segunda-feira, 11 de dezembro de 2023
quase
quase
Habitam-me sem que eu queira, melhor dizendo
Queria tanto, assim, não as querer
em demasia
Minhas filhas, minhas meninas, não me abandonaram;
não me deixaram. De mim não escaparam...
das palavras que me invadem diariamente,
escondo-me
sem medos.
Quiçá preguiça?
Não. Não senhor.
Fujo delas para de mim mesma escapar e,
dessa maneira, viver apenas a tanger o ser
quem sou de
raspão
num quase desistir
d'existir.
segunda-feira, 20 de novembro de 2023
Miragens
Miragens
Há imagens tênues e incertas que me habitam pela vida
E quando cerro meus olhos
Lá estão elas, por detrás da retina,
Fotos antigas
Amigas
Miragens desimportantes
lembranças queridas
O rosto do menino garçom num bar em Valparaíso,
ao perceber que eu falava espanhol,
cheio de alegria e alivio
O sorriso aberto do homem africano no Castelo de São Jorge
depois de um “obrigada e bom dia”
O homem velho sem camisa no outono escaldante pela manhã a
observar o dia no seu quintal
no meio do caminho de minha reunião um tanto cinza
O rosto da mulher que há mais de dez anos pedia dinheiro no semáforo
e me disse:
não fique triste menina; não há razões para isso na vida
Gosto dessas imagens que são só minhas
belos presentes dados de bom grado por que gente que não
conheço
apesar da dor
que em todos nós habita
escondida por detrás da retina
domingo, 5 de novembro de 2023
reflexo
reflexo
Uma senhora espia-me pelo espelho
Não a conheço; mas me reconheço
Vendo assim o futuro, assustador e certo,
e quem um dia eu serei
Eu seria
Eu não sei
Não sei o quanto isso importa para mim ou para qualquer um
Deixei de ser eu mesma e, por isso mesmo, tornei-me quem eu
deveria ser
Sinto saudades
Minhas vontades todas continuam a tagarelar na cachola, e
tudo que ainda há por fazer
me assombra
deixando apenas uma única dúvida que paira sombria: o tempo
será o bastante?
o bastante para tudo que preciso fazer acontecer
Vou segurar os ponteiros, feito Superman, a voar contra o
tempo
e quiçá...
Quiçá o tempo me traga, com bons ventos, a nau que há muito
perdeu-se pelo mar
Sinto uma paz que não imaginei sentir e me vejo, fora do
espelho,
a gostar mais de mim
a lembrar-me com muito carinho de ti como se fora um sonho
bonito
Ando a sonhar pouco
Quase nada
Talvez mais preocupada com a realidade que por cá sentou-se
no meu colo há anos
E daqui não sairá
Não sinto mais medo, apesar de perceber que o corpo começa a
despedir-se
E sei
Serei estrela ínfima na via láctea a vagar
Depois de uma vida inteira a ser estrela no fundo do mar
segunda-feira, 16 de outubro de 2023
IPÊ
IPÊ
Te Amo Amor
AmorAmora
Ora penso em ti rotineiramente ao passar
Pela alameda de Ipês rosa
que quase sem querer colorem meu caminho
displicentes
majestosos
beleza tênue e passageira que não faz qualquer questão de
estar ali;
apenas está
não
por mim
penso em ti
meus olhos pensam nos pés de ipê floridos
que o tempo devora
sinto fome...
terça-feira, 10 de outubro de 2023
Long-Legged Fly
Long-Legged
Fly
That civilization
may not sink,
Its great
battle lost,
Quiet the
dog, tether the pony
To a
distant post;
Our master
Caesar is in the tent
Where the
maps are spread,
His eyes
fixed upon nothing,
A hand
under his head.
Like a
long-legged fly upon the stream
His mind
moves upon silence.
That the
topless towers be burnt
And men
recall that face,
Move most
gently if move you must
In this
lonely place.
She thinks,
part woman, three parts a child,
That nobody
looks; her feet
Practice a
tinker shuffle
Picked up
on a street.
Like a
long-legged fly upon the stream
Her mind
moves upon silence.
