segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Aos Amigos





Sim, este foi um ano difícil. O mais difícil ano de minha vida porque, de repente, tive que enfrentar uma realidade muito conhecida e, ao mesmo tempo, completamente ignorada: não somos eternos. Não o somos e disso todos  nós sabemos desde cedo na vida.  Contudo, como parvos adolescentes, cremos que qualquer mal está sempre muito longe de nós e que ele não nos poderá atingir. Pelo menos era assim que eu vivia até este ano; até o que eu chamei de o pior ano de minha vida.

Porém, (e sempre haverá os poréns porque Deus é cheio de ideias para enredos, e escreve o certo de um jeito que não o parece ser), com todos os problemas deste ano, com todas as dores e a tristeza, com a tal da doença sem cura que ganhamos aqui em casa, vieram coisas muito boas também. Neste ano descobri que minha mãe tem uma força e uma coragem que eu desconhecia, e que desta força dela faço mais forte a força minha. Percebi nestes dias que o amor que há entre nós é muito mais forte do que eu imaginava ser, e cuidei da minha mãe como nunca havia feito; como quiçá nunca faria. Fui a mãe da minha mãe por um tempinho, e o carinho multiplicou-se

Descobri em 2014, acima de tudo, que os bons amigos que tenho são mais que bons; eles são geniais! Pois, por eles minha família e eu nos sentimos amparados durante os momentos mais difíceis. Então, eu quero dizer que nada, mas nada mesmo nesta vida vale mais do que este amor que existe sem obrigação de ser. Somos amigos, somos a família que construímos e que nos foi dada por obra divina e isso significa um bem-querer sem regras ou restrições. Seguimos juntos na vida porque assim queremos seguir, porque juntos nos divertimos, rimos e fazemos rir mesmo quanto a vontade é chorar.

Por tudo isso, mesmo que o ano tenha sido um tanto mais complicado, agradeço muito por tudo de bom que nele houve; e houve muita coisa. E, principalmente, agradeço por ter vocês, meus queridos, tão perto de mim nesta vida. Amo-vos verdadeiramente e para todo o sempre.


Feliz Natal e que 2015 seja melhor para todos nós. 




quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Fascinação (A bailarina)


Fascinação foi a primeira canção que me encantou na vida quando eu ainda era muito menina. Por isso, ela foi a escolhida para o primeiro conto a ser contado nas minhas brincadeiras de escrever com a Gigi. A bailarina.



Fascinação
Os sonhos mais lindos sonhei
De quimeras mil um castelo ergui
E no teu olhar, tonto de emoção,
Com sofreguidão mil venturas previ

O teu corpo é luz, sedução
Poema divino cheio de esplendor
Teu sorriso prende, inebria e entontece

És fascinação, amor


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Meu bem querer



Meu bem querer

Tu estás a sumir...
Borrado
Apagado
Calado
Há muito tempo finjo não ver tudo isso,
nada disso, e arrasto minhas lembranças para não me perder de ti;
para não te perder de mim.
Tu irás
e a vida tornar-se-á tranquila demais; real demais
sem os assombros e as dores que arrancam-me a alma pela garganta
todos os dias.
Sem ti não haverá dor ou paixão e acalmar-se-á a loucura que é minha,
que é quem sou eu.
A boa e tranquila vida chegará,
Caminharei
Respirarei
Dormirei bem como nos tempos dos quais nem me lembro mais
e terei por mim e por ti o desprezo que se tem
pela covardia
dos que não souberam mais do que
querer.


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Valsa pra Biu (Tua Maria)



Valsa Para Biu Roque

Céu

se eu fosse a sua
e não mais uma
as quatro luas eu lhe daria
pra me tornar sua maria
uma canção eu cantaria
minha resposta ao que eu ouvi
a mais bela melodia
foi roubar pra minha hitória
sua poesia de outrora
não por jura ou promessa
nem perdão ou vaidade
debaixo da condesseira
sua maria de verdade


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Ana (parte 2)

Parte 2

Pela janela, através de exaustas venezianas de madeira azul claro, entrava delicada luz que tocava o braço direito de Ana. O choro cessara há algum tempo, talvez ela tivesse adormecido mais uma vez; talvez. Não se lembrava desta luz a tocar sua pele assim como não se lembrava de sua vida, de seu nome completo, de onde estava, de qual dia, mês ou ano aquele era. Assim, tão sem lembranças e apenas certa daquilo que não sabia, Ana duvidava até mesmo de sua própria existência.

“Estou mesmo viva?” pensava a menina estática que jazia na cama. “Estou mesmo viva e respiro ou apenas imagino este respirar?”

Ana lembrou-se da falta da unha em seu pé esquerdo e reabriu seus olhos. Era verdade, faltava-lhe uma unha e havia um pequeno bocado enegrecido de sangue que saíra do dedo e escorrera pelo peito do pé. O dedo lhe doía e, portanto, ela estava viva; concluiu Ana. Os não vivos não sentem dor, não sentem nada, e a dor do dedo do pé esquerdo era, naquele momento, um conforto para aquela mulher que não sabia quem era ela e nem onde estava. Havia uma certeza; quiçá a única que qualquer ser humano podia ter nesta vida: Ana sabia-se viva.

Por que havia tanto medo nela? Medo de mover-se, medo de ouvir algo, medo de ver algo para além do vestido florido e da unha ausente. As paredes do quarto eram brancas e nuas como se tivessem sido recém pintadas, e contrastavam com as cansadas venezianas de azul sem vida. Não havia quadros, não havia manchas, não havia nem ao menos um único prego ou gancho que maculasse aquele branco completo e sufocante.

“Onde estou?” pensava a atordoada mente da moça que jazia numa cama barata de metal cinza claro.

Ana abriu a boca, pois percebera os secos lábios rachados e sentiu a urgente necessidade de umedecê-los como se disso dependesse a manutenção de sua vida. A língua de Ana tocou lhe os lábios e percebeu um pequeno corte à direita assim que o sal do sangue invadiu-lhe o paladar.
“Onde estou, meu Deus?” pensou a menina que não ousava falar por medo de que alguém a ouvisse.

Voltaram as lágrimas ao rosto de Ana.




Ana (parte 1)

Parte 1

Ana percebeu-se. Suave e indefinida, apenas uma leve consciência do existir respirava. A menina sabia-se viva, porém não passava de fina consciência todo o saber que a ela lhe cabia. Ana... Ana era a única coisa que dela restara, toda sua identidade, sua consciência resumia-se a três letras – Ana. Com os olhos fechados, pregados pelo medo do que pudessem ver, de tudo o que não poderiam compreender, a mulher jazia numa cama. Braços inertes, pernas inertes. Por algum motivo que ela desconhecia havia um pânico do mover-se. Mover-se doeria? E se sua pele abrisse pelo esforço; pelo desejo agudo dos ossos de rompê-la para fugir dali. Para fugir de um corpo que a eles não pertencia, um corpo do qual a dona não tinha memória e que, mais que ela mesma, lhe parecia um peso; um estorvo.

Passaram-se minutos, dezenas arrastadas deles. Horas de caminhar lento passaram antes que Ana abrisse os olhos castanhos e opacos no exato instante em que a curiosidade tão natural da alma humana venceu o medo. Os olhos viram o branco corpo que não reconheciam, mas que a eles pertencia. Um vestido branco e leve de delicadas flores amarelas e pálidas cobria-lhe o ventre, parte das pernas; a metade das coxas. Os olhos desceram pelas coxas, a canela... A unha do dedo maior do pé esquerdo sumira. O dedo latejava, ou ela imaginava-o a latejar porque é exatamente isso que se espera de um dedo cuja unha foi arrancada. Arrancaram-na? Quando? Por quê?... Por quê?... Por quê?


Os porquês reproduziam-se em ecos doloridos, magoados. Os porquês provocaram lágrimas silenciosas e órfãs. Ana não se reconhecia, e sentia-se dona de uma solidão tão ampla quanto podia ser a solidão de quem não se sabe. O choro ganhou ânimo para afogar os olhos da menina que os tornou a fechar. Ana queria esquecer-se completamente.


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

The Gorilla




The Gorilla


Sad gorilla in a cage.

Sad gorilla, so sad is being a sad gorilla that can’t run free.

So big is the world beyond your bars.

So big is everything you can’t see, so big, huge, you could be.

But there’re no rivers for you, no trees,

no cold rain drops to feel falling on your skin on a fever day

or,  your thirst, to kill.

Only being sad, only that…

That’s all you know about being in your small cage,

a place that lacks everything.

Where there’s no space for dreams,

no space for you,

my big black sweet gorilla;

no space  for me.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

13.11.14 (dia do nascimento de passarinhos no céu)


Manoel de Barros



O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Retrato do artista quando coisa

A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.

