quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Agulha No Palheiro (Uma excelente novidade constante)



Uma excelente novidade constante

Desde muito jovem acostumei-me a buscar sons novos para meus ouvidos. Novas canções saciam-me a alma, sempre foi assim. E fossem elas provenientes de músicos muito jovens ou de outros já esquecidos pelo tempo, clássicas ou futuristas, não me importava. De Mozart a Sex Pistols, passando por Martinho, Jobim, Kiss, Elvis, Chico, Billie e Elis; tudo me interessava.  Adorava montar as minhas fitas, conseguir letras de canções e conhecer tudo o que pudesse chegar a mim.

Com a internet abriram-se as fronteiras e a vida ficou muito mais fácil para nós, ao passo que muito mais complexa para os músicos que tiverem que reaprender como sobreviver da música. Assim, em minha missão de vida descompromissada em 2009 tropecei nos Da Weasel e seu letrista e vocalista, Carlos Nobre Neves, e apaixonei-me.

Para alguém que conhecia apenas pouca coisa de os Madredeus graças ao cinema, Roberto Leal e Amália Rodrigues, ouvir as canções dos Da Weasel, principalmente por suas letras, abriu-me os olhos a um país antes completamente ignorado. Portugal e sua música existem para mim devido às letras e à voz de Carlão, e este é um feito, além de inesperado, pra lá de bonito. Afinal, se ouço e divulgo como posso hoje em dia aos Buraka, aos Orelha Negra, Mariza, Sara Tavares e muito mais, este é um mérito  deste senhor.

Eclético e talentoso, despretensioso e curioso, Carlão transformou-se através dos anos e, da mesma forma, sua música moldou-se aos novos tempos menos sisudos de sua música nacional profundamente influenciada por beats, ritmos africanos e até, quiçá, por um quê latino e tropical. Desta feita, o senhor renova-se mais uma vez e lança música para dançar, leve, de fácil assimilação e que tem um propósito que, apesar de parecer não tão nobre, tem seu papel fundamental: música também deve ser feita para que com ela possamos nos divertir a valer.

Nesta semana ganhamos Agulha no Palheiro que causa algum estranhamento para os ouvintes mais fiéis e antigos de Carlão. Eu sei. Apesar disso, ela agrada por sua leveza, por ser tão solar e por cumprir o seu papel de maneira muito competente e inteligente. Agulha no Palheiro é música para dançar e para ser cantada por toda a gente. Como afirma Carlão há anos, ele faz música para as mais diversas situações, com vibes tão variadas e distintas que fica um tanto difícil rotulá-lo. Oxalá ele sempre continue assim – uma excelente novidade constante. Nós esperamos pelo disco novo e por muito mais. Venha ele!

Trecho da Canção Amor, Escárnio e Maldizer de 2007.
À vontade do freguês, consoante a situação:
temos Amor Escárnio e Maldizer, são os pratos do dia
Para acabar de vez com a monotonia
A epifania surge quando a vontade urge
Necessária, ela é forte e voluntária
Música para dançar, para sentir e para amar
Música para lutar, criticar e ponderar
Música para tocar, para revolucionar
Para nos trazer à tona para poder respirar
Vem buscar...



AGULHA NO PALHEIRO (feat. Bruno Ribeiro)
CARLÃO·QUARTA, 1 DE MARÇO DE 2017

 Pára-me o coração,
sem noção da direcção do balcão
a minha ânsia não vê um travão
não digo pão só perdão

Tenho a sensação de não ter chão
tou na tracção de um furacão
Não é atracção, isto é paixão
daqui ao caixão

Ela bate certo
no peito aberto
aponta-me o caminho
num futuro incerto

Baby aproxima,
faço-te uma rima
faço um disco inteiro:
tu és a agulha no palheiro
(aguenta coração) baby aproxima
(aguenta coração) faço-te uma rima
(aguenta coração) faço um disco inteiro
(aguenta coração) tu és a agulha no palheiro

