segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Os repentes



Os repentes


De um repente o Mundo gira, pião eletrônico enlouquecido,

e muda profundamente a vida.

O inesperado acontece despretensioso e frugal,

o tempo todo.

Apenas nós, crentes em nossas eternidades finitas,

não queremos crer que assim seja. Assim é.

A vida muda ao dobrarmos uma esquina qualquer por falha humana

ou ironia divina;

sem razões evidentes para o nosso raciocinar limitado

que se agarra aos fatos que os olhos veem

e naquilo que acreditamos saber.

Enlouquecemos sem as nossas reles razões tão caras;

meninas dos olhos alimentadas pelas ilusões da grandeza humana.

Tolos somos;

somos pouco,

não somos nada diante do Baobá que da altura das nuvens nos olha ínfimos.

Entretanto, com toda a razão que pode haver,

enlouquecemos

quando um repente vem, sorrateiro,

e leva para longe um amor verdadeiro. Sem morrer, então, amiúde morremos

de um repente.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Atemporal





Atemporal

Já quis prender o tempo entre os dedos para ele passar bem devagar, já quis que ele avançasse mais veloz que a luz para que o futuro chegasse. Há dois anos desejo que ele volte um pouco, uns quatro anos pelo menos, para eu poder reviver meses e dias que me dão muita saudade. Queria poder ter feito as coisas de maneira melhor. Queria que a vida fosse como eu imagino que ela devesse ser, e ser um ser “super”, cheio de poderes, para poder mandar no tempo. Apenas gosto que as coisas sejam como eu quero que elas sejam. É pedir demais? (Risos...)

Sim, sou um tanto ansiosa e um bocado mandona; sei bem. Minha mãe dizia que eu sou ranzinza. E sim 2, tenho o meu bocado de mau humor a correr pelas veias. Bem, o tempo não volta e, apesar de todos os erros, tentei verdadeiramente fazer sempre o melhor com o tempo que tive. Se não o fiz foi porque não sabia como fazê-lo então por falta de conhecimento, de amadurecimento, de um tanto de coragem vez ou outra. Errei. Todos nós erramos e não há o que fazer. Pois... Deveríamos ter um tempo para os ensaios na vida também, não? Seria bom; seria muito bom.

Bom, amanhã minha mãe faria 76 anos se ainda estivesse por aqui. Para mim ela faz 76 anos amanhã; e hoje, como há um ano, sentei-me para escrever porque me lembrei dela. Porque me lembrei dela com mais saudades do que as costumeiras. Pois2... Já vivi o bastante para carregar comigo, de braço dado, um par de saudades cheias de dengos de gentes que, por um ou outro motivo, não estão perto de mim.  Fico assim-assim, um tanto melancólica, nestes dias de saudades porque a falta de quem se ama dói num lugar mais profundo n’alma. Dias difíceis de pieguices memoráveis e escritas chorosas. Haja doce e vinho para aguentar tal jornada!

Bem, como o tempo não volta a trás já que ele é bicho, milhares de vezes, mais teimoso do que eu. Resta-me desejar a minha mãe um feliz Aniversário à distância e sem a certeza de que a mensagem chegará até ela. Feito cartas sem endereço certo; cartas em tempo de guerra. Mima, queria que você estivesse aqui para os beijos e abraços de aniversário de carne e osso. Como não está, mando-os via pensamento. Esteja certa de que te amo demais da conta e para sempre, porque para o meu amor o tempo é inexistente.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O DesImportante


O DesImportante


Um dia serei apenas parca memória para os meus,

no momento seguinte menos que isso.

O tempo e o mundo continuarão rotineiros e eternos

sem por qualquer instante aperceberem-se da falta minha.

Falta alguma

Falta ínfima

Falta nenhuma

Medida exata da importância dos homens sobre a Terra

é a medida das formigas;

nunca chorei morte de formiga.

Nem mesmo as que morreram de morte matada

pela minha mão assassina.

Um dia deixarei de ser, tranquilamente, diante de uma janela

a observar durante o meu último dia

todas as lembranças de uma vida inteira num

desfile de carnaval das minhas memórias perdidas.

E nesse dia sentirei mais uma última vez as saudades de tudo

que para mim foi mistério.

Saudades dos amores perdidos,

dos meninos ainda não crescidos,

do olhar da minha mãe a me ver a mim,

de ti.

domingo, 12 de novembro de 2017

A não-defesa de William Waack



A não-defesa de William Waack


William Waack, um jornalista com profundos conhecimentos sociológicos e econômicos, é um inteligente homem de 65 anos com décadas de experiência na profissão. Podemos concordar ou não com seus pontos de vista político-econômicos, contudo, não há como negar que ele é um profundo conhecedor dos assuntos pelo qual versa e, via de regra, uma opinião a ser ouvida. Eu gosto de ouvir suas análises políticas e econômicas sobre nosso país, América Latina, Rússia, sobre os EUA e outros; mesmo que nem sempre concorde com o que ele diz.