O fazedor de amanhecer

Sou leso em tratagens com máquina.
Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis.
Em toda a minha vida só engenhei
3 máquinas
Como sejam:
Uma pequena manivela para pegar no sono.
Um fazedor de amanhecer
para usamentos de poetas
E um platinado de mandioca para o
fordeco de meu irmão.
Cheguei de ganhar um prêmio das indústrias
automobilísticas pelo Platinado de Mandioca.
Fui aclamado de idiota pela maioria
das autoridades na entrega do prêmio.
Pelo que fiquei um tanto soberbo.
E a glória entronizou-se para sempre
em minha existência.

Tratado geral das grandezas do ínfimo

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.

Prefácio

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) —
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
Dependimentos demais
E tarefas muitas —
Os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
Que as moscas iriam iluminar
O silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
Que as moscas não davam conta de iluminar o
Silêncio das coisas anônimas —
Passaram essa tarefa para os poetas.

Os deslimites da palavra

Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu
destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas

Aprendimentos

O filósofo Kierkegaard me ensinou que cultura
é o caminho que o homem percorre para se conhecer.
Sócrates fez o seu caminho de cultura e ao fim
falou que só sabia que não sabia de nada.

Não tinha as certezas científicas. Mas que aprendera coisas
di-menor com a natureza. Aprendeu que as folhas
das árvores servem para nos ensinar a cair sem
alardes. Disse que fosse ele caracol vegetado
sobre pedras, ele iria gostar. Iria certamente
aprender o idioma que as rãs falam com as águas
e ia conversar com as rãs.

E gostasse mais de ensinar que a exuberância maior está nos insetos
do que nas paisagens. Seu rosto tinha um lado de
ave. Por isso ele podia conhecer todos os pássaros
do mundo pelo coração de seus cantos. Estudara
nos livros demais. Porém aprendia melhor no ver,
no ouvir, no pegar, no provar e no cheirar.

Chegou por vezes de alcançar o sotaque das origens.
Se admirava de como um grilo sozinho, um só pequeno
grilo, podia desmontar os silêncios de uma noite!
Eu vivi antigamente com Sócrates, Platão, Aristóteles —
esse pessoal.

Eles falavam nas aulas: Quem se aproxima das origens se renova.
Píndaro falava pra mim que usava todos os fósseis linguísticos que
achava para renovar sua poesia. Os mestres pregavam
que o fascínio poético vem das raízes da fala.

Sócrates falava que as expressões mais eróticas
são donzelas. E que a Beleza se explica melhor
por não haver razão nenhuma nela. O que mais eu sei
sobre Sócrates é que ele viveu uma ascese de mosca.

domingo, 9 de novembro de 2014

De repente como sempre



Nunca fui muito boa em planejar a vida por motivos diversos. Porque sou sonhadora por natureza e isso me desvia um bocado de qualquer caminho concreto, porque sou indisciplinada e dou valor às coisas mais tolas que pode haver, porque desde menina aprendi que, apesar de todos os planos, a vida cisma em tomar o rumo que ela quer como se dela fossemos donos parciais, porque nunca tive filhos e isso me confere certa irresponsabilidade leviana. Porque sim, porque, teimosa, sou assim.

Deixando os planos apenas para o âmbito profissional, simplesmente por uma exigência sine qua non desta parcela da vida, afinal não há como não planejar o nosso trabalho seja ele qual for. Todo o resto, me parece, acontece e aconteceu muito mais porque assim foi se desdobrando a vida do que por um esforço feito por mim, pois, feito areia da praia, preguiçosa, existo onde a onda me deixa estar.

Então, não planejei a família que tenho, não planejei a casa onde vivo, não planejei o amor desta vida. Tudo foi apenas acontecendo, apresentando-se a mim com uma naturalidade sobrenatural, como algo inexplicavelmente certo; tão certo que, às vezes, eu chego a pensar que sem saber planejei às escondidas, no meu inconsciente, esta vida que tanto se encaixa em quem sou eu. Quiçá assim foi, assim é?

No entanto, gosto de planejar minhas viagens nos menores detalhes, metódica e organizadamente. Ou seja, para sair de minha vida nada planejada, planejo. Por isso, desde o final de 2013 planejávamos, meus pais e eu, a viagem que aconteceria em setembro deste ano quando nós viajaríamos pela Europa juntos. Eu num retorno ao continente que tanto me agrada, eles para pisar pela primeira vez nas terras de onde partiram seus avôs e avós há mais de cem anos atrás.

Porém, e mais uma vez, de nada adiantou guardarmos o dinheiro, providenciarmos os documentos, escolhermos os roteiros, pois, num repente destes de filme, uma reviravolta inesperada e indesejada, a viagem planejada não aconteceu. Ou pelo menos não aconteceu como queríamos, pois para dentro de nós mesmos é que temos nos voltado desde que sabemos que minha mãe está doente. E juntos, ao invés de conhecermos outros países, temos conhecido melhor nossos próprios limites, nossos medos, e uma força teimosa e gigantesca que temos, que até então não sabíamos existir, e que nos deixa prontos para a luta todo santo dia.

De repente, como sempre, a vida mudou seu rumo e cá estamos nós, (minha família, meus amigos e eu), a segui-la. Estamos um pouco a contragosto, é verdade, contudo completamente dispostos a viver esta vida dada por Deus do melhor jeito que sabemos fazer.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A Lagarta


A Lagarta

Rói pequena e silenciosa lagarta imortal.
Ela não morre, pois nem toda a ciência do mundo
conseguiu até hoje encontrar para tal inimigo uma arma letal.
Por miúdo e calado, tal bicho passa despercebido por dias,
meses,
anos,
e sem sabermos rói,
corrói,
destrói.
Talvez um dia, num destes futuros dos  filmes e dos livros,
uma menina consiga inventar óculos próprios para enxergar lagartas imortais;
talvez.
Eu não os soube inventar porque eu não sabia,
quando eu era menina,
que havia lagartas tão pequenas, caladas  e fatais.
Bichos com a capacidade de nos roer e de fazer o nosso mundo
ruir de dentro para fora em poucas horas.
Eu não sabia.
E hoje, mãe minha, eu apenas queria, como cantou um dia um menino bonito,
poder ser bicho
para comer o bicho que te come.
Rói a lagarta...


domingo, 2 de novembro de 2014

Doce em forma de menina... Mallu.



Me Sinto Ótima

Banda do Mar

Cansei de carregar milhões de medos
Das pessoas que me cercam e pesam de agonia
Eu já tenho lá os meus anseios, os meus receios
Que eu perco com a luz do dia
Eu tenho acordado cedo e me sinto ótima

Eu gosto do gosto da coragem
A melhor viagem é seguir a trilha que eu abri
Eu me achei no colo do meu par
A melhor parte de mim eu acabei de descobrir
E se perguntarem por mim, diga que estou ótima

O que está havendo em mim
Eu já nem sei dizer
Será que a sorte foi onde eu não posso ver
Eu tenho céu de abril
Pra desentristecer
Serei o que sobrar de mim
Sem nada a perder


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Shakespeare

Sonnet  116

Let me not to the marriage of true minds
Admit impediments. Love is not love
Which alters when it alteration finds,
Or bends with the remover to remove:
O no; it is an ever-fixed mark,
That looks on tempests, and is never shaken;
It is the star to every wandering bark,
Whose worth's unknown, although his height be taken.
Love's not Time's fool, though rosy lips and cheeks
Within his bending sickle's compass come;
Love alters not with his brief hours and weeks,
But bears it out even to the edge of doom.
If this be error and upon me proved,
I never writ, nor no man ever loved.


quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Nada



Nada

Se bem que não foi bem assim, que todo o bem que houve,

houve em mim.

Ouve-se em mim seu eco,

e tudo foi apenas um reflexo da luz e do calor

que eu sentia aqui;

nada além, pouco ou quase nada

de ti.

Ainda os sinto, ainda te sinto e creio,

feito criança, no que sei não existir.

 E sinto que tudo tenha sido tão redonda

e completamente  nada,

um pequeno capricho de uma alma errante

que de nada

por nada

sem nada

fez tanto e fez de ti tudo

do todo que há

em mim.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Strange Fruit









Strange Fruit


Southern trees bear strange fruit
Blood on the leaves and blood at the root
Black bodies swinging in the southern breeze
Strange fruit hanging from the poplar trees

Pastoral scene of the gallant south
The bulging eyes and the twisted mouth
Scent of magnolias, sweet and fresh
Then the sudden smell of burning flesh

Here is fruit for the crows to pluck
For the rain to gather, for the wind to suck
For the sun to rot, for the trees to drop

Here is a strange and bitter crop



quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O Bicho Papão





“Mãe, você está com medo?”
“Medo? Não. Vamos enfrentar isso.”

A resposta, tanto quanto a reação serena à notícia que havíamos recebido, surpreendeu-me. Surpreendeu-me e fez-me pensar se minha mãe compreendera a questão em toda sua extensão e delicadeza. Sim, ela havia compreendido tudo muito bem; claro que sim! Apenas eu, mais medrosa e dramática do que ela, não havia compreendido até aquele momento a força e a coragem com as quais minha mãe sempre enfrentou e enfrenta a vida. Foi assim, simples e tranquila a resposta de minha mãe a minha pergunta depois de recebermos, juntas, a confirmação de seu diagnóstico: Câncer no pulmão em estágio avançado.

Apesar de parecer estranha tanta calma, estamos calmos. Esta é uma reação que eu jamais esperava ter, porém, a verdade é que há apenas duas opções diante de tal problema: sentar e chorar ou pôr a cabeça e o coração no lugar e lutar com todas as armas que temos até quando pudermos contra o mal que nos atingiu. Choramos, agora estamos de pé e seguimos em frente. Assim será.

Assim será, porém sinto-me pequena e impotente feito criança a descobrir que o Bicho Papão realmente existe. Meu medo de menina, hoje, é real e o fato de que somos todos mortais torna-se palpável como nunca fora antes. O bicho não é grande e nem vive debaixo da cama ou no armário, entretanto, assombra-me. Silencioso, ele vive escondido dentro do corpo de minha mãe.


Por estes dias, dias que se parecem com um sonho indesejado, sinto uma mescla de sentimentos incompatíveis. Aceito o que está a acontecer, mas dá-me raiva que tais merdas aconteçam com pessoas que não as merecem. Minha mãe não merecia nada disso; de jeito nenhum.  E lembro-me do Diego, meu sobrinho de 5 anos, menino de personalidade forte e alma pura que não se conforma com qualquer tipo de injustiça. Sei bem o que ele me diria num momento como este e, agora, faço minhas as palavras dele. “É uma filha da puta esta doença!” É, Digo, ela é sim.

domingo, 12 de outubro de 2014

Dia da Criança ; )



Durante anos de minha vida,
lá na cachola,
construí e desconstruí
uma casa
que não tinha porta,
chão ou parede.
Ela era feita
de finas linhas de minha imaginação
e flutuava,
feito nuvem, no espaço à beira de um penhasco.
Vinícius de Moraes,
boêmio e carioca,
foi o homem que construiu para mim
a poesia.
Meu primeiro poeta,
poeta da vida
de uma menina.

A Casa de Vinícius de Moraes


sábado, 11 de outubro de 2014

Ilusão


Depois de muitos e tantos caminhos
percebo-me pequena;
o grão.
De repente, ao abrir os olhos pela manhã,
fica clara a insignificância de ser.
Existir é um mero acaso;
um descaso,
desleixo,
relaxo.
É um ser, um simples existir despretensioso
ao qual damos a importância ilusória e crente dos fiéis.
Somos carne, apodrecemos,
e cremos num Deus para em nós mesmos
podermos crer.
Dá-nos medo a clara visão do que não temos,
pois que a nossa orfandade divina,
a solidão desimportante da alma,
mata em nós o que nos faz humanos.
Então somos,
em toda a nossa realidade,
uma  cega e bela
ilusão.




terça-feira, 7 de outubro de 2014

Octavio Paz y sus palabras



DÍA
¿De qué cielo caído,
oh insólito,
inmóvil solitario en la ola del tiempo?
Eres la duración,
el tiempo que madura
en un instante enorme, diáfano:
flecha en el aire,
blanco embelesado
y espacio sin memoria ya de flecha.
Día hecho de tiempo y de vacío:
me deshabitas, borras
mi nombre y lo que soy,
llenándome de ti: luz, nada.
Y floto, ya sin mí, pura existencia.


Certeza
Si ES real la luz blanca
de esta lámpara, real
la mano que escribe, ¿son reales
los ojos que miran lo escrito?

De una palabra a la otra
lo que digo se desvanece.
Yo sé que estoy vivo
entre dos paréntesis


DOS CUERPOS

Dos cuerpos frente a frente
son a veces dos olas
y la noche es océano.

Dos cuerpos frente a frente
son a veces dos piedras
y la noche es desierto.

Dos cuerpos frente a frente
son a veces raíces
en la noche enlazadas.

Dos cuerpos frente a frente
son a veces navajas
y la noche relámpago.

Dos cuerpos frente a frente
son dos astros que caen
en un cielo vacío.


sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Um pouco mais da mesma coisa outra vez



No próximo domingo, 05 de Outubro, eu cumprirei, de maneira nada democrática, com minhas obrigações cívicas de cidadã brasileira: vou votar. Isso de falar em obrigações cívicas faz lembrar-me de uma matéria escolar dos tempos da ditadura militar – Educação Moral e Cívica, algo que estudávamos para melhor compreender como funcionava a nossa grande e benevolente nação e como deveríamos civicamente nos comportar.  Naquela época não se votava em ninguém, e eu, que era muito menina, ainda não entendia nada do que se passava e decorava, patrioticamente, todas as bobagens e balelas que me eram empurradas goela abaixo.

Hoje, décadas e décadas depois das minhas famigeradas aulas, a situação é muito melhor, claro. Pois melhor que uma ditadura qualquer coisa nesse mundo é, sem sombra alguma de dúvida. Contudo, não podemos nos orgulhar e dizer de cabeça erguida que vivemos numa democracia plena, e que pelo voto o brasileiro anda a exercer conscientemente o seu poder. Estamos longe disso, e se formos analisar detalhadamente o que significa a palavra democracia, percebemos que a distância  a qual estamos desta palavra é assustadora.

Democracia – substantivo feminino – significa: um governo onde o povo exerce a soberania, direta ou indiretamente.

Pois, que não conseguimos exercer qualquer soberania sabemos desde antes do votar, já que não temos o direito a optar pelo ato em si ou não. Votar no Brasil ainda é uma obrigação e não algo que decidimos fazer de livre arbítrio. Estranho isso, não? Antes não podíamos votar, lutamos para mudar esta situação. Agora não temos o direito de não votar, como não temos quase direito nenhum neste país, o que significa que ainda há muito pelo que lutar.

Quando eu era menina e estudava Educação Moral e Cívica, os homens e mulheres que hoje lutam pelo poder em meu país lutavam pela liberdade e pela democracia. Naquela época eu os admirava. Hoje não há nada a admirar, mesmo para quem ainda é muito jovem. E a única lição que se aprende com isso tudo, é a de que o poder corrompe toda e qualquer alma que se aproxime muito dele. Hoje não há ideais ou idéias, não há ideologias e/ou partidos que as sustentem; não senhor. O que temos hoje são políticos com muita ganância e muitas ganas de fazer o bem a si mesmos sem se importarem com mais ninguém.

 Por isso, mesmo que venha alguma mudança após as eleições (mudanças que são muito bem-vindas, mesmo que tênues dado que este governo que cá temos apresenta-se mui vicioso) no final das contas sabemos que teremos algo muito parecido com o que já conhecemos desde que a democracia voltou a reinar por aqui.  E este é um pensamento muito perigoso à medida que nos paralisa por replicar a idéia de que nada podemos fazer para mudar a situação já que todos os políticos são iguais.

Portanto, mesmo depois de tanta gente na rua a protestar em 2013, hoje me parece que a mudança não virá e que ao invés de algo parecido, teremos mesmo um pouco mais da mesma coisa outra vez.  E eu, que vou sair de minha casa em busca da mudança neste domingo penso: Deus, meu Deus, (como diria um nosso antigo presidente): assim não pode, assim não dá!




quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Banda do Mar - Mais Ninguém





Mesmo que não venha mais ninguém
Ficamos só eu e você
Fazemos a festa
Somos do mundo
Sempre fomos bons de conversar

Eu só espero que não venha mais ninguém
Aí eu tenho você só pra mim
Roubo o teu sono
Quero o teu tudo
Se mais alguém vier não vou notar

Preciso de você
Pra me fazer feliz
Não quero mais ficar aqui

Preciso viver só
Pra me fazer maior
Mas quando você vem
Eu fico melhor

Mesmo que não venha mais ninguém
Ficamos só eu e você
Fazemos a festa
Somos do mundo
Sempre fomos bons de conversar

Eu só espero que não venha mais ninguém
Aí eu tenho você só pra mim
Roubo o teu sono
Quero o teu tudo
Se mais alguém vier não vou notar

Preciso de você
Pra me fazer feliz
Não quero mais ficar aqui

Preciso viver só
Pra me fazer maior
Mas quando você vem
Eu fico melhor

Mesmo que não venha mais ninguém
Ficamos só eu e você
Fazemos a festa
Somos do mundo

Sempre fomos bons de conversar


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Verdade




Chegando a hora da verdade, de descobrir 
sem qualquer felicidade
a verdade que a carne 
escondia...

Descobre-se o medo.

Já que aquilo que os olhos não podiam ver
e que, portanto, o coração não sentia,
não chegava a ser
realidade.

O não saber acalentava e iludia.

Chegando a hora da verdade, de ser dito
aquilo que lá no fundo já se sabia:
a mais crua e nua verdade.
A verdade é que de verdade
algumas verdades nunca deveriam 
ser ditas.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Setembro Diferente

Meus pais.



Tenho por tradição viajar no mês de Setembro. Este é o mês de meu aniversário e, por isso mesmo, gosto de tirar férias da minha vida de todo dia e dar-me de presente uma vida diferente por um tempo; mesmo que breve. Gosto de ver gente que nunca vi, de pisar em terras novas, de descobrir um pouco do tudo que existe para além do meu jardim. Assim tem sido há anos: todo Setembro, tal andorinha, bato as asas por aí.

Contudo, neste ano as férias estão a mostrar-se algo diferente. Alheias a minha vontade, estas férias se mostram um tempo de olhar para dentro, para os que eu já conheço e amo muito. Então, ao invés do meu egoísta prazer pensado para satisfazer o próprio umbigo, este tem sido um tempo de ser e estar para os outros. Um momento difícil e, curiosamente, bonito ao mesmo tempo. Por motivos que apenas Deus deve saber, porque para mim tudo chegou sem pedir muita licença ou explicação, este Setembro tem sido diferente.

Os primeiros 15 dias do mês foram passados com meus miúdos, meus afilhados de fato ou de coração, meus filhos de conto de fadas. Amo-os muito, e ser responsável por eles por alguns dias é cansativo, é complicado, mas é, mais e acima de tudo, um prazer sem igual. Vê-los tão de perto e partilhar da rotina deles amplia nosso carinho e agiganta o coração. Quanto mais tempo estou com eles mais os amo e mais saudades sinto quando nos separamos. Os miúdos são uma linda visão do futuro, são todas as possibilidades que a vida tem, são a fantasia e a felicidade feitas em carne e osso; eles são a alegria em forma de gente pequena.

Agora, nos últimos 15 dias do mês, estou a cuidar de minha mãe que, de repente, adoeceu.  Talvez não tenha sido tão de repente assim, pois o fato é que depois de tantas voltas dadas pelo mundo, minha mãe já não é mais uma menina mesmo que eu teime em vê-la sempre assim - jovem. O fato é que a coisa toda me é estranha, uma novidade sem igual, já que foi sempre ela que cuidou de mim. E sei que a amo muito, porém o medo de perdê-la e toda a situação que se apresenta me fazem ver mais claramente o quão importante ela é para mim. Minha mãe e meu pai são o centro do mundo que eu chamo de meu; eles são meu sol, minha terra firme. Eles são tudo o que já fui e aquilo o que eu chamo primordialmente de lar. Minha mãe e meu pai juntos são a minha casa em forma de gente.


Eu ainda não sei o que Outubro me trará, não quero pensar muito nisso. Ou melhor, não consigo fazê-lo. Quero apenas, e sem grandes ambições, estar com os que amo e ser, mais do que de costume, uma parte da vida deles.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

ainda

eu não quero te ver numa cama:

deitada

parada

calada.

eu não quero

cedo ou tarde, não importa.

será sempre cedo para mim

e o medo,

o meu medo desta vida e da tua ida,

ainda me devora.

eu não quero te ver assim tão quieta e imaginar

que cedo podes  deixar de ser minha.

mãe, eu ainda sou a filha.


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O silêncio





Por vezes

Às vezes

Sempre

O ensurdecedor silêncio enlouquece-me

E nos dias, nos meses, nos anos  sem palavras,

Afogo-me

No vazio deste silêncio nosso

que deixa-me

cega

e muda.

Onde, aos poucos, deixo de ser.




segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Dias de Madrinha

Os miúdos a acordar e seus humores ;)


Ser madrinha, como ser pai, mãe, avó, avô, tio e qualquer outra palavra que indique termos afeto pelos pequenos nos afasta um pouco de nosso eu individual.  Nos momentos nos quais não respondemos mais por nossos nomes de batismo, tal Clark Kent deixando de ser ele mesmo para ser o Super Homem, opera-se em nós uma transformação um tanto alheia à nossa vontade. Deixamos um pouco de ser os seres egocêntricos, reencarnações do Rei Sol ao redor do qual gira o mundo, e nos vemos à mercê das necessidades alheias. Por vontade própria, porém e ao mesmo tempo pela vontade alheia, nos damos de alma e coração aos pequenos que amamos e, por eles, nos transformamos em pessoas melhores.

Por isso, nos próximos 10 dias, dias de madrinha em tempo integral, faltar-me-á o tempo para tudo aquilo que diz respeito ao meu próprio umbigo, contudo, sobrará  espaço para uma das alegrias mais doces desta vida: ser dos meus pequenos. Fato que pode parecer difícil e pesado para muitos, mas que para mim significa ter umas boas férias de mim mesma e de meus problemas enquanto os pais dos miúdos tiram férias da vida que a eles pertence para namorar um pouco uma vez mais,

Portanto, ao invés do trabalho de todo santo dia, dos jornais, livros e revistas, dos filmes, das mesas de bar e da ginástica, nesta semana teremos idas e vindas à escola, discussões sobre as lições de casa não feitas e sobre o fato de ainda haver comida no prato. Serão dias de jogos, aventuras, vídeo games, bola e muito desenho animado. Uma boa mudança, não? Claro que sim! Pois, para além de boa, esta é uma oportunidade única quando lembramos que o tempo não para e que há momentos que não poderão ser repetidos através dos anos mesmo que queiramos muito.

Então, por estes dias, o corriqueiro e o banal ganhará ares de fato raro e especial. Assim, tornam-se especiais os abraços na saída do colégio, as risadas descabidas, as bobagens desmedidas. Transformam-se em preciosidades as discussões ganhas por mim como as por mim perdidas, e são bênçãos as carinhas de cabelos desgrenhados pela manhã. Nestes dias, dias de uma responsabilidade gigante e de uma rotina contada pelo relógio, a verdade verdadeira é que eu deixo de ser um pouco quem sou hoje em dia e volto a ser menina.

 Benditos são os dias de madrinha, dias de felicidade explícita!



terça-feira, 26 de agosto de 2014

Mi beso (un beso latino y lleno de mariposas)




Ojos Color Sol
Calle 13

Hoy el sol se escondió y no quiso salir
Te vio despertar y le dio medo de morir
Abriste los ojos y el sol guardó su pincel
Porque tú pintas el paisaje mejor que él

Cuando amanece tu lindura
Cualquier constelación se pone insegura
Tu belleza huele a mañana
Y me das de comer durante toda la semana

Tus ojos hacen magia, son magos, los abriste
Y ahora se reflejan las montañas en los lagos
La única verdad absoluta
Es que cuando naciste tú
A los arboles le nacieron frutas

Naranja dulce, siembra de querube
Como el sol tenía miedo se escondió en una nube
Hoy el sol no hace falta está en receso
La vitamina D, me la das tú con un beso

La luna sale a caminar siguiendo tus pupilas
La noche brilla original después que tú la miras
Ya nadie sabe ser feliz a costa del despojo
Gracias a ti y a tus ojos

Eres un verso en reversa, un reverso
Despertaste y le diste vuelta mi universo
Ahora se llega la cima, bajando por la sierra
La tierra ya no gira, tú giras por la tierra
En la guerra se dan besos, ya no se pelean
Hoy las gallinas mujen y las vacas cacarean
Las lombrices y los peces pescan los anzuelos
Se vuela por el mar y se navega por el cielo

Crecen flores en la arena, cae lluvia en el desierto
Ahora los sueños son reales, porque se sueña despierto
Ese sueño es seguro y así se reproduce
Y la inocencia por fin no se esconde de las luces
La escasez de comida se vuelve deliciosa
Porque tenemos la barriga llena de mariposas
La galaxia revela su comarca escondida
Y en la tierra parece que comienza la vida

La luna sale a caminar siguiendo tus pupilas
La noche brilla original después que tú la miras
Ya nadie sabe ser feliz a costa del despojo
Gracias a ti y a tus ojos

En la academia militar enseñan medicina
Y los banqueros ahora dan viviendas y comidas
Ya nadie sabe ser feliz a costa del despojo
Gracias a ti y a tus ojos