Red bull e um shot
casa tá ao barrote
camarim é camarote
pode ser que ninguém note
Faço o impossível
para isto ser possível
sou irredutível 
nem sequer é discutível
Enquanto o povo dança
o meu olhar alcança
a futura dona da herança
na minha poupança
ela avança
escondo a minha pança
mostro a confiança
que roubei ao segurança

Ela bate certo
no peito aberto
aponta-me o caminho
num futuro incerto
baby aproxima,
faço-te uma rima
faço um disco inteiro:
tu és a agulha no palheiro

(aguenta coração) baby aproxima
(aguenta coração) faço-te uma rima
(aguenta coração) faço um disco inteiro
(aguenta coração) tu és a agulha no palheiro

Meu Deus não sei se consigo
cara séria quando falo contigo
cá por dentro rio como um perdido
mega nervoso faço um pedido
“o teu nome e número por favor”
Levo-te a casa a pé porque tá calor
se quiseres um pequeno almoço superior
posso fazê-lo para ti sem qualquer pudor


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Meninas...




Nescafé

Eu cuspo nescafé e você chora leite
De manhã
Amarro o meu sapato
E tu veste o sutiã

Cadê o nosso amor? me diz onde
Vou correndo pegar o bonde
Que linha liga o teu coração ao meu?

Almoço minha angústia
E tu ri com a cara na tv
Eu tomo um conhaque
E tu fala em ter bebê

Remenda o meu sorriso e, sorrindo,
Me costura mais uma ruga
Desfaz a casa que casa com o meu botão

Me esqueço em pensamentos
E tu cobra um pouco de colchão
Respondo qualquer coisa
E tu solta a minha mão

Coloca teu calor na estante
Vem, se deita tranquila e dorme
Em que sonho eu sonho meu sonho igual ao teu?

Que linha liga o teu coração ao meu?
Em que tronco encontro talhado o meu nome e o teu?

Em que sonho eu sonho o meu sonho igual ao teu?

O meu coração ao teu, teu nome talhado e o meu

Meu sonho, meu sonho

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Nós, os canalhas.



Nós, os canalhas.


Ando a sentir-me sem pátria, órfã de pai e mãe no que tange a minha nacionalidade. Perdida, feito astronauta à deriva no espaço, numa terra onde dia após dia torna-se cada vez mais difícil para quase todo cidadão sentir-se confortável, percebo que já não sei mais como definir a nós mesmos. O que significa atualmente ser brasileiro?

Éramos cordiais, já fomos conhecidos como um povo feliz e gentil; não? Hoje somos egoístas e avaros, violentos e cínicos. Somos um grande amontoado de gente à espera do momento no qual possamos, como diria minha avó, passar a perna em alguém. Hoje, por esses dias que correm, sinto-me profundamente envergonhada e decepcionada com o país que construímos. Com o país que somos. O país do futuro, aquele que tinha tudo para ser uma potência e um bom lugar para qualquer um viver, transformou-se numa terra sem lei; nosso Bang-Bang à brasileira.

Os níveis de corrupção e ineficiência do Estado brasileiro clientelista em todas as suas órbitas criaram uma situação surreal onde, simplesmente, nada funciona como deveria ser. Onde absurdos ocorrem todo santo dia e já não causam grandes estranhamentos em quase ninguém. E assim, calejados por tantos disparates, estamos nos tornando um povo insensível à dor alheia, e isso é muito pior do que ficarmos sem dinheiro. A mim tem me parecido que estamos perdendo o nosso caráter de vez, não?

 Na semana passada no estado do Espírito Santo, sem policiamento nas ruas devido a uma greve dos policiais militares, cidadãos comuns participaram de uma onda de saques ao comércio de várias cidades pelo simples fato de que não havia ninguém para detê-los. O que nos leva a conclusão de que o brasileiro comum não rouba ao outro brasileiro comum apenas porque tem medo de ser preso e não porque isso, por princípio, é errado? Somos, de fato, um bando de aproveitadores imorais, aquele tipo de gente que tira proveito dos mais fracos, dos que não têm como defender-se, e ponto final?

