Maurício corre em meio aos adultos e se diverte com seus
cachinhos loiros a pular freneticamente enquanto as pernas e os bracinhos de
boneco tentam acompanhar as passadas das pernas muito mais longas que as suas. Maurício
corre e eu me divirto, apenas porque ele está lá, enquanto faço os meus
exercícios toda noite na praia. Não conheço o Maurício, mas conheço a voz da
mãe dele que, vez ou outra, grita o nome do menino enquanto ela se exercita no
grupo vizinho ao meu. “Maurício, vem pra cá.”, grita a mãe enquanto o menino,
sem cerimônias, invade todos os espaços da praia que, a seu ver, lhe pertence.
Simpático e espirituoso, ágil e bonito, o menino que merecia
um poema de Vinícius tem mesmo passe livre entre todos nós. Ninguém, nenhum dos
adultos que está ali a exercitar-se, vê com maus olhos a chegada do menino. Na verdade,
muito ao revés disso, esperamos ansiosos por ele e por sua loira cabeleira a
correr feito gente em miniatura pela praia. Pois, como nos contou o próprio
Vinícius: “Filhos... Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos como
sabê-lo?” Os pequenos são a felicidade em carne e osso. E assim é o menino da
praia que faz-nos lembrar de que a vida é divertida, pois disso ele sabe bem e,
enquanto lutamos contra o tempo e tentamos retardar os reflexos deste e dos “maus
hábitos” adquiridos pela vida fazendo exercícios, diverte-se o Maurício. Tudo é
diversão.
Eu paro os tais exercícios apenas para vê-lo passar e fazer
das suas: Invadir a quadra de vôlei e fazer com que as regras do jogo deixem de
valer por alguns minutos até que os jogadores o tirem de cena apenas para que o
menino possa voltar rindo-se do vai e vem das pernas gigantes ao seu redor. Roubar
os obstáculos dos circuitos que por nós são respeitados como lei e norma
inquebrantáveis, e que por ele não fazem nenhum sentido, e que estão lá apenas
para que ele possa dispor deles como bem queira. Até que sua mãe grite mais uma
vez: “Maurício!”.
E lá se vão seus pezinhos a correr pela areia fofa mais uma
vez, brisa noturna a acompanhá-los e um sorriso de satisfação no rosto. Eu sorrio
também e penso que seria muito bom trazer meus meninos a praia para brincar. Talvez
até mesmo para brincar com ele, o menino que brinca de ir e vir, feito o mar,
pela praia de Iracema.
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