quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Nós, os canalhas.



Nós, os canalhas.


Ando a sentir-me sem pátria, órfã de pai e mãe no que tange a minha nacionalidade. Perdida, feito astronauta à deriva no espaço, numa terra onde dia após dia torna-se cada vez mais difícil para quase todo cidadão sentir-se confortável, percebo que já não sei mais como definir a nós mesmos. O que significa atualmente ser brasileiro?

Éramos cordiais, já fomos conhecidos como um povo feliz e gentil; não? Hoje somos egoístas e avaros, violentos e cínicos. Somos um grande amontoado de gente à espera do momento no qual possamos, como diria minha avó, passar a perna em alguém. Hoje, por esses dias que correm, sinto-me profundamente envergonhada e decepcionada com o país que construímos. Com o país que somos. O país do futuro, aquele que tinha tudo para ser uma potência e um bom lugar para qualquer um viver, transformou-se numa terra sem lei; nosso Bang-Bang à brasileira.

Os níveis de corrupção e ineficiência do Estado brasileiro clientelista em todas as suas órbitas criaram uma situação surreal onde, simplesmente, nada funciona como deveria ser. Onde absurdos ocorrem todo santo dia e já não causam grandes estranhamentos em quase ninguém. E assim, calejados por tantos disparates, estamos nos tornando um povo insensível à dor alheia, e isso é muito pior do que ficarmos sem dinheiro. A mim tem me parecido que estamos perdendo o nosso caráter de vez, não?

 Na semana passada no estado do Espírito Santo, sem policiamento nas ruas devido a uma greve dos policiais militares, cidadãos comuns participaram de uma onda de saques ao comércio de várias cidades pelo simples fato de que não havia ninguém para detê-los. O que nos leva a conclusão de que o brasileiro comum não rouba ao outro brasileiro comum apenas porque tem medo de ser preso e não porque isso, por princípio, é errado? Somos, de fato, um bando de aproveitadores imorais, aquele tipo de gente que tira proveito dos mais fracos, dos que não têm como defender-se, e ponto final?

 Nelson Rodrigues, décadas atrás, numa de suas frases marcantes e históricas afirmou que: “No Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte.”. Parece-me que não há como contestá-lo por esses dias e apenas nos resta aceitar. Somos mesmo um bando de canalhas.




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