terça-feira, 24 de agosto de 2021

Breves

 



Breves


A água do chuveiro escorre lentamente pelas costas

a romper as leis da física que dizem respeito ao espaço-tempo

desrespeitando a gravidade.

Minutos gordos e preguiçosos trazem consigo milhares de segundos

dormidos.

Fecho os olhos enquanto

a água morna leva consigo todo o cansaço desta vida inteira.

Penso na importância de toda a minha existência desimportante,

breve,

pequena.

A importância de nossa existência não me parece relativa nesse momento...

a sei nula sentindo a água morna nas costas;

insignificante.

Uma pedra tem uma existência maior e mais real do que todos aqueles

pelos quais irei chorar a perda.

Estaremos todos mortos em um par de centenas de anos, porém, imóveis e tranquilas,

as pedras organizadas por mim no jardim ainda estarão por aqui.

A ilusão que construímos sobre o significado da humanidade é curiosa e interessante;

nos achamos insubstituíveis

quando na verdade

somos completamente dispensáveis nesse Mundo.

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Seis



 

Seis

Seis minutos Seis dias Seis semanas

Seis meses

 

Seis anos

 

Seis minutos de desespero

Seis dias de alma perdida em luto

Seis semanas tentando entender direito o que chegou muito cedo

Seis meses me acostumando ao fato de que, de fato, eu não poderia mais te ver

Seis anos de conversas não tidas, de risadas represadas, de abraços e beijos devidos

de nossas discussões não terminadas

Seis anos de saudades da mulher menina dona da minha vida

Saudades em seis de ti, Mima.

domingo, 8 de agosto de 2021

Paris 24?

 


Paris 24?

Desde 1980 acompanho aos Jogos Olímpicos com ganas de ver tudo o que é possível. Por isso, em 2016, depois de já começadas as Olimpíadas no Rio de Janeiro, arrependi-me profundamente de não ter dado muita bola para o tal acontecimento em Terra Brasilis. Não fui ao Rio. Por quê, meu Deus! Independentemente de onde aconteçam, mesmo em países profundamente desiguais como o meu, as Olimpíadas são para mim um momento tão belo que beiram ao poético; ao sobrenatural. Deveria ter me organizado para ir ao Rio sem dúvida.

Ignorei aos jogos no Rio e detesto ignorar o que sinto que devo fazer. Quebro a cara com gosto, mas não gosto nadinha de arrepender-me do que não fiz. Sendo assim, decidi-me por ir ao Japão em 2020 enquanto Usain Bolt ganhava mais uma medalha. Planejei-me e comecei a guardar dinheiro para a tal aventura. Tenho grande admiração pelo Japão e seu povo, sempre quis visitar a este país e, em tempos dos jogos gregos este seria um momento ímpar para fazê-lo. Japão 2020 lá vou eu.

Não fui. A vida mudou em 2018 e todos os planos mudaram. Oh vida! Bom, a bem da verdade, nem as Olimpíadas foram para o Japão em 2020. Não senhor. Em 2020 o mundo parou, a la filmes de ficção futurista sem direito a efeitos especiais, e ficamos feito tatu na toca. Ficamos sem os jogos que realizaram-se agora, em Julho de 2021, sem direito a público. Uhhhhh... pensei eu. Não fui, ninguém foi. Eita sina lascada!

Não fui, porém foram os atletas. Amém!! E foi ótimo ter tido estes 15 dias de vida para além das atrocidades e canalhices dos seres humanos que têm nosso mundo em suas mãos, apenas a admirar esta gente que faz coisas que eu nunca seria capaz de fazer. Lindo, lindo, lindo... 15 dias sem dormir direito, meio zonza, a chorar em frente à televisão no meio da madrugada.

Chorei de emoção, de orgulho, comovida com a dedicação de gente que se dedica por algo sem explicação. Gente que trabalha incessantemente para quiçá, com muita sorte a ajudar, ganhar uma medalha feita de plástico reciclado. Gente maluca!

E se todos são malucos, malucos admiráveis, por correr assim atrás de recordes, de números e de pódios a troco de muito pouco, ou quase nada. Pensar o quê dos atletas brasileiros que praticamente pagam para poder participar dos Jogos Olímpicos?

Penso que eles são mesmo seres diferentes. Não perfeitos, nem santos; não. Contudo, são pessoas nas quais a vontade de conquistar e realizar algo nesta vida, algo diferente e relevante, é muito maior e mais forte do que a própria existência delas. Eles vivem para correr, saltar, nadar, voar... Parecem, feito criança, ignorar a fatalidade que é essa vida regida pelo vil metal. São mesmo seres abençoados. Meus heróis de carne e osso. E com medalha no peito ou não, têm o meu aplauso. (Vocês são demais!)

Os Jogos Olímpicos de 2020, que chegaram por cá atrasados, acabaram e já me deixam cheia de saudades. Esta noite vou dormir, verdade. Porém, até lá, vejo e revejo, numa ressaca atlética, os feitos destes homens e mulheres que merecem a minha admiração desde que me entendo por gente. Desde que, muito miúda, vi e ouvi todo mundo a falar de uma menina chamada Nadia. Nadia Comaneci.

Paris... Paris... quem sabe? Coco mole, meu Rei!!!!