sábado, 29 de julho de 2017

Tua Cantiga - Chico



Mais uma vez e de novo, linda e doce a canção. Tua Cantiga, queria roubá-la para mim.


Tua Cantiga


Quando te der saudade de mim
Quando tua garganta apertar
Basta dar um suspiro
Que eu vou ligeiro
Te consolar

Se o teu vigia se alvoroçar
E estrada afora te conduzir
Basta soprar meu nome
Com teu perfume
Pra me atrair

Se as tuas noites não têm mais fim
Se um desalmado te faz chorar
Deixa cair um lenço
Que eu te alcanço
Em qualquer lugar

Quando teu coração suplicar
Ou quando teu capricho exigir
Largo mulher e filhos
E de joelhos
Vou te seguir

Na nossa casa
Serás rainha
Serás cruel, talvez
Vais fazer manha
Me aperrear
E eu, sempre mais feliz

Silentemente
Vou te deitar
Na cama que arrumei
Pisando em plumas
Toda manhã
Eu te despertarei

Quando te der saudade de mim
Quando tua garganta apertar
Basta dar um suspiro
Que eu vou ligeiro
Te consolar

Se o teu vigia se alvoroçar
E estrada afora te conduzir
Basta soprar meu nome
Com teu perfume
Pra me atrair

Entre suspiros
Pode outro nome
Dos lábios te escapar
Terei ciúme
Até de mim
No espelho a te abraçar


Mas teu amante
Sempre serei
Mais do que hoje sou
Ou estas rimas
Não escrevi
Nem ninguém nunca amou

Se as tuas noites não têm mais fim
Se um desalmado te faz chorar
Deixa cair um lenço
Que eu te alcanço
Em qualquer lugar

E quando o nosso tempo passar
Quando eu não estiver mais aqui
Lembra-te, minha nega
Desta cantiga
Que fiz pra ti

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Trinta e minha Avó





Trinta e minha Avó




Eu sei, eu sei, a situação não está nada boa por aqui. E por aqui não quero dizer apenas minha cidade, ou meu país; não senhor. A coisa anda feia no continente inteiro, tristemente, de norte a sul. Pois, eu sei disso, contudo, já falei dezenas de vezes sobre as nossas desgraças mui conhecidas, então, resolvi falar daquilo que me faz esquecer um pouco a tal desgraceira que nos sufoca: o futebol.

Hoje é dia dos avós, e não, não há nenhuma relação clara entre avós e futebol. Mas o fato é que minha avó paterna, a Dona Luiza, fez de quase todos seus filhos corintianos orgulhosos. E isso, casada com um palestrino verde desde a alma como ele só, foi mesmo um feito. Ou seja, a minha paixão é culpa, ou mérito, da paixão de minha avó, bem como de todo o seu amor e atenção para com seus filhos.

Minha avó Luiza foi o último dos meus avós a ir-se para o céu, e eu não pude dela me despedir porque fui tola. Porque não sabia nada da vida naquela época. Uma das coisas que eu mais queria, profundamente, era poder me desculpar com ela. Mas tempo não volta, eu sei. Por isso, em homenagem à minha avó Luiza, e aos meus outros avós também corintianos, Estela e Mauro, hoje é dia de falar do meu Timão. O Poderoso. (risadas)

O fato é que estamos há trinta jogos sem perder nesse ano (cá estão os 30), e isso é inacreditável para um time do qual pouco se esperava. Patinho feio dos paulistanos em 2017, um time sem craques, nem mesmo meio-craques, em meio a uma crise financeira e todo o etc. e tal. A verdade é que eu torcia para não ficar no final da tabela do campeonato, e comecei o ano a dar graças a Deus pela conquista do Paulistão. Única provável alegria do ano.

Surpresa! Pois não é que montamos um time demais de bom da conta no quesito conjunto da obra e que o Seu Fábio Carille anda a mostrar-se um jovem treinador de muito futuro, e de um belo presente? Pois é. Devido ao grupo e ao Carille fizemos até o momento algo inesperado, incrível mesmo: estamos invictos há 30 jogos e lideramos o Brasileirão. Um feito dos bravos, ora pois!

Isso não quer dizer que somos melhores do que todos os outros times brasileiros ou que seremos campeões. Não, sei bem. Contudo, essa surpresa mais do que grata me agrada. Ah sim, muito. Porque mesmo sem termos o melhor time no papel, no campo somos difíceis, tinhosos, beiramos ao invencível. Quiçá tenha-me faltado um pouco a modéstia. Talvez.


