quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Meu Buda


Diz-se do amor que é cego. 
Eu digo que quiçá este veja,
seja à luz do dia ou durante a noite extrema,
aquilo para que os olhos não foram feitos.
Os olhos veem a beleza e os defeitos,
enxergam a covardia e o medo,
percebem, mesmo que não se queira,
a carne a deteriorar com o passar dos anos.
Para os olhos o fim sempre chega.
Contudo o amor...
Ah o amor de tão parvo e cego
não se dá conta de tudo aquilo que os olhos veem,
e para ele o tempo não passa.
E tu não envelheces aos meus olhos como para todos os outros
pares de olhos céticos.
Amo-te, e assim és e sempre serás perfeito
com todos os teus defeitos e
com este teu novo jeito, meu Buda:
arredondado,
sorridente
e cheio de silêncios.


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Mais uma e outra vez...Natal.

Aqueles que eu sigo pela vida,  meus pais e amigos.

Ontem, numa conversa entre amigos, afirmei categoricamente, e com todas as letras, que as coisas que se repetem em nossas vidas perdem a graça, a cor e o valor por serem, definitivamente, algo que temos como certo e garantido. Elas já fazem parte de nossas vidas e ponto final. Claro é que falamos muita bobagem quando conversamos com os amigos; principalmente à mesa de um bar. Jogamos as palavras aos ares como se elas fossem verdades sem muito pensar e, sem querer e nem perceber, dizemos coisas que, apesar de soarem verdadeiras aos nossos ouvidos naquele instante, são grandes tolices sem tamanho. Esta foi a minha bobagem de ontem: tudo que se repete em nossas vidas não tem valor.

Hoje celebraremos o Natal e eu espero poder repetir todas as coisas que amo tanto fazer. Quero estar com a família como faço desde sempre. Quero telefonar e mandar mensagens para os amigos, como faço todos os anos. Quero estar com estes amigos aqui de São Paulo nos dias que seguem ao Natal antes de voltar para casa, uma tradição que se somou à minha vida depois que eu me fui para longe. Quero rever as ruas por onde gosto de passear, ir à Praça Benedito Calixto e passear no Ibirapuera e na Paulista. Tomar muito café. Quero voltar aos restaurantes que tanto gosto. Quero ficar o maior tempo possível com meus pais, meu irmão e, agora, meu sobrinho – Nico. Quero voltar para casa para ver o ano chegar com os meus amigos e a outra parte da minha família que ganhei durante a vida.

Pois, Natal é uma época onde tudo o que se quer é refazer, rever e reviver aquilo que nos faz bem e, por isso, nos alimenta a alma. Pois somente assim, recarregados do que nos alimenta o corpo e o espírito, ganhamos forças para mais um ano que se achega cheio de novidades, de projetos e de planos que nos dão mais razões para repetirmos tudo o que amamos fazer um par de vezes antes dos 365 dias chegarem novamente ao final. As coisas não perdem o valor por tornarem-se repetitivas, nós as repetimos porque elas têm um valor inestimável para todos nós.

Por isso, desejo a todos os meus amigos e família que eles possam, que nós possamos, repetir inúmeras vezes as conversar, as risadas, os abraços, os beijos e os momentos que nos fazem sentirmo-nos tão bem. Que venham outras viagens, mais filhos e sobrinhos, os cabelos brancos e as rugas que nos mostram o tempo durante o qual estamos nos repetindo com um prazer sem igual. Repetir significa cultivar o que de mais caro nos reserva a vida, é cuidar para que os que amamos estejam sempre por perto, mesmo quando há muitos quilômetros entre nós.

Feliz Natal e que ainda venham muitos mais.