That girls
at puberty may find
The first
Adam in their thought,
Shut the
door of the Pope’s chapel,
Keep those
children out.
There on
that scaffolding reclines
Michael
Angelo.
With no
more sound than the mice make
His hand
moves to and fro.
Like a
long-legged fly upon the stream
His mind
moves upon silence.
W. B. Yeats
terça-feira, 12 de setembro de 2023
The Town, a cidade do Bruninho
The Town, a cidade do Bruninho
Em 1985 eu era
jovem demais para ir ao primeiro Rock in Rio sozinha, ou acompanhada, de acordo
com o que pensavam meus pais. Sendo assim, passei uma boa parte das noites
daquelas férias de verão na frente de uma TV precária na casa da praia, meio
acabrunhada, babando num line up dos sonhos que não se repetiria nunca
mais. Quem viu, viu. Quem não teve tal sorte. So sorry!
Incluindo Queen,
AC/DC, Paralamas, Iron Maden, Al Jarreau, Gilberto Gil, Yes, Blitz, Scorpions,
Ney Matogrosso, Rita Lee, James Taylor, Ozzy Osbourne, e etc e etc e tal,
aquele janeiro foi um marco histórico na música aqui da minha Terra Brasilis e,
desde lá, minha frustração por não ter estado no Rock in Rio foi nutrida apesar
de todos os outros concertos e festivais aos quais fui. Chateei.
Já fui a quase
todos os shows de todas as bandas e cantores que quis. (Faltaram Queen, Cazuza,
Michael Jackson e Bituca para sempre). Como diria o outro, vi de um tudo, do
que gosto demais da conta até o que não gosto nadica de nada. Só pela
companhia. De música clássica a heavy
metal; de Adoniram a Metallica, de estádios e eventos gigantescos ao quintal da
casa de alguém; a música sempre foi uma grande parte da minha vida desde antes
do verão de 85. Amo música e ir a concertos até hoje. Tem música, quero estar
lá.
Sendo assim,
quando o The Town foi anunciado para cá ir era algo mandatório, não? Sim! E fui.
E foi uma decepção gigantesca; do tamanho da estrutura montada. Ok, havia muita
gente, aliás, gente demais. Havia brinquedos, ok, mas se os brinquedos fossem
assim tão importantes eu iria a um parque de diversão. Havia palcos gigantes,
ok, tamanho nunca foi documento e essa é uma realidade que não será mudada. Certo?
Havia música,
ok, contudo, exatamente nesse quesito tão fundamental para um festival de
música, faltou qualidade. Faltou qualidade do som produzido tanto por um line
up um tanto fracola, (Luísa Sonza, Alok, Bebe Rexha... mano, juntando tudo ninguém
chegava ao pezinho da Ivete. E olha que eu nem gosto de Axé Music. Aliás,
faltou Ivete, né?) quanto pela qualidade do som ouvido. Vocais estourados, som
com defeitos claros até para mim que sou leiga. Jesus, pensei, logo de cara,
será um sacrifício ficar aqui até o final da noite.
Foi então,
quando tudo parecia perdido; uma noite desperdiçada, que ele, o Rei Mars,
adentrou ao palco. Ouvi anjos e arpas. Obrigada meu Deus; obrigada! E vale
mesmo usar o nome de Deus aqui pois que o Bruninho foi divino. Genial! Som
perfeito, ele cantava e muito bem! Nada do playback triste das meninas que o
antecederam e Alok nem canta, né? Obrigada Deus. Todos os músicos perfeitos.
Bruno Mars canta muito, toca muito e tem uma presença de palco e um domínio do
espetáculo maestrais. Genio! Mars
dança, a banda dança e faz música boa – com conteúdo e relevância histórica, cheio
de referências e conhecimento, bebendo em fontes de qualidade. Long live the
King Mars!
Fiquei feliz,
apesar dos pesares, valeu a pena. Matei minha vontade dos grandes festivais,
quiçá para sempre. E Mr. Mars pode contar comigo sempre que vier ao Brasil. Não
sou lá sua grande fã, como a plateia no último 03 de setembro que cantava tudo
direitinho: #orgulho do inglês da galerinha, porém, se Bruninho vier ao Brasil,
eu vou porque, guardando as devidas proporções, ele é mesmo o novo Rei do Pop. The
Town foi a cidade do Bruninho e ponto final.
domingo, 13 de agosto de 2023
Día de Jesús, el papito.
