segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2013


Que este ano seja iluminado
e cheio de amor
Feliz 2013!

A Travessia - 2013




Travessia 
Milton Nascimento


Quando você foi embora
Fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito,
Hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha,
E nem é meu este lugar
Estou só e não resisto,
Muito tenho prá falar

Solto a voz nas estradas,
Já não quero parar
Meu caminho é de pedra,
Como posso sonhar
Sonho feito de brisa,
Vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto,
Vou querer me matar

Vou seguindo pela vida
Me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte,
Tenho muito que viver
Vou querer amar de novo
E se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço
Com meu braço o meu viver

Solto a voz nas estradas,
Já não quero parar
Meu caminho é de pedra,
Como posso sonhar
Sonho feito de brisa,
Vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto,
Vou querer me matar

Vou seguindo pela vida
Me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte,
Tenho muito que viver
Vou querer amar de novo
E se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço
Com meu braço o meu viver





domingo, 30 de dezembro de 2012

Sampa




Não há cidades melhores ou piores:
elas são simplesmente diferentes,
únicas.
São Paulo me viu nascer e cresci
a descobrir suas ruas,
a compreender seus tons cinzas e seu falso mal humor úmido,
viu-me deixar de ser menina.
Sampa, e só aqueles que cresceram nestas ruas podem chamá-la assim,
não é melhor do que qualquer cidade,
sei bem.
Mas será para sempre a minha casa,
a cidade a qual pertenço,
e onde vive
a minha identidade  que respira


Até 2013 minha cidade...

sábado, 29 de dezembro de 2012

Malandragem de Menina





Malandragem
Cássia Eller

Quem sabe eu ainda
Sou uma garotinha
Esperando o ônibus
Da escola, sozinha...

Cansada com minhas
Meias três quartos
Rezando baixo
Pelos cantos
Por ser uma menina má...

Quem sabe o príncipe
Virou um chato
Que vive dando
No meu saco
Quem sabe a vida
É não sonhar...

Eu só peço a Deus
Um pouco de malandragem
Pois sou criança
E não conheço a verdade
Eu sou poeta
E não aprendi a amar
Eu sou poeta
E não aprendi a amar...

Bobeira
É não viver a realidade
E eu ainda tenho
Uma tarde inteira
Eu ando nas ruas
Eu troco um cheque
Mudo uma planta de lugar
Dirijo meu carro
Tomo o meu pileque
E ainda tenho tempo
Pra cantar...

O Sr. Álvaro




Lisbon Revisited (1923)

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

uma paixão que não tem tempo ou data: Fernando Pessoa

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Talking Heads





Psycho Killer
Talking Heads

I can't seem to face up to the facts
I'm tense and nervous and I can't relax
I can't sleep, 'cause my bed's on fire
Don't touch me I'm a real live wire

Psycho killer, qu'est-ce que c'est
Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Far Better
Run Run Run Run Run Run away
Psycho killer, qu'est-ce que c'est
Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Far Better
Run Run Run Run Run Run away

You start a conversation you can't even finish it
You're talkin' a lot but you're not sayin' anything
When I have nothing to say my lips are sealed
Say something once, why say it again?

Psycho killer, qu'est-ce que c'est
Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Far Better
Run Run Run Run Run Run away
Psycho killer, qu'est-ce que c'est
Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Far Better
Run Run Run Run Run Run away

Ce que j'ai fait, ce soir-là
Ce qu'elle a dit, ce soir-là
Réalisant, mon espoir
Je me lance vers la gloire
We are vain and we are blind
I hate people when they're not polite

Psycho killer, qu'est-ce que c'est
Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Far Better
Run Run Run Run Run Run away
Psycho killer, qu'est-ce que c'est
Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Far Better
Run Run Run Run Run Run away

Uma paixão desde que me lembro por gente, música e os Talking Heads.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

a dor


Por que há dores que doem sem razão,
dores que não têm perdão nem quem delas se compadeça?
Dor cega
Dor surda
que grita ao mundo a plenos pulmões: estou aqui, eu existo!
e me cega,
me atordoa
e me enlouquece.
porque há dores que não deveriam existir,
grito a ti  sem que da boca saia som: estou aqui, eu existo.
Mas a verdade é que queria ser outro
apenas para não ser esta dor
de existir.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Os Meus Presentes de Natal



