quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Desejos




Desejos

 

Quase findo o ano, ano pranto tamanho

por tantos de olhos fechados.

Para o próximo ano deixo registrada a minha lista de desejos;

infinitos e infinitivos.

Andar de cara lavada e liberta pelas ruas

é um deles.

Depois quero

estar no meio de muita gente,

sentar no parque e  receber o entardecer a ouvir Bach

(Suite para Cello  Nº 1 com Yo Yo Ma).

Sonhar.

Passar a madrugada com os amigos no bar...

cerveja gelada, conversa fiada, risadas.

Abraçar.

Por fim quero

saber que depois de tanta dor não haverá mais o que temer.

Dançar.

Desejo que as cicatrizes deixadas na pele

sejam eternas

marcas a mostrar que nos tornamos mais fortes;

pessoas melhores.

Quero renascer feito lagarta,

abrir as asas e, borboleta

voar.






domingo, 13 de dezembro de 2020

É tudo pra ontem


Viver é partir, voltar e repartir...

Ano difícil que deixou a gente mais triste e mais sozinho. Calados cada qual no seu cantinho.
Saudades de sair por aí sem máscara no rosto,
de abraçar aos amigos e aos amados forte; com gosto.
Saudades de ser livre e de ver e ouvir tudo que o mundo tem para nós,
para mim.
Porque o mundo através das telas não é o mundo que eu conheço,
Mundo frio que não tem gosto
e não tem cheiro.
O mundo  de verdade tem que ser vivido ao vivo e em close, 
a menos de um centímetro
de mim.

Que 2021 nos traga a liberdade!



domingo, 6 de dezembro de 2020

Juca


 

Juca

O urubu que tem medo de altura.

 

Primeira parte

 

 

Juca nasceu como todo pequeno urubu. Lindinho, de acordo com o que a mamãe dele dizia para todo mundo. E dividindo seu ninho, no alto de um edifício de 25 andares, com mais dois irmãos; Joaquim e Gabriela.

A família estava muito alegre com o nascimento dos trigêmeos e papai e mamãe urubu trabalhavam muito para cuidar bem dos três filhotinhos. Joaquim era grande e esfomeado, comia mais do que o papai! Gabriela era muito esperta, sempre a primeira a perceber que papai e mamãe estavam retornando ao ninho. Juca... bom, o Juca era falante e o menor dos três. Foi o último a sair do ovo, desconfiado e cheio de dúvidas.

Juca achava o seu ovo tão confortável e quentinho que não queria sair dele não. Por que ele tinha que sair?

Eu tinha mesmo que nascer? Pensava o Juca estranhando um pouco a confusão do seu ninho.



Segunda parte

 


Juca cresceu rapidamente como cresce todo pássaro e um pouco mais de três meses depois o momento de deixar o ninho chegou.

Ele não via a hora de sair do ninho. Corajoso, Juca queria conhecer a cidade de São Paulo e todas as suas ruas e avenidas sozinho. Juca queria fazer amigos, queria aventurar-se pelos céus, queria levar uma vida de urubu diferente.

Seus irmão e pais eram aves fortes e inteligentes, e isso era muito bom. Porém, Juca gostava era de conversar. Coisa que não era natural para sua espécie. Os urubus não são bons de papo, contou-lhe o pombo Arthur. O único amigo de Juca até o momento.

Realmente, a família do Juca era um tanto calada. Falavam apenas o necessário e, por isso, Juca deixou seu ninho assim que suas penas cresceram um pouco mais. Ele queria ver se havia alguém por ali, no seu telhado, com quem pudesse trocar umas palavrinhas.

Foi assim que Juca conheceu o pombo Arthur que gostava de descansar sentado sobre o parapeito do lado oeste do edifício onde ficava a casa da família de urubus. Arthur, que voava pela cidade inteira e era tagarela, contara tudo que sabia sobre a gigante cidade para o pequeno urubu curioso.

Então, naquela manhã, na qual toda a família urubu deixou seu ninho no canto leste do telhado para os primeiros ensaios aéreos dos filhotes, todos bateram suas asas com alegria. E Juca estava certo de que aquilo seria muito bom. Enfim ele seria livre para ver o mundo!

Toda a família postou-se no parapeito do prédio e com um salto e batendo as asas deixou sua antiga casa. Papai e mamãe foram primeiro para mostrar como se fazia. Logo decolaram Joaquim e Gabriela a imitar seus pais.

Feliz, Juca abriu suas asas. Olhou para as ruas lá embaixo... Meu Deus! Lá embaixo era longe demais. Coisa que Juca, que nunca havia subido no parapeito, não sabia.

O mundo começou a girar diante dos olhos do pobre Juca. E ele achou que morreria tamanho era o medo que congelara as asas do pequeno urubu. As vistas escureceram e Juca conseguiu apenas dar um passo atrás e descer do parapeito antes de desmaiar.


Pour une poignée de Caramels