Ela, mesmo apenas com o olho
que restara, podia vê-lo sem esforço. André murchava a seu lado. Aquilo era tão
triste e Ana chorava em silêncio quando a luz estava apagada. Ela dormia pouco
e ressentia em demasia a tamanho sofrimento de alguém tão gentil quanto ele. Ela
se sentia mal por isso. Ana sentia-se muito incomodada com o sofrimento de
André e queria vê-lo longe. O sofrimento dele era culpa dela e aquilo a corroía
interna e lentamente. Queria poder mandá-lo embora. Queria estar sozinha. Pensava
ela.
Até o momento nada havia sido
descoberto sobre o ocorrido no pequeno apartamento e isso, mais do que a
grotesca violência sem sentido, perturbava ao rapaz que buscava sempre razões
para tudo. A polícia não descobrira nenhuma pista e Ana dizia não se lembrar de
nada. Ela se lembrava, apenas, de chegar a casa como sempre e de estar a
preparar algo para eles comerem. Depois disso, apenas lembranças vagas sobre o
caminho ao hospital.
André irritara-se quando alguém
sugeriu que Ana, ela própria, infligira a si mesma seus ferimentos. Aquilo era
uma loucura sem sentido. Um absurdo. Ela jamais faria isso. Tudo estava bem;
eles eram felizes. Ela era tranquila e divertida. Como imaginar que ela teria
motivos e a coragem para arrancar seu próprio olho esquerdo? Ela não se
lembrava de nada porque seu cérebro bloqueara o fato. Bloqueara o horror do que
havia acontecido. Afirmava o rapaz que, para si mesmo, repetia com frouxa
convicção que isso era muito mais lógico. Isso era o que havia acontecido.
Ana continuava muito mais calada
do que o normal depois de voltar para casa. Não queria ver a seus amigos, não
queria sair. E passava muito tempo deitada na cama a ouvir músicas antigas. André
dizia a ela que tudo aquilo passaria com o tempo; que tudo voltaria a ser como
antes. Porém, a menina sabia que nada mais seria como antes, apesar da pequena
satisfação que agora ela sentia por ter a visão reduzida. Pois assim ela pôde
amenizar um pouco a dor de ver e perceber o que não queria. A realidade para
Ana tornara-se feia demais.
Apesar de não
ter qualquer conhecimento formal e acadêmico sobre Música, gosto demais da tal
arte. Não sei tocar instrumento algum, nem mesmo caixa de fósforos, e sou
desafinada dos pés à cabeça, no entanto, gosto tanto de música que não consigo
imaginar um mundo sem ela. Minha vida sem música seria incompreensível; ela não
seria a minha vida. Um dia sem música, para mim, é um dia difícil; quase
impossível.
Sendo assim,
sempre que ouso qualquer julgamento e ou opinião sobre música e músicos, deve
ficar explicito que o que está escrito não passará jamais da minha parva
opinião. Algo sem muito fundamento, fundamentado apenas naquilo que enamora
meus ouvidos e que agrada a minha alma alimentada por palavras.
Ontem assisti ao
meu primeiro concerto de Silva e, não obstante já conhecesse seu trabalho
através dos discos há alguns anos, apenas agora posso dizer que o ouvi pela
primeira vez. E espero ouvi-lo muitas e muitas e muitas vezes mais. Silva é
encantador no palco por fazer extremamente bem aquilo que se espera de músicos:
muita afinação, domínio de seus instrumentos e uma interpretação fenomenal de
suas canções.
Simples, e por
isso mesmo sublime, o concerto intimista dentro de um teatro beira à perfeição
na arte de dar vida à música. Silva não precisa de mais do que seu violão,
piano e voz para emocionar a quem o ouve; e a mim me fez chorar. Cantando
Marisa, Diva maior da atual MPB, ele mostra que esta à altura de interpretá-la
com brilho próprio. Silva é simples, é divino.
Há gestos humanos que nos
impactam, a todos nós, grandemente. O desprendimento de alguns em gestos altruístas,
a dedicação de outros ao bem estar de todos; a coragem de muitos para lutar
pelo bem alheio e muitos eteceteras e tais. Eu poderia fazer uma longa lista
aqui, pois, apesar de não parecer e nem aparecer tanto, há muita gente
admirável nesta terra.
Eu, de minha parte, adoro ver a
estes gestos magníficos, feitos humanos que me fazem bem porque me fazem crer
uma vez mais na humanidade. Fatos que renovam a minha fé no divino que está
presente sempre. Contudo, há gestos mais simples e comuns que me encantam muito
mais ainda. Gestos que para mim são a mais pura tradução do que significa a
felicidade. Alguns dos gestos das crianças, e das não tão crianças assim, que
dão vida para a vida minha.
O mundo congela, à la Big Fish, e
todo o mal desaparece quando Pedro me manda um beijo desde longe e sorri, quando
Diego me abraça com força, todo entregue. A rotação da Terra pára, e eu sorrio,
quando Bianca sorri a apertar seus olhinhos para mim e quando ouço ao Nico me
chamar: titia Mari vem brincar. Todas as pessoas deixam de existir quando Vitória,
que ainda me estranha muito, levanta seus braços para mim a pedir colo. A felicidade
é assim; a felicidade são eles.
E é difícil descrever a total e
plena felicidade que sinto ao ver que meus miúdos já crescidos são gente boa de
verdade. Dedé, Lucas e Gigi estão se transformando em gente grande e da melhor
qualidade: gentis e de bom coração. Poderiam gostar de estudar mais, verdade,
mas a nossa identificação e o carinho que temos uns com os outros são claros e
verdadeiros; e isso me conforta. Eles já me fazem perceber o que significa a
felicidade plena porque estou certa de que eles serão felizes em suas vidas
também.
Meus miúdos são a minha
felicidade feita em gente, são a garantia de sanidade nesta vida e, por isso,
não consigo conceber que alguém possa ferir a crianças deliberadamente. Por isso,
o assombroso fato passado em Minas Gerais com a morte de 10 crianças entre 04 e
06 anos num incêndio causado propositadamente me foge a qualquer lógica e
compreensão. Então, vale lembrar nesta semana quando comemoramos o Dia das
Crianças que a elas devemos todo o carinho, amor, atenção e proteção muito para
além de brinquedos. E um Feliz Dia da Crianças para todos nós, amém!