 Nelson Rodrigues, décadas atrás, numa de suas frases marcantes e históricas afirmou que: “No Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte.”. Parece-me que não há como contestá-lo por esses dias e apenas nos resta aceitar. Somos mesmo um bando de canalhas.




quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

De repente 15...



De repente 15...

Nesta semana Gigi completou 15 anos, e eu ainda me lembro dela vestida de formiguinha na festa da escola com pouco mais de 2 anos de idade, dos seus pés bem pequenos nas minhas sandálias mais altas, e de quanto minhas pálpebras ardiam quando ela passava a tarde a maquiar meus olhos com todas as sombras existentes nesse universo; colocando uma sobre a outra. Minha primeira boneca linda e tagarela cresceu.

Pois, de um repente, nesta semana, parece-me que décadas se passaram enquanto eu cochilei no sofá. Gigi tem 15 anos e os nossos mundos já não são tão distantes assim: meninos, música, amigas, sapatos de salto alto, maquiagem, mais meninos, séries de TV e filmes que fazem chorar... A verdade é que todos os meus miúdos cresceram muito e transformam-se assustadoramente diante dos meus olhos míopes que levam um bom tempo para enxergar, e aceitar, cada detalhe destas transformações. Mas o fato é que meus pequenos estão a virar gente grande.

Fábio terá 20 anos em julho e não há mais como negar: ele é um homem feito. Apesar de ainda faltar um tanto de juízo na cachola, verdade, ok... Concordo. Contudo, juízo chega de mansinho e somente lá pelos 30 vem morar com a gente de vez e para todo o sempre; não? E isso com direito a férias de vez em quando que ninguém é de ferro. Amém!

Pedrão terá 10 anos em abril e sua adolescência já nos espia de soslaio, curiosa, em nossos momentos de distração. Em breve ela saltará diante de nós na sala de estar e não teremos mais como ignorá-la. Teremos, definitivamente, uma criança a menos e um novo universo de descobertas inaugurado; será, então, o tempo de conhecer um novo Pedro.

Lucas prepara-se para a Universidade e para o mundo quando 2018 e seus 18 anos chegarem de mãos dadas. E eu, sinceramente, não me preparei para esse momento quando terei que ver meu filhote solto no mundo mesmo sabendo que ele chegaria; mesmo desejando que ele chegasse e que fosse interessante e bonito para o meu menino. Pois, o tal momento de ser adulto está a chegar para ele e teremos que nos acostumar a não tê-lo tão por perto todo santo dia. Hmmm... Acho que vou chorar.


Um beijo aos meus meninos, os grandes e os pequenos. Amo-vos demais!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Um dia




Um dia


Queria apenas um dia de vinte e quatro horas minhas.

Um dia no qual aqui tu estarias sem pressas e problemas,

sem medos e dilemas... Sem silêncios.

Um dia que não faria mal a ninguém porque apenas para nós existiria

e que depois seria esquecido,

nuvem rala,

poeira de lembranças de tudo que não chegamos a fazer;

a dizer.

Seria a mentira derradeira sobre uma vida inteira que não foi construída

pelo simples fato de que assim não era para ser;

apesar de um querer inexplicável. Irreparável.

Porém, e mesmo assim, mesmo sendo apenas uma falácia;

a gramática de uma língua nunca escrita,

eu o queria.

Queria este meu dia no qual o oceano não seria tão imenso como é,

 e numa caminhada muda, tu o cruzarias como dantes fizeram os teus

para, num dia, criar o mundo que hoje eu chamo de meu.

Apenas para estar comigo aqui. Eu queria apenas

um dia.