domingo, 16 de agosto de 2020

A vida

 




A vida

Morri e a certa distância me vejo

plácida

pálida

de olhos fechados e mãos recatadas

a esconder o oco

no peito

Calma e, finalmente, feliz

Vejo, contudo, não me lembro de quando e como

foi-se o coração de dentro de mim

Caiu ao chão sem que eu percebesse depois de um solavanco?

Partiu ele depois de anos sendo usado por mim

sem comiseração?

Morri sem velas e sem choro

sem que ninguém soubesse ou sentisse

sem lamentação

Então, no quarto abafado estamos apenas eu

comigo mesma

observando o passar do tempo pela pele que umedece

escurece

e ganha odores que já não posso mais sentir

Enfim sós,

penso de forma irônica,

apenas por alguns momentos pois,

logo,

de mim brotará a vida em forma de larvas brancas

e de moscas enegrecidas

Morri e de um canto do quarto acanhado

observo

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