Beijos e beijos...

sábado, 21 de dezembro de 2013

Harley



Coisas de menina, e aqui de menino também. Ver além da superfície, algo difícil de aprender.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Em órbita



Ando, caminho com passos seguros
e a criar sulcos profundos na terra.
Estou em órbita.
Cavalo de carrossel a reinventar-se e repetir-se
completamente consciente de sua poética prisão a céu aberto.
Mariposa prosa presa pela luz que a cega,
e que a faz acreditar em seu frio Sol particular
e na salvação das almas perdidas
partidas
                    e iludidas

em órbita.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

muda




Muda.
Não mudo, mas estou muda
Calada da boca para fora enquanto estapeiam-se as palavras dentro de mim
Muda
Não mudo, mudam-se na alma as estações com o decorrer dos dias
O tempo passa, é dezembro (ou julho) e o inverno aconchega-se aqui
Muda.
Não mudo, apenas parecerei outra, mudada, um ser completamente renovado...
Bobagem!
Porque apesar de poético, é falso o renascer
Que constitui-se de casca fina, frágil
Pois que as penas, a pele e os ossos queimados não renascerão
Muda.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Se

Se o tempo fosse tão relativo que nele
nós pudéssemos voltar
eu nele voltaria apenas para fazer tudo de novo,
e mais uma vez.
Mas, desta vez, com mais intensidade como se, além do tempo,
eu pudesse controlar a força da natureza que em minha natureza há.
E gritaria mais forte do que gritei,
e desistiria de desistir mais uma e outra vez, ad aeternum,
feito criança mimada, mula empacada, para não deixar o amor desta vida me escapar;

entre

 os

dedos.

E não daria tempo ao tempo
para que o tempo não passasse mais rápido que a minha possibilidade,
que a minha capacidade, de estar no lugar certo no tempo em que lá eu deveria estar.
Se...
Se eu não acreditasse no meu desejo,
não haveria necessidade do tempo voltar.


domingo, 8 de dezembro de 2013

Verdade Uma Ilusão


Verdade, Uma Ilusão
Marisa Monte

Eu posso te fazer feliz
Feliz me sentir também
Eu posso te fazer tão bem
Eu sei isso eu faço bem
Roubar-te um beijo no salão
Girar sem perder o chão
Não vou deixar você cair
Cintura leve a minha mão
Verdade - uma ilusão
Vinda do coração
Verdade - seu nome é mentira
Eu posso te fazer ouvir
Milhões de sinos ao redor
Eu posso te fazer canções
O amor soa em minha voz
Eu posso te fazer sorrir
Meus olhos brilham para ti
E os pés já sabem aonde ir
Ninguém precisa decidir
Verdade - uma ilusão
Vinda do coração
Verdade - seu nome é mentira

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Nelson Mandela 1918 - 2013



Foram quase 100 anos, e mesmo assim parece que foi pouco tempo para mim. Hoje um dos heróis da minha infância e adolescência, um homem que aprendi a admirar para sempre por seu caráter, deixou-me; deixou-nos. A morte de um herói tão humano quanto ele deixa-nos, a todos nós, órfãos. E, mesmo do outro lado do oceano, parece-me que o Mundo ficou muito mais vazio e sem cor. Contudo, sei que ele é um homem inesquecível, pois, apesar de ter partido hoje, conosco ficam seus ideais e seus exemplos. Então, jamais diremos adeus ao Senhor Mandela, mas apenas: Até Madiba.




quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Verdade


A verdade, a respeito das verdades que carregamos pela vida,
É que na verdade a verdade não é dita.
E eu, assim como qualquer outro, na hora da verdade recuei,
Omiti, não disse aquilo que deveria dizer.
Disse meias verdades e as ouvi também,
Disse meias palavras e recebi as tuas palavras medidas e calculadas fingindo não perceber
Que ali havia apenas palavras que nada queriam dizer.
O que queríamos dizer não foi dito,
O que deveríamos dizer não foi dito,
O que precisávamos dizer não foi dito.
Pois, apesar de toda conversa, a verdade é que nos calamos para a verdade,
E por zelo ou por medo falamos sem nada ser dito.
Aquele foi um momento estranho. Lembro-me a dizê-lo:
Isso é muito estranho.
Mas a verdade é que verdadeiramente estranho é não termos dito a verdade
Na única oportunidade que tivemos nesta vida.
Ficaram mudas as palavras... Porque a verdade,
A respeito das verdades mais profundas desta vida,
É que a verdade nunca será dita.


domingo, 1 de dezembro de 2013

As primeiras estórias de Pedro

Pedro, no dia da sua graduação, e Lucas.