Entre todos os meus defeitos, e olha que há um bom bocado deles a constituir este ser tão sem jeito, a falta de capacidade para ser completamente feliz sozinha deve ser o mais marcante de todos eles. Pois, que este ano ele foi lembrado e relembrado não apenas por um, mas por vários amigos que querem o meu bem; eu sei. E mais intensamente criticado, como um aleijo fatal, por aquele que tem o meu eterno bem querer. Pois (número 2), fazer o quê, não? C’est la vie! Não teremos jamais tudo o que queremos ter.

E, pensei muito nisso ultimamente; nessa necessidade tão avessa à minha natureza independente que, mesmo assim, constitui a parte mais importante de quem sou eu: preciso do outro para ser, mesmo que momentaneamente, feliz. Sou assim. E, ou por já estar ficando velha ou porque sou mesmo teimosa desde menina, está decidido que serei sempre assim pela melhor razão de o ser: esta é a verdade mais verdadeira que existe dentro de mim: eu preciso de vocês.

E por isso, por esta carência, sempre há cá dentro um senão a incomodar porque nunca, em nenhum momento, tenho a todos os meus amores, família e amigos, perto de mim. Então, feito um Tiradentes de alma, sinto-me sempre dividida com partes minhas espalhadas pelo Brasil e além mar que não poderão, jamais, ser unidas.  Sei que esta condição pode parecer fatal, mas não é bem assim. Não há como explicar a felicidade que sinto quando sei que vou reencontrar alguém. Ah, que alegria é rever uma parte de mim que anda a viver independente por aí, pois, neste momento, sinto-me completa e muito maior do que eu, por mim mesma, algum dia poderia ser. Sou, definitivamente, uma pessoa melhor e maior por e com vocês.

Está sendo, então, uma felicidade extrema, entre o Natal e o Ano Novo ganhar os melhores presentes desde sempre: a presença de quase todos que amo perto de mim; e estes serão os mais caros e raros presentes que eu poderia receber nesta vida sem nenhuma sombra de dúvida. Por isso, agradeço a Deus e peço que Ele me desculpe por ter brigado e reclamado tanto neste ano, pois reconheço que, como sempre tem sido nesta vida, ganhei muito mais do que eu merecia, já que não sou uma boa menina todo o tempo. Eu sei.

Quero também agradecer a todos vocês por estarem presentes na minha vida e me darem muito mais do que eu posso retribuir todos os dias. Aos meus queridos, que fazem desta vida algo bonito de ser vivido por todos os momentos juntos que tivemos e que ainda teremos, muito obrigada e um beijo com todo o carinho que eu conheço. Amo-os para sempre e além.

Um beijo especial aos meus meninos que são uma alegria inacreditável e a luz da minha vida: Dedé, Lukitas, Gigi, Pedrão, Dieguito, Bianca e Nico (o mais novo presente desta vida).

Feliz Natal a todos e que o anjo os proteja sempre.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O fim do Fim




Como dantes já ocorrera, cá está mais um fim do Mundo previsto a bater em nossas portas, numa nova falácia tão velha quanto a humanidade que escancara a nossa mania, um tanto quanto masoquista, de apreciar um sofrimentozinho que não chega a matar, aquele drama que dói sem machucar e que ninguém leva a sério.  Se bem que haverá sempre os mais maluquitas, os pré-dispostos a acreditar em qualquer bobagem que lhes digam, prontos a cometer suicídios em nome de não enfrentar o derradeiro final. Uma incongruência tão absurda que não se pode compreender, ou há algo mais sem sentido do que se matar para evitar a morte certa?

