quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Meu Buda


Diz-se do amor que é cego. 
Eu digo que quiçá este veja,
seja à luz do dia ou durante a noite extrema,
aquilo para que os olhos não foram feitos.
Os olhos veem a beleza e os defeitos,
enxergam a covardia e o medo,
percebem, mesmo que não se queira,
a carne a deteriorar com o passar dos anos.
Para os olhos o fim sempre chega.
Contudo o amor...
Ah o amor de tão parvo e cego
não se dá conta de tudo aquilo que os olhos veem,
e para ele o tempo não passa.
E tu não envelheces aos meus olhos como para todos os outros
pares de olhos céticos.
Amo-te, e assim és e sempre serás perfeito
com todos os teus defeitos e
com este teu novo jeito, meu Buda:
arredondado,
sorridente
e cheio de silêncios.


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Mais uma e outra vez...Natal.

Aqueles que eu sigo pela vida,  meus pais e amigos.

Ontem, numa conversa entre amigos, afirmei categoricamente, e com todas as letras, que as coisas que se repetem em nossas vidas perdem a graça, a cor e o valor por serem, definitivamente, algo que temos como certo e garantido. Elas já fazem parte de nossas vidas e ponto final. Claro é que falamos muita bobagem quando conversamos com os amigos; principalmente à mesa de um bar. Jogamos as palavras aos ares como se elas fossem verdades sem muito pensar e, sem querer e nem perceber, dizemos coisas que, apesar de soarem verdadeiras aos nossos ouvidos naquele instante, são grandes tolices sem tamanho. Esta foi a minha bobagem de ontem: tudo que se repete em nossas vidas não tem valor.

Hoje celebraremos o Natal e eu espero poder repetir todas as coisas que amo tanto fazer. Quero estar com a família como faço desde sempre. Quero telefonar e mandar mensagens para os amigos, como faço todos os anos. Quero estar com estes amigos aqui de São Paulo nos dias que seguem ao Natal antes de voltar para casa, uma tradição que se somou à minha vida depois que eu me fui para longe. Quero rever as ruas por onde gosto de passear, ir à Praça Benedito Calixto e passear no Ibirapuera e na Paulista. Tomar muito café. Quero voltar aos restaurantes que tanto gosto. Quero ficar o maior tempo possível com meus pais, meu irmão e, agora, meu sobrinho – Nico. Quero voltar para casa para ver o ano chegar com os meus amigos e a outra parte da minha família que ganhei durante a vida.

Pois, Natal é uma época onde tudo o que se quer é refazer, rever e reviver aquilo que nos faz bem e, por isso, nos alimenta a alma. Pois somente assim, recarregados do que nos alimenta o corpo e o espírito, ganhamos forças para mais um ano que se achega cheio de novidades, de projetos e de planos que nos dão mais razões para repetirmos tudo o que amamos fazer um par de vezes antes dos 365 dias chegarem novamente ao final. As coisas não perdem o valor por tornarem-se repetitivas, nós as repetimos porque elas têm um valor inestimável para todos nós.

Por isso, desejo a todos os meus amigos e família que eles possam, que nós possamos, repetir inúmeras vezes as conversar, as risadas, os abraços, os beijos e os momentos que nos fazem sentirmo-nos tão bem. Que venham outras viagens, mais filhos e sobrinhos, os cabelos brancos e as rugas que nos mostram o tempo durante o qual estamos nos repetindo com um prazer sem igual. Repetir significa cultivar o que de mais caro nos reserva a vida, é cuidar para que os que amamos estejam sempre por perto, mesmo quando há muitos quilômetros entre nós.

Feliz Natal e que ainda venham muitos mais.

Beijos e beijos...

sábado, 21 de dezembro de 2013

Harley



Coisas de menina, e aqui de menino também. Ver além da superfície, algo difícil de aprender.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Em órbita



Ando, caminho com passos seguros
e a criar sulcos profundos na terra.
Estou em órbita.
Cavalo de carrossel a reinventar-se e repetir-se
completamente consciente de sua poética prisão a céu aberto.
Mariposa prosa presa pela luz que a cega,
e que a faz acreditar em seu frio Sol particular
e na salvação das almas perdidas
partidas
                    e iludidas

em órbita.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

muda




Muda.
Não mudo, mas estou muda
Calada da boca para fora enquanto estapeiam-se as palavras dentro de mim
Muda
Não mudo, mudam-se na alma as estações com o decorrer dos dias
O tempo passa, é dezembro (ou julho) e o inverno aconchega-se aqui
Muda.
Não mudo, apenas parecerei outra, mudada, um ser completamente renovado...
Bobagem!
Porque apesar de poético, é falso o renascer
Que constitui-se de casca fina, frágil
Pois que as penas, a pele e os ossos queimados não renascerão
Muda.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Se

Se o tempo fosse tão relativo que nele
nós pudéssemos voltar
eu nele voltaria apenas para fazer tudo de novo,
e mais uma vez.
Mas, desta vez, com mais intensidade como se, além do tempo,
eu pudesse controlar a força da natureza que em minha natureza há.
E gritaria mais forte do que gritei,
e desistiria de desistir mais uma e outra vez, ad aeternum,
feito criança mimada, mula empacada, para não deixar o amor desta vida me escapar;

entre

 os

dedos.