Bem, o certo é que sei como tudo isso divertiria demais a minha avó Luiza. Sei que ela riria, debochada como só, de todos os adversários do Coringão depois de cada partida vencida, de cada empate suado. Ouço-te a gargalhar desde o céu, vó. Vai Curintia!!!!



Aos meus avós, que hoje é dia deles. Aos meus pais que são avós também. 
Y a mi defensor, Fabián Balbuena, mi general, que ha anotado un bonito gol mientras escribo. 😉

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Retratos

Foto de Satoki Nagata

Retratos


Novos porta-retratos comprados

para as fotos que não tenho de ti

e dela.

Fotos dos outros, de todos...

Emolduradas ficam as saudades dos que se foram

e de ti que nunca esteve aqui

ao meu lado.

Saudades de quem desconheço e daqueles dos quais delicadamente,

a passo lento,

me esqueço.

Somem as mais queridas vozes e os sons das risadas cheias;

pedaços de conversas inteiras estão perdidos

e me falha, sobremaneira, 

a maneira peculiar como algumas palavras eram ditas.

Bem-ditas.

Com o passar dos dias embaçam-me as vistas

afogadas pela falta que me fazem os olhos que eu via;

que me olhavam com atenção.

Meus olhos verdes, castanhos, grandes e pequenos,

sábios todos eles.

Definitivamente, mais do que tudo que se passa,

e de todos que todos os dias por mim

passam,

permanecem eternas as ausências emolduradas

em caixilhos de prata.

terça-feira, 18 de julho de 2017

Meu Poeta




Meu Poeta


Queria ser Neruda para o mais belo poema escrever-te.

Se o poeta eu fosse, saberia falar de conchas e do mar,

de caracóis multicoloridos e de todas as mariposas que dançam no ar.

Não sou Neruda, nem poeta,

nem homem.

E para o amor mais profundo faltam-me as palavras corretas,

as mais sonoras e belas.

Falta-me saber falar.

Podia ser Pessoa e pelo menos saber como fingir que por ti nada sinto;

e que minhas palavras tem outros destinos.

Se o Fernando eu fosse, saber que teus olhos pelas minhas letras passeiam

pouco, ou nada, me importaria. E para ti não escreveria tantas tolas linhas

posto que eu teria compreendido  há muito que

todas as cartas de amor são ridículas;

e mais que todas o são as minhas.

Falta-me poder falar.

Podia ser o meu primeiro Carlos, o Drummond, e reconhecer que é vasto

o mundo e que há tanto para eu ver.

Tantas pernas, tantos homens, e pouco tempo para dar qualquer vazão ao meu

tímido querer.

Não sou nenhum dos meus Carlos, e vivo perdida na minha teimosia de crer

que melhor que todos, são raros e caros,

bens sagrados,

os meus sentimentos que são seus. Esse amor sem porquês.

Míope, falta-me ver.

Não sou poeta, nem sábia

e só o que sei é que não sei deixar de te querer

muito bem.

domingo, 9 de julho de 2017

Dois



Dois

Tudo tem começo, meio e fim. Sei disso; sempre o soube. E apesar disso, e apesar de estar tão ciente a respeito da ordem e dos fatos da vida; mesmo assim, os fins são excruciantes para mim. Apego-me às pessoas e à minha realidade particular, sinto saudades doídas, sou vergonhosamente passional e exagero nas reações nos momentos em que sinto ciúme dos amores, da família, dos amigos. Uma vergonha para alguém com a minha idade, não? (Sorriso)

Talvez seja mesmo uma vergonha, porém, não consigo deixar de gostar e de querer a quem gosto perto de mim. E algumas vezes esse gostar revoluciona-me, revolta-se. Sou egoísta como apenas os filhos mais velhos sabem ser, afinal, durante um tempo, tudo no mundo era meu. E assim, entender que o que eu quero não é o querer do outro não é muito fácil para mim. Sou mandona, eu sei.

Em agosto serão dois anos sem a Mima aqui. E não ter mais a minha mãe comigo é o fato sabido mais inesperado com o qual eu já tive que lidar na vida. Sempre soube que minha mãe morreria antes de mim. Sempre achei que aceitaria bem a esse fato. Contudo, quando o tal momento chegou, pareceu-me tão injusto e ingrato. Era cedo demais! Ainda deveríamos ter anos juntas, e tínhamos tanto a fazer. Meus sobrinhos ainda teriam que crescer para conhecer realmente a sua avó e dela se lembrarem. Minha mãe ainda não era uma velhinha. Minha mãe nunca será uma velhinha.