E entre a graça e as dúvidas que a ideia do fim-do-mundo pode criar, é certo que ela nos faz pensar em aproveitar melhor a vida. Não há quem não pense, pelo menos por farra, no que faria em seus momentos finais. Pois, não é que nos diverte o pensar em como aproveitaríamos as últimas horas que nos restam. E, a partir daí, a tal ideia do final fatal não nos parece algo tão mal assim. Afinal, se ele serve para que pensemos no que andamos a fazer com o nosso tempo com mais interesse e atenção, não é que o fim do mundo é algo que faz um bem sem igual.

O tal fim-de-faz-de-conta também nos ajuda a pensar nos porquês de termos, com poucas exceções, tanto medo de todo e qualquer final. O fim de namoros e casamentos nos apavora, a mudança de cidade ou de país pode ser fatal, a quebra da rotina assusta a muitos e, dizer o quê da morte individual e rotineira que nos aguarda, certa, em nosso verídico final? Para muitos o maior medo de todos.

Contudo, e se pensarmos que sem os finais não poderíamos ter, sem medo de uma previsão equivocada, qualquer novidade ou recomeço, ter medo de qualquer final nos soa tão tolo quanto crer que no próximo dia 21 de dezembro algo sobrenatural realmente acontecerá.  E, muito para além da certeza de que não teremos o tal final global, é certo que o Mundo que hoje conhecemos não será exatamente o mesmo daqui a algum tempo e, sendo assim, temos que aceitar que tudo, um dia, terá o seu final.  E a nós, resta-nos saber usar e abusar do tempo que temos por aqui da melhor maneira que se possa fazer.

Por um acaso da vida, e sem quaisquer previsões, estes meus últimos dias na azul Terra me sairão muito bem. Será um tempo com os mais antigos e queridos amigos e a família, a hora de abraçar pela primeira vez o meu sobrinho Nicolas; e um momento para aproveitar o tempo, para passear, ver a minha cidade e namorar. E alguém pode pensar em coisas melhores para se fazer nesta vida?

Um beijo para todos, e que o fim do tal fim seja trazer um bom e fresco recomeço.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Seco por fora e por dentro





Segue o Seco
Marisa Monte

A boiada seca
Na enxurrada seca
A trovoada seca
Na enxada seca
Segue o seco sem secar que o caminho é seco
sem sacar que o espinho é seco
sem sacar que seco é o Ser Sol
Sem sacar que algum espinho seco secará
E a água que sacar será um tiro seco
E secará o seu destino seca
Ô chuva vem me dizer
Se posso ir lá em cima prá derramar você
Ó chuva preste atenção
Se o povo lá de cima vive na solidão
Se acabar não acostumando
Se acabar parado calado
Se acabar baixinho chorando
Se acabar meio abandonado
Pode ser lágrimas de São Pedro
Ou talvez um grande amor chorando
Pode ser o desabotado do céu
Pode ser coco derramado

domingo, 9 de dezembro de 2012

O amor

mesmo  que ele venha torto e com as mais variadas formas:

platônico
              irônico
cego
             verdadeiro
exagerado

e que por ele  fiquemos atônitos feito alma atropelada por um caminhão,
                                                                                                      mesmo assim:
a vida só vale se amamos até o fim.

sábado, 8 de dezembro de 2012

A vida verdadeira é feita de poesia

Edifício Copan, Sampa.



Muito antes de saber que arquitetura era uma profissão, ou mesmo de ter a plena noção do que era estar viva, eu me espantava todas as vezes que passava em frente ao Copan. Aquela onda gigantesca no meio da minha cidade feita de retas que visam o céu encantava-me, e encanta-me até hoje. Sei que não é a mais bela obra de Niemeyer e está longe de ser a mais conhecida, eu sei. Contudo, todo paulistano o sabe bem, e sabe bem como ele parece fluir no meio da cidade; nosso contraditório imóvel em movimento.

E hoje, pensando no Copan e no Seu Oscar, lembrei-me de um amigo que briga comigo a dizer que o meu problema é achar que a vida é poesia, e ela não o é. Pois, pior que achar que a vida é poesia, creio mesmo que a vida verdadeira, aquela que vale à pena, é feita, concretamente, dela. Afinal, que graça tem a vida, que importância nós daríamos a ela, sem toda a poesia que a constrói dia-a-dia?