E não daria tempo ao tempo
para que o tempo não passasse mais rápido que a minha possibilidade,
que a minha capacidade, de estar no lugar certo no tempo em que lá eu deveria estar.
Se...
Se eu não acreditasse no meu desejo,
não haveria necessidade do tempo voltar.


domingo, 8 de dezembro de 2013

Verdade Uma Ilusão


Verdade, Uma Ilusão
Marisa Monte

Eu posso te fazer feliz
Feliz me sentir também
Eu posso te fazer tão bem
Eu sei isso eu faço bem
Roubar-te um beijo no salão
Girar sem perder o chão
Não vou deixar você cair
Cintura leve a minha mão
Verdade - uma ilusão
Vinda do coração
Verdade - seu nome é mentira
Eu posso te fazer ouvir
Milhões de sinos ao redor
Eu posso te fazer canções
O amor soa em minha voz
Eu posso te fazer sorrir
Meus olhos brilham para ti
E os pés já sabem aonde ir
Ninguém precisa decidir
Verdade - uma ilusão
Vinda do coração
Verdade - seu nome é mentira

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Nelson Mandela 1918 - 2013



Foram quase 100 anos, e mesmo assim parece que foi pouco tempo para mim. Hoje um dos heróis da minha infância e adolescência, um homem que aprendi a admirar para sempre por seu caráter, deixou-me; deixou-nos. A morte de um herói tão humano quanto ele deixa-nos, a todos nós, órfãos. E, mesmo do outro lado do oceano, parece-me que o Mundo ficou muito mais vazio e sem cor. Contudo, sei que ele é um homem inesquecível, pois, apesar de ter partido hoje, conosco ficam seus ideais e seus exemplos. Então, jamais diremos adeus ao Senhor Mandela, mas apenas: Até Madiba.




quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Verdade


A verdade, a respeito das verdades que carregamos pela vida,
É que na verdade a verdade não é dita.
E eu, assim como qualquer outro, na hora da verdade recuei,
Omiti, não disse aquilo que deveria dizer.
Disse meias verdades e as ouvi também,
Disse meias palavras e recebi as tuas palavras medidas e calculadas fingindo não perceber
Que ali havia apenas palavras que nada queriam dizer.
O que queríamos dizer não foi dito,
O que deveríamos dizer não foi dito,
O que precisávamos dizer não foi dito.
Pois, apesar de toda conversa, a verdade é que nos calamos para a verdade,
E por zelo ou por medo falamos sem nada ser dito.
Aquele foi um momento estranho. Lembro-me a dizê-lo:
Isso é muito estranho.
Mas a verdade é que verdadeiramente estranho é não termos dito a verdade
Na única oportunidade que tivemos nesta vida.
Ficaram mudas as palavras... Porque a verdade,
A respeito das verdades mais profundas desta vida,
É que a verdade nunca será dita.


domingo, 1 de dezembro de 2013

As primeiras estórias de Pedro

Pedro, no dia da sua graduação, e Lucas.


Nesta semana meu Pedro graduou-se. Assim dito, parece algo feito por um homem, eu sei. Soa como um passo que definirá uma vida inteira, e já imaginamos um rapaz, alguém quase feito homem, a abandonar a escola para mergulhar na vida como ela será daquele instante para frente. Mas não é nada disso, ainda bem. Pedro, agora, já sabe ler e escrever. Melhor dizendo: Pedro está aprendendo a ler e, com o final da alfabetização, concluiu com êxito o primeiro e mais importante passo no mundo das palavras, textos e letras.
 
Com seus seis anos, o meu afilhado graduou-se em algo que parece muito menos importante do que qualquer universidade aos olhos alheios. Entretanto, visto de perto, por aqueles que com ele compartem a vida, percebe-se a maravilha deste momento único. Um homem pode graduar-se dezenas de vezes em dezenas de universidades por este Mundo, já um menino deixar para trás sua primeira infância e ser capaz de ler pela primeira vez... Bem, isso acontece apenas uma vez. Há um ano Pedro desenhava seu nome, alguns nomes, o meu nome também. Hoje, Pedro lê e começa a escrever as ideias que lhe passam pela mente. E isso é muito mais bonito do que qualquer diploma que se possa dependurar na parede, não?

Ainda lembro-me de quando Lucas começou a ler e da felicidade que eu sentia quando ele seguia a ler todas as placas que conseguia, sentado no banco de trás do meu carro, enquanto eu dirigia. Lembro-me que fomos a uma livraria e que ele escolheu um livro sobre dinossauros para ler. Sete anos separam meus dois meninos leitores; e eu mudei muito neste tempo todo. Lucas mudou tremendamente, também, e é hoje um rapaz que não se podia adivinhar no menino de seis anos de idade de então. Pedro deixou de ser o bebê que eu carregava e cujas fraldas eu amava trocar e hoje já não cabe no meu colo e lê. Apesar de eu não gostar nada de envelhecer, agradeço ao tempo por ter me dado o presente de ver a vida dos meus pequenos a se fazer.

Claro que há muitos outros acontecimentos importantes já ocorridos na vida dos meus meninos, de todos eles. E, é claro também que há milhares d’outros momentos tão ou muito mais importantes que estão por acontecer. Contudo, para mim, que amo as palavras profundamente e que sempre amei aprender, vê-los ganhar a possibilidade de descobrir o mundo e tudo que nele já aconteceu, sozinhos e por seus próprios caminhos, é encantador.

Sei que eles talvez não gostem tanto da escola como eu, pois que gostar de escola anda algo muito démodé.  Pedro gosta muito dos livros, mas, é óbvio que ele prefere os games, a bola e os carrinhos do que aprender, eu sei bem. Lucas está de castigo ainda às voltas com os livros porque “ficou de recuperação” na escola; não puxou à tia neste quesito, fazer o quê? Talvez isso de escola seja coisa para meninas, talvez.

Porém, isso pouco importa no final das contas. Porque a beleza da vida reside no fato dela não ser perfeita e, por isso mesmo, tão maravilhosa. Os nossos meninos aprendem muito conosco e nós... Bem, nós aprendemos com eles a ser gente grande a vê-los crescer; e isso é o que importa.

Nós, seis anos atrás.

01.12.13