Nesta semana meu Pedro graduou-se. Assim dito, parece algo feito por um homem, eu sei. Soa como um passo que definirá uma vida inteira, e já imaginamos um rapaz, alguém quase feito homem, a abandonar a escola para mergulhar na vida como ela será daquele instante para frente. Mas não é nada disso, ainda bem. Pedro, agora, já sabe ler e escrever. Melhor dizendo: Pedro está aprendendo a ler e, com o final da alfabetização, concluiu com êxito o primeiro e mais importante passo no mundo das palavras, textos e letras.
 
Com seus seis anos, o meu afilhado graduou-se em algo que parece muito menos importante do que qualquer universidade aos olhos alheios. Entretanto, visto de perto, por aqueles que com ele compartem a vida, percebe-se a maravilha deste momento único. Um homem pode graduar-se dezenas de vezes em dezenas de universidades por este Mundo, já um menino deixar para trás sua primeira infância e ser capaz de ler pela primeira vez... Bem, isso acontece apenas uma vez. Há um ano Pedro desenhava seu nome, alguns nomes, o meu nome também. Hoje, Pedro lê e começa a escrever as ideias que lhe passam pela mente. E isso é muito mais bonito do que qualquer diploma que se possa dependurar na parede, não?

Ainda lembro-me de quando Lucas começou a ler e da felicidade que eu sentia quando ele seguia a ler todas as placas que conseguia, sentado no banco de trás do meu carro, enquanto eu dirigia. Lembro-me que fomos a uma livraria e que ele escolheu um livro sobre dinossauros para ler. Sete anos separam meus dois meninos leitores; e eu mudei muito neste tempo todo. Lucas mudou tremendamente, também, e é hoje um rapaz que não se podia adivinhar no menino de seis anos de idade de então. Pedro deixou de ser o bebê que eu carregava e cujas fraldas eu amava trocar e hoje já não cabe no meu colo e lê. Apesar de eu não gostar nada de envelhecer, agradeço ao tempo por ter me dado o presente de ver a vida dos meus pequenos a se fazer.

Claro que há muitos outros acontecimentos importantes já ocorridos na vida dos meus meninos, de todos eles. E, é claro também que há milhares d’outros momentos tão ou muito mais importantes que estão por acontecer. Contudo, para mim, que amo as palavras profundamente e que sempre amei aprender, vê-los ganhar a possibilidade de descobrir o mundo e tudo que nele já aconteceu, sozinhos e por seus próprios caminhos, é encantador.

Sei que eles talvez não gostem tanto da escola como eu, pois que gostar de escola anda algo muito démodé.  Pedro gosta muito dos livros, mas, é óbvio que ele prefere os games, a bola e os carrinhos do que aprender, eu sei bem. Lucas está de castigo ainda às voltas com os livros porque “ficou de recuperação” na escola; não puxou à tia neste quesito, fazer o quê? Talvez isso de escola seja coisa para meninas, talvez.

Porém, isso pouco importa no final das contas. Porque a beleza da vida reside no fato dela não ser perfeita e, por isso mesmo, tão maravilhosa. Os nossos meninos aprendem muito conosco e nós... Bem, nós aprendemos com eles a ser gente grande a vê-los crescer; e isso é o que importa.

Nós, seis anos atrás.

01.12.13


domingo, 24 de novembro de 2013

O hino...