A verdade é que depois da morte da minha mãe sinto a criança que fui um dia mais perto de mim: uma menina gordinha, quieta e introspectiva que observa a vida e pensa muito porque a algumas coisas ela não entende. A verdade é que não é nada fácil isso de não ter mais a minha mãe por aqui, porque não tê-la mais deixa a sensação de algo está muito errado nesse mundo. Que esse mundo não é mais o mundo que sempre foi meu.

Bem, quis dizer algo à minha mãe no último dia das mães, mas não pude. Em alguns momentos as palavras andam a faltar para mim por estes dias. Contudo, hoje assisti a um filme que me fez lembrar-me dos últimos tempos com minha mãe. Então, apertaram-me as saudades e vieram as palavras. Definitivamente há certos filmes que eu não deveria mais assistir. Bom... Mima, um beijo pra ti. Sinto saudades e, profundamente egoísta como de costume, queria você aqui. 

quarta-feira, 5 de julho de 2017

A Mariposa




A Mariposa

Voa a mariposa de cores pardas ao redor

dos pés de canela

e da luz verde-claro que se põe na janela toda manhã.

Voa a mariposa encantada pelos sons

da floresta,

rio de pedras, vento a brincar com suas folhas,

canto de pássaros tão distantes aos olhos dela.

Voa a tola mariposa que da vida breve

sabe pouco,

e passa seu escasso tempo a admirar o que seu coração

diz ser belo.

O alto e imenso carvalho dono do bosque e do tempo que não tem

olhos para poder vê-la tão pequena.

Diminuta,

voa a mariposa enamorada ao redor da importante e indiferente árvore,

em silêncio e sem ser vista,

até o fim de sua

vida.

terça-feira, 4 de julho de 2017

AMOR...DESAMOR...AMOR...

Uma canção que eu amo amar.





Drão
Gilberto Gil
 
Drão!
O amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão
Nossa semeadura
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Dura caminhada
Pela noite escura

Drão!
Não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão
Estende-se infinito
Imenso monolito
Nossa arquitetura
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Cama de tatame
Pela vida afora

Drão!
Os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão
Não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Se o amor é como um grão
Morre, nasce trigo
Vive, morre pão
Drão!
Drão!


domingo, 2 de julho de 2017

A nossa Guerra



A nossa Guerra

Um bebê foi baleado na barriga de sua mãe no Rio de Janeiro na última sexta-feira. O menino pequeno teve seus pulmões perfurados e vértebras lesionadas por estilhaços de uma bala antes de nascer. Arthur, um bebê de 39 semanas de gestação atingido por uma bala perdida, corre risco de morte.  E isso é tão assustador para mim que me paralisa; faz-me sentir mais uma vez uma vontade descomunal de carregar a todos que amo para um lugar muito, mas muito longe daqui.

Arthur e sua mãe são mais duas vítimas da violência brasileira, uma realidade que beira ao caos e que dispensa um detalhamento de seus números para quem vive aqui, pois, a sentimos todo santo dia. A violência no Brasil ultrapassa a todo e qualquer parâmetro aceitável de um país que se diz em paz. Não estamos em paz. Estamos em guerra. Uma guerra um tanto mais silenciosa do que aquelas que são claramente deflagradas, contudo, e mesmo assim, uma guerra cruel.

Cruel porque todos se sentem ameaçados e porque verdadeiramente ameaçados sentem-se, e estão, aqueles que menos podem se defender: os mais pobres e os pequenos, as crianças. Morrem crianças sem armas e morrem também as crianças armadas. Um estudo divulgado em 2016 mostra que o número de mortes por assassinato supera a todas as outras causas de morte quando falamos de crianças e jovens nesse país. E aqui cabe assinalar um número: em média 29 crianças e adolescentes são assassinados por dia em nosso país.

O brasileiro não caminha tranquilamente na rua a qualquer hora do dia, tem medo de parar nos semáforos e não se sente muito à vontade em lugar algum. Na praia, nos ônibus, nas escolas, em lojas, em casa; nas comunidades e atrás de muros altos de condomínios... Seja lá onde for, sentimo-nos inseguros. Há balas perdidas diárias, sequestros relâmpagos, assaltos, assassinatos, estupros coletivos ou não, arrastões, tiroteios com armamento pesado, e o medo de uma violência cada vez mais comum entre todos nós: a violência preconceituosa e gratuita. O mito de um país alegre e gentil é uma terrível falácia, no Brasil vivemos em guerra.