quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Neruda y el agua



Agua Sexual

Rodando a goterones solos,
a gotas como dientes,
a espesos goterones de mermelada y sangre,
rodando a goterones,
cae el agua,
como una espada en gotas,
como un desgarrador río de vidrio,
cae mordiendo,
golpeando el eje de la simetría, pegando en las costuras del
alma,
rompiendo cosas abandonadas, empapando lo oscuro.

Solamente es un soplo, más húmedo que el llanto,
un líquido, un sudor, un aceite sin nombre,
un movimiento agudo,
haciéndose, espesándose,
cae el agua,
a goterones lentos,
hacia su mar, hacia su seco océano,
hacia su ola sin agua.

Veo el verano extenso, y un estertor saliendo de un granero,
bodegas, cigarras,
poblaciones, estímulos,
habitaciones, niñas
durmiendo con las manos en el corazón,
soñando con bandidos, con incendios,
veo barcos,
veo árboles de médula
erizados como gatos rabiosos,
veo sangre, puñales y medias de mujer,
y pelos de hombre,
veo camas, veo corredores donde grita una virgen,
veo frazadas y órganos y hoteles.

Veo los sueños sigilosos,
admito los postreros días,
y también los orígenes, y también los recuerdos,
como un párpado atrozmente levantado a la fuerza
estoy mirando.

Y entonces hay este sonido:
un ruido rojo de huesos,
un pegarse de carne,
y piernas amarillas como espigas juntándose.
Yo escucho entre el disparo de los besos,
escucho, sacudido entre respiraciones y sollozos.

Estoy mirando, oyendo,
con la mitad del alma en el mar y la mitad del alma
en la tierra,
y con las dos mitades del alma miro al mundo.

y aunque cierre los ojos y me cubra el corazón enteramente,
veo caer un agua sorda,
a goterones sordos.
Es como un huracán de gelatina,
como una catarata de espermas y medusas.
Veo correr un arco iris turbio.
Veo pasar sus aguas a través de los huesos

domingo, 23 de outubro de 2016

A Libélula



A Libélula


Voou a Libélula pela janela sem querer,

sem o meu querer,

sem o querer dela. Dando fim, assim,  

aos nossos dias juntas, aos nossos segredos compartidos,

às lembranças construídas dia a dia por tantos dias sem fim.

Ela era minha. E eu por ela enamorada,

encantada.

Levou-a uma monstruosa mão estrangeira, invasora de nosso mundo particular,

a arrancar de mim sem piedade uma grande parte.

Foi-se para todo o sempre meu pequeno tesouro particular,

pequeno em valor e em tamanho, imenso em histórias e sentimentos

que foram delicadamente construídos  através de passos dados

por espaços por onde não passarei mais; nunca mais.

Pois ao passado não nos é dada a possibilidade de voltar.

Foi-se, levado por mãos de ratos, uma parte de meu passado:

lembranças minhas, lembranças de amigos e família,

lembranças de minha Mima.

Sobrou apenas o nó na garganta e a dor no peito que causou tal amputação,

mágoa temperada pelas águas salgadas do mar que chegaram

e me alagaram. Afogaram-me.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A Vazante


A Vazante


Parte 1

João já nasceu sério, menino velho, dono de um corpo pequeno e de uma alma há muito tempo nascida. E apesar de todas as danações e estripulias de garoto: ele corria, caçava passarinho, queimava formigas e amava a rua como a ama todo garoto; João era calado. Falava pouco, o necessário. Um quase nada de palavras saía de sua boca apenas por necessidade quando na carência de um-qualquer-coisa ou quando questionado.

Assim, com seus pensamentos em silêncio, foi crescendo o menino que não via muito sentido em gastar palavra à toa. A mãe o fitava a crescer e pensava. E o questionava sobre o dia, a escola, a rua, as meninas... João já ganhava pelos na cara, entretanto, da boca do rapaz escorregavam reticentes monossílabos, pequenas frases, econômicas manifestações de sua capacidade de comunicação com o mundo exterior. João era um rapaz calado.