Redemption Song
Bob Marley

Old pirates, yes, they rob I
Sold I to the merchant ships
Minutes after they took I
From the bottomless pit
But my hand was made strong
By the hand of the Almighty
We forward in this generation
Triumphantly

Won't you help to sing
These songs of freedom?
'Cause all I ever have:
Redemption songs
Redemption songs

Emancipate yourselves from mental slavery
None but ourselves can free our minds
Have no fear for atomic energy
'Cause none of them can stop the time
How long shall they kill our prophets
While we stand aside and look?
Some say it's just a part of it
We've got to fulfill the Book

Won't you help to sing
These songs of freedom?
'Cause all I ever have
Redemption songs
Redemption songs

Redemption songs


O cabelo


Caíram como folhas a deixarem seus galhos,
lentos, mas decididos,
a alimentar o chão,
a deixar de ser quem eram e tornarem-se outros.
Foram-se os cachos, foi-se o cabelo que antes tocava
o pescoço,
o ombro.
Cortei o cabelo, curto.
Amostra inocente e feminina de que por dentro
a mudança instalou-se e me transforma,
sinal de que, como o cabelo,
eu, em breve, serei outra
como já o fui outras vezes. 

Frida masculina

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

porque los malos tratos todavía existen...

...Y no debemos cerrar los ojos. Jamás.

Prepárame La Cena
Calle 13

No soy un número, ni parte de una cifra,
Aunque se paga por igual la misma tarifa.
Todos caminamos con la misma camisa
Sin prisa, para mirar donde se pisa.
No vale el tiempo pero valen las memorias
No se cuentan los segundos, se cuentan historias.
La paciencia es lo que se cosecha
Mi calendario no tiene fecha
No estoy solo, ando con mis cinco sentidos
Acá el silencio se convierte en sonido
Todo lo malo que soñé, lo toqué
Pero esta tan oscuro que el miedo no se ve
Yo me huelo lo que siento por eso presiento
Que dentro del circuito me queda poco tiempo
En el próximo tren yo me monto
Prepárame la cena que regreso pronto

Prepárame la cena que regreso pronto
Prepárame la cena que regreso pronto
Prepárame la cena que regreso pronto
Prepárame la cena que regreso pronto

Yo miro para afuera y miro para adentro
La reclusión es mi punto de encuentro
Me ubican dentro de lo marginal
Pero en algún momento todos nos portamos mal.
Y quien determina lo bueno y lo malo,
Lo poco saludable y lo sano.
De lo crudo a lo cocido hay una larga diferencia
Y cocinar termino medio no es ninguna ciencia,
En esta vida me castigaste,
Me robaste el tiempo, me recagaste
Mi culpabilidad es como una pecera vacía
Como juzgar al sol por salir de día.
Si mis tristezas te causan alegrías
Es por que tus reglas son distintas a las mías
Creo en todo lo que veo
Y aunque soy ateo, rezo pa' que nunca me pase algo feo
Para soñar con mi partida y con tu llegada
No me hace falta un matre con almohada
Yo soy libre por que desde aquí yo vuelo
Solo toca despegarse del suelo

Prepárame la cena que regreso pronto
Prepárame la cena que regreso pronto
Prepárame la cena que regreso pronto
Prepárame la cena que regreso pronto

domingo, 17 de novembro de 2013

La Muerte

Nossa Árvore de Natal


Ontem montamos a árvore de Natal aqui em casa que, de maneira a “homenagear” a todos aqui, tem enfeites que representam cada membro desta família que ganhei durante a vida. Adoro montar árvores de Natal e gosto muito desta época que desde 2012 voltou a apresentar-se como um momento muito feliz: uma volta a São Paulo para ficar junto aos meus, minha família e meus amigos, por um bom tempo. Antes, quando eu vivia em Sampa, eu gostava muito da Páscoa porque aquela era a época que eu vinha à Fortaleza para estar com estes daqui que, por méritos, também são meus. Pois, parece-me que as saudades são condição sine qua non desta minha existência que, por minha própria escolha, é dividida. Eu queria ser muitas para poder estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Mas, não dá.