Día de Jesús,
el papito.
Dia dos pais em Terras
Brasilis e papito e yo lo pasamos
muy bien juntos. Um dia dos pais diferente do costumeiro almoço em família
com muita comida e crianças correndo pela casa. Verdade que gosto muito disso;
de ter a casa cheia de gente que eu gosto. Todavia, desta vez, curtimos um domingo
mais que tranquilo e atípico já que estávamos só nós, os dois.
Papito ainda de
asinha imobilizada depois da cirurgia do ombro não anda muito a fim de sair de
casa e de ter gente por perto. Ok, eu sou gente. Mas não conto. E consigo
compreender que a dor e o desconforto, mesmo que pequenos, depois de algumas
semanas provoquem um bocado de mau humor. Daí que respeitei a vontade dele de
não fazermos nada no dia de hoje. Comemoração adiada para quando ele puder minimamente
bater as asinhas livremente mais uma vez.
O domingo foi de
massa e vinho, tempo fechado lá fora e cá dento muito esporte na televisão. Até
hoje não sei se gosto tanto de assistir a quase todo tipo de disputa atlética
na tela porque verdadeiramente gosto disso, ou se o faço desde sempre apenas
para ficar ao lado do meu pai. Sei lá. A verdade é que passamos o dia repetindo
um ritual já antigo entre nós: tarde de futebol na televisão com direito à
vitória bem-vinda do Timão, café bem quente no meio da tarde e final do dia com
a final de um torneio de tênis.
Dia dos pais a
la Paroli, meio chocho para quem vê de fora, porém, cheio de uma graça delicada
e sutil que é só nossa, cheio de preguiça e muita conversa. Feliz dia dos pais,
Jesus.
¡Te quiero mucho,
papito!
domingo, 6 de agosto de 2023
mOOdy
Love is not
in the air and life goes on
Just like
that
Not fair?
Yeah…
Who has
ever told us there was something magical ahead?
On the
contraire, my man
All there
is,
It is
what is
there in front of thee
And there’s
no name for this shit
re-a-li-ty
is where
nothing is for real
no ma’am
So, let’s
just go with the flow and forget that our life
so soon
Will meet
its end
And maybe,
just maybe
more than
ten people will shed a tear
for me
Ando um tanto calada?
Que nada. Apenas percebo que pouco importa
o que te escrevo
você não se lembra
nem eu me lembro das sandices pueris que tentaram a esta
vida trazer algum sentido
bobagens... bobagens meu querido
em breve deixaremos de ser nós mesmos
e seremos apenas memória
Que Glória!
Dormir por uma eternidade, feito bela adormecida,
Esquecida,
não me causa nenhum medo
aceito que a importância de nossa existência tenha sido ínfima
com a durabilidade menor de que uma sacola plástica
que no chão descansa em paz
aqui jaz
jazz
al carajo con todo
y todos
punto final
(pues que
en Español me pongo minimalista)
quinta-feira, 20 de julho de 2023
domingo, 9 de julho de 2023
Rainha Rita
Rainha Rita
Já se passaram dois
meses depois da partida de Dona Rita e a vida besta, como ela diria, retornou a
seu curso regular como se nada tivesse acontecido. Assim sempre foi; assim
será. Afinal, partir faz parte integral do pacote e não há como escapar da grande
surpresa no the end. No way my man.
Para mim, ao contrário
do que cantou Caetano, sempre houve uma clara tradução de quem era Rita Lee. Uma
mulher diferente, irreverente, livre e muito à frente do seu tempo; do meu
tempo de menina. Uma mulher que me assustou, me surpreendeu, e me ajudou a
compreender quem eu era; quem eu queria ser desde pequena. Por isso, vê-la partir doeu e ainda dói um
tanto em mim.
Rita Lee e sua
música nos representou, às deselegantes meninas paulistanas sem muito jeito
para o mise en scène esperado de toda mulher brasileira e sua dita sensualidade
brejeira. Pois, por aqui não éramos todas brejeiras e nem muito dadas às etiquetas.
