segunda-feira, 30 de junho de 2014

o meu Carlos...

Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.




porque deu-me saudades do meu Carlos que, 
apesar de não estar aqui, 
cá dentro sempre está.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

A Música (a tocar por cá)



Músicas e Políticas - Carlos Nobre Neves




Se um dia eu parasse de pensar em música...

       ... Eu já não seria, não sentiria. 

                                                                                  Um dia.


domingo, 22 de junho de 2014

Blue Bird




Da boca calada
sai muda a palavra não dita, mal dita.
Pássaro de asas quebradas,
amuado por não poder cumprir o seu destino de viajar pelo ar,
não voa e morre.
Pássaro palavra jamais deveria ficar calado, parado,
que o peito dos homens é ninho, fonte onde o som, naturalmente, nasce.
E d’ele jamais deveríamos fazer seu leito de morte,
peito-gaiola cerrado, a prisão solitária
de uma vida onde vence o medo
e de ondo o que nasce
é o silêncio.

sábado, 14 de junho de 2014

As Paixões



A vida é constituída pelas coisas que fazemos todo santo dia, pela rotina que criamos para nós mesmo e com a qual nos sentimos confortáveis neste mundo. O conhecido nos acalenta, e nos sentimos seguros e certos de nosso lugar neste mundo feito criança de mão dada aos pais. Pois, gostamos da tal rotina e não devemos nos enganar a respeito disso. Porém, entretanto e todavia, não é a rotina que nos traz as grandes emoções nesta mesma vida; não senhor!

A paixão, o medo, a excitação, a ansiedade, a alegria suprema, o drama e tudo aquilo que faz com que o coração saia do compasso e pule dentro do peito veem d’algo que não está na rotina ou na segurança; com toda a segurança. As grandes emoções vivem naquilo que escapa um pouco ao nosso controle, no risco que corremos n’alguns momentos, no que é feito pela primeira vez na vida, naquilo onde a lógica e a razão não comandam e onde quem manda é mesmo o coração.

Claro que não podemos viver de sobressaltos todo o tempo, pois que a vida não é vivida assim. Porém, também não podemos viver sem os tais saltos no peito de jeito algum. Porque, se assim for, a vida não terá sido vivida. O fato é que o tempo de pasmaceira e marasmo nos prepara para aguentar o tranco das tormentas e do vendaval, enquanto são as tais tempestades que nos movem na vida, nos dão as ganas e as garras para fazermos o que temos que fazer todos os dias.

Hoje farei algo que nunca fiz na vida e que mais parecia um sonho distante anos atrás. Hoje vou ao meu primeiro jogo de Copa do Mundo na vida; o primeiro de alguns que teremos aqui em Fortaleza. Hoje só penso nisso, aliás, ando a pensar na bola desde meados de maio porque o futebol é uma paixão para mim. Porque eu adoro estar em campo, torcer, gritar gol e xingar o juiz. Adoro fazer a OLA, comprar cerveja cara, ver os adversários bem de perto, ficar rouca no dia seguinte, sair caminhando do estádio no final da partida.

Desde ontem podemos ouvir aos Uruguaios e Costarriquenhos a agitar a cidade e isso me faz imaginar como não será esta minha terra na próxima terça-feira, dia de Brasil X México no Castelão. Explodiremos! Por isso, sejam lá quais forem as nossas paixões, o que interessa é agarrarmo-nos a elas sempre que pudermos para que o coração dispare no peito e para que a vida valha a pena, não? Então, que venham as paixões porque os braços estão abertos para elas!




domingo, 8 de junho de 2014

A fome

Devoro-me, devora-me.
Devoro-me lentamente, gourmet paciente e cuidadoso,
a tirar lascas finas e insanas da carne vermelha.
Devoro-me, devora-me.
A carne a alimentar-se da carne própria,
canibal,
antropófaga,
suicida,
a devorar suas próprias entranhas de garfo e faca nas mãos.
Devoro-me, devora-me.
Ciente da dor de assim deixar de ser inteiro,
e pelo caminho deixar cada bocado
de algo que de toda a forma nunca mais será, completo, o mesmo.
Devoro-me, devora-me até o fim. 



quarta-feira, 4 de junho de 2014

Lazaretto



My veins are blue and connected
And every single bone in my brain is electric
But I dig ditches like the best of 'em
Yo trabajo duro
Como en madera, ¿y eso?
Como en madera, ¿y eso?

And even God herself has fewer plans than me
But she never helps me out
when my scan's for free, though
She grabs a stick and then she pokes it at me
When I say nothing, I say everything
Yeah when I say nothing, I say everything

They put me down in a lazaretto
Born rotten, bored rotten
Making models of people I used to know
Out of coffee and cotton
And all of my illegitimate kids have begotten
Thrown down to the wolves, made feral for nothing
Quarantined on the Isle Of Man
And I'm trying to escape any way that I can, oh
Any way that I can, oh

I have no time left
Time is lost
No time at all, throw it in a garbage can
And I shake God's hand
I jump up and let her know when I can
This is how I'm gonna do it

They wanna blow down the prison
They're lighting fires with the cash of the masses
And like the dough I don't fall down




Mr. White.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

A Copa sem Cor



No dia 16 de julho de 1950, no Maracanã (o oficial – Estádio Jornalista Mário Filho) o Brasil e todos os brasileiros entraram numa depressão desportiva e moral. Naquele dia perdemos a Copa do Mundo de maneira insólita, inacreditável.  Num jogo onde podíamos empatar e ainda assim sermos campeões, o Brasil saiu na frente, cedeu o empate aos 21 minutos do segundo tempo e, quinze minutos depois, viu o que não podia e não devia ter acontecido. Aos 36 minutos do segundo tempo, como nunca antes e depois, um estádio de futebol cheio de gente calou-se; com um segundo gol os Uruguaios sagravam-se campeões.

Por estes dias assisti a um programa sobre o tal famigerado dia, a derrota das derrotas que assombrou a muitos por muito tempo e a todos aqueles jogadores brasileiros pela vida inteira. Ver e sentir o peso da derrota que os 11 homens de 50 carregaram, e carregam, com eles faz qualquer um chorar, verdade. Contudo, ver e sentir o amor inocente, quase pueril, deles pelo futebol em comparação com o que temos agora faz qualquer um entrar em depressão. “Deprimi”.

O certo é que estamos a menos de 15 dias do Mundial e falta-nos a cor, o som, a empolgação e a paixão dantes vistos por estas terras em todas as edições deste campeonato. Estamos acabrunhados com nossa ineficiência, tronchos com tudo o que foi prometido e deixou de fazer parte deste mundial, e apoquentados com todos os absurdos financeiros e morais que vemos desfilar sob nossos narizes diariamente.

Por isso, depois de 64 anos, a Copa (que deu a volta ao Mundo e foi até a África e o Japão para depois aportar em Terra Brasilis) chega aqui para um “replay” sem nenhum charme ou “je ne sais quoi”. O brasileiro simplesmente não consegue sentir-se bem com este campeonato que tem pouca relação com a paixão pela bola e laços estreitos, bem apertados, com a paixão pelo poder e o dinheiro.


Seja lá qual for o resultado desta Copa do Mundo de Futebol, eu cá dentro sinto uma melancólica inveja daqueles que puderam assistir ao Campeonato de 50. Tenho certeza que nenhum dos sentimentos de hoje, nem uma gota sequer desta vergonha que hoje sentimos, estavam presentes naquele julho de 50. Desta vez, não se faz necessária uma derrota inexplicável para que a tristeza faça parte desta estória, porque, se há um sentimento comum nesta Copa, este é a decepção.