Contudo, voltando à minha “bola de Natal”, aquela que me representa. Bom, devo dizer que gostei demasiado dela, e que acho mesmo que tem a minha cara: uma caveira mexicana, colorida, bem humorada e com cara de maluca. Ou seja, tem muito de mim. (risada) Brincadeiras à parte, na verdade, gosto muito destas representações da morte mexicanas, além de gostar muito de sua estética, por elas explicarem-me muito de como sinto a vida. Não tenho medo algum da morte, pelo menos não da minha que pouco me afetaria no final das contas, e sinto que a vida em seu percurso ensina-nos a não temê-la.

Durante a vida deixamos de ser quem já fomos até outro dia inúmeras vezes. Eu não sou mais a menina que fui um dia, ou a adolescente da época do colégio, nem... Bem, não sou mais nem quem eu era há 12 meses. E, apesar do desconforto e da dor que a mudança traz num primeiro momento, não há como negar que é ela, a mudança e a transformação que dela resulta, que nos faz sentirmo-nos vivos.  Que faz a vida ser bela e valer a pena. E, por esse ponto de vista, a morte nada mais é que uma nova mudança, não?

Claro que sinto muita falta dos que já morreram. Só eu sei quanta saudade sinto dos meus avós e de outros que eu, por mais que queira, não posso rever. E é claro também que não queria jamais ter que sentir a morte dos que amo, nunca. Muito ao revés do que brinca meu pai, a cada dia que passa, eu percebo menos reconfortante a resposta à notícia da morte de alguém – “Antes ele do que eu.”. E, por isso mesmo, gosto muito do que representam as caveiras mexicanas.

De acordo com as crenças astecas, maias e de outros povos que cá estavam antes de nós e que constituem, (para minha grande felicidade), muito de quem somos - latino-americanos, a morte nada mais é do que uma passagem, uma transição. Por isso mesmo, sua festa mais alegre é o dia dos mortos. Porque nesse dia, no qual lembramos os que já morreram, “recebemos a visita” daqueles que ainda amamos e que, por enquanto, estão longe de nós. Mas é fato: um dia nos encontraremos outra vez, e disso, não há cristão ou pagão que duvide. Há? Então, um dia, estas saudades também morrerão.

Portanto, entre os maias e Albert Einstein que dizia crer na existência de Deus quanto mais compreendia o Universo cientificamente, sinto-me confortavelmente esperando pelas próximas mudanças e pelas transformações que com elas chegarão. Que venha o próximo ano!

Um beijo e boa semana.

"I, at any rate, am convinced that He (God) does not throw dice."

Albert Einstein

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

De repente


De repente o oceano é a distância real de todas as coisas,
tão distantes e quietas que aos poucos vão deixando de existir;
mínguam.
Caladas e borradas, as lembranças amarelam-se e
esvaem-se líquidas pelas mãos por mais que eu tente retê-las.
Queria poder retê-las. Queria poder reter o tempo
e abraçar apertado todos os bons sentimentos que durante anos
fizeram-nos felizes para que, assim, eles jamais pudessem
desaparecer.
Mas, de repente, não mais do que de repente,
a única coisa que existe, de todas as coisas que um dia nos pertenceram,
é o fato de haver
o Atlântico,
calado,
oceânico
e pensativo,
a dividir dois mundos que jamais estarão unidos,
juntos.


terça-feira, 12 de novembro de 2013

domingo, 10 de novembro de 2013

Fernando Pessoa (mais uma vez)


Fernando Pessoa é uma de minhas paixões, uma daquelas que começaram na adolescência e que não têm tempo para terminar. Uma admiração que, como o objeto desta, multiplica-se com os anos e amplia-se, e que muito ao revés deste cavalheiro, não é nada única ou particular. O Mundo admira a este poeta desde muito antes de eu respirar pela primeira vez e, com certeza, assim o será muito depois d’eu cerrar os olhos pela última. Isso, porque Pessoa foi um gênio tal como o foram Mozart, Gaudí, Michelangelo e Einstein, por exemplo. Ele foi, e o é, inacreditável.

