quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Meu Rei

 


Meu Rei


Urubu, meu rei, voa soberano

forte

muito para além da minha  vertigem

que me ata à terra

pois nasci sem asas e me parece alto demais

o teu céu

Paira meu rei dono de sua beleza própria

Ímpar e real

Vem de cabeça colorida e penas negras

Vem de cabeça colorida e penas brancas

Seja lá como for

Venha

Porque quando te avisto eu sei e sinto

que o chão onde piso é meu

urubu, meu norte, meu forte

reina absoluto

a planar sem esforço

no meu céu

 

 

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

A gift...

 ...poetry from overseas.



No Te Va Gustar


Chau

 

No Te Va Gustar

 

Estábamos los dos mirando el mar cuando la tarde moría

Como moría lo nuestro, juro que no lo sabía

Miré para mi derecha, vi que desaparecías

Grité con todas mis fuerzas y noté que no me oías

Me quedé toda la noche en la arena

Intenté que algo valiera la pena

No puedo conseguir, cambiar ni corregir

Lo que me corre en las venas.

Corazón hoy no dejes de latir

Te alejaste un día, ahora decidiste venir

Ha pasado más de un año y vos no estás

¿Por qué habría de creerte?

Hubiera dado la vida y mucho más

Por sólo volver a verte

No podría darme el lujo de ceder ante tu llanto

No pienso abrir las heridas

De haberte querido tanto

Escuché pero dejé que se fuera

Recordé todo lo libre que era

No puedo conseguir, cambiar ni corregir

Lo que me corre en las venas

Corazón hoy no dejes de latir

Te alejaste un día, ahora decidiste venir

Corazón hoy no dejes de latir

Te alejaste un día, ahora decidiste venir

Chau

Corazón te alejaste un día

Corazón te alejaste un día

Corazón

 

 


sexta-feira, 16 de outubro de 2020

O futuro


 

O futuro

 

O Cheiro da chuva que caiu há dias

morna e intensa

alagando o mundo com sua música

paira no ar enquanto

Todos os seres miúdos festejam a vida

nas poças d’água que persistem;

insistem

Úmidos, meus pés agarram-se ao chão

que ainda se lembra da enxurrada de gotas pacíficas

Quando eu crescer e for algo para além de gente,

melhor do que gente

Quero ser árvore sem fim com minhas raízes prezas nas profundezas da terra

mirando por cima das copas alheias

A ver o sol brotar no horizonte antes de que o mundo acorde

podendo ouvir, silenciosas,

às gotas de chuva deslizando pelas minhas folhas

pelos meus galhos

lentamente a descer pelo meu tronco

até deitarem-se ao chão a matar a sede da terra

No futuro quero, verdadeiramente,

ser parte do meu mundo

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

sábado, 3 de outubro de 2020

Quino para mim

 



Quino para mim

 

Quando meu irmão e eu éramos bem pequenos minha mãe lia para nós, como tantas outras mães, na hora de dormir. No geral, estórias saídas da coleção dos contos dos irmãos Grimm, dos quais a minha favorita era a Pequena Sereia. Nessa versão, sem os retoques açucarados da Disney, a tal sereia que havia se apaixonado pelo príncipe morria e virava, como todo sereia quando morre, espuma do mar no final.  E eu achava aquilo lindo! Sinal de minha prematura paixão pelo drama, não?

Seja lá porque for, meus pais tinham o hábito de comprar coleções de livros para a casa: enciclopédias, a Bíblia em vários volumes (os quais eu nunca li), os Clássicos da Literatura Mundial (quase todos lidos até os 20 anos onde descobri muito - Eça de Queiroz, Émile Zola, Tolstói, Standhal, Machado de Assis, Kafka, Dante e outros), e uma coleção de livros sobre a educação de crianças.  

E foi aí, numa divertida coleção de livros dos anos 70 que tentava ensinar aos meus pais como educar aos seus filhos que eu descobri a Mafalda, a minha Mafaldinha. Em cada capítulo da tal coleção havia uma tira em quadrinhos de Quino com Mafalda e sua família e amigos a ilustrar o tema. Ainda me lembro de pedir a minha mãe que lesse as estorinhas para mim, de procurá-las entre as páginas, de serem uma das primeiras coisas que eu li sozinha.

Assim, ainda antes de aprender a ler, lá pelos 4 ou 5 anos de idade, eu já era apaixonada pela menina dos anos 60, Mafalda, com sua inteligência e personalidade espirituosa. Não sei ao certo o quanto essa personagem influenciou-me, ou se apenas encontrei nela, muito cedo em minha vida, um exemplo de menina com a qual me identificava profundamente. Para mim Mafalda existe, e é um ser de carne e osso até os de hoje. Mafalda é minha heroína para a vida.

Cresci e comprei todos os livros editados com as tirinhas de Mafalda que encontrei pelo caminho. Versões em português e espanhol de Toda a Mafalda, com as tirinhas que Quino aceitou publicar em uma edição fantástica para mim, e Mafalda Inédita com as tirinhas que na opinião dele deveriam ter ficado longe de nossas vistas. Nunca! Nenhuma Mafalda deve ficar escondida. Não me canso, e creio que nunca me cansarei, de ler e reler mi Mafaldita que já não é escrita desde 1973. E isso é incrível.

No último dia 30, um dia depois do meu aniversário, Quino faleceu aos 88 anos. Mafalda foi oficialmente publicada pela primeira vez no dia 29 de Setembro de 1964 no hebdomadário Primera Plana na Argentina.  Meu coração triste ficou apertado e meus olhos alagados com a notícia. Quino não deveria morrer nunca, muito menos perto do dia 29 de setembro! Senti a perda dele como se um membro de minha família tivesse partido. Quino é o pai de Mafalda, e foi o criador de tantos outros personagens geniais. Um homem de ideais e que, tanto quanto pode, resistiu ao capitalismo sem ideias. Quino era Mafalda em carne e osso e, sendo assim, um verdadeiro herói para mim.

 

Mafalda e eu estamos em luto por um tempo.

Hasta luego Señor Joaquín Salvador Lavado. Hasta mi Quino!