quinta-feira, 31 de maio de 2012

Lindo



Meu amor é lindo

lindo de uma beleza que faz-me sorrir os olhos

e eles choram

choram por perceber tamanha beleza

e sua natureza efêmera:

o fim aproxima-se.

Meu amor é lindo

lindo de uma beleza de criação divina

criada por Deus ou por seu oposto

para encantar os olhos meus

e sua miopia cardíaca:

cegueira  alimentada pela alma.

Meu amor é lindo

lindo de uma beleza discreta e calada

que se tranca em si

e se esconde em mim feito lagarta:

à espera da beleza

para a qual esta alma, com seus olhos

de sonho,

se crê criada.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Eterno e insistente


Amor

Do amor sei o início,

sei bem como começa,

aquilo que nos traz

 e o quê faz.

Mas desconheço por completo

que termine,  que haja nele

um fim,

porque no peito

este é um sentimento que não morre,

apesar de esconder-se às vezes.

E, só não o vemos por fingir

para nós mesmos não ver

o que se passa

sob pele, carne e ossos.

E assim, mesmo que passe

todo o tempo que o homem

conhece, cá estará você

a viver em mim:

Meu amor cheio de princípios

e que desconhece o fim.

the beatles - come together



Paixão desde a infância... : ) e que eu adoro rever e rever e rever...

domingo, 27 de maio de 2012

poesia

1

A poesia é uma cobra que morde o próprio rabo

Que não tem, e jamais terá início, meio e fim

Porque simplesmente a poesia não é assim

Ela pode ser grandiosa ou tola

Pode ter rima ou não rimar uma palavra

E isso importa pouco agora

Mas um fim claro, e um começo bem marcado

Ah, isso a poesia não tem

Poesia é tal Maria-Sem-Vergonha, tal praga

Ela simplesmente brota, e aparece na nossa frente

Feito cobra

A serpentear-se sinuosa e insinuante

Com a intenção de ficar por cá

Para sempre

Enfeitiçando a vida da gente



2

Se houvesse talento

uma colher dele que fosse

e talvez tudo isso tivesse valido a pena

tivessem tido, então, todas as palavras ditas e escritas

algum valor verdadeiro

algo que fosse algo mais do que a expressão

egoísta de meus sentimentos

Se houvesse talento

gotas dele pelo menos

e provavelmente teriam sido belas as alegrias e a melancolia

mesmo que vividas sozinhas

e as palavras, quiçá, merecessem   os sons

das  bocas que pelo mundo caminham,

e, quem sabe daí, algum dia

alguma palavra minha merecesse

o falar da boca daquele para o qual esta vida de palavras

foi escrita.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Paixão sem razão

 


A paixão de todo brasileiro


Ontem achei que iria mesmo enfartar, tamanho o nervoso passado assistindo o Corinthians na decisão das quartas-de-final da Copa Libertadores da América; e sorte minha que não rôo unhas, ou não teria mais mãos hoje. Sei que parece muito infantil isso de sofrer tanto por causa de uma partida de futebol, que é uma besteira, uma triste perda de tempo e etecetera e tal; eu sei. O problema é que parece, mas não é. Não é, e basta entender um pouco do todo que está ali envolvido para ver que não há como dar de ombros para o que se passa num campo de futebol.

 Basta começar um campeonato para todo torcedor, todo mundo mesmo, crer que pode ganhar. Não é? Mesmo sabendo que apenas um será o vencedor, e que nem por milagre de Santo Expedito podemos mudar esta regra cruel, mesmo assim cremos. Claro que há os mais bem preparados, os com mais chances de vitória, as barbadas como diria o meu pai. Contudo, isso não é motivo para que algum time desista antes de começar, para que torcedores deixem de assistir as partidas de seu time ou que, na mais terrível das heresias, alguém troque de casaca. Jamais!

 Há sempre a crença fundamentada ou não, e isso pouco importa, de que existe a possibilidade de vitória. Afinal, quantas vezes já vimos aquele time mais fraquinho, a zebra do torneio, o que era tido como cachorro magro, ganhar. Pois é, acontece. E quando acontece é fenomenal.  Há mágica naquele feito que está longe de ser apenas uma simples vitória.  Ali vemos que a lógica pode ser superada e que a nossa fé e vontade podem superar todo obstáculo, seja ele qual for. E, neste momento, nos apaixonamos pelo futebol.

O futebol é apaixonante assim porque nos presenteia com aquilo que apenas as paixões verdadeiras podem nos dar: a crença pura e cega. Algo tão verdadeiro e duradouro quanto mais próximo do fantástico estiver, pois, com o futebol nos damos à oportunidade de crer sem regras nem porquês. E feito crianças, cremos que a razão pode sim ser batida sem nenhuma razão de ser. Através do futebol nos permitimos sonhar e trazer a fantasia para nossas vidas uma vez mais. E de sonhos e fantasias se alimenta a alma da gente, mesmo que a mente tenha que se ocupar com coisas muito mais concretas, pobre dela.

Claro que há outras paixões por aí, eu sei. Tudo bem, cada um pode, e deve, encontrar a sua. O que importa é que ela seja assim: verdadeira e te faça, apesar dos pesares, vibrar e acreditar sempre no que parece um tanto impossível a princípio.

Um beijo e muitas paixões pra todos vocês (como sempre).



A minha paixão particular


terça-feira, 22 de maio de 2012

Abraços


Os braços e as pernas dos meus abraços




Há vários tipos de abraço,

mas os meus preferidos são aqueles

que envolvem pernas, além de braços.

De tal forma, feito abraço de polvo,

são os abraços dos meus meninos

que, depois de uma corrida fenomenal,

pulam nos meus braços

e se enroscam, feito macaco,

com braços e pernas para este abraço

que, para minha tristeza, tem prazo.

Estes nossos abraços hão de acabar quando o tempo de

ser menino  o seu final espiar.



Abraço de corpo




Doce é o abraço

do meu corpo no seu.

Abraçam-se pernas,

braços,

dedos e

lábios,

 abraço todo e qualquer membro seu

que encaixe neste corpo meu,

corpo

feito  para ti por Deus.


segunda-feira, 21 de maio de 2012

O Fado (rascunho 2)

Sábado de Futebol

O despertador toca Led Zeppelin às 7 horas, e Black Dog desperta Lazaro. De um pulo o menino sai da cama mais do que acordado porque hoje é dia de futebol. Seu time está nas quartas de final, e ele é o atacante do time. Lazaro não vê a hora de marcar mais um gol. Campeonato da escola, tudo bem. Mas para Lazaro, e seus amigos com seus 12 anos, este é o momento mais importante da vida. Hoje seu pai vai assistir à partida e ele quer fazer bonito, quer mostrar que é bom mesmo.

-Hoje vou marcar um golaço. Pensa o menino enquanto escova os dentes e veste o uniforme preto e branco. E foi aí, enquanto escovava os dentes do fundo da boca, que Lazaro percebeu que sentia uma comichão nas costas. Era assim que seu avô chamava as coceiras chatas, e Lazaro achava maneiro o falar do avô. Lazaro espichou-se de lá pra cá, e deu uma de contorcionista para tentar ver o que o incomodava daquela maneira, porém não conseguiu ver nada ali, bem no meio das costas.

- Ah, deixa pra lá. Disse o menino para si mesmo. - Não é nada, e não dá para eu me preocupar com esta bobeira.

Lazaro desceu as escadas correndo, chuteiras nas mãos, e engoliu um copo de leite enquanto beijava seus pais que já esperavam por ele.

- Vamos? Disse ele.

- E o café da manhã? Retrucou-lhe a mãe.

- Como no caminho, estamos atrasados.

E lá se foram, a banana e o pão francês nas mãos do apressado garoto para frente da casa. Os pais o seguiram de pronto porque na verdade eles estavam também muito ansiosos.

- Hoje é dia de futebol. Pensou Carlos, o pai do menino.

Senhor Carlos, o Carlão, adorava futebol e Rock-and-Roll e, por isso, desde que o menino era um bebê pequeno estas duas coisas faziam parte da vida de Lazaro. O pai era fã dos Beatles, assim como a mãe, e de Led Zeppelin também. Ele tinha uma antiga loja de livros e discos que estava na família há muitos anos, desde a época de seu avô, o Senhor Emílio.

