Cem anos depois
Já há algum tempo me sentei para escrever algo sobre Adoniran Barbosa que, assim como o nosso time do coração, o singular Sport Club Corinthians Paulista, completaria 100 anos de vida este ano. E, há tantas coincidências entre a alma deste nosso time e da música de Adoniram que, na época, pensava em fazer uma poética ligação entre a trajetória de ambos. Entretanto, ando muito menos inspirada e mais preguiçosa que de costume e, por isso, aquelas linhas escritas há mais de um mês atrás ficaram perdidas e, agora, não fazem sentido algum. Elas, assim como tantas outras coisas, perderam o sentido com o tempo e com os fatos que se desenrolaram desde então.
Contudo, Adoniram continuava a martelar minha alma como um incomodo, um daqueles que sentimos quando não dizemos o que queremos; um nó na garganta que não vale à pena ter. Foi então que, nesta semana, um especial sobre ele na televisão me chacoalhou e cá que a vontade me voltou como quem volta de férias, com ganas de fazer muita coisa. Como sempre, me senti muito tocada pela poesia e música deste homem que tenho como um gênio paulista do século 20. Adoniran fala com simplicidade e honestidade sobre o cotidiano e os dilemas humanos em suas músicas. Falando sempre sem censura, com toda a verdade que só aqueles que não aprenderam a ser sofisticadamente hipócritas sabem fazer, Adoniram nos encanta e nos mostra, através de um português falado nas ruas periféricas de nossa cidade, toda a beleza da alma humana sem disfarces.
Hoje, cem anos depois do nascimento de Adoniran, me parece que esta é a qualidade mais em falta no mercado: a sinceridade de alma. Andamos tão preocupados com a esperteza e com a aparência que nos esquecemos de sentir a vida verdadeiramente. Fingimos o tempo todo: fingindo não sentir a falta de carinho que assola a cidade, fingimos não querer mudar nada e estarmos contentes com o que temos. Fingimos não nos importar com os milhares nas ruas sem teto ou comida, com a exploração de crianças, com a repugnante corrupção gananciosa e a horrenda e desonesta má distribuição de renda neste país. Mais do que tudo, fingimos acreditar que tudo está certo e que nós não temos responsabilidade alguma.
Bem, pois que a temos sim, a tal responsabilidade. E agora, mais do que nunca, nós brasileiros temos que decidir o que queremos para o nosso país. Ou deixamos de lado a hipocrisia e seguimos o doce exemplo de Adoniram ou estamos todos condenados a viver na República da Mentira. Um lugar onde um fantoche inexpressivo, pior que a equivocada Cristina Kirchner, irá governar nosso país como se acreditássemos que isso está correto. Uma candidata tão fabricada e falsa que nada me espantaria se nela estiver pregada uma etiqueta do tipo: Made in China ou Hecho en Paraguay.
Apesar de não parecer que há grandes relações entre Adoniran e nossas posições políticas e sociais, creio mesmo que temos que ser mais honestos e verdadeiros, pois, que a verdade anda a fazer muita falta aqui no Brasil. Por isso, seja lá qual for o resultado destas eleições, queria, muito mesmo, que nos mostrássemos mais e mais a cada dia, que o bom senso não nos impedisse de vivermos com toda a intensidade que esta vida merece. Estamos aqui para fazer diferença na vida daqueles que amamos, e isso deve incluir lutar para que nosso país seja mais honesto e verdadeiro também.
Um longo abraço para todos, um beijo e boa semana.
Mari
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