domingo, 9 de novembro de 2014

De repente como sempre



Nunca fui muito boa em planejar a vida por motivos diversos. Porque sou sonhadora por natureza e isso me desvia um bocado de qualquer caminho concreto, porque sou indisciplinada e dou valor às coisas mais tolas que pode haver, porque desde menina aprendi que, apesar de todos os planos, a vida cisma em tomar o rumo que ela quer como se dela fossemos donos parciais, porque nunca tive filhos e isso me confere certa irresponsabilidade leviana. Porque sim, porque, teimosa, sou assim.

Deixando os planos apenas para o âmbito profissional, simplesmente por uma exigência sine qua non desta parcela da vida, afinal não há como não planejar o nosso trabalho seja ele qual for. Todo o resto, me parece, acontece e aconteceu muito mais porque assim foi se desdobrando a vida do que por um esforço feito por mim, pois, feito areia da praia, preguiçosa, existo onde a onda me deixa estar.

Então, não planejei a família que tenho, não planejei a casa onde vivo, não planejei o amor desta vida. Tudo foi apenas acontecendo, apresentando-se a mim com uma naturalidade sobrenatural, como algo inexplicavelmente certo; tão certo que, às vezes, eu chego a pensar que sem saber planejei às escondidas, no meu inconsciente, esta vida que tanto se encaixa em quem sou eu. Quiçá assim foi, assim é?

No entanto, gosto de planejar minhas viagens nos menores detalhes, metódica e organizadamente. Ou seja, para sair de minha vida nada planejada, planejo. Por isso, desde o final de 2013 planejávamos, meus pais e eu, a viagem que aconteceria em setembro deste ano quando nós viajaríamos pela Europa juntos. Eu num retorno ao continente que tanto me agrada, eles para pisar pela primeira vez nas terras de onde partiram seus avôs e avós há mais de cem anos atrás.

Porém, e mais uma vez, de nada adiantou guardarmos o dinheiro, providenciarmos os documentos, escolhermos os roteiros, pois, num repente destes de filme, uma reviravolta inesperada e indesejada, a viagem planejada não aconteceu. Ou pelo menos não aconteceu como queríamos, pois para dentro de nós mesmos é que temos nos voltado desde que sabemos que minha mãe está doente. E juntos, ao invés de conhecermos outros países, temos conhecido melhor nossos próprios limites, nossos medos, e uma força teimosa e gigantesca que temos, que até então não sabíamos existir, e que nos deixa prontos para a luta todo santo dia.

De repente, como sempre, a vida mudou seu rumo e cá estamos nós, (minha família, meus amigos e eu), a segui-la. Estamos um pouco a contragosto, é verdade, contudo completamente dispostos a viver esta vida dada por Deus do melhor jeito que sabemos fazer.

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