segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Mordida

 


Mordida

dentes

teus dentes

na minha carne

mais dentes

meus dentes sorriem e os olhos se fecham

viajo egoísta por dentro de mim numa tempestade de sinapses

cérebro iluminado por milhões de estrelas cadentes

teus dentes

tua língua quente

e dentes

na minha carne macia

um arrepio desmedido, sem medos,

corre pela coluna vertebral abaixo e erguem-se todos os pelos

desejo

te sirvo pernas, braços, ombro, os peitos

o corpo inteiro

devora-me sem perguntas ou questionamentos

dentes

teus dentes deixaram na pele

n’alma minha

invisível marca permanente

 

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

O gênio da bola


         
Adeus gênio.

           Nos deixa um pouco mais sozinhos, nesse ano já tão triste, o primeiro gênio da bola que eu vi jogar ao vivo e a cores diante dos meus olhos. Diego Armando Maradona, o redentor de todos os latinos frente à Inglaterra nos encantou a todos no México de 86. O louco gênial, um gênio enlouquecido que transbordava vida e em si não cabia foi durante toda a vida irreverente, falastrão e passional; el Pibe. 
     
         Aquele que ganhou uma Copa do Mundo quase sozinho, tinha estatura pequena e parecia diminuto frente aos grandalhões. Contudo, agigantava-se de tal maneira dentro das quatro linhas que era quase impossível pará-lo; foi impossível superá-lo.

          De acordo com Zico, o meu primeiro ídolo no futebol, Maradona foi o melhor de sua época. Inesquecível! Maior que Maradona, única e exclusivamente existiu e existe Pelé. O mundo da bola chora copiosamente a perda de um dos seus divinos. Choramos.

Hasta luego Diego. 









quarta-feira, 11 de novembro de 2020

insônia

 




insÔnia


Às vezes, as saudades deixam as unhas longas demais

E arranham-me o peito,

A garganta

Dói-me, então, a carne, e foge em completa rebeldia

o sono que a tudo, em ondas, levaria

Nesses momentos amo-te do avesso

ao contrário do que deveria ser o amor verdadeiro

Te amo profundamente de mentira

Queria teu colo, só o teu colo

Pois que outros braços e ombros,

outro pescoço,

não têm pra mim a mesma serventia

Abre teus braços

e deixe-me sentir as saudosas longas unhas afiadas

nos ossos

Best Friend

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

O erro

 


O erro

 

Errar é humano. Assim, com tão poucas palavras, explicamos a completa fragilidade do ser humano; a perfeição a nós não nos pertence. Por tal razão tão intrínseca à nossa natureza, compreender o erro humano torna-se algo fácil, simples e, muitas vezes, banal para a maioria das pessoas. Mesmo que venha a raiva, a mágoa ou a indignação; até nesses momentos nos quais o erro é grave, podemos compreender e parte de nós aceita o erro próprio ou alheio.

Entretanto, espera-se de Deus que não erre. Deus não erra, se diz a boca miúda e aos berros pelas esquinas. O que acontece com frequência é que, por nossa ignorância e miopia, não vemos longe o bastante e, então, não compreendemos as razões que pertencem à razão de tudo que existe, do ser.

Pode ser. Contudo, nada e nem ninguém irá me convencer em tempo algum a aceitar a morte de uma criança como algo certo. Não o é. Sendo assim, por obra de Deus, e participação dos homens, erros ocorrem. Deus errou para mim, e não sei se será possível compreender ou aceitar tal falha n’algum dia.

Nessa semana enterramos uma de nossas crianças. Um de meus primos perdeu seu filho aos 14 anos de idade e eu, dias depois, não sei o que dizer direito sobre isso. Sei apenas que perdemos parte de nossa vida, que um pedaço do que ainda seria de nós desapareceu. Sei que no momento no qual abracei meu primo e choramos cientes de nossa impotência e fragilidade, me senti uma criança pequena e perdida. Muda.

Compreendi que não são apenas os jovens que não sentem serem mortais, pois nós adultos também acreditamos piamente na imortalidade de nossas crianças. Elas estarão aqui para sempre, assim deve ser e assim será. Mas não foi.

Hoje sinto uma dor que até pouco desconhecia. Hoje percebo um pouco melhor o quão imensurável e insustentável é a dor que os pais sentem ao perder um filho. Não há palavra que defina essa dor amargamente infinita.

 

 

Corpocontinente


Vou passear em seu delírio

Vou te relembrar como se faz uma saudade

Saudade

Palavra inexistente

Num dialeto fora do nosso continente

Continente

Se acaso você passear por outras terras

Tomar um outro ar

Talvez seja bom

Mas quando escutar aquele som

Vai lembrar do que chamamos de nós

Tornarmos um e a saudade só se faz

Quando a soma de dois

Resulta em um sentido só pra nós

Vou passear em seu delírio

Vou te ensinar como se sente uma saudade

Saudade

Palavra inexistente

Num dialeto fora do nosso continente

Continente

Se acaso você passear por outras terras

Tomar um outro ar

Talvez seja bom

Mas quando escutar aquele som

Vai lembrar do que chamamos de nós

Tornarmos um e a saudade só se faz

Quando a soma de dois

Resulta em um sentido só pra nós

Vou passear em seu delírio

Vou te relembrar como se faz uma saudade

Saudade