Lazaro adorava ajudar o pai e o avô na loja, mas ainda não sabia se seguiria a mesma profissão do pai: livreiro de vocação. Sim, isso de escolher aquilo que a gente vai ser não depende simplesmente do que se quer, não. Há a tal da vocação. E isso de vocação na terra onde vive Lazaro e sua família é tão importante e respeitado como uma lei. Em Santa Cruz, que se parece muito com qualquer outro país, as pessoas não decidem simplesmente o que elas querem ser; elas nascem com um dom e têm a obrigação de segui-lo. Não seguir a sua vocação, o seu coração, é quase um crime ali; uma aberração.

Ah! Há um outro detalhe importante neste país tão parecido com o nosso: em Santa Cruz a fantasia e a magia são tão reais como uma boa partida de futebol.

Lazaro e os pais chegaram à escola onde muitos dos amigos do menino já aguardavam. Os pais dirigiram-se para as arquibancadas enquanto o menino e seus amigos se preparavam para entrar em campo. Em minutos começaria a partida de futebol.

 Depois do apito, o que mais se viu foram pernas. Pernas de menino correndo, feito loucas, sobre o gramado verde. Pernas e pés, escorregões e algumas trombadas, muita alegria e um pouco de frustração. Ou seja, uma bela partida de futebol.  E assim, muitos minutos suados e corridos se passaram até que o juiz marcasse o final da partida depois de 90 minutos e 08 gols.

O jogo foi duro, o outro time não deu moleza, mas Lazaro e seus amigos estavam inspirados naquela manhã de sábado. O menino marcou dois gols, e seu time venceu por 5 X 3. Um jogão, como diria o avô. Lazaro estava muito contente, orgulhoso por ter jogado tão bem justo no dia que seu pai assistia à partida. Ele estava contente e sabia muito bem o que queria, pois sua vocação estava clara para ele: Lazaro seria jogador de futebol.



A Livraria



Depois da partida de futebol, o menino e seu pai haviam combinado ir até a livraria da família. Lá, um avô aflito, roedor de unhas, esperava pelas boas novas: o resultado da contenda. Senhor Manoel, o pai do pai de Lazaro, era grande fã e companheiro do neto desde sempre; desde antes do nascimento do menino. Isso se dera assim naturalmente, Lazaro sorria para seu avô ainda muito pequeno e o avô, avô de neto único, o amava tanto ou mais do que amava seu filho desde o momento em que soube que o pequeno chegaria.

- Mais um rapaz vem a caminho!  Exclamou o senhor de óculos negros e quadrados e de farta barba grisalha assim que soube da gravidez. E não adiantaram as argumentações contrárias a tal certeza cega e teimosa. O avô já sentia o seu neto perto dele, sonhara com o menino e, sendo assim, nenhum exame era necessário para provar e comprovar aquilo que ele já sabia. Lazaro estava vindo.

A livraria localizava-se no centro da cidade, próxima aos correios e ao cinema que eram tão antigos quanto ela.  O Ateneu, assim se chamava a casa de livros inaugurada há quase cem anos atrás pelo bisavô de Lazaro. Um lugar tranquilo e aconchegante, cheio de histórias dentro e fora das páginas dos livros que a habitavam por um tempo indeterminado. Havia dois andares unidos por uma escada de madeira cor de canela em forma de caracol. No andar de baixo ficavam os livros infantis, aqueles técnicos, as revistas e jornais, e aquilo a que o avô determinara como “a literatura assim-assim”. E sempre que dizia isso mexia a mão direita a mostrar a qualidade duvidosa das letras contidas ali.

E Lazaro achava graça daquilo, da cara de dúvida do avô.

No andar de cima ficava a poesia, pois de acordo com o vô Manuca, era desta forma que Lazaro aprendera a chamar o avô, as pessoas que leem poesia têm sempre a mente muito mais além, a voar nas alturas. Aquele andar também era a morada da grande literatura, dos clássicos, daquilo que era bom e, portanto, merecia um posto elevado e de maior consideração.

Pelas vitrines da livraria podia-se sempre avistar o avô, ou o pai de Lazaro, munidos de uma xicara de café quente e forte nas mãos a conversar com um cliente ou amigo. E foi isso mesmo que o menino avistou assim que desceu correndo do carro, tão afoito para contar ao avô a novidade que nem se quer fechou a porta dele ou ouviu o pai chamar-lhe  a atenção pela falta.

- Vô! Saiu o menino em disparada pela calçada, acenando para que o avô o visse chegar. Entrou voando na livraria, como se tivesse asas, e estancou calado na frente do balcão frente ao olhar carrancudo do avô e do Senhor Geraldo.

Lazaro estranhava a cara séria do avô. Será que ele havia feito algo errado e não se lembrava? Ah, eram tantas as coisas que ele fazia todos os dias que não tinha tempo para lembrar-se de todas de repente. Porém, antes de dizer qualquer coisa, seu Manuca piscou para o neto e abriu seu sorriso macio de avô.

- Então, menino, desembucha logo, que estou que não me aguento. - Perdeu ou ganhou?

O neto se riu da piada do avô; ele o enganara direitinho. E correu para perto do avô para dar-lhe as boas notícias.

- Eu venci, claro, vovô. E gargalhou o menino orgulhoso, apertado pelo abraço igualmente orgulhoso do avô.

- Ah, o menino joga futebol, disso eu não sabia. Observou seu Geraldo com uma dúvida fingida. - Achei que seria livreiro como todos na família.

- Não, não senhor. Reagiu o menino. - Eu serei jogador de futebol, e dos bons.

Com o abrir da porta, Lazaro vê seus pais entrarem no Ateneu. Os dois cumprimentam ao senhor Geraldo e ao avô Manuca. Todos seguiriam juntos para casa depois de fechada a livraria. Hoje era dia de almoço em família, de muita conversa e música a tarde inteira.



E lá se vai uma tarde



O almoço foi gostoso e tranquilo. Hoje tiveram “puchero”, uma comida tradicional na família de Luiza, a mãe de Lazaro. Neta de espanhóis, Luiza se acostumara a ter na mesa e na língua falada em casa, aqui e acolá, uma pitada da Espanha.

Isso porque sua mãe, Dona Consuelo, sempre fez questão de ensinar a seus filhos muito da cultura do país que seus pais haviam deixado para trás. E o “puchero” era uma das tradições mais queridas por Lazaro. Sim! Mais do que as castanholas nervosas, o flamenco com seus sapatos falantes e braços de onda, mais do que as estórias que a avó Consuelo contava e, até mesmo, mais do que a forte língua espanhola; mais do que tudo que a Espanha inventou; Lazaro amava o “puchero”.

Uhm... Ele adorava aquilo! Um tipo de feijoada feita com grão de bico, linguiça, costelinha de porco e outras carnes, com batatas e outros vegetais. Ai ai ai..., só de pensar naquilo enxia de água a boca do menino! Além disso, adorava dizer aquele nome para seus amigos e ver a cara de estranhamento deles logo depois dele dizer:

- Ontem eu comi “puchero”. Dizia ele displicente, como se tivesse dito cachorro quente, apenas para ouvir um sonoro:

- Comeu o quê? Vindo da boca de um ou dois de seus amigos.

Hoje Dona Consuelo viera para o almoço em família e trouxera, feito por ela mesma, o prato preferido do neto. Depois da sobremesa, as duas meninas da casa, como dizia sempre o vô Manuca, iriam juntas visitar uma prima que andava meio doente. Lazaro lembra-se das palavras da avó: - Ela anda meio doentinha, coitada.

Aquilo fizera o neto pensar: - Como alguém pode estar meio doente? Pode apenas metade do corpo estar com algum problema enquanto a outra parte está bem que só? Cada coisa que a gente diz, não?

 Assim que as mulheres saíram, os homens da casa foram para a sala da família; e isso incluía o nosso Lazaro que ainda era um homem-menino. Carlos e o Seu Manuca encaminharam-se para o canto do cômodo onde morava a coleção de discos para escolher o que mais combinava com a ocasião: O Campeonato de Futebol da Família no PlayStation.  Seu Manuca queria ouvir algo mais leve e sugeriu Jazz para a ocasião.

- Que tal irmos de Dizzy e Charlie Parker, o Bird?  

- Ah, não vô. Isso não combina nada com o futebol, afinal americano nem entende muito de bola. Reclamou o menino. - Eu voto em algo mais barulhento e divertido.

- Oras bolas menino. Quer dizer que Jazz não é divertido? Ela é, por acaso, uma música paradinha? Emburrou o avô. - Abra os ouvidos moleque, abra os ouvidos!

Carlos achava divertida a luta entre todos os anos que separavam avô e menino, mais de cinquenta afinal. E, às vezes, lhes era difícil chegar a uma solução que agradasse a ambos. Mas, sempre havia aquilo que todos gostavam afinal, então, sem consultar a ninguém, Carlos colocou os Rolling Stones pra tocar.

- Que tal para a ocasião? Perguntou um Carlos com seu sorriso curioso e brejeiro.

Palavra engraçada essa, não? Brejeiro. Mas assim era o sorriso de Carlão, com seu jeito alegre e irreverente. Apenas o filho não compreendia como aquela palavra não tinha nenhuma relação com os brejos. Ou será que tem? Afinal, brejeiro deveria ser aquele que cuida do brejo, não?

- Tá ótimo! Concordou o menino, que queria era começar logo a peleja entre família. Da última vez, por um milagre de Deus, seu Manuel foi o campeão. Coisa da qual Lazaro desconfiou muito, pois, como poderia aquele velhinho ser melhor do que ele e o pai no PlayStation? O menino achava que o pai havia deixado o avô ganhar, ou será que o danado do Manuca anda a praticar escondido?

- Concordo. Somou o avô.

E assim começou a tal disputa entre três gerações apaixonadas por futebol, seja o de campo ou o virtual. Os jogos foram disputados e divertidos e, depois de quatro horas, seu Manuca sagrou-se campeão pela segunda, e ainda mais inacreditável, vez.

- Ah, vô! Você anda treinando escondido, né? Aposto que nem anda trabalhando direito. Reclamou o menino.

Manuca e Carlão riram um riso solto do despeito do menino.

Lazaro estava mesmo acabrunhado, mas isso não apenas pela derrota para o avô. A verdade é que suas costas voltaram a incomodar, doendo um pouco. O menino sentia, outra vez, aquela comichão que sentira pela manhã.

- Que coisa chata. Pensou o menino sem dizer nada. Porque uma coceira não é nada que deva dar preocupação, e ele pareceria um menininho chorão se reclamasse das costas. E isso o garoto não admitia. Lazaro era um menino forte.

- Pai, eu vou subir para estudar, tá? Tenho lição de matemática.

- Certo. Respondeu o pai.

E assim sumiu o menino da vista do mundo por algumas horas. Ele e a comichão estranha teriam seus momentos de solidão.

terça-feira, 15 de maio de 2012

A poesia


Esta poesia se faz sozinha

saem-lhe as palavras que são minhas,

mas que não pertencem a mim.

Eu...

Eu, sim,  pertenço a elas e por elas sou dominada,

guiada, assombrada.

Palavras que andam pela cabeça, que correm pelas veias

e afogam o coração inocente

de qualquer crime maior.

E faz-se sozinha, guiando-me os dedos, a tal da poesia

Poesia doída e doida,

sofrida e sentida.

Poesia que não há de ser nada,

e que nada irá valer para além do que é:

essa dor minha.

domingo, 13 de maio de 2012

A Palavra - Tema para Sasseti



Aquilo que ficará para sempre...

O Dia das Nossas Mães





Dizem que mãe é apenas uma. E naqueles momentos nos quais elas nos atormentam a cachola com broncas, excesso de conselhos, manias e uma gama de zelos, nós damos graças a Deus de ela ser uma só. Ah, como seria difícil aguentar mais de uma mãe, não? Contudo, se pararmos para pensar, veremos que jamais a nossa mãe foi apenas uma. Não, senhor!

Afinal, como podemos conceber que um único ser dê conta de tanta coisa ao mesmo tempo? Mãe é aquela que levanta bem cedinho apesar de ter sido a última a ir dormir tal vigia, sempre alerta. Ela sabe cozinhar como ninguém, nossa chef particular, e sente prazer em nos alimentar por toda uma vida, desde o nascer até o dia que nossos cabelos já começam a ficar branquinhos.

Ela é a professora que passa horas conosco debruçada sobre os livros nos dias que antecedem nossas provas, e a estilista que nos veste para sermos o mais bonito de todos os meninos ou meninas já vistos. É aquela para quem tudo que fazemos faz algum sentido e, tal psicóloga, entende os porquês de seu filho.

Mãe é ser mítico com poderes nunca vistos. Ela sente, no seu peito, a dor que passa pelo coração do filho, ao mesmo tempo em que pode, a olho nu, ver e ler nossos pensamentos mais escondidos. Ela é dona de um colo que ninguém tem ou terá igual. Colo que mais se parece com um ninho, refugio seguro para onde voamos quando aperta a situação e lembramos que somos, todos nós, meninos crescidos.  Chorar em colo de mãe é um consolo sem igual.

Conclui-se, então, que mãe não é uma, e que na verdade temos, sim, várias mães escondidas num corpo só. Uma mulher que é tão importante, tão carinhosa e tão intensamente presente em nossas vidas que quando nos falta parece que ficamos, neste mundão, completamente sós.

O beijo mais doce e cheio de amor para todas as mães. E um feliz Dia das Mães, para todas elas e seus filhos.


quinta-feira, 10 de maio de 2012

Wave (Tom Jobim) - Yamandu Costa + Dominguinhos



Às vezes as palavras já não são mais necessárias. Momento para sentirmos, simplesmente, aquilo que já foi dito muitas vezes. Lindo
Verão no Chile.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Sorriso de Buda




Um dia, tal anjo ou visagem, passou por mim,
de repente,
o sorriso mais perfeito que já cruzara a minha frente.
Não que os dentes sejam os mais brancos
ou que seja a boca completa e cientificamente simétrica.
Não. Pois na alma, e não na carne, reside a sua perfeição.
E para estes olhos que me foram dados,
ele parece ter sido feito por um Deus,
sábio e zombeteiro,
que se ri de toda audácia de minha mente
que julgava-se independente.
Ah, e o tal sorriso...
O tal sorriso, até meio torto afinal,
chega-me tão doce e quente, tão afetuoso e alegre
que me enche os olhos e o peito de um calor
desconhecido até aquele dia fatídico.
O dia no qual se postou à minha frente
o homem de covinhas definidas e insistentes
que roubou-me o sossego
com seu sorriso de Buda,
definitivamente.



segunda-feira, 7 de maio de 2012

Brincadeira


Brincadeira

Somos ainda crianças? Não.

Então, matam-nos as tais brincadeiras

que mais maltratam do que consolam

retratos de um fato

um disparate

inventado por um homem e uma mulher

de mentes voadoras

e corações medrosos e congelados

brincadeira que vem para

atrapalhar, baralhar e magoar

e que nos faz rodar tal pião,

balão zonzo e

perdido

sem

direção ou razão


sábado, 5 de maio de 2012

(: O Dia da Mi :)

Eu e a minha Mi.







Hoje é dia dela. O dia de colocar aqui no papel eletrônico algo a respeito da minha mãe, ou como diria eu: hoje é o Dia da Mi. Depois de muito fugir do assunto, resolvi escrever sobre ela porque no próximo domingo celebraremos o dia das mães e eu, por escolha minha, poderei fazer tudo menos estar próxima a ela. Sim, sou uma filha desnaturada, uma ovelhita negra e desgarrada. E, por isso, lhe devo desculpas - Sinto muito Mi! Eu também queria estar aí contigo.