Eu, por minha vez, admiro-o tanto que já dei por falar sobre este Senhor ou citá-lo inúmeras vezes. E, isso não quer dizer que eu saiba e entenda muito sobre este homem, não. Quer dizer que ele me é um enigma, que me encanta todas as vezes que o leio e releio como hoje; e que muito de todo este encantamento advém do fato dele parecer-me algo difícil de entender ou explicar. Eu não quero entendê-lo, não tenho tal pretensão. Quero, apenas, senti-lo. Sentir alguém que, para mim, se assemelha às Cordilheiras dos Andes pelo tamanho de sua obra, e que me faz pensar, “Meu Deus, como isso é possível? Que engenho mágico é este homem pelo Senhor feito?”.

Por mais que eu o leia e releia, não consigo atinar como um único homem foi capaz desta imensidão que é a obra de Pessoa, não só por seu volume e diversidade, mas também por seu teor e pela força que as palavras escritas por ele têm, até hoje. Envergonho-me dos meus rabiscos, mas conformo-me quando lembro que a intenção destes é apenas terapêutica, nada mais. Escrever impede-me de enlouquecer. Por outro lado, sinto orgulho de ter como minha a língua de Fernando Pessoa, e creio piamente que todos os portugueses deste mundo deveriam sentir-se grandiosos por compartilharem com ele não apenas as palavras, mas também as ruas, os cafés, o falar metálico e melancólico, a visão do Tejo... Enfim, por serem eles uma parte do maior poeta desde sempre.


Sem regras, conceitos ou teorias para explicá-lo, gosto de ter Fernando em minhas mãos apenas pelo prazer de tê-lo. Apenas para sentir o quão gigantesco foi aquele homem de talhe tão pequeno e de alma oceânica. Ao ler Pessoa, tenho a sensação que as palavras fluem nele como se dele elas nascessem. Como se antes de ser constituído de ossos e carnes, este homem português tivesse sido feito de palavras e letras. Fernando Pessoa nasceu homem, mas foi durante toda a sua vida um poema. Por isso, digo e repito: Eu adoro ler o Fernando Pessoa.

Lisboa, desde o Castelo de São Jorge em Outubro de 2012.



LISBON REVISITED (1923)

Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafisica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) ­
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

Ó céu azul ­ o mesmo da minha infância ­,
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!

Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Álvaro de Campos

Hay poca educación, hay muchos cartuchos. Cuando se lee poco, se dipara mucho

La Bala
Calle 13

El martillo impacta la aguja
La explosión de la pólvora con fuerza empuja
Movimiento de rotación y traslación
Sale la bala arrojada fuera del cañón
Con un objetivo directo
La bala pasea segura y firme durante su trayecto
Hiriendo de muerte al viento, más rápida que el tiempo
Defendiendo cualquier argumento
No le importa si su destino es violento
Va tranquila, la bala, no tiene sentimientos
Como un secreto que no quieres escuchar
La bala va diciéndolo todo sin hablar
Sin levantar sospecha, asegura su matanza
Por eso tiene llena de plomo su panza
Para llegar a su presa no necesita ojos
Y más cuando el camino se lo traza un infrarojo
La bala nunca se da por vencida
Si no mata hoy, por lo menos deja una herida
Luego de su salida no habrá detenida
Obedece a su patrón una sola vez en su vida

Hay poco dinero, pero hay muchas balas
Hay poca comida, pero hay muchas balas
Hay poco gente buena, por eso hay muchas balas
Cuidao' que ahí viene una (Pla! Pla! Pla! Pla!)

Hay poco dinero, pero hay muchas balas
Hay poca comida, pero hay muchas balas
Hay poco gente buena, por eso hay muchas balas
Cuidao' que ahí viene una (Pla! Pla! Pla! Pla!)

