segunda-feira, 30 de julho de 2018

O beijo




O beijo


Todo beijo é o primeiro

quando não é dado à toa,

longe do reflexo cotidiano; do mecânico.

Inesperado  assombro de um encontro

onde há corpo,

dois corpos,

mas onde a alma está tão presente

que no beijo ela se sente.

Cheio de sentido,

com o desejo do beijo vem a alma à ponta da língua

a espiar do que o amor é feito.

Deforme, úmido,

estúpido e 

quente;

algo que não se vê mas que até nos ossos existe fisicamente.

Assim, tão pouco lógico, e único apesar de múltiplo

é o beijo que carrego comigo;

guardado

numa gaveta esquecida

ao teu

lado.


domingo, 22 de julho de 2018

Miguel





Miguel

Miguel ainda não tem fotos e, sendo assim, desconheço a beleza que com ele nascerá. Sim, com toda criança nasce uma beleza apenas sua, desenhada pela alegria que ela traz consigo para esse mundo que, sem crianças, seria menos divertido e bonito. Bom, não sei quanto às outras pessoas, mas, para mim, um mundo sem crianças é um mundo inconcebível. Meu mundo é muito melhor, mais colorido e cheio de amor porque as minhas crianças existem. E isso, essa felicidade ilimitada e instantânea não necessita de muito; ela é bem simples. Meus sobrinhos e afilhados me deixam mais feliz sem necessidade de grandes feitos, apenas porque eles existem.

Pois apenas a existência deles pôde trazer para essa minha vida enchentes de abraços e uma infinidade de beijinhos. Com eles veio a risada sem motivo e sem parada, brincadeiras diárias e muito desenho animado. Através deles cresci, aprendi o que é ser um adulto e o que é, verdadeiramente, amar a alguém muito mais do a si mesmo. Meus miúdos são como sorvete de goiaba numa tarde quente de verão: aquilo que eu preciso para ser feliz.

Miguel é o mais novo miúdo do pedaço e, a bem da verdade, ele ainda não está aqui ao nosso lado. Por enquanto navega na barriga da mamãe a crescer para logo mais, antes do ano chegar ao fim, vir a este mundo complicado e um tanto confuso. Por enquanto Miga apenas existe, tranquilo, e não vejo a hora de vê-lo por aqui. Vou amá-lo, já o amo, como amo a todos os meus miúdos: a cada um deles de maneira diferente de acordo com a personalidade e a individualidade de cada um, e, ainda assim, com a mesma enlouquecedora e infinita intensidade.

Menino, espero que gostes do teu nome: Miguel. É nome bonito aos meus ouvidos e, por isso, com muita honra o escolhi. Terás nome de anjo, e o nome de um dos homens mais queridos que eu conheci; meu tio-avô Miguel. Já espero por ti, Miguelito! Ya te quiero mucho, mi cariño.

domingo, 15 de julho de 2018

Einstein




Einstein

Ana esqueceu-se do porquê abrira a pequena gaveta branca. Buscava algo, mas, num repente, perdera o foco e a tranquilidade que a acompanhavam nos últimos tempos. Uma foto esquecida, lembrança a respirar suave sob um caderno antigo e cheio de ilusões balzaquianas, roubara seu sossego. João ainda estava ali, calado, de tocaia atrás de um grande carvalho que habita a cabeça dela.

O som de uma ambulância atravessa a janela do pequeno apartamento e abafa, por um segundo, o pensamento da menina. A vida continua rotineira e pacífica... Contudo, como sempre, os olhos dela perdiam-se nos dele como se houvesse algo fundamental a descobrir por trás daquelas retinas. Ana estava, uma outra vez, à deriva em seu mar verde.

O oceano que nela habita transbordara sem avisos, sem que ela tivesse se apercebido claramente do que acontecia. Lágrimas, soluços e o nó na garganta ainda estavam lá e este era um fato inesperado. Por quê? Pensava ela. Por que todas as coisas tiveram que correr assim: ironicamente realistas e debochadas? Uma segunda ambulância passa sob sua janela, e Ana fecha a gaveta sem barulho para não acordar mais alguma outra memória exilada.

Anos se apresentavam como dias naquele momento num tempo relativamente imperfeito, a fazer com que tudo que não existia mais há tanto tempo - João perto dela – parecesse real; atual. Não o era. Ana lembrou-se de Albert Einstein e da sua relatividade do tempo como se isso pudesse explicar o absurdo de algo há tanto passado fazer-se ridiculamente presente. O tempo passa de maneira distinta em situações diferentes. Pois, suspirou ela, dentro da gaveta branca ele arrasta-se lentamente.


segunda-feira, 9 de julho de 2018

dia-a-dia




dia-a-dia

De todas as cores escolhi a tua para colorir

os meus dias.

Tons de caramelo cheios de cheiros doces

e sorrisos de menino. Todas

as coisas que se encontram fora da lógica

e fazem tanto sentido;

borboletas.

Sol do meio dia de outono, brisa leve,

meu dia vai ao meio

e eu penso se ainda te vejo.

Não vejo,

apenas revejo nas cores do meu dia, de todos os dias,

que em tantos deles

tu estás lá a sussurrar palavras bonitas

de maneira que aqui elas não

possam chegar.

Segue o dia...

Seguem os dias de cor de caramelo e tons de amarelo,

e eu penso.

A Cor É Rosa






A Cor É Rosa
Silva

Para abraçar o sol
E fechar os olhos
Para falar de amor
Deitar em seu colo
Vim de outra cidade
Eu sou da estrada, sou rosa

Rosa no céu azul
Te beijei os ombros
Você que me contou
Sobre os seus assombros
Assombros de amor
De lá do fundo do seu mar

E sempre que eu pensar no meu bem
Vou colorir o dia
Faço o céu de rosa
E ninguém vai duvidar da vida

Sempre que eu pensar no meu bem
Vou colorir o dia
Faço o céu de rosa
E ninguém vai duvidar da vida