Engana-se quem pensa que poesia faz-se apenas com palavras e em momentos mastigados e remastigados até que se tenha algo perfeito, que ela é coisa de muitas horas de estudo e de um conhecimento profundo de uma gramática qualquer. Claro que não! Poesia faz-se com a alma, com a intenção de por vida nesta vida que, se deixarmos, torna-se tudo menos viva e verdadeira.

A poesia está em imagens como Guernica e também nas fotos de nossas crianças em momentos de cara suja de chocolate e sorriso sem igual. Ela vive nas palavras tão genialmente utilizadas por Pessoa e nas músicas de Chico, mas também está presente no grito de uma nação num campo de futebol e num bilhete de amor tímido, e às vezes mal escrito, que se deixa de surpresa e que emociona a quem lê.

Poesia pode ser vista nos cabelos trançados das meninas e em tatuagens que mostram na pele o que passa pela alma da gente, mesmo que não se dê para estas coisas o mesmo valor que se dá para uma joia ou uma gravura expressionista. E ela também se apresenta nos passos de uma bailarina tal como nos movimentos dos meninos mostrando um pouco da cultura hip hop.

Há muita poesia em nossa vida, e a fazemos todos os dias mesmo sem querer e perceber. E eu tenho os meus momentos poéticos preferidos: como o abraço de muitos minutos que eu ganho do Pedro quando nos revemos depois de um longo tempo distantes. Não há como expressar em palavras o que sinto no momento em que ele pula no meu colo e lá fica por um tempo que me parece infinito a me abraçar com amor.

Há muita poesia em tudo que o Sr. Oscar Niemeyer criou, mesmo que a matéria usada tenha sido o concreto ou o cimento. E creio que esta é a lição mais importante que ele nos deixou: temos que fazer poesia, que fazer a nossa vida mais bonita e viva.

Um beijo e boa semana para todos vocês que fazem da minha vida um poético épico particular.





sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Three little birds




Three Little Birds
Bob Marley


Don't worry about a thing
'Cause every little thing gonna be all right
Don't worry about a thing
'Cause every little thing gonna be all right

Rise up this mornin'
Smiled with the risin' sun
Three little birds
Pitch by my doorstep
Singin' sweet songs
Of melodies pure and true
Sayin', ("This is my message to you-ou-ou:)

Don't worry 'bout a thing
'Cause every little thing gonna be all right
Don't worry (don't worry) 'bout a thing
'Cause every little thing gonna be all right

Rise up this mornin'
Smiled with the risin' sun
Three little birds
Pitch by my doorstep
Singin' sweet songs
Of melodies pure and true
Sayin', "This is my message to you-ou-ou

Don't worry about a thing, worry about a thing
Every little thing gonna be all right. Don't worry
Don't worry about a thing" - I won't worry
'Cause every little thing gonna be all right

Don't worry about a thing,
'Cause every little thing gonna be all right" - I won't worry!
Don't worry about a thing,
'Cause every little thing gonna be all right"

Don't worry about a thing, oh no!

A voz de Gil e as palavras de Bob, pra começar o fim de semana bem.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O adeus do Deus das Curvas


as curvas já existiam
mas dá-nos a impressão de que Seu Oscar as criara, que ele era dono delas
o concreto e o aço curvaram-se por ele
nós nos curvamos também
maravilhados pelo movimento, pela cadência e a malemolência
que criou a beleza pelos caminhos de todo
brasileiro




"Não é o ângulo reto que me atrai.
Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem.
O que me atrai é a linha curva livre e sensual.
A curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso de seus rios,
nas ondas das mornas nuvens do céu, na curva da mulher preferida.
De curvas é feito todo o universo.
O universo curvo de Einstein."

