terça-feira, 4 de abril de 2017

A Liniker



A Liniker

Liniker é uma força sobre o palco. Pura energia em forma de braços e pernas bailarinos, dona de um corpo e uma persona que nos confunde enquanto se explicita. Ela é a representação de uma sociedade que por esses dias constrói em alto em bom som a sua realidade que antes era apenas sussurrada pelas esquinas. Liniker é uma mulher transgênero dona de voz poderosa e talento inquestionável. E ela reluz.

Tamanha segurança e postura construídas por uma pessoa com pouco mais de 21 anos é um assombro que durante o concerto do último sábado fez-me recordar Nina Simone. A época é outra, seguramente, e às antigas questões somaram-se muitas outras, verdade.  Contudo o poder de autoafirmar sua identidade única numa sociedade que insiste em nos uniformizar e em nos classificar é a mesma. Liniker, como Nina, apesar de todas as diferenças que existem entre elas, impõe-se através de sua voz e da música que ela cria.

As questões de gênero, e qualquer outra questão, poderiam ter sido deixadas de lado aqui, já que a música de Liniker e os Caramelows é boa; muito boa. Som bem feito que vibra ao ritmo de uma soul music atual e luminosa, cheia de letras inteligentes e bem escritas. Contudo, não me é possível não notar que esta artista de outra forma, com outra essência, não seria tão perfeita como é agora. Toda e qualquer incongruência que pode parecer natural à ideia de que um menino nasceu para ser uma grande cantora brasileira desaparece quando ouvimos e vemos Liniker.

Liniker ter nascido para ser uma cantora de voz grossa, melodiosa e feminina mostra-se a única realidade possível e, por isso, é muito bom tê-la, como temos a tantos outros meninos e meninas, a mostrar-se agora. Pois, apesar de vivermos dias ainda difíceis, não há como ignorar que esses dias também nos trazem uma quantidade ampla de novas possibilidades. Chegou o tempo de ensinar e aprender que somos múltiplos e muito mais do que parecemos ser.






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