terça-feira, 30 de abril de 2019

Mil Coisas





Mil Coisas
(Part. Drik Barbosa)
Emicida

É preciso residir num sonho
Tristonho quantas vezes eu passei aqui
Cabisbaixo sem notar o cantar dos colibris
Não ignore as cores do arco-íris

Medonho as vez o mundo é
Transponho tudo pra fé
Não é que ela me iluda, não
Risonho vou no contra pé
Jamais na marcha ré, sabe como é
Pra baixo todo santo ajuda

Um velho samba tem no seu refrão
Toda inspiração
Pra dissipar esse tempo esquisito
Tava meio bambo, mas de coração
Trago a oração
Num é crime acreditar, eu acredito

Mil coisas na cabeça, tá ligado?
Mil coisas na cabeça, tá ligado?
Cheiro de chuva, as plantinhas
E um café passado
Cai como luva, as frutinhas, em bocado

Eu tenho
Mil coisas aqui dentro, tá ligado?
Mil coisas aqui dentro, tá ligado?
As estrelas e os planetas
Girassóis e cometas
É o que eu tenho imaginado

Tem gente que quando pega a mão da gente
Faz a gente querer que o tempo pare
Que dure eternamente
É tão gostoso, tão doce, tão quente
Tão doido, isso é tão a gente

Tem gente que quando pega a mão da gente
Faz a gente querer que o tempo pare
Que dure eternamente
É tão gostoso, tão doce, tão quente
Tão doido, isso é tão a gente



É preciso residir num sonho
Tristonho quantas vezes eu passei aqui
Cabisbaixo sem notar o cantar dos colibris
Não ignore as cores do arco-íris

Medonho as vez o mundo é
Transponho tudo pra fé
E não é que ela me iluda
Risonho vou no contra pé
Jamais na marcha ré, sabe como é
Pra baixo todo santo ajuda

Um velho samba tem no seu refrão
Toda inspiração
Pra dissipar esse tempo esquisito
Tava meio bambo, mas de coração
Trago a oração
Num é crime acreditar, eu acredito

Mil coisas na cabeça, tá ligado?
Mil coisas na cabeça, tá ligado?
Cheiro de chuva, as plantinhas
E um café passado
Cai como luva, as frutinhas, em bocado

Eu tenho
Mil coisas aqui dentro, tá ligado?
Mil coisas aqui dentro, tá ligado?
As estrelas e os planetas
Girassóis e cometas
É o que eu tenho imaginado

Tem gente que quando pega a mão da gente
Faz a gente querer que o tempo pare
Que dure eternamente
É tão gostoso, tão doce, tão quente
Tão doido, isso é tão a gente

Tem gente que quando pega a mão da gente
Faz a gente querer que o tempo pare
Que dure eternamente
É tão gostoso, tão doce, tão quente
Tão doido, isso é tão a gente

aZuis




aZuis


As flores azuis sob os meus pés me impedem

de ver o caminho e

sigo de pés cegos; mente perdida nas cores das flores azuis

azul céu

azul turquesa

azul claro

azul marinho

azul da cor de todos os azuis de Picasso

espalham-se e se derramam neste infinito campo perdido

dos meus delírios

posso sentir o cheiro das minhas flores plantadas

tão delicadamente pelas minhas mãos

pela ilusão

com tanto carinho

Ah, as minhas flores que apenas por mim podem ser vistas

num campo onde jamais anoitece

e onde apenas os meus pés descalços caminham

Minhas flores

inventei a vós porquê

do cinza concreto eu não vivo  Não respiro

E mesmo ciente, como os cientistas,

de que vossa existência reside nas curvas dos meus delírios

a vós sigo

lindo caminho, infinito e tranquilo

solitário

e naufragado



O Beijo de Pablo Picasso

domingo, 28 de abril de 2019

Para ti e para mim...


Poemas de Mia Couto


Para Ti

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida



Destino

à ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganos

vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso

conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso

agora
que mais
me poderei vencer?



O Espelho

Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.

Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me a sós, perplexo,
com meu súbito reflexo.

A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Silêncio


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Silêncio

Grito.
grito alto,
grito muito,
Grito para que desde o céu me ouçam
mesmo sabendo que ninguém está a ouvir
o grito
animal que, desde dentro, me devora e urra
bêbado pelo desejo de sair.
grito alto,
grito muito,
Grito a dor sem fim até que a voz morra
no peito
animal morto sem fôlego que respira por instinto
uma linha raquítica de ar.
Grito pouco,
Grito rouco,
e eu muda;
oca,
sigo em silêncio.

Happiness


sábado, 20 de abril de 2019

12



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12

Aos 12 anos de idade a vida já tem contornos do que um dia, em breve, será. E sobra pouco, ou quase nadinha de nada, da infância no ser que um dia foi nosso bebê e que aprendemos a amar incondicionalmente desde o momento zero. Pois, aquela pessoa existe apenas dentro de uma barriga e já a amamos, não importando nada mais. Assim amamos aos nossos miúdos e pronto; e ponto final.

 A tal mudança não chegando a ser boa e nem ruim, é apenas o rumo natural da vida e, a bem da verdade, parte primordial da aventura de termos os miúdos ao nosso lado. A verdade, de verdade, é que é lindo vê-los crescer; uma alegria imensa como o sentimento de vermos uma obra de arte em construção. Contudo, ao mesmo tempo, ficam, para todo o sempre, as saudades da criança que tivemos no nosso colo em toda e qualquer situação porque ali era seu lugar mais seguro.

Hoje a adolescência já faz das suas no antes miudinho que cabia no meu colo. Pedro tem 12 anos, feitos por esses dias, e o fato é que há um par de anos ele não é mais o menino que corria de braços abertos quando eu chegava. Tudo nele está em evolução e revolução: novos interesses e amigos, e uma gama plural de sentimentos se apresentam. Ele começa a descobrir a vida para além dos muros que nós criamos a seu redor e, para nós, nos resta observarmos com atenção e um bocadinho de medo tudo que se passa; como sempre.

Aos 12 ele não corre mais ao meu encontro, fato. Porém, ainda há momentos de colo. E, mesmo que muito mais raros... Exatamente porque são mais raros, eles têm uma importância inigualável. Pedro não precisa mais do nosso colo porque sente medo ou cansaço, ou porque está acostumado com ele. O colo agora e apenas uma forma de expressão, silenciosa, de amor. E nos amaremos para sempre.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

cruel gentileza




cruel gentileza


um meio sorriso ao cair da tarde

e seus olhos me veem

fingindo verdadeiro o sentimento escondido

que se tem

cenas bonitas

um toque de graça

alguma canção para animar a casa

pequenas gentilezas bonitas

amorosas

e delicadas

cruelmente entregues feito presentes

para mais tarde

com um seco soco na boca do estômago

serem tiradas

quinta-feira, 4 de abril de 2019

La Jirafa





La Jirafa

Calle 13
Planta tus pies como dos raíces
Con ese tumbao'
Puede que me hechices
Cuidao'
Que no te pise
Mamita con cautela
Sacude la tela
En el nombre de tu abuela
Mi canelita
Mi azucarita
Mi linda sara
Mi tormentita huracanada
Mi santa clara
No vo' a dejar que te pise ninguna cosa rara
Vo' a prender las velas pa' que no te pase nada
Aquí no hay cuchillos
Ni pistolas
Aquí hay
Mucha, mucha
Mucha, mucha
Mucha cacerola
Aquí hay mucho sol
Muchas playas
Muchas olas
Aquí todo es melaza
Nada de pangola
Te vo' a pintar la playa
Azul crayola
Fuimonos
Que vamonos
Que fuimonos
Que en yola
Si no hay yola
Lo seguimos de rola
Pa' que
Pa' que
Veas como flota tu cola
Cuando te vi
Me dio mucha cosquilla
Fue como tener
A cuarenta hormigas
Rascándome la barriga
Tu sabes
Tu sabes
Tu sabes
Que estas que estilla
Me llevaste el pantalón tu ere una pilla
Vamo' a embarrarnos en una tortilla
Vamo' a hacer tembleque mezclao' con natilla
Me como tu madera
Con to' y polilla
Ella
Ella ella
Ella
Ella ella
Quiero ver
A toita la jirafa
Quiero que me patalee
A ver quien se zafa
Revolviendo la masa
Quiero cuatro tazas
De zanahoria con calabaza
Tu me llevas
Volando por el campo
Despegao' del piso
Caminando en zancos
Con una canasta de patanco
Pa' caminarle por encima a los barcos
Hasta llegarle a tu cordillera
La que me sana de to la curandera
Por ahí hay rumores
De que tu eres
La suerte de tos los colores
Un huerto repleto de frijoles
Mucho collar adornao' con caracoles
Tu nombre me salio en las tres tarjetas
Me lo dijeron los cometas
Que me meta
Hasta el fondo sin chapaleta
Que me fuera en el viaje
Sin maleta
Para darle la vuelta completa
A to' el planeta
En una colchoneta
Zapa
Zapa
Zapa
Zapateala suela
Vamo' a enroscar la arandela
Dame
Dame

terça-feira, 2 de abril de 2019

Na praia




Na praia


Ergo-me o mais que eu posso, bailarina sem sapatilhas,

na ponta dos pés

e todos os ossos da coluna vertebral esticam-se;

vivas lagartixas.

Queria poder, e tento, sem sustos

ou desespero, desde a minha praia te ver.

Pois hoje, numa linha reta com muitas léguas mar adentro

do lado de lá, de onde vem as vagas cheias de preguiça e calor,

você está.

E te desejo gigante, alto feito as girafas e da grandeza

dos elefantes

para que assim  meus olhos de telescópio pudessem,

depois de tantas noites cegas,

te enxergar.

E a tarde na praia seria, mais uma vez, perfeita e de mentira:

azul,

morna

e, contigo a meu lado,

silenciosa.