Fazer o que me desse na telha sem ter que dar satisfações a seu ninguém; isso sim
era o que eu queria já lá pelo início dos anos 80. E eu tinha em Rita a realização
concreta de que aquilo era possível.
Mission accomplished, my queen. Fizemos
e fazemos o que queremos, como podemos e sem ter que depender de ninguém. E eu
agradeço a ti por ter sido uma mentora divertida e cheia de talento que cantou
e me encantou desde o dia no qual eu me entendi mulher num mundo que não havia
sido criado para mim.
God save you, My Queen Rita.
segunda-feira, 19 de junho de 2023
segunda-feira, 5 de junho de 2023
domingo, 21 de maio de 2023
Silêncio
Silêncio
Às vezes há tanto a dizer
Pensa o poeta
Pois bem
E noutras, como dessa feita
Apenas percebe-se que durante a vida inteira
Pôs-se cá para fora um bom bocado de asneiras
pretenciosas
Maliciosamente calculadas e mal-acabadas
Uma verdadeira desgraça
que com a querida língua pátria acaba
Não nos basta então sermos mudos,
Nesse momento
Faz-nos falta esquecer o escrever para podermos
Enfim
ficarmos genialmente calados
quarta-feira, 10 de maio de 2023
RITA
Rita Lee
Rita Linda RitaLina
Ri Ritinha minha
Rainha sem coroa, numa boa; com tua guitarra em punho
Uma farra
desde que o meu Mundo é mundo
E que contigo nunca foi mudo
Musa, me usa; e de mim abusa
Pois que desde menina sou tua
discípula,
Maestra
Me entendendo e me aceitando como mais uma ovelha negra;
cheia de atitude e desgarrada
de teu rebanho
segunda-feira, 17 de abril de 2023
Se
Se
Se eu soubesse
se pudesse
contra as regras básicas da física estar em dois lugares
ao mesmo tempo
sem tempo.
Com o tempo o meu corpo dividiria e assim
multiplicado no espaço,
compartindo o meu compasso
viveria as duas vidas que são minhas
a que tenho
e a que teria
a que quero e a outra,
A que quereria
se o meu mundo paralelo fosse mais que sonho etéreo
algo concreto,
aqui e aí eu estaria
num desenho de Escher
sem começo
sem fim
se
segunda-feira, 3 de abril de 2023
ColoRIdo
coloRIdo
Caminho pelas ruas grises enquanto xícaras de café me
sorriem
Coloridas
dançando pelas paredes onde multiplicam-se em coro e tinta.
Quase posso ouvi-las com seus risinhos
Divertidos,
drástico contraste entre a vida e a arte,
a me sussurrarem: divirta-se!
Uma moça passa apressada pela passagem de pedestres
do lado de lá da rua
a passos largos.
Toda de verde bandeira e tênis branco surge como
uma guerreira afro-brasileira a vencer poderosa os carros de
metal
que parados a reverenciam;
Mantis matreira que sabe jogar capoeira.
Respiro
e lembro-me de que
desde longe o mundo inteiro é feito de lindo azul...
mesmo que de perto, às vezes,
ele nos pareça cinza e feio.
Cabeça de Xícara - trabalho de João Guilherme Bandeira que colore a cinza São Paulo |
quarta-feira, 15 de março de 2023
sábado, 11 de março de 2023
Ciranda
Ciranda
Diz que sim, diz que não
Não estou à vontade
Diz que sim, diz que não
Talvez, quiçá, você sabe...
Diz que sim, diz que não
Não conhecemos a verdade
Diz que sim, digo que não
Fui ali, volto mais tarde
Diz que sim, diz que não
O Mundo gira, carrossel sem cavalos
Digo que sim, dizes que não
Lá se vai, a vontade
Fomos nós
quarta-feira, 8 de março de 2023
Mulheres
De Bénedicte Houart
são as mulheres que
fazem chorar as cebolas
como se descascassem a própria vida
e, arredondando-se então, descobrissem
um corpo, o seu
uma vida, a sua
e, no entanto, nada que de verdade
pudessem seu chamar
ou talvez sim, mas só
aquela gota de água salpicando
um canto do avental onde
desponta uma flor de pano colorida que
ainda ontem ali não ardia
De Hilda Hilst
Do Desejo (I),
Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.
