terça-feira, 31 de dezembro de 2019

AmarElo Trilha Sonora para 2020!

Ano passado eu morri, mas em 2020 eu não morro... Que 2020 seja mais doce para todos nós!





AmarElo
Emicida
Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte
Porque apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte
E tenho comigo pensado, Deus é brasileiro e anda do meu lado
E assim já não posso sofrer no ano passado
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Eu sonho mais alto que drones
Combustível do meu tipo? A fome
Pra arregaçar como um ciclone (entendeu?)
Pra que amanhã não seja só um ontem
Com um novo nome
O abutre ronda, ansioso pela queda (sem sorte)
Findo mágoa, mano, sou mais que essa merda (bem mais)
Corpo, mente, alma, um, tipo Ayurveda
Estilo água, eu corro no meio das pedra
Na trama, tudo os drama turvo, eu sou um dramaturgo
Conclama a se afastar da lama, enquanto inflama o mundo
Sem melodrama, busco grana, isso é hosana em curso
Capulanas, catanas, buscar nirvana é o recurso
É um mundo cão pra nóiz, perder não é opção, certo?
De onde o vento faz a curva, brota o papo reto
Num deixo quieto, num tem como deixar quieto
A meta é deixar sem chão, quem riu de nóiz sem teto
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro (demais)
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro (Belchior tinha razão)
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Figurinha premiada, brilho no escuro, desde a quebrada avulso
De gorro, alto do morro e os camarada tudo
De peça no forro e os piores impulsos
Só eu e Deus sabe o que é não ter nada, ser expulso
Ponho linhas no mundo, mas já quis pôr no pulso
Sem o torro, nossa vida não vale a de um cachorro, triste
Hoje cedo não era um hit, era um pedido de socorro
Mano, rancor é igual tumor envenena raiz
Onde a platéia só deseja ser feliz (ser feliz)
Com uma presença aérea
Onde a última tendência é depressão com aparência de férias
Vovó diz, Odiar o diabo é mó boi, difícil é viver no inferno
E vem a tona
Que o mesmo império canalha, que não te leva a sério
Interfere pra te levar a lona
Revide
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Elas são coadjuvantes, não, melhor, figurantes, que nem devia 'tá aqui
Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Tanta dor rouba nossa voz, sabe o que resta de nóiz?
Alvos passeando por aí
Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Se isso é sobre vivência, me resumir a sobrevivência
É roubar o pouco de bom que vivi
Por fim, permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Achar que essas mazelas me definem, é o pior dos crimes
É dar o troféu pro nosso algoz e fazer nóiz sumir
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Aí, maloqueiro, aí, maloqueira
Levanta essa cabeça
Enxuga essas lágrimas, certo? (Você memo)
Respira fundo e volta pro ringue (vai)
'Cê vai sair dessa prisão
'Cê vai atrás desse diploma
Com a fúria da beleza do Sol, entendeu?
Faz isso por nóis, faz essa por nóis (vai)
Te vejo no pódio
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro

domingo, 29 de dezembro de 2019

Pode Se Achegar

Dezembro




Dezembro


1
De acordo com a medicina chinesa no pulmão mora a tristeza
que o afeta claramente.
Meus pulmões gritam e eu nem sabia dessa minha habilidade escondida;
respiro profundamente
sem conseguir disfarçar a surpresa de ter sido descoberta.
Não pareço triste diz o doutor na tal ciência, eu sei,
e agora sei para onde vão as muitas lágrimas adultas escondidas:
o que não sai pelos olhos
anda a inundar-me
os pulmões.


2
As pequenas pernas não sabem caminhar
Elas correm
Correm apressadas para aproveitar o dia
sem saber que elas têm tanto tempo; o tempo todo de uma vida
eu caminho apressada atrás delas
corremos juntos
rimos juntos de tudo o tempo todo
como se a graça fosse parte intrínseca da vida.
Ela o é.
Nós, com nossas aldultices agudas, nos esquecemos disso.
Somos estúpidos!
Rio com meus pequenos a ignorar a seriedade da vida:
À merda com as chatices e o bom senso,
estou para as criancices como se
começasse mais uma vez
a minha vida.
Respiro feliz.




quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Love Amor Amour




Para Mima

Mima, você faz-me muita falta; toda a falta de uma vida. Falta que em dezembro se aconchega dentro do peito e aperta mais. Abraço de tamanduá. Sabe Mima, sempre soube que um dia você não estaria mais aqui, contudo, nunca percebi o tamanho imenso da falta que faria. Estas saudades que por cá moram há alguns anos são colossais e causam em mim reações adversas: choro mais do que antes, feito criança, e ao mesmo tempo, sinto-me tão mais velha depois que você se foi. Sinto que tenho que ocupar, um pouco, o espaço que era seu e, sendo assim, deixei de ser uma menina.

A única coisa boa de tudo isso é que você não está aqui para ver as mazelas às quais somos capazes. Ser humano é bicho muito difícil de entender; e perdoar às vezes. E a verdade e que com o passar dos anos fica mais complicado e pesado ver a capacidade para o mal que persiste em nós. Não entendo, não consigo entender. Então, sinto um conforto danado toda santa vez que penso, “ainda bem que a Mima não está aqui para ver isso”. Não te quero triste.

Bom, também não quero tagarelar demais. Eu só queria dizer que sinto tantas saudades de ti como sempre e pedir desculpas por eu ter andado tão calada. Ando preguiçosa e pensativa; só isso. Porém, te amo desde sempre e para sempre; profundamente.

Mima, por inúmeros motivos, quando vi este filme achei-o a sua cara: alegre, colorido e cheio de carinho. Lembrei de você e de tudo que passamos; do quanto te amo e do quanto você me ama também. Então, ele é seu presente de Natal. Feliz Natal, mãe. Fica com Deus, mas se der, pode dar um pulinho por cá. Será bem-vinda.

À Mima.

domingo, 15 de dezembro de 2019

Aí Sim






O Seu Amor Sou Eu
Marcelo Jeneci

Sei que digo coisas sem sentido
com palavras habituais
é assim que sai
devo admitir tenho sofrido
mas não quero sofrer mais
meu mundo, cai não cai
são seus, sinais

sigo no entanto decidido
a tentar mais uma vez
dizer e ouvir
mesmo desse jeito, meio aflito
creio que vou conseguir
fazer, você, sentir

que uma paixão desse tamanho
quando aumenta
pode até explodir

o seu amor sou eu
sou eu
sou eu

nada na medida
minha vida indefinida
perde o dom
de ser sutil
vejo que não tem outra saída
a não ser sobreviver
ao caos, ao frio e as noites
mal dormidas
com as dúvidas que negam o que tem que ser

o seu amor sou eu
Sou eu
Sou eu


Retorno




Retorno


Retorno, torno, dou uma volta no meu eixo

e deixo de ser eu mesma

para ser quem fui

No final e depois de tanto tempo

volto ao começo; recomeço

sem evolução

Sigo, então?

Sigo,

não há nada para além de seguir em frente, linha reta

e peito aberto sem medo                                                             (fato)

da imensidão vazia que me abre os braços.

Retorno.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Mi Neruda





Soneto 22
Cuántas veces, amor, te amé sin verte y tal vez sin recuerdo,

sin reconocer tu mirada, sin mirarte, centaura,

en regiones contrarias, en un mediodía quemante:

eras sólo el aroma de los cereales que amo.

Tal vez te vi, te supuse al pasar levantando una copa

en Angola, a la luz de la luna de Junio,

o eras tú la cintura de aquella guitarra

que toqué en las tinieblas y sonó como el mar desmedido.

Te amé sin que yo lo supiera, y busqué tu memoria.

En las casas vacías entré con linterna a robar tu retrato.

Pero yo ya sabía cómo era. De pronto

mientras ibas conmigo te toqué y se detuvo mi vida:

frente a mis ojos estabas, reinándome, y reinas.

Como hoguera en los bosques el fuego es tu reino.


Sed de ti.
Sed de ti me acosa en las noches hambrientas.

Trémula mano roja que hasta su vida se alza.

Ebria de sed, loca sed, sed de selva en sequía.

Sed de metal ardiendo, sed de raíces ávidas...

Por eso eres la sed y lo que ha de saciarla.

Cómo poder no amarte si he de amarte por eso.

Si ésa es la amarra cómo poder cortarla, cómo.

Cómo si hasta mis huesos tienen sed de tus huesos.

Sed de ti, guirnalda atroz y dulce.

Sed de ti que en las noches me muerde como un perro.

Los ojos tienen sed, para qué están tus ojos.

La boca tiene sed, para qué están tus besos.

El alma está incendiada de estas brasas que te aman.

El cuerpo incendio vivo que ha de quemar tu cuerpo.

De sed. Sed infinita. Sed que busca tu sed.

Y en ella se aniquila como el agua en el fuego

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Vaga




Vaga

Minha alma não é minha
e a mim não me pertence desde que por gente
me compreendo
isto cá está errado
sim, há algo de muito errado comigo
tão errado que não sei dizer
digo
o saber do que se trata essa mania de me fugir a alma
me escapa
o que pode ser contado
e sobre um tal incômodo ingrato que me rói as tripas
e sobre a certeza de que em mim não cabe
a alma que é minha
por cá fica o incomodo de não saber
por onde ela vaga
se ela vaga errática como o pensamento
ou se tem casa alheia,
talvez
talvez, é verdade, ela não chegue a existir e seja
apenas
a vã tentativa de dar a esta vida uma certa importância
que ela não tem
importantes são as estrelas
eu sou grão de pó e finjo
existir


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

A Blast from the Past



A Blast from the Past

Novembro chegou ao final e 2019 está a arrumar suas malas para despedir-se também. Amém! Eita ano difícil, cheio de estorvos aboletados pelo nosso caminho como se alguém os tivesse convidado para a nossa festa, sem cerimonias. Verdade seja dita, nem tudo foi drama, como tudo não são flores sempre para todo ser que respira; c’est la vie! Contudo, o fato é que o final deste ano está sendo aguardado por mim como presente de Natal. 2020 será meu presente este ano.

Bom, fim de ano para nós do lado sul do planeta significa também fim de Campeonato de Futebol, e a bola está a se despedir dos campos um tanto melancólica já que nós, brasileiros, não a temos tratado muito bem durante o ano todo; e nisso inclui-se o Corinthians, o meu eternamente melhor time do mundo, sempre. Afinal, isso de imparcialidade não é assim a qualidade mais cara aos aficionados, certo?

Neste ponto, Blast from the Past particular, vejo-me a torcer, sem grande paixão, mas de verdade, para o Flamengo no final da Libertadores. Não, nunca fui, e não sou torcedora do Flamengo. Contudo, na minha primeira infância, e devido ao hábito de assistir ao futebol com meu pai, eu vibrava com o Zico; o Deus da bola em campos brasileiros então. Meu primeiro ídolo do futebol foi Zico e não Pelé que já não jogava bola. Afinal, como pode uma criança não se encantar com um Deus da bola? Não pode. Sou fã do Zico.

 Zico chegou antes de Sócrates, meu ídolo maior no futebol, homem de talento nos pés e na cachola, e, por isso, há desde sempre em mim uma simpatia grande pelo Flamengo. Torci de verdade, gritei e vibrei com os gols quase milagrosos no final da partida como deve ser quando se torce. Apenas não gostei muito de ver que os tais gols foram marcado pelo tal Gabi Gol. Por este não nutro simpatia alguma. C’est la vie 2!

Flamengo venceu e me parece que o Senhor Jorge Jesus provou-nos que estamos a esquecer como se deve tratar a bola. Quem diria!? Um tuga a reinar na terra do futebol deixa claro que tanto na bola, quanto em todo o etc e tal, tamanho não chega a ser documento se não formos competentes. E não o temos sido; ponto. Parabéns ao Seu Jorge, que além de competente, mostrou-se sensível ao receber o título de cidadão carioca. Jesus chorou emocionado na TV, uma de suas avós era brasileira e ser reconhecido por aqui parece ter um peso para ele que eu não entendia até então. Hoje sou mais fã desse Senhor, meu inimigo em campo, mas que mesmo assim tem toda a minha admiração.

Futebol é uma paixão, verdade. Contudo, ele não tem e nunca terá nenhuma relação com a violência e o ódio gratuito e sem sentido. Ódio e violência são o oposto da filosofia de qualquer esporte que prevê um embate justo fundado no talento, na dedicação e no respeito pelo adversário. Violência é coisa de turba ignorante, de gente fraca da cabeça e, com certeza, doente do pé.

p.s. O texto começou a ser escrito na semana passada. Contudo, na terça-feira à noite, uma menina de 15 anos, torcedora do Cruzeiro, foi espancada por torcedores do Atlético Mineiro na saída de uma partida de voleibol em Betim. Um absurdo e uma vergonha. Senti-me mal ao ouvir o fato pelo rádio do carro, afinal, como pode isso ter acontecido? Que tipo de gente é essa que se junta em bando para bater numa menina? A menina está no hospital e o final do texto tomou um rumo um pouco distinto daquele pensado anteriormente. Seja lá como for, me parece que nós é que deveríamos nos sentir profundamente emocionados com a ajuda de seres pensantes de além mar. Já que nós, ao que parece, estamos deixando de pensar. O Brasil está a se tornar um país muito triste para mim.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

domingo, 1 de dezembro de 2019

Víbora



Víbora



Teria sido bem melhor se você tivesse nos contado tudo
A gente aqui esperando você falar alguma coisa
E você aí, bem na nossa frente mudo
A gente nunca esperou isso de você
Essa coisa esquisita de fcar em cima do muro
Até parece premeditado, fake, feito de propósito
Que você mudou de lado, juro
Até parece máscara, ópera, víbora
Mas é só você
Que tem o dom
De me enganar
Me seduzir
Me desdobrar
De me cuspir
Só pra me obter
Metade homem, metade omisso
Uma parte morta, outra parte lixo
O teu cheiro, a tua trama, a tua transa
Hoje eu não vou querer
Até parece máscara, ópera, víbora
Mas é só você
Que tem o dom
De me enganar
Me seduzir
Me desdobrar
De me cuspir
Só pra me obter
Metade homem, metade omisso
Uma parte morta, outra parte lixo
Não sou moura torta, macabea, poliana, franciscana
Nada pra você
E você é um equívoco

Tulipa Ruiz

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Inércia





Inércia


desde sempre e para sempre

reza o revel sentimento que a mim

me domina, e reflete,

em contraste com a vontade fraca que o peito habita em sincronia,

quem sou eu

verdade que, infiéis,

vez ou outra, os olhos miram presa alheia

e as pernas caminham em sentido oposto àquele que deveriam seguir

porém

movimento em aceleração constante e eterno,

não se engane; eu não me engano

o meu destino será, à revelia do que toda a lógica dita,

o seu

domingo, 24 de novembro de 2019

Além Mar




que fizestes das palavras?

Que fizeste das palavras?
Que contas darás tu
dessas vogais
de um azul tão
apaziguado?


E das consoantes, que
lhes dirás,
ardendo entre o fulgor
das laranjas e o sol dos
cavalos?


Que lhes dirás, quando
te perguntarem pelas
minúsculas
sementes que te
confiaram?




ENTRE OS TEUS LÁBIOS

Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.



HOJE ROUBEI TODAS AS ROSAS DOS JARDINS

Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.


Eugénio de Andrade

ao menino mais doce desta vida.

domingo, 10 de novembro de 2019

Amado...




Amado
Vanessa da Mata

Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu
Fico desejando nós, gastando o mar
Pôr-do-sol, postal, mais ninguém
Peço tanto a Deus
Para lhe esquecer
Mas só de pedir me lembro
Minha linda flor
Meu jasmim será
Meus melhores beijos serão seus
Sinto que você é ligado a mim
Sempre que estou indo, você volta atrás
Estou entregue a ponto de estar sempre só
Esperando um sim ou nunca mais
É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Sinto absoluto o dom de existir
Não há solidão, nem pena
Nessa doação, milagres do amor
Sinto uma extensão divina
É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Quero dançar com você
Dançar com você
Quero dançar com você
Dançar com você

Um Passo Atrás



Um Passo Atrás

Gente com muito dinheiro não vai para a cadeia. Fato já conhecido, e mais do que sabido, desde de sempre por todos nós no mundo inteiro; tenhamos nós, ou não, muito dinheiro no banco. Pois, que a Lei é uma senhora cega, o sabemos todos nós nesse planeta azul. Porém, nós, aqui no Brasil, terra gigantesca de natureza exuberante e dona de exuberante e gigantesca desigualdade social, o sabemos muito bem. Quiçá, muito melhor do que muitos outros povos.  

Sendo assim, o fato de termos visto, nos últimos tempos, homens e mulheres com suas gordas contas bancárias escondidas mundo à fora irem para a cadeia pelos crimes cometidos nos deu uma certa alegria na alma. Seria esse um sinal inequívoco de que a realidade estava a ser mudada em Terras Brasilis; mesmo que a tal mudança e a “nova-justiça” ainda se mostrassem tropicalmente preguiçosas e um tanto seletivas?

Bem, como não há tristeza nem alegria que dure para todo o sempre; muito menos uma tênue ilusão, nessa semana tivemos que aceitar mais uma vez o fato de que quem tem dinheiro nesse país não esquenta banco de nenhuma prisão. Senhor Luiz Inácio e tantos outros que haviam sido presos por crimes de corrupção estão livres. E agora, a nós, nos resta observar a situação já um tanto caótica nesse país piorar, porque o que interessa para os que aqui detém o poder é ver o Circo em chamas.

 Eu por cá fico a imaginar quanta bobagem terei que ouvir vinda de todas as direções, pois que aqui a verborragia sem sentido não tem partido político e/ou ideologia de preferência. Vem tanto da esquerda quanto da direita. Eu não queria Lula livre. Não senhor. O que eu queria era ver todos os outros com ele: os Serras, os Malufs, os Temers, os Sarneys, os Magalhães e todo o etc e tal, incluindo aí o Seu Jair e seus filhos antiquados, arrogantes e absurdos.  Infelizmente, ao invés de muitos passos à frente, demos marcha à ré; um enorme e sólido passo atrás.

domingo, 3 de novembro de 2019

Sobre as águas




O mergulho

Coração amador ama a dor
e a ela se entrega de bom grado
seu destino
bom senso adormecido
mergulhar de peito aberto em todo o sentimento
digno de seu merecimento
mesmo ciente que no final da queda
na piscina
encontrará o fundo seco



Oceano seco

Água nasce fio fino na montanha e caminha obstinada,
apressada pelo rio
Corre em direção ao mar para ser, então, imensidão.
Minhas saudades nascem no planalto
e descem a Serra do Mar se avolumando
carregando terra
carregando a mata
para desembocar num oceano sem água
elaborado por mim
para acomodar a falta de ti, Mima,
aqui


domingo, 27 de outubro de 2019

Desperta




Desperta

Ana observa o teto branco e silencioso do quarto há alguns minutos sem se mexer. Lá fora, na cidade, um dia de verão começara como sempre: apressado, abafado e sem qualquer intenção de amenizar as dores daqueles que ocupam as ruas. Um ônibus acelera pesado com a barriga cheia de gente suada cedo pela manhã, uma ambulância passa anunciando a finidade da existência humana, carros sem paciência buzinam.

A vida se move lá fora enquanto Ana permanece, imóvel, pensando no sonho daquela manhã. Ana sonhara com João. E isso, agora, lhe parecia não fazer qualquer sentido. Há anos não o via, não se falavam mais há algum tempo e, depois de tudo, Ana aceitava que seus sentimentos não faziam qualquer sentido. Eles eram uma bobagem infantil, um capricho teimoso quiçá; uma fantasia antiquada. João não fazia mais parte de sua vida e Ana sentia-se melancólica às 7:30 da manhã.

O tal sonho tinha sido tão real com seus cheiros e gostos. Ana podia ainda sentir-se dentro do abraço de João e tal fato não se acomodava à realidade. Nunca um sonho com João tinha sido tão real e em tantos anos eles foram tão parcos; dois ou três, talvez. Porém, agora, numa contradição cruel, antagônica à realidade, sempre que fecha seus olhos Ana pode ver João como não o tinha visto ainda.
   
No sonho eles eram muito mais jovens do que quando se encontraram. Ele tinha já os cabelos longos e ela ainda dançava. Estava dançando no meio do sonho; dançando apesar de não poder ouvir qualquer música. João assistia a tudo sentado no meio da multidão. E a olhava sabendo que ela era sua. Ele a observava tranquilo e Ana se sentia bem como antes. Como quando João estava com ela e o Mundo fazia mais sentido.

Final da apresentação e lá fora faz frio, mas no meio do abraço de João a existência da bailarina era morna, feliz. O rosto dele se aproxima e Ana pode ouvi-lo sussurrar palavras no seu ouvido; palavras esquecidas; perdidas pelo caminho. Ana sorri e eles se beijam como sempre. Como se naquele momento o ar fosse acabar...

Sem querer se mover, Ana observa o teto branco do quarto e ouve a vida lá fora sabendo que não há lugar para sonhos no seu dia. Fecha os olhos mais uma vez a menina.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Páginas Úmidas



Páginas Úmidas

Faço força para não chorar no vagão do metrô. Sim. Pois, chorar assim, de um repente, num vagão de transporte público em São Paulo não me parece adequado. Aperto os olhos e engulo o choro como a vida mo ensinou a fazer. Respiro fundo e tento compreender o que está a passar diante dos meus olhos. A visão embaça, as letras dançam, e não posso crer no que leio. Imani Nsambe, uma menina Moçambicana, que numa virada de página chega aos 95 anos de idade, de mim se despede com dor. A dor dela e a dor minha misturam-se porque sentimos ela e eu o mesmo aperto no peito. E, por isso, tão difícil é segurar as lágrimas que engulo e me descem atravessadas pela garganta.

Mia Couto, com seus três volumes de As Areias do Imperador e suas mais de mil páginas, me trouxe a emoção que Gabriel García Márquez trouxera com O Amor Nos Tempos do Cólera. De um repente, com uma virada de página, sem que disso eu me apercebesse, brota-me o choro como se alguma torneira tivesse sido aberta por detrás dos olhos. Queria estar em casa, penso eu com grande incômodo. E, a verdade, é que assim que chego ao meu pequeno apartamento choro o choro retido por meia hora. Queria poder abraçar Imani. Queria não saber como nos atingem as dores dos amores perdidos. Mas eu sei.

Fica na ponta da minha língua uma sentença ditada pelos dois escritores de formas e maneiras tão distintas: o amor não vivido como o deveria ser jamais morre. Pois... Tento imaginar os anos que ainda me restam a carregar o meu amor e como acomodar algo tão grande à realidade das coisas miúdas e cotidianas. Sinto tanta vontade de falar com o meu Preto e o mundo enche-se de água salgada me turvando a visão mais uma vez e como há anos. Mas não o faço; não o farei. Tudo tem começo, meio e fim - como as mais de mil páginas úmidas de Mia Couto, mesmo que cá por dentro dure para sempre. C’est la vie.

p.s. Quem nunca leu Gabriel García Márquez e/ou Mia Couto o deveriam fazer, pois ampliar os limites da alma que carregamos no peito será sempre um dos mais belos e importantes atos de toda e qualquer existência.

Por algum motivo desconhecido vem-me Cartola à cabeça. Cá está ele.


segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Músculo



Músculo


Em paz está o coração

que já não bate mais apressado.

Cansado

e realista, ele segue músculo sem poesia,

feito de sangue

carne e fibras.

Feia fotografia num livro empoeirado de anatomia

já não se lhe distinguem os compassos.

Aos covardes pertence a tranquilidade

e a longevidade dos que não se arriscam ao mergulho à beira do rio.

Covarde me deito à espera de que o tempo passe

sem atropelos

de pés e cabelos secos.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Chico... Sempre.
















Sincretismo





Sincretismo

Fico a pensar se isso de eu crer um pouco em quase toda religião não demonstra mais a minha falta de crença do que a minha verdadeira fé em que há algo para além daquilo que vemos. Catolicismo, Budismo, Umbanda, Espiritismo... gosto de tudo um pouco, sem radicalismos nem muita fidelidade.  Creio, isso é fato. Creio em Deus como uma força maior, como uma força natural que emana a bondade e creio também que nossa missão cá por Terra é a de tentarmos ser corretos uns com os outros.

Contudo, isso de crer em milagres e de que quase tudo é pecado, de crer fielmente numa igreja e nos homens que a pregam; isso eu não tenho em mim. Sendo assim, como muitos diriam, acendo uma vela para Deus e outra ao Diabo. Estou a brincar, já que não creio nisso de que o Diabo exista; e deixo a maldade restrita ao âmbito dos nossos demônios terrenos. Definitivamente não são as almas penadas que me assustam.

O fato é que para mim, muito mais do que religiões diferentes, o que temos são leituras culturais distintas acerca da mesma fé. Cristo e Buda, Nossa Senhora Aparecida e Iemanjá, Deus e a Natureza são para mim representações distintas das mesmas ideias: a fé sem preconceitos nem muitos preceitos, o culto ao amor materno que nos provê e protege vindo das águas, a energia pura que cria a vida.

Ainda bem que vivemos, por enquanto, num país onde há liberdade religiosa. Ou eu seria condenada como herege e, sendo mulher, estaria a poucos passos de uma grande fogueira. Espero que isso não mude, apesar do que andamos a ver e ouvir por aqui. Eu, enquanto isso, sigo com minha crença particular e universal, e prefiro crer mais na capacidade que temos para a bondade do que em nossos monstros internos.


São Francisco de Assis e sua oração...

Senhor, fazei-me instrumento da vossa paz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve a união
Onde houver dúvida, que eu leve a fé
Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar do que ser consolado
Compreender do que ser compreendido
Amar que ser amado
Pois, é dando que se recebe
É perdoando que se é perdoado;
E morrendo que se vive
Para a vida eterna


terça-feira, 1 de outubro de 2019

(s)Em Rotina




(s)Em Rotina

Organizado numa burocrática rotina
tens dia e hora certa para
através de uma fresta da janela
cerrada
espiar o meu dia
que ainda transcorre sem regras
ao sabor do que sente meu mareado coração
levado por vagas persistentes
Há anos lançou-se ele ao mar para não mais voltar
enquanto tu...
tu fincavas teus pés na terra para florescer árvore,
carvalho mudo
de raízes profundas agarradas às rochas
Com dia e hora marcados,
a todo o instante, hoje, agora
cada um como sabe ser, tentamos nós
sem grandes sucessos
não deixar
a mais bela fantasia
a maior de todas as mentiras
morrer


domingo, 29 de setembro de 2019

Coisas de Menina




Lua adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua…
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua…)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua…
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu…


Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Cecília Meireles

Green Light

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Só Observando, modo Panis et Circus on.





Só Observando, modo Panis et Circus on.

Logo no começo do ano disse por cá que este 2019 seria o mais triste ano de todos os tempos para mim. Bom, talvez eu tenha sido um tanto quanto prematura no julgamento pois que ainda nos faltavam mais de 9 meses pela frente; e em 9 meses muita coisa boa se faz.  Fato.  Fato é que muita coisa boa se fez, com certeza. Contudo, o volume da desgraceira não nos deu trégua e isso deprime qualquer ser vivente.  Afinal, viver num país violento e em pé de guerra, onde se busca relativizar a gravidade da morte de pessoas no meio da rua, não poderá jamais ser chamado de algo bom.

O fato é que eu ainda tento digerir o fato de que o Senhor Jair é meu presidente. Oh Céus... Oh vida... Oh azar! E, sendo assim, além das merdas costumeiras com as quais nós havíamos nos habituado, por algum tempo ainda teremos que aguentar um blá blá blá ideológico belicoso e sem sentindo de um governo de capacidade intelectual medíocre. E para mim tudo isso foi demais. Resolvi que estou de férias intelectuais do mundo, ignorando as disputas político-ideológicas do planeta e a gastar meu tempo com filmes, séries bobas e o futebol. “Panis et Circus” esse tem sido meu lema.

