quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Montanhas de Algodão

 


Montanhas de Algodão

 

Ana dirigi seu carro numa noite chuvosa e gelada sem prestar muita atenção ao que faz. O frio espantara a lua e as estrelas de um céu escuro e mais solitário; ruas vazias. Uma luz vermelha para o mundo, e os olhos se põem no céu enquanto no rádio do carro Eddie Vedder canta Nothing is as it seems.

No céu as nuvens ganham a forma de uma cordilheira etérea, o céu e o chão confundem-se na escuridão e para olhos distraídos agigantam-se montanhas acinzentadas de algodão. Nada é, realmente, o que parece. E tantas vezes a ilusão é tão mais bela do que a realidade. Pensou a mulher encantada por nuvens e montanhas.

Pois, sem querermos fugir da realidade, já que ela é tudo o que temos, não há como negar que existe uma parte de nós que quiçá nunca tenha deixado de ser infantil e sonhadora. Uma parte crente no mundo invisível que habita toda a gente que cultiva a beleza da inocência de olhos pueris.

Por que nos escondemos tanto do mundo, questiona-se Ana, ao mesmo tempo que ela se lembra o quão belo foi o jovem Vedder. Sorri a menina que nela habita. Sempre lhe foi engraçado como todas as vezes que ouvia o nome de Eddie Vedder, ela se lembrava de Darth Vader. Não, realmente não há nenhuma relação para além de umas poucas letras de um sobrenome. Como não amar Lord Vader? Questiona-se ela. Yeah, nothing is as it seems. And that’s what we call a train of thoughts.

Chaos in my mind while the world seems to sleep. Refletiu Ana. Refleti eu. Qual o tamanho da minha casa habitada por Ana? O quanto ela é real? Ana sou eu? Sim, em parte. Não na realidade.

A cordilheira de nuvens se move diante dos olhos pensadores. O sinal de trânsito torna-se verde e o mundo põe-se em movimento. Nada mais de cadeia de pensamentos. Nada mais de sentimentos a inundar a mente.

Ana, acelera o carro e freia os pensamentos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário