segunda-feira, 29 de junho de 2020

Não Esqueça



Música de uma menina tão sonora e delicada
que diz muito do que eu sempre digo para as minhas meninas
e que direi até o fim da minha vida
Love you, mulheres minhas
Gigi, Bibi e Vivi.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

olhos



olhos

Num piscar de olhos mais distraído

dez anos passados

Meus miúdos crescidos com seus rostos

mudados

No canto dos olhos já não conto as rugas e começo,

Despretensiosamente,

a aceitar que elas multipliquem-se infinitamente

A deixar na minha cara todas as marcas de uma

vida imensa de risadas

e de um oceano amoroso

de lágrimas

tudo tem começo, meio e fim

depois de tanto tempo, finalmente

compreendi e aceito que a nossa guerra

perdi                                                                       Contudo,

perdida,

ainda suspiro quando, sem querer, penso em ti


domingo, 21 de junho de 2020

"Bristled"

pEssOA




TENHO TANTO SENTIMENTO
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.



SIM, SEI BEM
Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.



SEGUE O TEU DESTINO,
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver
só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe
a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.




Meu ser vive na Noite e no Desejo.
Minha alma é uma lembrança que há em mim;




Longe de mim em mim existo
À parte de quem sou,
A sombra e o movimento em que consisto.


poemas de Fernando Pessoa

sábado, 13 de junho de 2020

AVIÕES

Azulejar





Azulejar


Leve  a luz morna entra pela janela

enquanto o sol amanhece a despertar passarinhos

e tantos outros seres miúdos

discretos

que habitam o meu jardim

assim,

Amanheço de olhos abertos

nas manhãs de outono

sem frio

sem pressa

observando a luz a vencer as vidraças

a imaginar

suave

o azul do céu

a bailar de braços dados com o azul do mar

No meu outono de olhos abertos

delicadamente e em silêncio

azulejo


terça-feira, 9 de junho de 2020

Sementes



Lugar de criança é na escola
no jardim
e no meio do abraço
dos nossos braços
Crianças não deveriam ter trabalho

Não ao trabalho infantil!

domingo, 7 de junho de 2020

Um Samba Canção






Um Samba Canção

Meu país e seu povo já foram conhecidos por sua alegria, pelas cores do Carnaval. Éramos, aos olhos dos habitantes de terras estrangeiras, uma nação de florestas sem fim, de música cheia de ritmo e do futebol. Éramos quase um paraíso idílico, um resort tropical. Pois 1, não somos a terra prometida. Nunca fomos um paraíso colorido.

Fomos colônia, isso sim. Fomos um país agrário comandado por seus coronéis com suas grandes fazendas, uma democracia onde mandava quem podia, uma nova nação e um imã para estrangeiros fugidos da fome e das guerras europeias. Fomos uma ditadura militar fomentada pelo neocolonialismo disfarçado dos Estados Unidos e, finalmente, um novo país com seu governo eleito com o voto direto que acreditávamos nos levar para o tão esperado futuro: mais justo e democrático para todo o cidadão. Pois 2, não somos hoje uma sociedade mais justa do que antes. Afinal, mudam as moscas mas...

E, então, nos vemos em 2020, em meio a uma pandemia, perdidos num país caótico e violento comandado por governantes egocêntricos, arbitrários e corruptos que são completamente incapazes de sentir empatia pelo povo ao qual governam. Num mundo onde há pouco espaço para a alegria e minguam as florestas, estamos observando a morte de muitos brasileiros, seja de morte matada ou de morte morrida, em meio a uma falta de comoção assustadora. Porque o que parece mais nos importar é quando será a tal reabertura dos Shopping Centers. Gastar o dinheiro que não temos é o ópio do brasileiro.

E eu, como muitos brasileiros, ando amuada no meu canto sem humor para a festa de Carnaval quiçá para sempre. Um triste samba canção será minha trilha sonora daqui para a frente.