quinta-feira, 5 de novembro de 2020

O erro

 


O erro

 

Errar é humano. Assim, com tão poucas palavras, explicamos a completa fragilidade do ser humano; a perfeição a nós não nos pertence. Por tal razão tão intrínseca à nossa natureza, compreender o erro humano torna-se algo fácil, simples e, muitas vezes, banal para a maioria das pessoas. Mesmo que venha a raiva, a mágoa ou a indignação; até nesses momentos nos quais o erro é grave, podemos compreender e parte de nós aceita o erro próprio ou alheio.

Entretanto, espera-se de Deus que não erre. Deus não erra, se diz a boca miúda e aos berros pelas esquinas. O que acontece com frequência é que, por nossa ignorância e miopia, não vemos longe o bastante e, então, não compreendemos as razões que pertencem à razão de tudo que existe, do ser.

Pode ser. Contudo, nada e nem ninguém irá me convencer em tempo algum a aceitar a morte de uma criança como algo certo. Não o é. Sendo assim, por obra de Deus, e participação dos homens, erros ocorrem. Deus errou para mim, e não sei se será possível compreender ou aceitar tal falha n’algum dia.

Nessa semana enterramos uma de nossas crianças. Um de meus primos perdeu seu filho aos 14 anos de idade e eu, dias depois, não sei o que dizer direito sobre isso. Sei apenas que perdemos parte de nossa vida, que um pedaço do que ainda seria de nós desapareceu. Sei que no momento no qual abracei meu primo e choramos cientes de nossa impotência e fragilidade, me senti uma criança pequena e perdida. Muda.

Compreendi que não são apenas os jovens que não sentem serem mortais, pois nós adultos também acreditamos piamente na imortalidade de nossas crianças. Elas estarão aqui para sempre, assim deve ser e assim será. Mas não foi.

Hoje sinto uma dor que até pouco desconhecia. Hoje percebo um pouco melhor o quão imensurável e insustentável é a dor que os pais sentem ao perder um filho. Não há palavra que defina essa dor amargamente infinita.

 

 

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