De Conceição Evaristo
Vozes-mulheres
A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.
De Alice Ruiz
espero
desde um telefonema
até um poema
espero
nem que seja
um problema
esse tema
que eu não toco
não porque tema
e sim
porque não entra
em nenhum esquema
espero
dentro da noite
algo que faça
com que eu gema
espero
e tudo é espera
nessa noite amena
menos teu nome
menos meu telefone
menos este verso
ou será um poema?
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023
Nuvem Negra
Não adianta me ver sorrir, espelho meu
Meu riso é seu
E eu estou ilhada
Hoje não ligo a TV nem mesmo pra ver o Jô
Não vou sair, se ligarem não estou
À manhã que vem nem bom dia eu vou dar
Se chegar alguém
A me pedir um favor eu não sei
Tá difícil ser eu sem reclamar de tudo
Passa nuvem negra, larga o dia
E vê se leva o mal que me arrasou
Pra que não faça sofrer mais ninguém
Esse amor que é raro
E é preciso
Pra nos levantar me derrubou
Não sabe parar de crescer e doer
Passa nuvem negra, larga o dia
E vê se leva o mal que me arrasou
Pra que não faça sofrer mais ninguém
Esse amor que é raro
E é preciso
Pra nos levantar me derrubou
Não sabe parar de crescer e doer
Não adianta me ver sorrir, espelho meu
Meu riso é seu
Eu estou ilhada
Hoje não ligo a TV nem mesmo pra ver o Jô
Não vou sair, se ligarem não estou
À manhã que vem nem bom dia eu vou dar
Se chegar alguém
A me pedir um favor eu não sei
Tá difícil ser eu sem reclamar de tudo
Passa nuvem negra, larga o dia
E vê se leva o mal que me arrasou
Pra que não faça sofrer mais ninguém
Esse amor que é raro
E é preciso
Pra nos levantar me derrubou
Não sabe parar de crescer e doer
Passa nuvem negra, larga o dia
E vê se leva o mal que me arrasou
Pra que não faça sofrer mais ninguém
Esse amor que é raro
E é preciso
Pra nos levantar me derrubou
Não sabe parar de crescer e doer
domingo, 26 de fevereiro de 2023
Nothing
Nothing
When nothing
really matters
nothing matters
anymore
And there
is no pain in having your huge claws
in my throat;
rotten flesh…
flow of
blood…
my remains.
The last
breath of air being held just for fun,
out of my curiosity
about how I could all that stand
I don’t
know
And I do
not know when it all began
When feelings
started to disappear
And I started
to crash
Small pieces
being left here and there, my breadcrumbs leading you nowhere
So, all along
It was just me and
I have left
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023
Madonna Mia
Madonna Mia
Eu era uma menina colocando os
pés na adolescência quando Madonna surgiu para o mundo. No início, ela se
parecia muito com outras cantoras um tanto adequadas à cena pop americana. Nada
demais para além de um rostinho bonito e uma voz nada marcante que levava aos
palcos, clubes e rádios canções que estavam destinadas a desaparecer com o
tempo; hits perecíveis, um tanto pueris, feitos para dançar e durar apenas um
verão.
Madonna nunca deixou de ser pop,
contudo, com o tempo criou corpo e identidade. De musa um tanto romântica e
adolescente, passou a mulher feita e dona de suas opiniões. Madonna ajudou-nos
a criar uma nova identidade do que significava ser uma mulher entre meados dos
anos 80 e o início dos anos 90.
Lá, há quase 40 anos atrás, a
minha geração deixou muitos tabus para trás. Éramos meninas e podíamos ser
seres independentes e livres. Podíamos dizer o que queríamos e como queríamos. Não
precisávamos ou dependíamos de ninguém.
Foi nessa época que deixei de
achar que Madonna era uma bobagem e a respeitá-la como ela merecia. Madonna foi
a diva da minha geração e cantou muitas coisas que eu, com 15 anos, pensava e
sentia. Madonna era foda!
