segunda-feira, 25 de abril de 2022

"Zeer"

O tempo que não voa

 


O tempo que não voa

 

Quanto tempo o tempo tem?

Em alguns casos o tempo todo

o tempo tem

porque, às vezes, a quantidade de tempo

nada diz...

dias

horas

minutos

anos

segundos

O tempo não conta quando

não podemos precisar

não queremos nem pensar

não sentimos que tanto tempo assim passou

por mim e por ti

pois que tanto tempo depois

ainda seria muito bom ouvir mais uma vez

sim

eu quero

te quero

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Cartola - Pranto de Poeta



Em Mangueira quando morre um poeta, todos choram

Vivo tranquilo em Mangueira porque

Sei que alguém há de chorar quando eu morrer

Mas o pranto em Mangueira é tão diferente

É um pranto sem lenço, que alegra a gente

Hei de ter um alguém pra chorar por mim

Através de um pandeiro ou de um tamborim

Em Mangueira quando morre um poeta, todos choram

Vivo tranquilo em Mangueira porque

Sei que alguém há de chorar quando eu morrer

Mas o pranto em Mangueira é tão diferente

É um pranto sem lenço, que alegra a gente

Hei de ter um alguém pra chorar por mim

Através de um pandeiro ou de um tamborim

Em Mangueira quando morre um poeta, todos choram

Vivo tranquilo em Mangueira porque

Sei que alguém há de chorar quando eu morrer

Obrigado, Nelson

Obrigado, Cartola


segunda-feira, 18 de abril de 2022

Paixão Antiga

 


Paixão Antiga

 

Não me recordo bem o instante

Entretanto, num dia comum, desses sobre os quais

Nada lembramos,

Apaixonei-me pelas palavras

Pelas letras

Pela poesia que me aparecia

Desde ti

Apaixonada

Raivosa

Intelectualmente estruturada

Sentida

pensada

Encantaram-me as tuas frases bem feitas

Amei as tuas declarações enviesadas

Orações nada enigmáticas

Amo-te a ti, ainda,

Como quem ama a um bom livro já lido

Para sempre guardado numa prateleira alta

Da minha estante da sala.

sexta-feira, 15 de abril de 2022

O Gigante

 


O Gigante

 

Freddy Rincón era gigantesco. Muito maior que seus 1.88 de altura em campo e na vida. Rincón era amplo, braços vivos que também jogavam em campo; pernas e pés abençoados por Deus. Rincón é o dono das mãos e do sorriso largo, tão amplo quanto ele, que ergueram a primeira taça de campeão mundial do meu time.  E esta cena estará para sempre em minha memória. Rincón é ídolo corintiano e, por isso, nessa semana, no dia 13 de abril, nossa má sorte, ficamos um pouco mais órfãos sem ele.

Rincón foi um grande meia-atacante que no Corinthians assumiu a volância como poucos.  Talentoso e com cara de mal, Mr. Rincón foi genial em sua parceria antagônica com Marcelinho Carioca. Marcelinho era a genialidade da veloz e leve malandragem carioca enquanto Rincón era o talento da astúcia latina, um jogador inteligente e cerebral que pensava o futebol desde o meio do gramado.

Sei que o que nos interessa é ver gol quando falamos de futebol. Contudo, sempre fui apaixonada pela zaga. Sou fã dos zagueiros como um todo e discordo de quem acha que na posição estão aqueles aos quais falta talento com a bola no pé. Nesta área o talento é outro, e precisa ser compreendido.

Daí, minha paixão por Rincón, que sei, nunca foi zagueiro, explica-se. Rincón, para mim, tinha cara de zagueiro, corpo de zagueiro, mal humor de zagueiro e muito talento para fazer gols. Rincón era forte e preciso, tinha muita capacidade para o drible necessário e era elegante jogando. Rincón era tático e sabia usar seu corpo para proteger a bola e o nosso gol como ninguém.

Os outros times que me perdoem, sei que Freddy Eusébio Gustavo Rincón Valencia jogou em vários clubes de futebol. Até mesmo no Palmeiras, antes de vestir a minha camisa; uma heresia. Entretanto, o meu Rincón teve dois times na vida:  o Sport Club Corinthians Paulista e a Seleção Colombiana e ponto final.

Que vayas con Dios, Rincón. Te extrañaré siempre.




sexta-feira, 8 de abril de 2022

Dona Lygia

 


A Sra. Lygia Fagundes Teles, com toda a sua oratória fluida e de excelência, teve seu ponto final numa história de mais de 100 anos. Nosso país, por onde anda em baixa o uso das faculdades mentais, perde uma mulher cheia de inteligência e lógica. Perdemos todos.

 

Um pouco de Lygia Fagundes Telles

 

Solução melhor é não enlouquecer mais do que já enlouquecemos, não tanto por virtude, mas por cálculo. Controlar essa loucura razoável: se formos razoavelmente loucos não precisaremos desses sanatórios porque é sabido que os saudáveis não entendem muito de loucura. O jeito então é se virar em casa mesmo, sem testemunhas estranhas. E sem despesas.

 

Não separe com tanta precisão os heróis dos vilões, cada qual de um lado, tudo muito bonitinho como nas experiências de química. Não há gente completamente boa nem gente completamente má, está tudo misturado e a separação é impossível. O mal está no próprio gênero humano, ninguém presta. Às vezes a gente melhora. Mas passa... E que interessa o castigo ou o prêmio? Tudo muda tanto que a pessoa que pecou na véspera já não é a mesma a ser punida no dia seguinte.

 

Quero ficar só. Gosto muito das pessoas, mas essa necessidade voraz que às vezes me vem de me libertar de todos. Enriqueço na solidão: fico inteligente, graciosa e não esta feia ressentida que me olha do fundo do espelho. Ouço duzentas e noventa e nove vezes o mesmo disco, lembro poesias, dou piruetas, sonho, invento, abro todos os portões e quando vejo a alegria está instalada em mim.

 

Quero te dizer que nós as criaturas humanas, vivemos muito (ou deixamos de viver) em função das imaginações geradas pelo nosso medo. Imaginamos consequências, censuras, sofrimentos que talvez não venham nunca e assim fugimos ao que é mais vital, mais profundo, mais vivo. A verdade, meu querido, é que a vida, o mundo, dobra-se sempre às nossas decisões. Não nos esqueçamos das cicatrizes feitas pela morte. Nossa plenitude, eis o que importa. Elaboremos em nós as forças que nos farão plenos e verdadeiros.

 

Na vocação para a vida está incluído o amor, inútil disfarçar, amamos a vida. E lutamos por ela dentro e fora de nós mesmos. Principalmente fora, que é preciso um peito de ferro para enfrentar essa luta na qual entra não só o fervor, mas uma certa dose de cólera, fervor e cólera. Não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos com linha dupla todas as feridas abertas.

 

Aprendi desde cedo que fazer higiene mental era não fazer nada por aqueles que despencam no abismo. Se despencou, paciência, a gente olha assim com o rabo do olho e segue em frente. Imaginava uma cratera negra dentro da qual os pecadores mergulhavam sem socorro. Contudo, não conseguia visualizar os corpos lá no fundo e isso me apaziguava. E quem sabe um ou outro podia se salvar no último instante, agarrado a uma pedra, a um arbusto?... Bois e homens podiam ser salvos porque o milagre fazia parte da higiene mental. Bastava merecer esse milagre.

terça-feira, 5 de abril de 2022

Grow Home

A bola





A bola

Rola a bola, rola

redonda como o mundo

Meu mundo

tão justo e injusto

que, às vezes, penso que Deus esqueceu-se

da importância do fair play

rola a bola, ela rola

e em ano de Copa, quero meu circo mais do que tudo

quero me esquecer deste mundo

de fome,

enquanto joga-se comida porta à fora

de guerra,

enquanto meio mundo preocupa-se

verdadeiramente

com a vida de quem aparece muito pelas telas, mas que não tem nada a dizer

quero meu circo, redondo e verde

estar de mãos dadas com meus rivais de uma vida inteira

para torcer por onze guerreiros de mentira,

representação fake do orgulho patriótico que por cá ninguém tem

quero a bola nas redes

gritar gol

e dizer mais uma vez que sou Campeão de tudo

do redondo Mundo