quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Desejos




Desejos

 

Quase findo o ano, ano pranto tamanho

por tantos de olhos fechados.

Para o próximo ano deixo registrada a minha lista de desejos;

infinitos e infinitivos.

Andar de cara lavada e liberta pelas ruas

é um deles.

Depois quero

estar no meio de muita gente,

sentar no parque e  receber o entardecer a ouvir Bach

(Suite para Cello  Nº 1 com Yo Yo Ma).

Sonhar.

Passar a madrugada com os amigos no bar...

cerveja gelada, conversa fiada, risadas.

Abraçar.

Por fim quero

saber que depois de tanta dor não haverá mais o que temer.

Dançar.

Desejo que as cicatrizes deixadas na pele

sejam eternas

marcas a mostrar que nos tornamos mais fortes;

pessoas melhores.

Quero renascer feito lagarta,

abrir as asas e, borboleta

voar.






domingo, 13 de dezembro de 2020

É tudo pra ontem


Viver é partir, voltar e repartir...

Ano difícil que deixou a gente mais triste e mais sozinho. Calados cada qual no seu cantinho.
Saudades de sair por aí sem máscara no rosto,
de abraçar aos amigos e aos amados forte; com gosto.
Saudades de ser livre e de ver e ouvir tudo que o mundo tem para nós,
para mim.
Porque o mundo através das telas não é o mundo que eu conheço,
Mundo frio que não tem gosto
e não tem cheiro.
O mundo  de verdade tem que ser vivido ao vivo e em close, 
a menos de um centímetro
de mim.

Que 2021 nos traga a liberdade!



domingo, 6 de dezembro de 2020

Juca


 

Juca

O urubu que tem medo de altura.

 

Primeira parte

 

 

Juca nasceu como todo pequeno urubu. Lindinho, de acordo com o que a mamãe dele dizia para todo mundo. E dividindo seu ninho, no alto de um edifício de 25 andares, com mais dois irmãos; Joaquim e Gabriela.

A família estava muito alegre com o nascimento dos trigêmeos e papai e mamãe urubu trabalhavam muito para cuidar bem dos três filhotinhos. Joaquim era grande e esfomeado, comia mais do que o papai! Gabriela era muito esperta, sempre a primeira a perceber que papai e mamãe estavam retornando ao ninho. Juca... bom, o Juca era falante e o menor dos três. Foi o último a sair do ovo, desconfiado e cheio de dúvidas.

Juca achava o seu ovo tão confortável e quentinho que não queria sair dele não. Por que ele tinha que sair?

Eu tinha mesmo que nascer? Pensava o Juca estranhando um pouco a confusão do seu ninho.



Segunda parte

 


Juca cresceu rapidamente como cresce todo pássaro e um pouco mais de três meses depois o momento de deixar o ninho chegou.

Ele não via a hora de sair do ninho. Corajoso, Juca queria conhecer a cidade de São Paulo e todas as suas ruas e avenidas sozinho. Juca queria fazer amigos, queria aventurar-se pelos céus, queria levar uma vida de urubu diferente.

Seus irmão e pais eram aves fortes e inteligentes, e isso era muito bom. Porém, Juca gostava era de conversar. Coisa que não era natural para sua espécie. Os urubus não são bons de papo, contou-lhe o pombo Arthur. O único amigo de Juca até o momento.

Realmente, a família do Juca era um tanto calada. Falavam apenas o necessário e, por isso, Juca deixou seu ninho assim que suas penas cresceram um pouco mais. Ele queria ver se havia alguém por ali, no seu telhado, com quem pudesse trocar umas palavrinhas.

Foi assim que Juca conheceu o pombo Arthur que gostava de descansar sentado sobre o parapeito do lado oeste do edifício onde ficava a casa da família de urubus. Arthur, que voava pela cidade inteira e era tagarela, contara tudo que sabia sobre a gigante cidade para o pequeno urubu curioso.

Então, naquela manhã, na qual toda a família urubu deixou seu ninho no canto leste do telhado para os primeiros ensaios aéreos dos filhotes, todos bateram suas asas com alegria. E Juca estava certo de que aquilo seria muito bom. Enfim ele seria livre para ver o mundo!

Toda a família postou-se no parapeito do prédio e com um salto e batendo as asas deixou sua antiga casa. Papai e mamãe foram primeiro para mostrar como se fazia. Logo decolaram Joaquim e Gabriela a imitar seus pais.

