A vida
Morri e a certa distância me vejo
plácida
pálida
de olhos fechados e mãos recatadas
a esconder o oco
no peito
Calma e, finalmente, feliz 
Vejo, contudo, não me lembro de quando e como
foi-se o coração de dentro de mim
Caiu ao chão sem que eu percebesse depois de um solavanco?
Partiu ele depois de anos sendo usado por mim
sem comiseração? 
Morri sem velas e sem choro
sem que ninguém soubesse ou sentisse
sem lamentação
Então, no quarto abafado estamos apenas eu
comigo mesma
observando o passar do tempo pela pele que umedece
escurece
e ganha odores que já não posso mais sentir
Enfim sós,
penso de forma irônica, 
apenas por alguns momentos pois,
logo,
de mim brotará a vida em forma de larvas brancas
e de moscas enegrecidas
Morri e de um canto do quarto acanhado
observo

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