¡Latinos, cómo no!
Finalmente, neste janeiro, comecei minha caminhada pela America Latina. Bom, na realidade voamos de Sampa a Buenos Aires, mas acho que mesmo assim, de maneira tão burguesa e pouquíssimo aventureira, vale a intenção, não? Vale querer ver tudo o que está para além de minhas fronteiras, querer conhecer uma América da qual faço parte, mas que sempre me pareceu tão distante de nossa realidade como se fossemos, nós brasileiros, uma exceção muito atípica e descomunal de latinidade. Sempre, de costas para todos os outros países que formam o nosso continente, miramos o Atlântico e sonhamos com a Europa e, talvez por isso, não sentimos uma completa identificação com nossos vizinhos. Incomoda-nos certa inadequação de nosso tão malemolente português ao veloz e dramático espanhol. Causa-nos estranhamento sermos frutos muito cordatos das navegações de Camões enquanto os outros, aqui ao lado, são filhos sempre rebeldes da imaginação de Cervantes. Não há como negar, sabemos montanhas sobre americanos, ingleses e franceses, porém, quase um nadica de nada sobre a história dos países que conosco fazem fronteira e, em nossos livros de história, apenas aparecem como figurantes inimigos em nossas raríssimas, e quase desimportantes, guerras esquecidas.
Parece, até certo ponto, que fazemos questão de mostrar-nos diferentes deles, quase mais naturalmente europeus do que latinos, como se assim nos distanciássemos de nossas próprias vergonhas e defeitos, espiando o rabo dos outros para fazer de conta que nós não o temos. Somos um povo americanizado, a negar sua plural miscigenação, que nasce falando inglês, e achando que o paraíso se encontra entre “Miame” e “New York” e que crê, por tanto, que tudo o que está México abaixo ou não existe ou resume-se a deserto, floresta, tráfico, índios e cordilheiras muito altas.
Eu sei, eu sei, o dinheiro sempre esteve ao norte, nas mãos daqueles que estão de cabeça para cima no Globo Terrestre desde sempre e que, desde então, nos fitam, superiores, olhando para baixo. Eles sempre foram os donos da história e da bola, sempre foram os melhores, sempre foram um exemplo de civilização, cultura e educação. Afinal, é do norte que vêm nossos heróis e a maioria de nossos ídolos. De lá vem a música que invade nossos ouvidos através das rádios e os desenhos animados que habitaram toda nossa infância. Eles inventaram a coca-cola, os micro-computadores, o i-pod e os i-phones. ¡Por Dios!, ¿qué más tú quieres, mujer? Ellos son dioses, ¿no?
Bom, não se trata, aqui, de querer mostrar que tudo que os norte-americanos tenham feito não tem valor, e nem de, muito às avessas de um mundo democrático, achar que somos melhores do que qualquer um, que isso não será verdade nem aqui nem no Japão. Trata-se de parar um pouco e olhar mais atentamente ao nosso redor, e de perceber que nós, os latinos, temos uma identidade da qual devemos ter orgulho, pois que esta, tão colorida e festiva forma de ser, tem toda a graça e seu devido valor. Trata-se de virar, só pra variar, a Terra de cabeça para baixo e olhar o nosso mundo com outra perspectiva. Trata-se de perceber toda a capacidade e o potencial que temos, e que basta assumirmos as nossas responsabilidades para que o sul comece a dar certo. É certo que devemos deixar de lado nossa síndrome de vira-latas, tal como Nelson Rodrigues proclamou, e entendermos, afinal, que somos, e seremos sempre, os responsáveis por nosso destino e por toda a fortuna ou o infortúnio que encontrarmos no fim deste caminho.
Vale lembrar:
1. O doce de leite é muito melhor que a pasta de amendoim.
2. As poesias de Drummond e Neruda são geniais e devem ser lidas por todos no Mundo.
3. Temos e tivemos os melhores jogadores de futebol sempre, mesmo que eles joguem longe da gente.
4. A Mônica e a Mafalda não são produtos de Mangas ou Comic Books, são latinas com certeza!
5. Eles têm a coca-cola, mas nós temos o Guaraná e o Paso de los Toros de Pomelo.
6. Os filmes americanos e europeus são fantásticos, mas há os grandes latinos também, como Alejandro González Iñarritú do México (se você ainda não viu um filme dele, Veja!)
7. Rimos, abraçamos e beijamos mais que todo mundo, e isso, verdadeiramente, não tem preço.
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