Feliz, Juca abriu suas asas. Olhou para as ruas lá embaixo... Meu Deus! Lá embaixo era longe demais. Coisa que Juca, que nunca havia subido no parapeito, não sabia.

O mundo começou a girar diante dos olhos do pobre Juca. E ele achou que morreria tamanho era o medo que congelara as asas do pequeno urubu. As vistas escureceram e Juca conseguiu apenas dar um passo atrás e descer do parapeito antes de desmaiar.


Pour une poignée de Caramels

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Mordida

 


Mordida

dentes

teus dentes

na minha carne

mais dentes

meus dentes sorriem e os olhos se fecham

viajo egoísta por dentro de mim numa tempestade de sinapses

cérebro iluminado por milhões de estrelas cadentes

teus dentes

tua língua quente

e dentes

na minha carne macia

um arrepio desmedido, sem medos,

corre pela coluna vertebral abaixo e erguem-se todos os pelos

desejo

te sirvo pernas, braços, ombro, os peitos

o corpo inteiro

devora-me sem perguntas ou questionamentos

dentes

teus dentes deixaram na pele

n’alma minha

invisível marca permanente

 

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

O gênio da bola


         
Adeus gênio.

           Nos deixa um pouco mais sozinhos, nesse ano já tão triste, o primeiro gênio da bola que eu vi jogar ao vivo e a cores diante dos meus olhos. Diego Armando Maradona, o redentor de todos os latinos frente à Inglaterra nos encantou a todos no México de 86. O louco gênial, um gênio enlouquecido que transbordava vida e em si não cabia foi durante toda a vida irreverente, falastrão e passional; el Pibe. 
     
         Aquele que ganhou uma Copa do Mundo quase sozinho, tinha estatura pequena e parecia diminuto frente aos grandalhões. Contudo, agigantava-se de tal maneira dentro das quatro linhas que era quase impossível pará-lo; foi impossível superá-lo.

          De acordo com Zico, o meu primeiro ídolo no futebol, Maradona foi o melhor de sua época. Inesquecível! Maior que Maradona, única e exclusivamente existiu e existe Pelé. O mundo da bola chora copiosamente a perda de um dos seus divinos. Choramos.

Hasta luego Diego. 









quarta-feira, 11 de novembro de 2020

insônia

 




insÔnia


Às vezes, as saudades deixam as unhas longas demais

E arranham-me o peito,

A garganta

Dói-me, então, a carne, e foge em completa rebeldia

o sono que a tudo, em ondas, levaria

Nesses momentos amo-te do avesso

ao contrário do que deveria ser o amor verdadeiro

Te amo profundamente de mentira

Queria teu colo, só o teu colo

Pois que outros braços e ombros,

outro pescoço,

não têm pra mim a mesma serventia

Abre teus braços

e deixe-me sentir as saudosas longas unhas afiadas

nos ossos

Best Friend

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

O erro

 


O erro

 

Errar é humano. Assim, com tão poucas palavras, explicamos a completa fragilidade do ser humano; a perfeição a nós não nos pertence. Por tal razão tão intrínseca à nossa natureza, compreender o erro humano torna-se algo fácil, simples e, muitas vezes, banal para a maioria das pessoas. Mesmo que venha a raiva, a mágoa ou a indignação; até nesses momentos nos quais o erro é grave, podemos compreender e parte de nós aceita o erro próprio ou alheio.

Entretanto, espera-se de Deus que não erre. Deus não erra, se diz a boca miúda e aos berros pelas esquinas. O que acontece com frequência é que, por nossa ignorância e miopia, não vemos longe o bastante e, então, não compreendemos as razões que pertencem à razão de tudo que existe, do ser.

Pode ser. Contudo, nada e nem ninguém irá me convencer em tempo algum a aceitar a morte de uma criança como algo certo. Não o é. Sendo assim, por obra de Deus, e participação dos homens, erros ocorrem. Deus errou para mim, e não sei se será possível compreender ou aceitar tal falha n’algum dia.

Nessa semana enterramos uma de nossas crianças. Um de meus primos perdeu seu filho aos 14 anos de idade e eu, dias depois, não sei o que dizer direito sobre isso. Sei apenas que perdemos parte de nossa vida, que um pedaço do que ainda seria de nós desapareceu. Sei que no momento no qual abracei meu primo e choramos cientes de nossa impotência e fragilidade, me senti uma criança pequena e perdida. Muda.

