Interessou-se em demasia por ele e pelo convite para um café. Ele era diferente, atrevidamente cavalheiro e docemente imoral em suas conversar roubadas. Conversas íntimas e fluídas como aquelas entre antigos amigos à mesa de um bar. Riam juntos, discutiam e ouviam conselhos sem nunca terem se visto ou ouvido. Mais do que tudo, excitavam-se com seus jogos astutos de palavras e, fugidios, buscavam-se pelo telefone e sorriam. Teriam que se ver. Ela sentia como antes sentira: o asfalto aproximava-se em alta velocidade em sua direção. O desejava e temia mesmo antes de vê-lo pela primeira vez, pois sentia haver nele aquela força, natural em alguns homens, que a atraía e a encantava. Desta vez ela iria deixar-se levar como folha sem vontade no outono, se perderia. Eram 6:30pm daquele sábado e, no café, ela tentava concentrar-se lendo algo sobre Obama e pensava o quão difícil era a tarefa daquele homem. Leu um parágrafo duas vezes, mas as letras dançavam e a mente fugia minando a tola tentativa de disfarçar a ansiedade na espinha. E se não gostasse dele, e se ele não viesse? Havia chegado muito cedo e esperaria uma hora ainda. Estava assim, a refletir no que faria, quando chegou o SMS. “Onde está?”, perguntava ele. “No café do lado de fora, cheguei cedo.”, respondeu um tanto sem jeito. Nova mensagem: “Look at your back... :]]”. E viram-se através do vidro, e sorriram. Sentiu-se bem ao vê-lo chegando como uma onda a tomar-lhe de uma vez. Aquele homem abusado chegou com mãos, braços, pernas e boca sem perguntas e sem licenças como se fosse nela implícito, ou melhor, explícito o desejo de tê-lo o mais rapidamente possível. “Quem ele pensa que é?”, pensou enquanto argumentava consigo mesma se realmente seria capaz de desejá-lo como sentira durante suas conversas líquidas. Havia defeitos a considerar, poderia ainda fazer com ele como fizera tantas vezes: comê-lo, mastigando bem e, depois, cuspi-lo. Primeiro o café, depois o carro e uma conversa desimportante que, por isso mesmo foi esquecida ao fechar a porta do carro. Por fim, o apartamento. O falível plano de um filme, café, conversa e, talvez, quem sabe o que mais foi, como se espera de seres normais, abortado nos primeiros dois minutos dentro do pequeno e divertidamente desorganizado apartamento. Se o “o que mais” dependia de alguém saber algo, eles o sabiam definitivamente bem. Mãos e pernas, bocas e línguas multiplicaram-se na mesma proporção que os minutos pareciam passar mais rapidamente lá fora. O asfalto estava chegando e nada poderia parar a queda livre. Ela iria perder-se.
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