Em alguns anos veio a primeira e única namorada. Pelo menos a única que chegou ao conhecimento da mãe e toda a família. Aos 19 anos João, como todos os de sua idade, trabalhava numa das inúmeras fábricas do bairro de casas pequenas e caiadas; ia ao cinema aos domingos para ver as fitas americanas, os vídeos de futebol, as notícias e, sábado à noite, namorava.


João era homem sério, de poucas palavras e pensamento reto. E desta feita, namorava a menina Ana para casar. E casar era coisa importante e cara. O menino crescido trabalhava mais para poder alugar uma casa, comprar coisas, pagar a igreja e, estava decidido, haveria festa. Ele tinha que pintar paredes, entregar convites e todo um etc. e tal sem fim. Não havia muito tempo para quase nada, muito menos para conversas ou pequenas declarações de amor. Então, João namorava calado para o estranhamento da namorada. Como o dinheiro, João economizava as palavras no peito para os dias de precisão. 

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O Pedido




O Pedido


Gosto de viajar durante o mês de setembro para estar n’algum lugar nunca dantes visto por meus olhos no dia de meu nascimento. Marcando, assim, esta data na minha memória para que eu me lembre dos porquês vale a pena estar viva. Estar perdida neste mundo gigante em ruas que desconheço e de mapa em mãos a ver que me faltarão anos e olhos para toda a novidade que o Mundo nos reserva, mesmo que vivamos uma centena de anos, alegra-me a alma. Quero, por toda a vida, levar comigo esta boa sensação que é ver algo pela primeira vez e ter a certeza de que nunca vi nada tão impressionante antes.

Desta vez foram escolhidas as Cataratas de Foz do Iguaçu. Um mundo de água que chega mansamente, como quem não quer nada, pelo Rio Paraná e que se joga paredão abaixo num fluir radical e imensurável quando visto de perto. Tamanha força e energia não podem ser medidas, e me parecem uma gigantesca amostra divina do quão pequenos somos nós. Não há registro (foto, filme ou palavras) que possa fazer jus ao que se sente estando ali, de cara com as tais cataratas. As águas de Iguaçu são estonteantes; uma bela e monumental amostra da natureza.

Tudo isso dito, devo dizer que apesar de tanta beleza o que mais me comoveu não foi a paisagem de tirar o fôlego. Muito ao revés, o que me toucou mais profundamente foi um gesto pueril e pequeno de um menino por volta de seus vinte e tantos anos. De um repente, depois de um voo sobre o tal exagero da natureza, ajoelhou-se o rapaz de anel cintilante nas mãos diante da mulher de sua vida. Ela emocionada e bonita parecia não compreender direito o que estava a acontecer e, feliz, chorava. Ele, nervoso e com os olhos fitando os olhos da menina, fez o pedido que naquele instante mudava definitivamente as suas vidas. Linda cena de cinema...


Eu, que choro até em filme que já vi e revi inúmeras vezes, saí rapidamente da cena para não dar vexame e chorar com a tal menina. Foi a primeira vez que vi, de verdade, em carne e osso, um pedido de casamento simples, belo e romântico como aquele. Senti uma enorme alegria por ver que estas coisas ainda acontecem em nossos dias e que as pessoas são ainda capazes de demonstrar seus sentimentos sem medo. Hoje, dias depois do tal pedido, ainda sorrio e me emociono quanto me lembro da cena digna de cinema. E este, sem sombra de dúvida, será um aniversário lembrado por mim por toda a vida.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Sr. Angenor

Dia de Cartola é dia de canções feitas por um anjo imperfeito e genial...




11 de Outubro de 1908.











quarta-feira, 5 de outubro de 2016

O Doce



O Doce

Doce, doce,
doce tão doce que dói a língua
e me faz cocegas atrás da orelha, gato cheio de manha e preguiça
a passear pelo meu desejo; com jeito.
Doce, doce,
doce feito doce de goiaba que acorda em mim
a menina que não sou mais,
mas
que em mim habita. E que de rabo de olho, por estes dias,
anda a rir-se cheia de ironia. Minha menina bailarina...
Doce, doce,
doce tão doce que pode um dia enjoar,
como de tudo se enjoa nesta vida.
Porém, até este dia não chegar sorrio e faço de conta
que desconheço que todo fim se principia no começo,
e acho graça de algo tão doce
a me olhar.