quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

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Bem, não ganhamos a Copa do Mundo mais uma vez. Uma pena? Bem 2, para mim que sou brasileira: sim. Contudo, e se levar em consideração o fato de que os melhores times devem, por justiça, apesar de o futebol não ser o mais justo de todos os esportes, chegar à final, não. Não foi uma pena não ter visto o Brasil na final já que não fomos tão competentes, criativos e capazes quanto franceses e argentinos. Não senhor. Apesar dos vários talentos, faltou-nos sermos um time valente e perigoso.

Contudo, e apesar da derrota no chocho jogo contra a Croácia, gostei muito dessa Copa por outros vários motivos que me agradaram deveras.

1.       Assisti a todos os jogos do Brasil com meu pai, além de vários outros jogos da Copa. Algo íntimo e que não acontecera até então. Apenas nós, os dois, uma cerveja e os olhos colados na tela. Críticas várias dele sobre o nosso desempenho, (creio não ser nada fácil achar graça em qualquer time depois de 70), eu nem sempre a concordar com ele (para variar ;D)... Pai e filha que sempre assistiram à bola juntos desde sempre... Foi muito bom termos essa uma Copa juntos. Essa foi a nossa Copa.

2.       Torci muito pelo Marrocos e aplaudi sua chegada à semifinal. Foi muito bom! Nada contra os países europeus e todo a sua competência futebolística a ganhar muitos títulos. Entretanto, já me incomodava profundamente ver tantos talentos de origem africana sem quase nenhum reconhecimento da força deste continente no futebol. Hoje fico a imaginar uma África rica e bem estruturada a mostrar todo o seu potencial nos campos. Nas ciências, na música, nas artes, nos esportes em geral... Imagine só como o nosso Mundo seria mais rico, interessante, diverso e bonito?!

3.       Lionel Messi é CAMPEÃO DO MUNDO!!! Meu ídolo, o gênio que vi em campo a jogar como ninguém. O único que eu chego timidamente a comparar com o Rei merecia a maior das honrarias do futebol. Torci para ele, solitária, em 2014. Torci para ele na última Copa América, que nada significaria para nós em 2021, solitariamente mais uma vez. E nada me importa isso de dizer que os argentinos são nossos arqui-inimigos na bola. Danam-se as regras dos outros. Torci para a Argentina em todos os jogos da Copa, e para mim, apesar de toda a rivalidade, foi muito bom ver a Argentina (e todo seu talento) campeã mais uma vez. Apenas sinto pena de não ter podido ver o maior Brasil e Argentina de todos os tempos na semifinal. Teria sido épico! Fora isso, nada de arrependimentos. Dessa vez, com meus sobrinhos, torcemos e sofremos por Messi, Di María e todo o plantel platino como nunca. Com Vitória a meu lado torcendo pelo meu ídolo como se ela realmente soubesse quem ele é. Paixão sendo germinada no coração dela por mim.

Ainda haverá muitas Copas para nós duas e o futuro futebolístico da família está sendo construído. Football mode loading...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Montanhas de Algodão

 


Montanhas de Algodão

 

Ana dirigi seu carro numa noite chuvosa e gelada sem prestar muita atenção ao que faz. O frio espantara a lua e as estrelas de um céu escuro e mais solitário; ruas vazias. Uma luz vermelha para o mundo, e os olhos se põem no céu enquanto no rádio do carro Eddie Vedder canta Nothing is as it seems.

No céu as nuvens ganham a forma de uma cordilheira etérea, o céu e o chão confundem-se na escuridão e para olhos distraídos agigantam-se montanhas acinzentadas de algodão. Nada é, realmente, o que parece. E tantas vezes a ilusão é tão mais bela do que a realidade. Pensou a mulher encantada por nuvens e montanhas.

Pois, sem querermos fugir da realidade, já que ela é tudo o que temos, não há como negar que existe uma parte de nós que quiçá nunca tenha deixado de ser infantil e sonhadora. Uma parte crente no mundo invisível que habita toda a gente que cultiva a beleza da inocência de olhos pueris.

Por que nos escondemos tanto do mundo, questiona-se Ana, ao mesmo tempo que ela se lembra o quão belo foi o jovem Vedder. Sorri a menina que nela habita. Sempre lhe foi engraçado como todas as vezes que ouvia o nome de Eddie Vedder, ela se lembrava de Darth Vader. Não, realmente não há nenhuma relação para além de umas poucas letras de um sobrenome. Como não amar Lord Vader? Questiona-se ela. Yeah, nothing is as it seems. And that’s what we call a train of thoughts.

Chaos in my mind while the world seems to sleep. Refletiu Ana. Refleti eu. Qual o tamanho da minha casa habitada por Ana? O quanto ela é real? Ana sou eu? Sim, em parte. Não na realidade.

A cordilheira de nuvens se move diante dos olhos pensadores. O sinal de trânsito torna-se verde e o mundo põe-se em movimento. Nada mais de cadeia de pensamentos. Nada mais de sentimentos a inundar a mente.

Ana, acelera o carro e freia os pensamentos.



quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Por enquanto

 


GORDA realidade

 


GORDA realidade

 

A gorda realidade sentou-se, pesada, à mesa há tempos

enquanto nós, os dois, a observamos

imóveis.

Imensa, a engolir tudo que orbita ao seu redor;

ela come.

Faminta, a realidade sem qualquer realeza,

amplia suas fronteiras pouco a pouco

sem trégua,

e em sua parca grandeza dos avarentos nos devora

aos bocados pequenos.

Nós, feitos de ideias,

de sonhos

de desejos e fantasias sem fronteiras

somos tênues como as pequenas borboletas amarelas...

quase não existimos

nada podemos.

E assim, em silêncio, apenas observamos os grandes dentes vermelhos

sem medo nem desespero.

Entregues,

nos deixamos ir

enquanto a realidade nos engole.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

O astro Rei e a nossa alegria

 


O astro Rei e a nossa alegria

 

Nasci sob o reinado de Pelé em sua grandeza suprema alguns meses depois da conquista do tricampeonato em 1970.  Edson já havia deixado de ser um ser humano comum quando vim a este mundo e passara, consagrado, a ser considerado Rei não apenas por seus súditos, mas por todo o Mundo. Pelé é único e incomparável. Pelé é lenda viva, ser mitológico de carne e osso que respira. Pelé é o Deus negro do Futebol.

É bem verdade que depois dele, e antes dele, surgiram seres com super poderes sobre os gramados. Didi, Garrincha, Jairzinho, Eusébio, Maradona, os nossos Ronaldos: Nazário e Gaúcho, Messi, Cristiano, Mbappé... e tantos outros. Alguns excelentes atletas, outros seres geniais. Verdade. Entretanto, e mesmo assim, não haverá jamais alguém que se iguale a Pelé. Pelé é Pelé e ponto final. E nem mesmo o Sr. Edson Arantes do Nascimento será, ao mito criado por ele próprio, igualável.

Pelé, ao contrário de Edson Arantes do Nascimento e de todos os outros mortais, será eterno e perfeito sempre. Um ser vindo ao mundo para bailar com a bola em campo como se as regras da física fossem revogadas para que os dois se encontrassem em estase. A bola de futebol enamorada por ele deixou-se conduzir com prazer, ele apaixonado por ela a conduziu com a graça e elegância de ninguém mais. Os dois dançaram juntos por muito tempo; por uma vida inteira.

Imaginar que o Senhor Edson está no final de sua vida me assombra por tudo isso. Porque com ele, mesmo que não totalmente, também partirá Pelé. Eu como sua súdita fiel percebo agora o quão difícil será para mim encarar esta perda no futuro. Meu mundo nunca existiu sem o meu Deus do futebol, e ter que aprender a estar sem ele me machuca pois eu sei que seríamos um povo diferente se Pelé não existisse.

Não quero perder Pelé porque somos em grande parte o resultado de seus feitos e suas conquistas. O mundo nos reconhece em Pelé, nossa bandeira através das mais distintas e longínquas terras é a camisa 10 por ele vestida. Nossa graça, nossa ginga, nosso orgulho de sermos um povo mestiço e talentoso começou ali, em 1970, quando Pelé mostrou ao mundo que éramos capazes de tudo. Éramos em 1970 e ainda somos todos nós, brasileiros, uma parte de Pelé.

Pelé sambou pelos campos e com eles fomos, e somos, felizes e plenos com alegria. Vida longa ao Rei!