Bem, gostava de ouvi-lo até seu afastamento da TV. O Sr. Waack foi afastado por ter feito, sem saber que estava sendo gravado, um comentário de intenção jocosa, verdadeiramente de mau gosto, e um tanto racista. Pois, ele cometeu um erro. Vale deixar claro aqui, antes de continuar, que não haverá nem um ataque ao dito jornalista, nem tão pouco uma eloquente defesa de sua figura. Mas sim e apenas uma reflexão sobre o fato em si, sem paixões e ou radicalismos.

Parêntesis: (Não gosto do radicalismo assumido pelo pensamento brasileiro, seja ele de esquerda e ou de direita; como, aliás, não acredito mais haver algo que possamos chamar de esquerda e ou direita na política. Para mim há interesses econômico-financeiros e a busca do poder e ponto.).

Bom, sendo mulher, desde sempre eu soube que vivia num mundo que não era completamente meu. O mundo, não obstante todas as mudanças e conquistas das ditas minorias, ainda pertence aos homens heterossexuais, brancos e com dinheiro. Uma parte cada vez menor da população mundial é a nossa dita maioria, não? Ou seja, estamos caminhando para uma sociedade muito distinta daquela que hoje temos, não há dúvidas, mas ainda há muito que andar. E sim, ainda temos que fincar o pé em alguns momentos e lutar por uma realidade mais igualitária para todos nós. Porém, a polarização de opiniões e as ações radicais são mais nocivas do que qualquer outra coisa.

Eu, particularmente, fiquei decepcionada com a tal “piadinha” preconceituosa do Sr. Waack porque não espero algo assim de pessoas inteligentes; pelo menos não das verdadeiramente inteligentes. Contudo, apesar de saber que ele está errado e que não devemos diminuir em demasia a importância do ato, também sei que comentários do gênero sobre mulheres, gays, pobres, velhos, negros, sobre os filhinhos de papai, os gordos, sobre as pessoas feias, ou seja, sobre todo e qualquer tipo de pessoa podem ser ditos por todos nós. Somos, todos nós, seres cheios de defeitos, e esperar a perfeição de qualquer um será sempre um erro.


Portanto, apesar de não gostar do que ouvi de William Waack e de compreender que como uma figura pública seus atos reverberam de forma mais ampla, também não acho correto crucificá-lo. Compreendo porque a empresa resolveu afastá-lo durante um tempo já que em tudo isso há a necessidade da manutenção de uma face politicamente correta da empresa. Mesmo que a realidade não seja bem assim, afinal, negócios são negócios. No entanto, isso está muito distante da caça às bruxas que alguns fomentam. Se não achamos correto que haja as KKKs a acender suas tochas por aí, e não o é obviamente, não devemos nós acender as nossas também. Devemos?

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Um Chico novo, O novo Chico



O Novo Chico

Como se um, o Chico único como ele só, não bastasse, 

ganhamos um Chico novinho. O novo Chico! 

Não mais o Buarque de Holanda, mas o Brown baiano como o pai. 

O seu Carlos deve de estar para lá do orgulho paterno,

pois que ser pai de um novo Chico é honra grande demais da conta. 

E o menino, como parece corriqueiro na família, 

(qualidade impressa no dna), 

nasceu com a música dentro de si.

Ela corre feito louca em seu sangue mestiço e por isso mesmo tão rico:

talento de Buarque somado ao talento de Brown;

tudo junto e misturado como tudo e como todos

no meu país.

Eu e o meu conhecimento formal nenhum de música e

que nada canto.

Cresci encantada, e ainda me encanto, com as canções do Chico avô.

Hoje, ao ouvir o menino, já prevejo que de modo particular,

com seu jeito de ser,

também o Chico menino encantar-me-a.









domingo, 5 de novembro de 2017

Destino


Destino

cheios de coragem partimos rumo ao desconhecido
singrando os mares sem saber com exatidão
onde aportar
de olhos e pés na Lua
a flutuar e sem saber se poderíamos à Terra
voltar
partimos grandiosos
desejo mais que humano de descobrir aquilo que está pare além dos olhos
e no mais profundo d’alma
saímos
deixando para trás tudo aquilo que um dia foi-nos caro
raro
partimos pequenos
vamos, beduínos, a vagar dentro de nós mesmos
na pueril tentativa de descobrir para qual fim
serve a tal da nossa vida
a sua
a minha
para pouco
ou muito, para tudo
para o nosso único ato divino: damos vida a outras vidas
e, sem necessitar de explicações,
tudo faz sentido