Madonna era foda, é foda, e
significa muito para a cultura feminina moderna construída desde então deste
lado do mundo não apenas no que diz respeito à música. Madonna traçou rotas,
trouxe tendencias e inaugurou oficialmente uma forma de ser.
Desde então, Madonna e eu
deixamos de ser meninas. Envelhecemos. Tudo e todos envelhecem mesmo que muito
contra a nossa vontade. É assim. Sempre foi assim. E, apesar de tentarmos com
muita força segurar um pouco as rédeas do tempo, todos nós sabemos que isso não
é possível ainda.
Madonna é uma senhora com seus 64
anos. Eu sou uma senhora aos 52. E por mais que ainda haja beleza por estas áreas,
esta se define de formas distintas daquelas cultuadas quando tínhamos 20 anos. Não
temos 20 anos e não os parecemos ter; ponto final.
Então, Madonna mia, enganar-se
com filtros e makes, com fotos um tanto fake não passa de uma triste ilusão. Triste
não porque você não tenha o direito de ser quem é, ou quem pensa ser. Todos nós o temos. Mas sim porque para mim é muito difícil entender os porquês para tão
radical fuga da realidade para alguém que ajudou a construir o mundo.
Quando foi que Madonna deixou de
se sentir foda? Me pergunto.
Sem Madonna não teríamos Gaga, Cabello,
Cyrus e etc e tais. Madonna não tem mais 20 anos e nada se parece com uma
menina, todos nós sabemos disso. Ela não
precisa disso para continuar a ser quem é, contudo, devemos respeitar suas
escolhas. Afinal, apenas a Senhora Ciccone sabe o peso de ser Madonna.
Então, devemos nos lembrar que
devemos muito a ela e baixar a bola da nossa língua ferina antes de massacrá-la
como depois do último Grammy porque desde então, desde o início dos anos 80,
nenhuma garota conseguiu fazer tamanha revolução cultural cantando. Madonna Mia, você é foda Forever!
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023
Tempestade
Tempestade
Chuvas tropicais inundam meus olhos
Afogo-me
dentro de mim mesma sem que ninguém perceba
Em silêncio grito e estendo as mãos ao vazio
apenas por reflexo;
movimento inócuo e patético
No meio desta tempestade, tão comum durante o verão,
estou sozinha
Assim estamos sempre por essência, não?
Sozinhos.
Coração acelera para além do cotidiano
enquanto o corpo adormece
o cérebro para perplexo:
assim é o fim
As chuvas intensas fazem um barulho gordo
que invade meus ouvidos
enquanto os lindos relâmpagos me encantam
Não tenho medo da chuva; nunca tive medo da chuva
mesmo quanto ela me inunda
deixo-me
ir
terça-feira, 31 de janeiro de 2023
Despedida
Despedida
Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.
Cecília Meireles
Preciso Me Encontrar
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir pra não chorar
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir pra não chorar
(Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir pra não chorar)
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir pra não chorar
(Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir pra não chorar)
segunda-feira, 23 de janeiro de 2023
ALGO BONITO
Cada
vez que tiran los cañones
Se pone
pesada mi artillería
A todo
el que me ataque lo devoro
Como
leona de cacería
Ya me
tienen las huevas hinchadas
Si
protesto me llaman subversiva
Y sé
que mi rabia te incomoda
Porque
sé que me prefieres compasiva
Suena
ese llamado que despierta
Que nos
libera el peso de encima
A ese
mostro le tiemblan las piernas
Sabe
que su derrumbe se aproxima
Se
soltaron ya
Las
yeguas del campo
Bajando
cuestas
Curás
de espanto
Lágrimas
secas
Y sin
quebranto
Grito
que se vuelve canto
Dime
algo bonito
Quiero
escuchar algo bonito
Dime
algo bonito
Quiero
escuchar algo bonito
Dime
algo bonito
Quiero
escuchar algo bonito
Dime
algo bonito
Quiero
escuchar algo bonito
Más
vale que las palabras lindas te rindan
O por
mi descendencia y los ovarios que me guindan
Me
importa poco de lo que me tildan
Nunca
he creído que callaíta me veo mas linda
Cuando
escupo es como fuego y ácido
Se ve
que tu palabreo es como tú de flácido
Yo los
mato rápido
El
ritmo decapito
Yo chambeo
y pla pla
Es
automático (prr)
Yo
nunca me la voy a dejar montar
Si es
grande tu ego el mío es de tamaño colosal
Y la
cobertura es intercontinental
Yo que
tu camino por la marginal
(It's
the rude gyal)
Se
soltaron ya
Las
yeguas del campo
Aquí no
hay llanto
Hablamos
con encanto
Melaza
Pura
Yerba
del campo
Tengo
el sofrito que te gusta tanto
Dime
algo bonito
Quiero
escuchar algo bonito
Dime
algo bonito
Quiero
escuchar algo bonito
Dime
algo bonito
Quiero
escuchar algo bonito
Dime
algo bonito
Quiero
escuchar algo bonito
Dime
algo bonito
Quiero
escuchar algo bonito (algo bonito papá)
Dime
algo bonito (suavecito)
Quiero
escuchar algo bonito
Dime
algo bonito
Quiero
escuchar algo bonito (ya tu sabe papá)
Dime
algo bonito
Quiero
escuchar algo bonito
Ivy
Queen, la caballota
La
perra, la diva y la potra
A mí tú
me hablas bonito ¿Ok?
De ponta Cabeça
De ponta Cabeça
Sempre me questionei
se somos capazes de perceber o momento no qual o Mundo vira de pernas para o ar
e que tudo se transforma. De um repente, a vida não é mais como costumava ser, apesar
de nossos esforços para que uma parca imitação da realidade conhecida seja
percebida; e nos perdemos. À la Stranger Things, nos vemos num Upside Down World
um tanto mais complexo e sombrio do que a perfeição ensolarada e feliz a qual
sempre sonhávamos ter.
A verdade é que
somos sim completamente capazes de perceber, à distância e com grande
antecedência, que a tempestade se forma para além das montanhas; no meio do
mar. Sabemos. Sentimos o cheiro da chuva no ar e o vento frio que nos
surpreende. Vemos o horizonte nublado e a precipitação que desmaia suas águas
sobre a superfície a encharcar a terra. Entretanto, completamente cientes de
que o desastre se aproxima, negamo-lo como se assim pudéssemos evita-lo. Não
podemos.
Há tempos
percebo o solo escorregadio sobre o qual me esforço com unhas e dentes para não
derrapar. E luto; lutamos. E minto para mim mesma; mentimos, fingindo acreditar
que tudo voltará a ser como antes: Momentum ad Infinitum. Apesar de perceber lá
no fundo da cachola que já sabemos que o escorregão, inexoravelmente, se
aproxima. Caímos.
É verdade que
levantar-se é apenas uma questão de tempo e que acontecerá cedo ou tarde. (Esperamos
que mais cedo do que tarde). Temos que ser fortes. E somos fortes. Somos fortes
e grandes porque apesar da rasteira não estamos sozinhos.
Meu anjo da
guarda monta plantão 24 por 7 e as mãos amigas aparecem de onde menos se
espera. Sempre foi assim. Assim está a ser novamente.
Anjo, desde já
prometo, que da próxima vez, venho eu a te guardar para assim retribuir o que muitos
chamam de sorte. E que eu chamo de trabalho árduo, muita crença na nossa
capacidade e a certeza de que sempre há muitos braços a nos amparar.
segunda-feira, 16 de janeiro de 2023
A voar
Voam os pensamentos
na menta que viaja pelas estrelas
de uma galáxia estrangeira
Coração guardado numa gaveta
pela eternidade de uma tarde inteira
enquanto espero por ti
No jardim crescem flores de verão
na metade do mundo que é minha,
linda porção florida do planeta
Minhas flores durarão mais do que a nossa tarde inteira;
efêmera
É tarde, e todas as distâncias de um oceano somaram-se
numa década inteira
Não sou mais a mesma
A mesma cujos pensamentos voavam enquanto
o coração saltava montanhas, vales
e mares
apenas para
te
encontrar
numa tarde intensa e ligeira
terça-feira, 10 de janeiro de 2023
Futuros Amantes
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No are
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você