segunda-feira, 29 de abril de 2013

A Sereia



Um dia quis ser sereia e atravessar este oceano.
Afoguei-me.
Crente como os tolos e os pios, que creem nos santos
e nas palavras escritas como se
elas fossem o eco d’alma, acreditei.
Acreditei
que teria forças para cruzar o Atlântico (oceanomarlagorioágua)
e que do outro lado...
Que do outro lado veria o que daqui
não carecia d’olhos para ver.
Afoguei-me, pois não percebi que as águas são
naturalmente frias
e que sereias não existem para além de palavras que nunca deveriam
ter sido ditas, palavras vazias. Uma verdade feita de
mentiras.
Acreditei e, como se espera de todos os crentes,
entrei mar a dentro, a caminhar, sem medos.
Entregue à minha própria crença cega, tola e,
portanto,
a mais bela crença de toda esta vida,
afoguei-me.


sexta-feira, 26 de abril de 2013

dedos mudos


os dedos estão mudos
o coração cego
os olhos sem compreender
e a mente a perambular sem rumo na vida.
a poesia escondeu-se!



quinta-feira, 25 de abril de 2013

terça-feira, 23 de abril de 2013

Incomensurável



Não sei do tamanho das minhas saudades
que estão para além dos morros, para além do mar.
Sem fim nem começo, como todo sentimento
que se impõe sem percebermos,
a nascer pelas madrugadas caladas e repetitivas
silencioso e verdadeiro por seu caráter obscuro,
escuso; anormal.
Longe das vergonhas do dia eles passeiam
a respirar por noites úmidas e sem olhos.
Vagam nus, porque apenas assim podem estar;
nus e covardes tão plenos de sua covardia
visceral que fedem.
Não sei do tamanho das minhas saudades
do tamanho do teu medo
do tamanho deste desejo ridículo e abjeto,
tão consciente de não ter lugar em lugar algum
que como as saudades
nasceram sem querer
e não sabem
onde
quando
e como
hão de morrer.


segunda-feira, 22 de abril de 2013

sábado, 20 de abril de 2013

As idades da vida




Há determinadas fases da vida que são difíceis, se não todas, porque assim que chegamos a elas não estamos lá bem adaptados ao fato. E nos sentimos desconfortáveis, vez ou outra, como se usássemos uma roupa que necessita de acertos para cair-nos bem. E fica-nos a sensação de que ainda somos quem éramos há anos atrás apesar das pessoas esperarem que tenhamos um comportamento completamente diferente. De repente somos adultos, responsáveis, e certas bobagens parecem, aos olhos alheios, não fazerem mais parte do nosso “metier”.  E eu penso: como não?

Por estes dias, dias passados com Lucas e seus quase treze anos, salta-me aos olhos esta luta de todo ser humano neste processo de adaptar-se a esta nova versão do seu eu. Vê-lo neste meio termo, numa mescla de criança crescida com adulto que um dia virá a ser, faz-me lembrar de que eu também ando as voltas com uma fase a meio caminho de um lugar ainda desconhecido. Ele será um homem em 10 anos e eu terei que assumir que a meia idade será uma realidade sólida e real. E, apesar destes fatos, sei que ambos, nós dois, ainda sentiremos que muito de quem fomos ainda estará por cá mesmo que o espelho mostre que estamos, verdadeiramente, diferentes.

Claro que, em alguns momentos, dá-nos uma vontade louca de segurar o tempo pelo rabo e puxá-lo para trás. Vontade de termos uma segunda chance para não deixarmos escapar pelos dedos aqueles que amamos demais, vontade de ver nossos meninos ainda pequenos a caber no nosso colo e a nos amar apaixonadamente e sem restrições. Mas não há como voltar atrás. E a verdade é que, se pensarmos bem, não queremos abrir mão de tudo e todos que hoje fazem parte de nossa vida para voltar no tempo. Não mesmo. Estamos, então, fadados a uma saudade quentinha do que já foi, dos que já foram.

Sobra-nos a vontade curiosa de um futuro que estamos construindo agora. Pois, a vida nunca será fácil de ser vivida, mas, e sem sombra alguma de dúvida, ela é muito boa, interessante e divertida; mesmo que, às vezes, ela nos assuste pra valer.

Um beijo a todos que fizeram, fazem e sempre irão fazer parte da minha vida: meus amigos e minha família.




sexta-feira, 19 de abril de 2013

terça-feira, 16 de abril de 2013

Sem você




Os poemas andam a versar sobre tudo e
sobre o nada.
Apenas não há mais poesia alguma sobre você,
nenhuma palavra.
Hoje eles falam daquilo que está calado,
do oco que se sente quando descobre-se
que a alma fugiu de dentro da gente;
andorinha apressada pelo chegar de
outra estação.
E fito a vida a passar feito árvore sem folhas
num outono com duração eterna.
Não há mais flores, borboletas e os frutos
que se enxerga quando vivemos em verão. Não.
Sobrou-me o meu branco desbotado sem a tua cor
de terra, de canela.
Sobrou-me o inverno que chega sem perdão.
Não há mais poesia. Ela mingua de frio
num silêncio pacífico e vazio
de eternos dias sem você, enquanto
a vida se descolore.


segunda-feira, 15 de abril de 2013

sábado, 13 de abril de 2013

No Mundo de Dona Maroca




Ando a sentir-me personagem de folhetim, daqueles que ficam à janela vendo a vida alheia passar por achar que nada, mas nada mesmo neste mundo é mais importante que saber o que se passa entre as quatro paredes de outrem. E assim me imiscuo ao que a mim não me pertence, ao que não me diz respeito hoje e nunca o dirá, não por vontade própria, mas porque, tal como qualquer personagem, tenho minha vontade sobrepujada à vontade de meu autor bufão e tropical, o meu Brasil.

Pois que neste meu país, apesar de todos os pesares, de todos os problemas e questões tão importantes que nos afligem a cada dia, o que parece ser importante por estes dias e invade-me olhos e ouvidos, massivamente, é o fato de Daniela Mercury estar a dividir a cama com outra mulher. E fica a impressão que não nos interessa mais que haja ou não gente que mal come em nossas terras, que uma corja escolhida a dedo comande este nosso país, que tenhamos um dos piores níveis de educação e saúde dos países em desenvolvimento. E, por encanto, esquece-se que temos uma das mais injustas distribuições de renda do mundo nesta pátria rica de um povo, em sua maioria, muito pobre.  Nada, nadica de nada parece nos importar. Importa-nos apenas quem a fulana ou o beltrano está a foder como se isso tivesse qualquer relevância a alguém para além dos indivíduos que formam o tal casal.

E a verdade é que a mim não me interessa nem um pouco, nada mesmo, com quem a Sra. Mercury vem ou não a dormir, tanto quanto não me interessa a vida particular de quase ninguém a não ser a daqueles com quem divido a minha própria. E discute-se, como se fosse um caso de vida ou morte, se deve-se ou não ser legalizada a união civil  entre pessoas do mesmo sexo no Brasil. E eu pergunto: Como? Como podemos imaginar que devemos, ou podemos, nos meter na vida alheia assim? Claro que as pessoas que assim o querem devem poder casar-se com quem elas bem entendam. Amor é amor e jamais, em tempo algum nesta terra, será algo feio ou imoral. Duas pessoas adultas a querer dividir a vida para serem mais que amigas, para serem companheiras e cúmplices nos momentos em que mais se precisa é algo que deve ser legal em todos os sentidos que a palavra possa ter. Sim, isso é mais que legal, é algo muito bonito de se ver.

Talvez ande a faltar vida na vida de muita gente que, por falta de interesse na sua própria, procura interessar-se pela vida alheia. E isso, na arraia-miúda não chega a prejudicar quase ninguém, e faz mesmo é cansar a paciência dos ouvidos de quem compartilha tais redondezas. Mas esse não pode ser o assunto mais importante de uma nação. Uma nação e seus cidadãos devem preocupar-se, antes de tudo, com a liberdade de todas as gentes sem distinção de credo, cor, gênero, opção sexual e/ou qualquer outro detalhe que resolvamos ressaltar. O que significa que todos nós temos os mesmos direitos e deveres sempre, e quanto a isso não deveria haver sequer qualquer discussão.

Uma nação e os seus cidadãos deveriam preocupar-se em lutar pelo bem comum, por aquilo que afeta-nos diariamente e que poderia tornar a vida melhor e mais fácil para aqueles que têm menos possibilidades e poderes nas mãos. Falta-nos, isso sim, preocuparmos e lutarmos mais por aquilo que realmente importa: por uma sociedade mais justa e leal para cada um de nós.



terça-feira, 9 de abril de 2013

Tanto


Tanto sonho e esperança,
tanto que parecia infinito, eternamente lindo e poético em toda sua inocência  sincera
e descabida.
E de tanto passou-se a pouco
E do pouco se fez
o nada.
Tão sólido e constante que este nada
tornou-se o todo. O tudo que preenche de realidade seca e prática a vida
que um dia ousou vestir-se de fantasia
e nua sair pela rua

plena

de tanto 

sonho


esperança. 


terça-feira, 2 de abril de 2013

Se





se tudo, tudo pudesse ser
apenas ser
sem ter que pensar no que fazer
sem ter que fingir o querer
sem saber, ou sequer imaginar, que exista o dever
ingenuo e primitivo
não se deve nada
não devemos nada
nada mais para além do verdadeiro sentir
e ser,
sermos quem somos com o nosso querer
sem o medo
do
desejo.
apenas ser