Ontem foi dia de bola. Oh vida... Oh céus... Oh azar! (risos, porque rir de mim mesma ainda é algo que mui me agrada) Última chance de ver meu time, o todo poderoso Timão, a colocar a mão em mais uma Taça nesse ano.  Poucas chances de nos classificarmos depois da derrota doída em casa, vero. Mas crer sempre na possibilidade da vitória faz parte de ser corintiana, e ontem torci em silêncio e focada. O oposto do meu vizinho de ovinho (ovinho é nome carinhoso do meu apartamento por sua grandeza liliputiana) que deve ter quase infartado pelo que pude ouvir do lá de cá da parede que divide as nossas salas.

O tal menino blasfema a plenos pulmões e solta sua energia toda contra paredes e móveis, creio eu, que já não me assusto com ele que parece estar a matar alguém em dias de jogo. Ele é apenas um tanto mais espalhafatoso nos momentos da bola, o que contrasta com sua gentileza cotidiana. Pois, o poder da catarse do tal Circo é mesmo algo que não se pode subestimar.

Não vencemos. Empatamos o jogo e estamos fora do campeonato. E agora, além de ser apenas uma espectadora da vida política do meu país, me resta assistir ao futebol durante o resto do ano apenas como mera observadora da graça ou da desgraça da vida dos times alheios. Ao Corinthians e a mim, nos resta a participação como meros coadjuvantes que estão mais a observar tudo que se passa. Que venha 2020; logo!



domingo, 22 de setembro de 2019

Libre





Libre (part. Ibeyi)
Emicida

Love
Libre, libre, libre
Clap
Libre, libre, libre
Twerk
Libre, libre, libre
Noiz
Libre
Aqui somos libre

Noiz, noiz, noiz, noiz, noiz, noiz, noiz
Noiz, noiz, noiz, noiz, noiz, noiz, noiz
Aqui somos libre

É o tênis foda
Uma pá de joia foda
Reluz na coisa toda
Do jeito que incomoda
Pretos em roda
É o GPS da moda
Se o gueto acorda
O resto que se foda

É o tênis foda
Uma pá de joia foda
Reluz na coisa toda
Do jeito que incomoda
Pretos em roda
É o GPS da moda
Se o gueto acorda
O resto que se foda

Love
Libre, libre, libre
Clap
Libre, libre, libre
Twerk
Libre, libre, libre
Noiz
Libre
Aqui somos libre

Noiz, noiz, noiz, noiz, noiz, noiz, noiz
Noiz, noiz, noiz, noiz, noiz, noiz, noiz
Aqui somos libre

Stay where your dream can run
Let the bum bum bum
Shine like diamond like Sun
Explode like a thunder
Like a gun

This is our own roots
So fela, so fela, so fela
This beat is contagious
Sequela Sequela Sequela
To freedon forever like
Mandela Mandela Mandela

There is no discussion
Favela, favela, favela
There is no discussion
Favela, favela, favela
There is no discussion
Favela, favela, favela
There is no discussion
Favela, favela, favela
There is no discussion
Favela, favela, favela

Noiz, noiz, noiz, noiz, noiz, noiz, noiz
Noiz, noiz, noiz, noiz, noiz, noiz, noiz
Aqui somos libre

Love
Libre, libre, libre
Clap
Libre, libre, libre
Twerk
Libre, libre, libre
Noiz
Libre
Aqui somos libre



sexta-feira, 20 de setembro de 2019

O nó




O nó


Amo

Não amo

Amo desamo

E volto a amar mais um tanto

Enfim

Amo e não amo

E sinto uma ponta de raiva quando

Percebo que esse é o fim

Amo e não amo

E sei que nessa vida tudo

Até as poéticas estórias de amor

Tem fim

Amo e desamo

E amo mais um pouco fazendo dos segundos dias

E de um dia um século sem fim

Amo e não amo

E me pergunto como posso terminar

O que não se soube começar

Amo não

Te amo