 Estarei aqui, há milhares de quilômetros mais uma vez e, por tanto, não haverá beijinhos ou abraços. Não senhor. Haverá apenas o carinho carente pela falta daquela que se quer abraçar por horas sem fim. Haverá o telefonema e as palavras ditas de uma distância grande demais para um amor tão forte como é este entre uma mulher e aquela que um dia foi sua menina. É uma pena que as meninas e meninos cresçam tão rápido assim, mas assim é a vida e não há como lutar contra ela. Estamos, cada um de nós, em nosso caminho e, certo ou um tanto torto, temos que trilhá-lo sozinhos.

Sem saber se mereço os pais que tenho, como quase todo filho, quero aproveitar para dizer aquilo que está sempre implícito aqui: Te amo mãe! Sim, com a tal colocação pronominal equivocada porque sentimentos não têm regras gramaticais, jamais. Te amo e agradeço por todo o carinho sem tamanho nem fim que você deu e dá para mim, por este amor tão forte e gratuito, tão verdadeiro e completo que me assusta às vezes. Pois como pode haver um amor tão entregue como esse? Nós, seus filhos, sempre recebemos o melhor de ti, antes e mais intensamente do que qualquer outra pessoa que esta Terra já viu. Parece que tivemos muita sorte mesmo de nascer de ti, de ter habitado por algum tempo o teu corpo, e através dele nos fazermos gente.

Mi, te amo, te amo mesmo e muito, mesmo que eu seja assim: uma menina que gosta de estar por este mundo grande e longe de ti. Amo-te hoje e sempre, para todo o sempre, agora e no dia em que nós, as duas, já não estivermos mais aqui. Sou um pedaço de ti e do papito e, mesmo longe, vocês estão sempre comigo.

Um beijo doido para a mulher que mais admiro neste mundo, pois ela, como ninguém, soube e sabe o que é ter um amor sem fim.

Um beijo para todas as mães e filhos.

Para minha mãe, que nasceu Odila, mas que pra mim é Mi.
Papito e Mi, dia de passeio em família.

Novos Baianos - Preta Pretinha



Uma música que nasceu antes de eu ser gente de verdade e que desde sempre me fez sorrir. Preta, Pretinha pra minha tarde quente e delicada.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Mi Neruda

Un poco de Chile que encantaron mis ojos

 

Poema 14



Juegas todos los días con la luz del universo.
Sutil visitadora, llegas en la flor y en el agua.
Eres más que esta blanca cabecita que aprieto
como un racimo entre mis manos cada día.

A nadie te pareces desde que yo te amo.
Déjame tenderte entre guirnaldas amarillas.
Quién escribe tu nombre con letras de humo entre las estrellas del sur?
Ah déjame recordarte cómo eras entonces, cuando aún no existías.

De pronto el viento aúlla y golpea mi ventana cerrada.
El cielo es una red cuajada de peces sombríos.
Aquí vienen a dar todos los vientos, todos.
Se desviste la lluvia.

Pasan huyendo los pájaros.
El viento. El viento.
Yo sólo puedo luchar contra la fuerza de los hombres.
El temporal arremolina hojas oscuras
y suelta todas las barcas que anoche amarraron al cielo.

Tú estás aquí. Ah tú no huyes.
Tú me responderás hasta el último grito.
Ovíllate a mi lado como si tuvieras miedo.
Sin embargo alguna vez corrió una sombra extraña por tus ojos.

Ahora, ahora también, pequeña, me traes madreselvas,
y tienes hasta los senos perfumados.
Mientras el viento triste galopa matando mariposas
yo te amo, y mi alegría muerde tu boca de ciruela.

Cuanto te habrá dolido acostumbrarte a mí,
a mi alma sola y salvaje, a mi nombre que todos ahuyentan.
Hemos visto arder tantas veces el lucero besándonos los ojos
y sobre nuestras cabezas destorcerse los crepúsculos en abanicos girantes.

Mis palabras llovieron sobre ti acariciándote.
Amé desde hace tiempo tu cuerpo de nácar soleado.
Hasta te creo dueña del universo.
Te traeré de las montañas flores alegres, copihues,
avellanas oscuras, y cestas silvestres de besos.

Quiero hacer contigo
lo que la primavera hace con los cerezos.

Nature by Numbers



A lógica daquilo que não parece tão lógico assim