Poems by Carlos Pac Nobre |
O (In)fiel Depositário
Tanto sonho e esperança
nessa tão nobre paixão.
Rapariga:
Tu
Queres.
Tudo.
Eu
Quero.
Quase tudo.
Por favor,
não faças de mim o teu fiel depositário.
Ando a perder emoções como se fossem coisas, sabes?
Ainda ontem foi um pouco de vergonha.
Na tua cara.
"Puta", dizes?
Se é esse o nome que escolhes..
Talvez. tenho os meus dias, sim.
Confia-me tudo,
menos fantasias.
Por estes dias
não as guardo por muito tempo.
No teu Coração
Procura no sítio mais escabroso do teu coração
Lá me encontrarás
a cantar
de cerveja na mão
E se te parecer que sorrio
não passará de uma impressão
causada pelo calafrio
constante que me traz a solidão
Baixa o volume,
dá-me a mão
e um abraço
é que eu passo
tanto tempo
à tua espera.
A Dor de Uma Vida
Esta é a dor de uma vida
à procura da batida
que embale com a perspectiva
que para ti já foi esquecida.
Algures na luta da nossa adolescência
naquela rebelde cadência
sem dó nem condescendência
na puta da consciência.
Ainda te lembras?
"Um dia o Sol brilhará para todos nós"
Eu ainda me lembro.
Eu ainda acredito.
Simétrica
Pára de olhar para o cabelo dela:
Já cresceu tudo o que tinha para crescer
E mesmo que algum dia ultrapasse
Aquela marca certinha um pouco abaixo dos ombros
Ela prontamente corrigirá esse erro assimétrico
Com uma tesoura nas suas próprias mãos
Por isso pára de olhar
Tu sabes que nunca poderás amar alguém assim.
Sitcom
As gargalhadas gravadas
na desordem controlada
daquilo que supostamente
nos deve identificar uns com os outros.
Nós não, miúda.
Lembra-te de quem somos.
Somos nós.
Mais do que um emaranhado de frases feitas
com um detonador preparado para disparar
um riso maquinal e universal
(“Uni-vos, gentes do Mundo
Uni-vos e ride
a UMA só voz!”)
Nós não, miúda.
Lembra-te de quem somos.
Somos nós.
Ou pelo menos temos a obrigação de o tentar ser.
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