                                                 Oscar Niemeyer



Hoje o Deus das curvas ganhou asas. 
Até logo Sr. Oscar Niemeyer
05.12.12

míngua... a minguar... à míngua




Vem minguando a poesia
Desacreditada, apesar de escrita,
ela míngua na vida.
Uma vida branca e fria, assustada e covarde
a esconder-se atrás do silêncio, de meias palavras,
de saias e laços de menina.
A covardia de Fernando. A covardia de que tanto Fernando dizia,
mostra a sua cara pálida de cera.
Com o medo da dor (ele olha os sentimentos de soslaio)
com o medo do medo que o medo dá.
O poeta não finge sentir a dor que deveras sente. Apenas finge
sem a coragem para o sentir;  apenas mente.
E à míngua, a poesia conta a minguar seus últimos dias.
Ela míngua.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

a minha doença...



... uma paixão eterna. Vai Corinthians!

boa noite décio






Eupoema

O lugar onde eu nasci nasceu-me
num interstício de marfim,
entre a clareza do início
e a celeuma do fim.

Eu jamais soube ler: meu olhar
de errata a penas deslinda as feias
fauces dos grifos e se refrata:
onde se lê leia-se.

Eu não sou quem escreve,
mas sim o que escrevo:
Algures Alguém
são ecos do enlevo.



Décio Pignatari

02.12.12 (até 1 dia)


domingo, 2 de dezembro de 2012

Você Não Entendeu Nada




Você Não Entendeu Nada
Badi Assad

Você não entendeu nada
Minha língua não liquidifica
Minhas mãos não centrifugam
Minhas águas não inundam
Você não entendeu nada
Minha fome é muito mais que carne...
É algo além no dentro que se abre
E me invade de infinito
Você cala e eu grito,
Você deita e eu levito,
Você nega e eu acredito,
Nós, os laços e os nós
Eu a vida e o vinho, a sós
Nós, os laços e os nós
Eu a vida e o vinho, a sós
Você não entendeu nada
No retrovisor das palavras
Na direção dos meus navios
Na intenção dos meus sorrisos
Pois eu não lhe pedi nada (nada, nada)
Que não pudesses me dar
Vou te contar beijos se podem dividir
Neste mundo de linguagens
Você côncavo e eu convexo,
Você rima e eu verso,
Você fica e eu atravesso
Nós, os laços e os nós
Eu a vida e o vinho, a sós
Você côncavo e eu convexo,
Você rima e eu verso,
Você fica e eu atravesso
Nós, os laços e os nós
Eu a vida e o vinho, a sós
Nós, os laços e os nós
Eu a vida e o vinho, a sós


Badi dizendo lindamente aquilo que diz muito de mim e de ti. 
Pa' ti mi negro.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Inverno (eterno)




1.
Cá estou. Sentado.
Jogado a um canto displicentemente feito um saco de areia.
Estou úmido e apodreço por fora como já ocorrera por dentro
Talvez ainda falte para alguém, talvez não.
Mas a questão é que não importa. Como pode importar
quando e se romperá um saco de areia molhado e inútil?
Padeço, como padecem todos os débeis e tolos, da necessidade do outro.
Não me basto. E desta maneira me arrasto há anos numa fingida felicidade
normal que não existe. Não sou feliz e agora me sinto extenuado.
Não quero mais arrastar minha umidade pegajosa pelas ruas e deixar este rastro
invisível e piegas.
Não sei o porquê de tudo que fiz até chegar aqui. Não sei porque estou aqui. Não sei.
E por não saber, deixo-me.
Abandono-me querendo apenas que todos se esqueçam de mim,
de quem sou. Para que, em paz, eu possa me esquecer aqui.
Um roto saco úmido de areia.


2.
Queria ser outro, qualquer outro,
alguém que não fosse eu
Queria poder ser outro. Já o tentei
Mas rompeu-se a casca
e agora não há mais como escapar de mim mesma
Não há mais como esconder-me  e ando
com a carne exposta a mostrar
o erro que sou. E tenho plena consciência de todo o erro, de quão errada eu sou
Mas ainda assim, esta sou eu: Um erro desde e para todo o sempre

3.
amo meus óculos escuros
porque eles escurecem meus olhos do mundo
meus olhos se escondem, apagam-se as cores
e o azul tão lindo do céu que não me pertence
fica um pouco mais distante do meu mundo sem cores
por trás dos óculos escuros
que os meus olhos escodem