domingo, 27 de fevereiro de 2011

Hora de Gritar


De repente, pelo menos assim me pareceu daqui do Brasil, as nações árabes ou muçulmanas entraram em ebulição e, como brincadeira de dominó, ditadores que pareciam eternos estão a cair por terra e a perder seus postos e seus domínios. O povo na Tunísia, no Egito e agora na Líbia, entre outros, decidiu sair da pasmaceira e mostrar que algo precisava mudar. Claramente vimos muitos jovens, entre os 15 e 30 e poucos anos, irem às ruas para gritar numa demonstração inequívoca de seu descontentamento com a atual situação político-econômica de seus países. Saíram às ruas homens e mulheres, estudantes e professores, engenheiros, médicos e advogados decididos e dedicados a sua causa e, por dias, multiplicaram-se nas ruas e nas praças como uma onda que chega e toma todos os espaços que possa encontrar.
Para nós, aqui no ocidente, que estamos acostumados a ver-los como um povo radical e nada democrático, sempre cegos por crenças e culturas que não conseguimos compreender, tal força repentina contra o poder estabelecido causou certo estranhamento. Ainda mais quando lemos pasmos que a Internet e o Facebook serviram como meio de divulgação e aglutinação das idéias e desejos dos inconformados. E que, por tanto, a rede possibilitou todo este movimento revolucionário, simplesmente pelo fato de poder, democraticamente, comunicar tudo o que estava ocorrendo.
Ainda não sabemos qual será o desfecho que estas revoluções terão, se veremos sociedades mais justas e democráticas ou, muito ao revés, repúblicas islâmicas radicais nascerem. E, claro, torcemos para que tudo acabe bem e que a violência cesse o quanto antes. Entretanto, não podemos negar que nos dá certa inveja toda esta força mostrada por estes povos e nos perguntarmos: por que não lutamos por nossos direitos e ideais como o fazem eles? O que é necessário para que um povo se una para exigir que sua nação seja mais justa? Falta-nos um ditador sanguinário ou uma crença cega? Onde estão os nossos jovens e toda a sua possibilidade de comunicação? Não há nada errado em nosso país então? Não temos nós, também, motivos para sairmos às ruas e, pacificamente, exigir e gritar por condições melhores para todos e cada um de nós? Os brasileiros não existem enquanto seres sociais e cidadãos?
Talvez haja aqui poucas escolas e “shopping centers” demais. Talvez devêssemos ensinar nossas crianças a consumir menos e a pensar e ler mais. Temos em demasia e somos muito pouco, infelizmente. Fica o pensamento do amigo Carlão na canção “Sem Moral”, que para mim parece muito apropriado para descrever a sociedade tão materialista na qual vivemos:
A irrelevância da educação que não vem nem pro mal nem pro bem. Quem precisa não a tem e quem a tem desdenha... ...Temos tantos meios e nunca fomos tão desumanos.
Boa semana e um abraço longo pra todos.
Mari
Egito em dias de Revolução, 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário