terça-feira, 22 de novembro de 2011

pássaro azul


Queria caminhar, caminhar
e caminhar, e caminhar mais.
andar tanto e, por cansaço, esquecer,
esquecer promessas não ditas,
esquecer a esperança n’aquilo
que não se vê.
exaurir pernas até que
a dor fosse o único pensamento
possível de existir.
E assim, o coração ocupar-se-ia
apenas da dura tarefa de carregar
 um pouco de sangue a toda parte do corpo
 consumido pelos passos.
e, então, ficaria para todo o sempre
calado no peito o ingênuo pássaro azul
que, apesar de tudo, ainda
cisma
que deve cantar.

sábado, 19 de novembro de 2011

A história de João e Valéria (parte 2)




A borboletinha pensava na vida há algum tempo, ali sentada no galho da pitangueira que naquela época do ano estava carregada de flores, mas ainda nem sombra da fruta alaranjada que, logo-logo, a coloriria. Valéria havia se perdido em seus pensamentos. Isso porque em toda cuca que se preza há um mundo de pensamentos escondidos, mesmo nas pequenas cabecitas das borboletas que pareciam cabeças de alfinetes com antenas. E nestes pensamentos compridos a pequena havia se perdido.
Tão distraída estava, que nem notou que bem perto dela, fazendo sombra sobre suas asas, estava João.  Por isso, quando ela ouviu aquele “Bom dia, borboleta!” dito de forma simpática e sorridente, não entendeu bem de onde vinha o tal som. De repente, olhando para cima, Valéria percebeu aquela enorme barriga laranja apoiada no galho perto do seu. “Meu Deus do céu!”, pensou ela e...
ZUUUMMMMMM... A borboleta saiu voando como uma louca, à moda dos foguetes que alcançam até a Lua, sem sequer responder ao cumprimento do João que, com a cara mais sem graça do mundo, não entendeu toda aquela pressa. E, querendo mesmo conversar com a pequena amarela, saiu a voar atrás dela.
Valéria já se imaginava amassada, geléia de borboleta, no meio daquele bicão do pássaro que voava atrás dela. A pequena voava como nunca havia voado antes, tamanha era a velocidade e tão ousadas eram as manobras radicais feitas por ela. Tão impressionante era a perseguição que abelhas, joaninhas e até mesmo as sempre-ocupadas formigas pararam para ver toda a ação.
Pobre dela, o coração de nossa amiga batia rápido, feito bateria de rock pesado, e parecia que ia saltar pela boca da miudinha quando suas asas começaram a fraquejar e uma dor espetada ganhou vida nas suas asas bem ali, bem perto das suas costas magrelas. Valéria não agüentava mais. Ainda fez muita força, tirou vontade de todo o seu corpo, até das canelas, mas suas asas não a obedeciam mais e, assim, a borboleta começou a girar e caiu.
Ela foi caindo em rodopio, de maneira lenta como caem as pipas coloridas nas tardes de verão; Valéria caiu em câmera lenta. Por isso, não se machucou muito não... Ufa, que bom para ela ser daquele jeito: tão magrela. Entretanto, tão cansada estava a menina borboleta que ela não conseguia erguer nem mesmo a mão. Caiu entre os pés de Maria sem-vergonha e ficou paradinha ali. Quem sabe assim o pássaro não a encontraria, não?
Mas que nada, mal haviam passado alguns segundos e lá estava o carnívoro bicão do sabiá que a perseguira. João abriu seu bico ao mesmo tempo em que Valéria fechou seus olhos redondos e pequenitos, ela não queria ver a desgraça sendo feita. Isso não! E, já começara a rezar quando do bico, ao invés de bicadas, saiu um sorriso. “Ah, você está bem. Graças a Deus!”, disse João.

Light


You’re made of light
and, though it is something beautiful
to see, that is all
you will be: a piece of light till the end of times,
until the end of my time here.
wonderfully untouchable as all light can be,
and it does not matter
if sometimes, as in that photograph,
it seems to me the light
of the Sun that I see
when I look at thee,
and the fact that I believe you are
the one
does not change a thing, dear.
because reality is not made of light
neither now nor one day
it will
be

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A história de João e Valéria (parte 1)


1
Valéria era uma borboleta miudinha, pequena e amarela como os botões das capas de chuva das crianças que brincavam naquela praça todo final de tarde. Mas, apesar de sua pequenez, Valéria era uma borboleta menina muito corajosa. Tão destemida e curiosa que, às vezes, sua mãe a chamava para o jantar assim: “Venha aqui minha Borboleta Leão!” Sim, Valéria era um inseto danado e xereta que, por se crer muito maior do que era realmente, já havia se metido em muita confusão.
Mas, apesar de toda coragem que havia naquela barriguita, Valéria andava muito triste por muitos e muitos dias. Tão tristonha andava ela que suas antenas apontavam para o chão, e as asas, que mais pareciam ser feitas de papel de pipa de tão fininhas que eram, estavam murchas; se é que se pode dizer isto de asas. Mas, tão murchinhas estavam elas, que mais pareciam cara de menino quando acorda e vê que está chovendo em pleno domingo de praia e, naquele dia, não haverá futebol.
Valéria andava triste por um motivo que era até bem simples: ela tinha ganas de ver o mundo para além de seu jardim. É sim! Aquela borboleta menina queria sair dali, queria conhecer seu bairro, sua cidade e seu país. Ela queria ver o mundo todo, grande como ele só. Grande como apenas o Mundo pode ser. Entretanto, ela era pequena demais para isso, e suas asas de papel de seda não tinham a força e a firmeza necessárias para esta grande jornada. Valéria era um tipo de borboleta que voava lindamente, como bailarina a rodopiar na brisa, mas que não podia ir muito longe não.
“Ai... Ai...” Suspirava ela sentada num galho da pitangueira bem perto do escorregador vermelho.


Opinião


Papo antigo e solução idem. Legalize Já!

domingo, 13 de novembro de 2011

Des-Humanos



Durante muitos dias evitei, com dedicação, ver as imagens da morte de Muamar Kaddafi que foram mundialmente transmitidas tal final de um campeonato mundial. Fugia delas, pois sabia que haveria ali o terror que prefiro evitar, e sobre o qual, portanto, não gosto de falar. Não consigo ter a compreensão exata de qual parte de nossa humanidade mostra-se nestes momentos terríveis que chamamos desumanos. Mesmo assim, evitando-as a todo custo, não houve como escapar a flashes e linhas que me revelaram mais do que o necessário, e que fizeram com que o fato tenha me assombrado com uma insistência curiosa demais desde então.
Claro está que não falo aqui de nenhum santo, homem puro, que foi brutalmente assassinado, sei que não. Sei também que ele foi, durante anos a fio, responsável por atos tão ou mais terríveis que este. Entretanto, o que me assombrou foi a certeza de que a morte que assisti não deveria ter sido o destino de homem ou animal algum, seja ele bom ou mau. O que me entristeceu foi dar-me conta de que pessoas comuns, antes vítimas do ditador, tornaram-se algozes tão cruéis que nos fizeram sentir pena de um homem que, de acordo com seus atos pregressos, não mereceria nossa compaixão. E, outra vez, em nome do bem o que presenciei foi o mal acontecer.
Ficaram-me perguntas a martelar a cabeça, e a clareza incômoda de que tais atos cruéis dos quais somos tão capazes podem ser chamados de tudo, menos de desumanos. Ou eles não são uma reação antes de qualquer coisa humana? Não são? São? Se procurarmos a definição de desumano em dicionários encontraremos: falto de humanidade, cruel, bárbaro. Pois bem, o quão contraditório pode ser saber que os humanos são aqueles que mais têm a capacidade de cometer atos desumanos? Difícil mesurar, não?
Como pode haver prazer em deixar, ver e/ou fazer o outro sofrer? Compreendo que, num momento de dor, sejamos capazes de meter uma bala no peito ou no crânio de alguém e, ainda assim equivocados, termos a sensação de que aquilo que chamamos de justiça foi feita. Mas, a tortura... Esta foge de minhas possibilidades de compreensão e me faz, sempre, chorar. Chorar pela vergonha de perceber a desumanidade que pode haver em qualquer um de nós.
Na verdade me parece que, pouco a pouco, perdemos a capacidade de perceber no outro um ser humano também; voltando a tempos bárbaros há muito passados. Apenas isso, me faz compreender a nossa falta de compaixão com aqueles que padecem sofrimentos que nós, por obra divina, desconhecemos. Não sabemos o que significa estar em meio a uma guerra, nem o que é sentir seu corpo e mente violados de toda e qualquer maneira imaginada. Desconhecemos a dor que um homem deve sentir quando a fome é tanta que a pele da barriga parece poder beijar aquela que cobre as costas naturalmente tão longínquas. Por que deixamos ainda que coisas assim aconteçam todos os dias?
Por algum motivo, não muito claro para mim, lembrei-me agora de um poema de Manoel Bandeira que me incomodou muito quando li pela primeira vez. Deixo-o com vocês.
Um beijo e boa semana, mais uma vez.

O BICHO
VI ONTEM um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
de Manoel Bandeira

Cariño...

Morena MíA

Miguel Bose

Morena mía
Voy a contarte hasta diez
uno es el sol que te alumbra
dos tus piernas que mandan
somos tres en tu cama, tres
Morena mía
el cuarto viene después
cinco tus continentes
seis las medias faenas
de mis medios calientes.
Sigo contando ahorita
Bien, bien, bien, bien, bien

Morena mía
siete son los pecados cometidos
suman ocho conmigo
nueve los que te cobro
más de diez he sentido...

Y por mi parte sobra el arte
lo que me das, dámelo, dámelo bien
un poco aquí y un poco ¿a quién?

CHORUS:
Cuando tu boca, me toca, me pone y me provoca
me muerde y me destroza
toda siempre es poca y muévete bién
que nadie como tú me sabe hacer café.

Morena agata, y me mata, me mata y me remata
vamos pal infierno, pon que no sea eterno
suave y bien, bien
que nadie como tú me sabe hacer café
Pero cuando tu boca, me toca, me pone, me provoca
me muerde y me destroza
toda siempre es poca y muévete bien, bien, bien
que nadie como tú me sabe hacer....uff café.

Morena mía
si esto no es felicidad
que baje Dios y lo vea
y aunque no se lo crea
esto es gloria...
Y por mi parte pongo el arte, lo que me das,
dámelo y dalo bien
un poco así y un poco ¿a quién?
Pero cuando tu boca, me toca, me pone y me provoca,
me muerde y me destroza
toda siempre es poca y muévete bien
que nadie como tú me sabe hacer café.

Morena agata, y me mata, me mata y me remata
vamos pal infierno, pon que no sea eterno
Suave bien bien, que nadie como tú me sabe hacer café

Y es que cuando tu boca, me toca, me pone, me provoca
me muerde y me destroza
toda siempre es poca y muévete bien, bien, bien
que nadie como tú me sabe hacer..uff café.

Bien, bien, bien, bien, bien, bien...
Bien, bien, bien, bien, bien, bien...
Bien, bien, bien, bien, bien, bien... Café...
Bien, bien, bien, bien, bien, bien... Café...
Bien, bien, bien, bien, bien, bien... Café...

Olhos surdos


Missing your Sunday Words... Where have they gone, Preto?

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

deep blue

 

All My Mistakes

Avett Brothers

Shooting off vicious collections of words
The losers make facts by the things they have heard
And I find myself trying hard to defend them
I made decisions some right and some wrong
And I let some love go I wish wasn't gone
These things and more I wish I had not done
But I can't go back
And I don't want to
'Cause all my mistakes
They brought me to you
I have some "friends" they don't know who I am
So I write quotations around the word friends
But I have a couple that have always been there for me
And I missed some fun 'cause I worked through the dawn
Expecting your praise when I returned home
But I paid the cost 'cause I got left alone for the songs
But I can't go back
And I don't want to
'Cause all my mistakes
They brought me to you


Manoel de Barros

A lua faz silêncio para os pássaros,
                                - eu escuto este escândalo!
Um perfume vermelho me pensou.
(Eu contamino a luz do anoitecer?)
Esses vazios me restritam mais.
Alguns pedaços de mim já são desterro.
..............................................................
(É a sensatez que aumenta os absurdos?)
De noite bebo água de merenda.
Me mantimento de ventos.
Descomo sem opulências...
Desculpe a delicadeza.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Certezas


Tão certo quanto o sal que sinto no mar
e que descansa manso na areia,
é certo que estou aqui e você me escuta silencioso ao entardecer.
Certo é que o sol pode fazer,
suspeitoso das intenções melancólicas
das sombras,
que o suor desça sinuoso pelo
meu pescoço
ao mesmo tempo que escorregue
pelo seu.
E assim, porque assim teria que ser, mergulharemos
no mar morno e salgado,
ensolarado com a mistura do suor e do calor
desta nossa certeza silenciosa
ao entardecer.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Há sempre um mas...


Algodão - Uma Falaciosa Noção de Intimidade by Carlos Nobre Neves

Hoje tem Marmelada...

Selton Mello e Paulo José em O Palhaço


Habituamo-nos tanto a falarmos das coisas erradas que temos aqui no Brasil que, vez ou outra, vale à pena pisar no freio e falar um pouco sobre o que temos de bom; sobre o nosso melhor. Vamos a ele então? Bem, neste último domingo fui ao cinema para ver O Palhaço, filme dirigido, estrelado e com roteiro co-escrito por Selton Mello. Sim, que o rapaz está a pensar-se um Woody Allen, um Almodóvar ou coisa que o valha, tão amplo que se mostra na película. Mas a verdade é que o filme, de, por e para os brasileiros, é mais do que bom, ele é uma sensível obra poética do princípio ao final.
Desta feita, com uma declaração assim, meus amigos devem estar a pensar: Olha que este deve ser mesmo o maior feito brasileiro na sétima arte nos últimos tempos e etc. e tal, não? Bem, lembrem apenas que sou eu a dizer-lo e, vai daí que meu gosto e desgosto devem ser levados em consideração para que vocês evitem uma decepção das grandes depois de assistir o tal filme e pensar: o que foi que ela viu aqui?
Entretanto, vi em O Palhaço algo que não se vê no cinema todo o tempo, não senhor. Selton nos traz um filme enxuto e significativo como os bons poemas de Carlos Drummond. Econômico em suas palavras e linhas, o diretor fala-nos muito mais pelo que não é dito, mas pode ser sentido e visto nas entrelinhas que são desenhadas à medida que a trama se desenrola diante de nossos olhos. Em O Palhaço, mais do que os diálogos, são os silêncios que nos têm algo a dizer.
Em meio a todos estes silêncios e a figura do palhaço tão melancólico e perdido, um solitário Benjamin remete-nos a Carlitos, o Carlos Chaplin que, tão palhaço como ele, foi um gênio na arte de mostrar-nos uma enchente de sentimentos e sensações sem precisar de uma única palavra sequer. E, tal como nos filmes de Carlitos, os olhos em O Palhaço são marcantes e nos contam contos muito para além do que dão conta as palavras.
Por isso, não esperem deste filme momentos grandiloqüentes e dramáticos ou muita ação, não. Há nele o drama, a graça, o estranhamento e a beleza, contudo, isso tudo nos é dado de forma delicada e simples e, justamente neste fato é que reside toda sua genialidade: o belo que há na simplicidade, basta-nos termos olhos e  coração bem abertos para ver.
Este é sim um convite para o cinema. Bom filme meus amigos!
Paulo José  no filme O Palhaço