Se escucha un disparo, agarra confianza
El sonido la persigue, pero no la alcanza
La bala sacas sus colmillos de acero
Y sin pedir permiso, entra por el cuero
Muerde los tejidos con rabia y arranca,
El pecho a las arterias para causar hemorragia
Vuela la sangre batida de fresa
Salsa boloñesa, syrup de frambuesa
Una cascada de arte contemporaneo
Color rojo vivo, sale por el cráneo

Hay poco dinero, pero hay muchas balas
Hay poca comida, pero hay muchas balas
Hay poco gente buena, por eso hay muchas balas
Cuidao' que ahí viene una (Pla! Pla! Pla! Pla!)

Hay poco dinero, pero hay muchas balas
Hay poca comida, pero hay muchas balas
Hay poco gente buena, por eso hay muchas balas
Cuidao' que ahí viene una (Pla! Pla! Pla! Pla!)

Seria inaccesible el que alguien te mate
Si cada bala costara lo que cuesta un yate
Tendrías que ahorrar todo tu salario
Para ser un mercenarío, habría que ser millonario
Perto no es así, se mata por montones
Las balas son igual de baratas que los condones
Hay poca educación, hay muchos cartuchos
Cuando se lee poco, se dipara mucho
Hay quienes asesinan y no dan la cara
El rico da la orden y el pobre la dispara
No se necesitan balas para probar un punto
Es lógico, no se puede hablar con un difunto
El diálogo destruye cualquier situación macabra
Antes de usar balas, diparo con palabras
Pla! Pla! Pla! pla!

Hay poco dinero, pero hay muchas balas
Hay poca comida, pero hay muchas balas
Hay poco gente buena, por eso hay muchas balas
Cuidao' que ahí viene una (Pla! Pla! Pla! Pla!)

Hay poco dinero, pero hay muchas balas
Hay poca comida, pero hay muchas balas
Hay poco gente buena, por eso hay muchas balas

Cuidao' que ahí viene una (Pla! Pla! Pla! Pla!)


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O Bom Som do Mau


Som do Mau e seus amigos, ou melhor, Maurício Gerace e Trio. Menino que eu gosto desde a época em que ele ainda andava agarrado aos pais, e que depois de grande anda a fazer um som lindo de se ouvir.


terça-feira, 5 de novembro de 2013

A dor


A dor que é minha,
a mim pertence e a mais ninguém. Ela é minha.
Por mim foi gerada e alimentada.
Velei seu sono em minhas noites mal dormidas,
acalentei-a
por reconhecer nela a minha cria.
É minha toda a paixão e a loucura que só a mim pertencem,
tal como esta dor,
tal como o mal que elas causam, egoisticamente,
apenas a mim.
Como todos os vícios que nos alimentam,
a dor
achegasse como quem nada pretende,
apresenta-se, e se estabelece.
Esta dor que é minha apenas a mim pertence,
fiel a reservar-me seu veneno,
delicadamente.
Meus cigarros fumados na solidão das esquinas
que, paulatinamente,
apodrecem-me por dentro.


domingo, 3 de novembro de 2013

From the botton of my heart...


Golden Slumbers & Carry That Weight
The Beatles

Once there was a way, to get back homeward,
Once there was a way, to get back home
Sleep pretty darling do not cry, and I will sing a lullaby
Golden slumbers fill your eyes, smiles awake you when you rise
Sleep pretty darling do not cry, and I will sing a lullaby
Once there was a way, to get back homeward,
Once there was a way, to get back home
Sleep pretty darling do not cry, and I will sing a lullaby

Boy you're gonna carry that weight, carry that weight for a long time
Boy you're gonna carry that weight, carry that weight for a long time
I never give you my pillow, I only send you my invitations
And in the middle of the celebrations, I break down
Boy you're gonna carry that weight, carry that weight for a long time
Boy you're gonna carry that weight, carry that weight for a long time
Oh yeah, all right, are you gonna be in my dreams tonight?
Love you, love you, love you, love you, love you, love you, love you,
Love you, love you, love you, love you, love you, love you, love you,
Love you, love you, love you, love you, love you, love you, love you,
Love you, love you, love you