Compreendi que não são apenas os jovens que não sentem serem mortais, pois nós adultos também acreditamos piamente na imortalidade de nossas crianças. Elas estarão aqui para sempre, assim deve ser e assim será. Mas não foi.

Hoje sinto uma dor que até pouco desconhecia. Hoje percebo um pouco melhor o quão imensurável e insustentável é a dor que os pais sentem ao perder um filho. Não há palavra que defina essa dor amargamente infinita.

 

 

Corpocontinente


Vou passear em seu delírio

Vou te relembrar como se faz uma saudade

Saudade

Palavra inexistente

Num dialeto fora do nosso continente

Continente

Se acaso você passear por outras terras

Tomar um outro ar

Talvez seja bom

Mas quando escutar aquele som

Vai lembrar do que chamamos de nós

Tornarmos um e a saudade só se faz

Quando a soma de dois

Resulta em um sentido só pra nós

Vou passear em seu delírio

Vou te ensinar como se sente uma saudade

Saudade

Palavra inexistente

Num dialeto fora do nosso continente

Continente

Se acaso você passear por outras terras

Tomar um outro ar

Talvez seja bom

Mas quando escutar aquele som

Vai lembrar do que chamamos de nós

Tornarmos um e a saudade só se faz

Quando a soma de dois

Resulta em um sentido só pra nós

Vou passear em seu delírio

Vou te relembrar como se faz uma saudade

Saudade


quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Meu Rei

 


Meu Rei


Urubu, meu rei, voa soberano

forte

muito para além da minha  vertigem

que me ata à terra

pois nasci sem asas e me parece alto demais

o teu céu

Paira meu rei dono de sua beleza própria

Ímpar e real

Vem de cabeça colorida e penas negras

Vem de cabeça colorida e penas brancas

Seja lá como for

Venha

Porque quando te avisto eu sei e sinto

que o chão onde piso é meu

urubu, meu norte, meu forte

reina absoluto

a planar sem esforço

no meu céu

 

 

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

A gift...

 ...poetry from overseas.



No Te Va Gustar


Chau

 

No Te Va Gustar

 

Estábamos los dos mirando el mar cuando la tarde moría

Como moría lo nuestro, juro que no lo sabía

Miré para mi derecha, vi que desaparecías

Grité con todas mis fuerzas y noté que no me oías

Me quedé toda la noche en la arena

Intenté que algo valiera la pena

No puedo conseguir, cambiar ni corregir

Lo que me corre en las venas.

Corazón hoy no dejes de latir

Te alejaste un día, ahora decidiste venir

Ha pasado más de un año y vos no estás

¿Por qué habría de creerte?

Hubiera dado la vida y mucho más

Por sólo volver a verte

No podría darme el lujo de ceder ante tu llanto

No pienso abrir las heridas

De haberte querido tanto

Escuché pero dejé que se fuera

Recordé todo lo libre que era

No puedo conseguir, cambiar ni corregir

Lo que me corre en las venas

Corazón hoy no dejes de latir

Te alejaste un día, ahora decidiste venir

Corazón hoy no dejes de latir

Te alejaste un día, ahora decidiste venir

Chau

Corazón te alejaste un día

Corazón te alejaste un día

Corazón

 

 


sexta-feira, 16 de outubro de 2020

O futuro


 

O futuro

 

O Cheiro da chuva que caiu há dias

morna e intensa

alagando o mundo com sua música

paira no ar enquanto

Todos os seres miúdos festejam a vida

nas poças d’água que persistem;

insistem

Úmidos, meus pés agarram-se ao chão

que ainda se lembra da enxurrada de gotas pacíficas

Quando eu crescer e for algo para além de gente,

melhor do que gente

Quero ser árvore sem fim com minhas raízes prezas nas profundezas da terra

mirando por cima das copas alheias

A ver o sol brotar no horizonte antes de que o mundo acorde

podendo ouvir, silenciosas,

às gotas de chuva deslizando pelas minhas folhas

pelos meus galhos

lentamente a descer pelo meu tronco

até deitarem-se ao chão a matar a sede da terra

No futuro quero, verdadeiramente,

ser parte do meu mundo

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

sábado, 3 de outubro de 2020

Quino para mim

 



Quino para mim

 

Quando meu irmão e eu éramos bem pequenos minha mãe lia para nós, como tantas outras mães, na hora de dormir. No geral, estórias saídas da coleção dos contos dos irmãos Grimm, dos quais a minha favorita era a Pequena Sereia. Nessa versão, sem os retoques açucarados da Disney, a tal sereia que havia se apaixonado pelo príncipe morria e virava, como todo sereia quando morre, espuma do mar no final.  E eu achava aquilo lindo! Sinal de minha prematura paixão pelo drama, não?

Seja lá porque for, meus pais tinham o hábito de comprar coleções de livros para a casa: enciclopédias, a Bíblia em vários volumes (os quais eu nunca li), os Clássicos da Literatura Mundial (quase todos lidos até os 20 anos onde descobri muito - Eça de Queiroz, Émile Zola, Tolstói, Standhal, Machado de Assis, Kafka, Dante e outros), e uma coleção de livros sobre a educação de crianças.  

E foi aí, numa divertida coleção de livros dos anos 70 que tentava ensinar aos meus pais como educar aos seus filhos que eu descobri a Mafalda, a minha Mafaldinha. Em cada capítulo da tal coleção havia uma tira em quadrinhos de Quino com Mafalda e sua família e amigos a ilustrar o tema. Ainda me lembro de pedir a minha mãe que lesse as estorinhas para mim, de procurá-las entre as páginas, de serem uma das primeiras coisas que eu li sozinha.

Assim, ainda antes de aprender a ler, lá pelos 4 ou 5 anos de idade, eu já era apaixonada pela menina dos anos 60, Mafalda, com sua inteligência e personalidade espirituosa. Não sei ao certo o quanto essa personagem influenciou-me, ou se apenas encontrei nela, muito cedo em minha vida, um exemplo de menina com a qual me identificava profundamente. Para mim Mafalda existe, e é um ser de carne e osso até os de hoje. Mafalda é minha heroína para a vida.

Cresci e comprei todos os livros editados com as tirinhas de Mafalda que encontrei pelo caminho. Versões em português e espanhol de Toda a Mafalda, com as tirinhas que Quino aceitou publicar em uma edição fantástica para mim, e Mafalda Inédita com as tirinhas que na opinião dele deveriam ter ficado longe de nossas vistas. Nunca! Nenhuma Mafalda deve ficar escondida. Não me canso, e creio que nunca me cansarei, de ler e reler mi Mafaldita que já não é escrita desde 1973. E isso é incrível.

No último dia 30, um dia depois do meu aniversário, Quino faleceu aos 88 anos. Mafalda foi oficialmente publicada pela primeira vez no dia 29 de Setembro de 1964 no hebdomadário Primera Plana na Argentina.  Meu coração triste ficou apertado e meus olhos alagados com a notícia. Quino não deveria morrer nunca, muito menos perto do dia 29 de setembro! Senti a perda dele como se um membro de minha família tivesse partido. Quino é o pai de Mafalda, e foi o criador de tantos outros personagens geniais. Um homem de ideais e que, tanto quanto pode, resistiu ao capitalismo sem ideias. Quino era Mafalda em carne e osso e, sendo assim, um verdadeiro herói para mim.

 

Mafalda e eu estamos em luto por um tempo.

Hasta luego Señor Joaquín Salvador Lavado. Hasta mi Quino!

 

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

"E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas"

Quanto tempo o tempo tem...

 



Quanto tempo o tempo tem...

 

De acordo com Einstein o tempo é relativo

e em sua relatividade

eterno e infinito

 

O tempo tem todo o tempo do mundo

e apesar de nossa vã tentativa

de controla-lo

pelos dedos das mãos

ele escorre

e nos escapa

 

O tempo para o tempo não passa

nem pára

apenas a nossa mania de controle

quis a ele dar nomes finitos

exatos

com uma régua medidos

 

Segundos, minutos, horas...

 

Rebelde, há muitos anos decidi não usar relógios

para tentar, à la Peter Pan

esticar o tempo que aqui eu tenho

 

Bobagem minha,

guardado na alma e na cachola tenho todo o tempo do mundo

mesmo que por fora

lentamente

devore-me o tempo que por mim passa

feroz


Para além de mim, poeticamente

depois de muito tempo

em outras mentes

ficarão meus sonhos e minhas memórias

 

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

sObrE Os AmOrEs

 




sObrE Os AmOrEs

 

1

Abro as asas com toda a coragem

que me dá o medo

medo de morrer seca

afogada pelas saudades que apenas

a tua presente ausência me traz

 


2

Ao azul me lanço,

andorinha

que busca o calor sem sentir falta

de um novo verão;

não

vou em busca dos braços, meus laços,

que assim à distância não podem ser dados

atados

então, cheia de vontade alada

alço voo rumo ao norte,

meu norte

minha sorte

para meus amores multiplicados

no meu regaço

pousar

 


3

meu amor está aqui

                                       ali

                                                   acolá

multiplica-se e ganha cores, nuances que eu não sabia

havia

amor repartido é amor multiplicado

e por todo canto espalhado

agiganta-se

para além das fronteiras do mundo e se lança ao mar

meus amores

meus amores são muitos e são todos, todos eles

únicos

para sempre e

sempre sem

fim

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Se7e

 


Se7e

Sete

Setenta

Setecentos

Milhares de homens covardes que atiram pelas costas

caminham pelas ruas como se elas a eles pertencessem;

não pertencem

sete

setenta

setecentos

Centenas de milhares de homens covardes que atiram pelas costas

se acham superiores, semideuses;

não o são

sete

setenta

setecentos

milhões de vezes deveríamos nos perguntar porque deixamos

tão pacificamente

homens covardes com suas armas atirar nas costas da gente.

Talvez seja porque

se diz por aí que eles são a maioria

investidos do direito divino de dar as ordens por todos os cantos,

por onde caminham os nossos pés

por onde tocam as nossas mãos;

não

                                sete

                                setenta

                                setecentos

                                e de uma vez por todas devemos abrir bem os olhos

                                para ver:

                                a maioria somos nós

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Imbecilidade na Moda

 

Imbecilidade na Moda

Que sempre houve os santarrões de plantão no universo é sabido. De dedos em riste e julgando-se secretários diretos ungidos por Deus, esses senhores e senhoras, de quaisquer idades e poucas ideias na cachola, desde o princípio dos tempos andam a espalhar as ideias mais parvas, tortas e preconceituosas que um cristão pode ouvir em nome da moral e da religião. Verdadeiras heresias intelectuais!

Ou seja, gente néscia sempre houve e, infelizmente, elas se multiplicam. Importante frisar, aqui, que a tal imbecilidade a qual me refiro não tem nenhuma relação com a educação formal e o conhecimento intelectual. O bom senso e a sabedoria não são uma qualidade pertinente a raça, cor, credo, nível social ou estão relacionados diretamente aos anos que passamos sentados num banco escolar.

Apesar de eu ainda não conseguir perceber se a tamanha imbecilidade que temos visto e ouvido nesse país é algo que se cultiva através dos anos ou se, por azar, é algo nato a alguns que veem a esse mundo com a total falta de capacidade de raciocinar feito seres humanos. O que tem me assombrado é o volume grandioso de bobagens que temos ouvido e a importância desmedida que se dá a essa gente que, de fato, não tem nada que preste a dizer.

É bem verdade que a imbecilidade não é um produto nacional e que há gente ignóbil pululando pelos quatro cantos da Terra, contudo, por cá, elas andam a ter uma influência para lá de perigosa na vida de todo brasileiro.

Por esses dias, parece corriqueiro e normal ouvirmos gritos pedindo a volta da ditadura militar. (Haja paciência para tolerar tamanha aberração. Afinal, como compreender que alguém em sã consciência possa proferir uma bobagem como essa?) Vermos ministro da educação a tentar acabar com as universidades públicas, afinal o pensamento crítico é nocivo. Encontrarmos na rua quem creia piamente que na vida política brasileira existem dois lados bem definidos e uma luta do bem contra o mal à la Cruzada do Século XXI (Haja falta de visão da realidade!)

Há quem creia em Mitos, e isso não é novo, contudo, e desde de sempre, errado. Não há mitos, predestinados ou ídolos da mesma forma que não existem príncipes encantados. O mundo simplesmente não funciona assim. Há interesses e uma necessidade infinita de mais igualdade social por aqui, isso sim.

Contudo, e apesar do fato de as imbecilidades estarem na moda por cá, nesse última semana ultrapassamos o limite do imaginável. Em nome da religião e munidos de uma hipocrisia nunca dantes vista, houve quem se achasse no direito de blasfemar na porta de um hospital a chamar de criminosa uma menina de 10 anos, abusada desde os seis, que faria um aborto.

Não me parece possível perceber em nome de que Deus essa gente acha que luta. Também me é difícil não ver que entre o abusador e os tais “santarrões” malucos de plantão não há uma cruel similaridade. Nenhum deles consegue ver, enxergar de verdade, na frente deles uma crianças pequena, frágil, confusa e assustada que nunca, em tempo algum, deveria sofrer com as mazelas próprias do mundo adulto.

O nosso mundo anda triste demais. Insuportavelmente.  

domingo, 16 de agosto de 2020

Yo Te Quiero a Ti

A vida

 




A vida

Morri e a certa distância me vejo

plácida

pálida

de olhos fechados e mãos recatadas

a esconder o oco

no peito

Calma e, finalmente, feliz

Vejo, contudo, não me lembro de quando e como

foi-se o coração de dentro de mim

Caiu ao chão sem que eu percebesse depois de um solavanco?

Partiu ele depois de anos sendo usado por mim

sem comiseração?

Morri sem velas e sem choro

sem que ninguém soubesse ou sentisse

sem lamentação

Então, no quarto abafado estamos apenas eu

comigo mesma

observando o passar do tempo pela pele que umedece

escurece

e ganha odores que já não posso mais sentir

Enfim sós,

penso de forma irônica,

apenas por alguns momentos pois,

logo,

de mim brotará a vida em forma de larvas brancas

e de moscas enegrecidas

Morri e de um canto do quarto acanhado

observo

quarta-feira, 29 de julho de 2020

E o Mundo é redondo, amém.




E o Mundo é redondo, amém.


Não há grandes motivos para risadas por estes tempos no planeta inteiro; verdade. Estamos no famoso mato sem cachorro em Terra Brasilis, cientes de que o pior ainda está por vir, sem muito o que fazer para além de sermos criativos, pacientes e rezarmos. Oremos!

Mesmo assim, no meio da desgraceira, viver sempre de mau-humor não é uma alternativa mentalmente saudável. Nunca o será. Então, mesmo contra todas as recomendações sanitárias e todo o etecetera e tal, ando a agradecer a Deus, (Valeu Senhor!) pela graça de termos a bola a rolar em campo mais uma vez. Amém! (Que heresia! Diriam alguns.) (Risos! Digo eu.)

Sim. Hoje ri à brava vendo o Tricolor paulistano sendo desclassificado pelo miudíssimo Mirassol. E não há como não pensar num momento como esse, (e de fato pensei), que a vida é bela.   Amém, São Sócrates democrático, e um salve para as santas Quartas-feiras e aos Domingos já há muito santificados. Habemus Ludi!

Haveria algum motivo para uma corintiana como eu estar a rir da desgraça alheia? Perguntaria o incauto. Diria eu (e todos os rivais): não, não haveria. Porque estamos numa draga gigantesca, cheios de dívidas impagáveis e com um time que ameaçava ser rebaixado para a segunda divisão do Paulistinha antes que o tal Corona estragasse a vida de toda a gente. Fato.

Pois, é verdade que não andamos a jogar quase nada. Contudo, cá estamos: além de salvos na primeira divisão, classificados para as quartas de final. E eu diria o quê? Que aqui é Corinthians, mano! (risos) Enquanto escrevo, seco o Palmeiras que pelo andar da carruagem irá para os penais com o Santo André. E o Senhor continua ao meu lado. Amém again!

É bem verdade que amanhã poderemos perder do tal Red Bull Bragantino (p.s. um absurdo isso de mexer no nome do Bragantino). É, pode acontecer. Também é verdade que se caso formos para as semifinais será do nosso jeito - sem muito brilho e com toda a raça. É vero, como muitas outras vezes. E se formos para as finais podemos dizer que será um absurdo, uma heresia. Poderão dizer de fato os outros. Eu direi: Aqui é Corinthians! (P.S. Felipe Melo acabou de marcar um gol. Senhor, que vacilo!)

Risadas à parte e toda a ironia incluída, rir será sempre um santo remédio. E jamais devemos nos esquecer de que a Terra, feito a bola, é redonda. Ela gira, o tempo passa, e tudo isso passará. Amém!

P.S. Vai Curintia!!!!!
P.S. 2 – Palmeiras 2 X O Santo André (Eita Deus, descuidou foi?)

P.S. Mais importante. Um Salve para o Rodrigo Rodrigues que ontem nos deixou. Um menino talentoso, bondoso e simpático; gente boa demais e para além da conta. Menino que ria e sorria o tempo todo. Menino querido por todos, como eu, que gostam de futebol. Fica com Deus, RR!

sábado, 25 de julho de 2020

Tu Rumba





Yo no sé si es el rabito de tus ojos
Que está buscando encontrarse con los míos
Pero siento que hay un algo tuyo que me llama
Entre medio de tanto gentío

Yo no sé si tu silencio me está hablando
Yo no sé si nos habremos conocido
O si es mi locura que anda delirando
Y que al final soy solo yo que lo imagino

Hermosura que sale de ti
Va flotando hasta llegar a mí
No sé si tu rumba vaya con mi mambo
Pero tú tienes lo que estoy necesitando
No sé si tu rumba vaya con mi mambo
Pero tienes lo que estoy necesitando

Yo no quiero confundir las emociones
Esto puede que no vaya a funcionar
Nuestros ritmos ya tienen su propio peso
Y no sé si la clave pueda aguantar

Dime al menos lo que pasa por tu mente
Pa' no morirme de tanta curiosidad
Dime algo y dímelo sin miedo
Que esto es entre nosotros nada más

Hermosura que sale de ti
Va flotando hasta llegar a mí
No sé si tu rumba vaya con mi mambo
Pero tú tienes lo que estoy necesitando
No sé si tu rumba vaya con mi mambo
Pero tienes lo que estoy necesitando

No sé si tu rumba vaya con mi mambo
Pero tienes lo que estoy necesitando

O amor




O amor


Parado

calado

quieto e sintético

com menos do que poucas palavras

tudo me foi dito

por ti

Ali no vazio claro e plácido

no nada

todo o sentido se fez

desfez

e o que era pouco

parco

um fio de esperança agarrado ao fantástico

                                               mundo que apenas existe entre o imaginário e o desejo

o amor

largado à mingua

em silêncio

morreu


terça-feira, 21 de julho de 2020

En Cantos





En Cantos (part. Natalia Lafourcade)
iLe

Yo te puedo sentir
Aunque no estés ni cerca
Yo te puedo sentir
Anque no estés ni cerca

Porque te pienso al dormir
Y te sueño despierta
Porque te pienso al dormir
Y te sueño despierta

Todas tus luces me brillan
Y me alumbran por dentro
Todas tus luces me brillan
Y me alumbran por dentro

Y tus ojos me acuchillan
Cuando me los encuentro
Tus ojos me acuchillan el alma
Cuando me los encuentro

Ay
No me llames loca por quererte así
Ay, yo que estaba entera
Y ahora estoy volando en cantos por ti

Por las curvas de tu boca
Quisiera recostarme
Por las curvas de tu boca
Quisiera recostarme

Tú me recuerdas a cosas
Que no quisiera olvidarme
Tú me recuerdas a cosas
Que no quisiera olvidarme

Eres bálsamo que calma
Todo lo que me duele
Eres bálsamo que calma
Todo lo que me duele

Me acaricias con tus palmas
Y tú haces que vuele
Me acaricias con tus palmas
Y tú haces que yo vuele

Ay
No me llames loca por quererte así
Ay, yo que estaba entera
Y ahora estoy volando en cantos por ti

Quiero ponerte en mi mesita de noche
Que me quieras sin que me reproches
Quiero ponerte en mi mesita de noche
Que me quieras sin que me reproches

Quiero ponerte en mi mesita de noche
Que me quieras sin que me reproches (que me quieras sin que)
Quiero ponerte en mi mesita de noche (que me quieras sin que)
Que me quieras sin que me reproches (me reproches)

Ay
No me llames loca por quererte así
(No me llames loca por quererte así)
Ay, yo que estaba entera
Y ahora estoy volando en cantos por ti
(Estoy volando en cantos)
Ay (por ti)
No me llames loca por quererte así
Ay, yo que estaba entera
Y ahora estoy volando en cantos por ti

quarta-feira, 15 de julho de 2020

A Borboleta




A Borboleta


Bela bela

Amarela

Voa solitária a miúda borboleta

Sem jardim

                       Sem floresta

Busca ela pela calçada,

pela rua

                          na esquina

por algo que mate as suas saudades da mata

que dela

era

bela bela

amarela

voa a soluçar ela

que pela frente, até onde alcança a vista,

apenas concreto

ferro

e fumaça

avista...

bela bela

ela era

               amarela

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Hoy



Pa' que nadie se lo olvide - somos latinos... Hoy y siempre.

Semana a viajar sem sair muito do lugar



Semana a viajar sem sair muito do lugar

Depois de muito tempo a ouvir notícias pelo rádio do carro, voltei a ouvir música. Não sei bem porque deixei minhas canções de lado. Foi algo ao feitio de um luto que durou mais tempo do que deveria. Não, ninguém morreu. Bom, muita gente morre todo santo dia, apenas, por sorte extrema numa época como essa, ninguém muito próximo a mim morreu ultimamente. Simplesmente havia abandonado à música como minha companheira diária e, da mesma maneira, simplesmente a retomei.

Nessa semana voltei a cantar ao volante e percebi, Dias de Raiva a soar e o velocímetro a 120 km por hora, que continuo a não ter maturidade para ouvir rock e dirigir ao mesmo tempo. Pé no freio. Passo para algo mais tranquilo, a assassinar com minha voz as canções de Nando Reis e os Tribalistas para baixar o ritmo e deixar a viagem mais segura.

Velocidade mais baixa e corre a mente a vagar. As minhocas da cachola se animam a discutir, entre elas, Dark, a série. Sim, assisti e gostei muito, muito mesmo, por alguns motivos. Primeiro, porque ver a Física de Albert Einstein e Erwin Schrödinger como pano de fundo de uma séria é algo acalentador para o cérebro. Perceber que a realidade e a verdade pré-estabelecida podem e devem ser questionadas é um exercício que deveria ser diário a todo ser humano. Segundo, porque não houve um apelo ao lugar comum do sentimentalismo banal em detrimento do enredo, amém. Por último, porque a assisti em alemão por respeito à originalidade do texto, com a ajuda gigantesca de legendas em inglês já que meu alemão é sofrível, (vá lá alguém compreender a lógica da minha cabeça que, por motivos inerentes à ela própria, apenas se permite transitar entre algumas línguas – alemão para o inglês, francês para o espanhol), depois de 02 anos de estudo.

Ver algo que me agrada em alemão é uma satisfação curiosa para o meu cérebro. Já que estudar para mim foi sempre um prazer até o momento no qual a tal língua de Goethe se colocou no meu caminho. Estudar alemão tem sido um desafio porque até o momento não consegui encontrar a beleza deste idioma. Como brinca o amigo tuga, João: “alemão não é uma língua, é um mal que afeta a garganta da gente.” Pois, talvez a racionalidade precisa dos germânicos não seja muito cara para nós latinos de alma e coração. Pode ser. Contudo, o tal idioma de Einstein tem me feito compreender melhor os limites de cada ser humano, a conhecer mais de perto os meus limites.

Em época na qual a viagem pelo mundo não passa de desejo; viajar pelos labirintos da cachola tem sido uma fuga curiosa e bem-vinda. Que venham os livros, os filmes, os discos, bitte!

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Não Esqueça



Música de uma menina tão sonora e delicada
que diz muito do que eu sempre digo para as minhas meninas
e que direi até o fim da minha vida
Love you, mulheres minhas
Gigi, Bibi e Vivi.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

olhos



olhos

Num piscar de olhos mais distraído

dez anos passados

Meus miúdos crescidos com seus rostos

mudados

No canto dos olhos já não conto as rugas e começo,

Despretensiosamente,

a aceitar que elas multipliquem-se infinitamente

A deixar na minha cara todas as marcas de uma

vida imensa de risadas

e de um oceano amoroso

de lágrimas

tudo tem começo, meio e fim

depois de tanto tempo, finalmente

compreendi e aceito que a nossa guerra

perdi                                                                       Contudo,

perdida,

ainda suspiro quando, sem querer, penso em ti


domingo, 21 de junho de 2020

"Bristled"

pEssOA




TENHO TANTO SENTIMENTO
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.



SIM, SEI BEM
Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.



SEGUE O TEU DESTINO,
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver
só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe
a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.




Meu ser vive na Noite e no Desejo.
Minha alma é uma lembrança que há em mim;




Longe de mim em mim existo
À parte de quem sou,
A sombra e o movimento em que consisto.


poemas de Fernando Pessoa