And in the end, the love you take, is equal to the love, you make, Ah



sábado, 2 de novembro de 2013

As borboletas


Não importa o que eu esteja fazendo no momento,
paro sempre, naquele momento, que me passa pela frente
ou de soslaio
uma borboleta.
Invejo-a, a voar feito bailarina
dando pequenos saltos em
pleno ar
com suas asas magnificas e frágeis.
Feito inseto enamorado pela luz, paro,
mudo meu rumo e a sigo em busca de algo que não sei bem;
o desconhecido. Aquilo que tanto almejo.
Mas a borboleta nem chega a notar-me, e vai-se.
Duvido muito que borboletas tenham desejado,
sequer por um micro segundo que seja na vida, ser gente.
Não creio.
As borboletas, assim como os pássaros,
as flores, o vento e tantas outras coisas,
sabem muito bem a razão de seu viver
e não perdem tempo com
estas besteiras
de gente.
Invejo as felizes borboletas.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O presente


Queria um mundo onde a Aspirina pudesse curar todas as dores
sem importar por que parte do corpo a tal resolvesse caminhar.
Queria um mundo que pudesse ser retratado fielmente num mapa,
mas isso não há.
Mapas explicam bairros, mostram-nos cidades, são capazes de conter neles países inteiros.
Mas não há mapa a me dizer para onde eu vou,
a mostrar-me que caminho é este que trilho de olhos arregalados.
Assustados.
Queria um mundo de palavras que significassem o que são,
e não haveria aquilo que deveríamos ter dito e que não o fizemos
porque a língua ficou presa dentro da boca cerrada, pelos dentes encarcerada.
Queria um mundo onde os homens não se escondessem deles mesmos
por medo de serem quem eles são por dentro, do avesso.
Eu queria um mundo.



terça-feira, 29 de outubro de 2013

Olhos


Por que existem estes olhos que não sabem ver?
Que mesmo abertos e tão certos de si
enganam-se turvados pelos sentimentos,
pelos pensamentos,
e não veem o mundo como ele deve ser;
como ele é.
Para que me servem estes olhos que servem
apenas para ver o que imagina a alma ?
o desejo
o abraço
o beijo
o laço
Abertos ou fechados eles se enganam, me enganam,
e sonham noite e dia com a beleza que deveria haver na vida...
com a tua chegada,
com a distância sendo vencida com uma passada,
com o sorriso que, assustado, se escondeu.
Com dias sem lágrimas.




domingo, 27 de outubro de 2013

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Silêncio


De tanto que era, de repente,
o todo tornou-se
pouco.
Transbordou...
 ...Secou.
Depois do estar cheio, ficou o nada cá dentro.
E do repleto fez-se o vazio completo,
quando depois de tanto gritar,
sem aviso, ficou mudo.
Acabou.


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Bem-Me-Leve



A vida sem música é inconcebível. E há canções que mais que nos acalentarem, nos traduzem e nos tornam parte de um mundo sonoro e amplo. Assim, não nos sentimos tão sozinhos, e nada originais. Que bom!

Bem-me-leve
Apanhador Só

eu pensava ter uma bicicleta
e pedalar até a tua rua
dizer que ainda sou tua

eu queria ser um avião bem leve
pra sobrevoar o teu terraço
e tapar teu sol

fazer tu perceber
que sem eu aí não tem
ninguém pra te aquecer

perfume atrás da orelha
vestido bem vestido
um sorriso no rosto
um punhado de amigos
que é pra,
se acaso eu te encontrar um dia,
tu ver como eu ainda tô bonita

ou mais
ainda mais ainda
ou mais
ainda mais bonita


sábado, 19 de outubro de 2013

Vinicius de Moraes, 100 anos de um homem eterno


Chega de Saudade

Vai, minha tristeza, e diz a ela
Que sem ela não pode ser
Diz-lhe, numa prece, que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer

Chega de saudade, a realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai

Mas, se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca

Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de viver longe de mim
Não quero mais esse negócio de você viver assim

Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim