terça-feira, 22 de abril de 2014

sábado, 19 de abril de 2014

GABO


Há alguns meses, Gigi entrou no meu quarto e pegou-me chorando. Eu estava nas últimas páginas de El Amor en los Tiempos del Cólera, e ela achou estranho isso de alguém chorar porque está a ler um livro. É bem verdade que sou chorona, eu sei. Mas o final daquele livro, em suas últimas linhas emocionou-me de forma única, pois, de repente, todos os sentimentos de Florentino Ariza represados durante as dezenas de anos pelos quais esperou Fermina Daza, o amor de sua vida, eram meus também. Gabo era genial!

Tanto o personagem, Florentino, quanto nós (os leitores) sofremos em silêncio e entregues aos nossos destinos durante todo o livro e, mesmo assim persistimos, seguimos. Seguimos resignados e ainda crentes por muitas e muitas linhas inconformados com a dureza da realidade quando, de chofre, o livro revela-se e nos captura. Só então, nas últimas páginas do livro compreendemos a dimensão verdadeira daquela estória e nos apaixonamos por ela para todo o sempre; como Fermina por Florentino. E dá-nos uma vontade insana de começar tudo de novo, outra e outra vez, pois, sentimos saudades das palavras, das linhas e das letras que ali estão contidas.

"El capitán miró a Fermina Daza y vió en sus pestañas los primeros destellos de una escarcha invernal. Luego miró a Florentino Ariza, su dominio invencible, su amor impávido, y lo asustó la sospecha tardía de que es la vida, más que la muerte, la que no tiene límites. ¿Y hasta cuándo cree usted que podemos seguir en este ir y venir del carajo? le preguntó.

Florentino Ariza tenía la respuesta preparada desde hacía cincuenta y tres años, siete meses y once días con sus noches.

Toda la vida – dijo."

Hoje, pensando bem, não sei dizer o porquê de ter demorado tanto tempo assim para ler este livro já que é o sétimo ou oitavo Gabo que cai em minhas mãos. Sim, gosto de ler Gabriel García Márquez porque adoro a língua espanhola e porque, a meu ver, ele é um dos melhores contadores de estórias que eu já li. Suas linhas fluem como flui uma conversa sem fim. Uma vez começado um de seus livros, mesmo aqueles nos quais sentimos certo incomodo com o tema ou com os personagens, mesmo assim, não há como deixá-lo antes do fim. Há em suas estórias e seus relatos, mesmo os mais realistas como Aventura de Miguel Littin Clandestino en Chile, a beleza da possibilidade do fantástico, do sublime, daquilo que existe para além da vida cotidiana e mundana, mas que, ainda assim, é parte desta. Gabo faz possível a fantasia e nos torna crentes nelas. Gabo é genial.


Agora, pensando nos porquês de ter lido El Amor en los Tiempos del Cólera depois de tanto tempo, vejo que encontrei-me com este livro no tempo correto de mina vida. Há coisas que apenas o tempo permite-nos ver, perceber e sentir, e esta é a maior lição que este autor colombiano nos deixou. Como ele bem disse: “Es la vida, más que la muerte, la que no tiene límites.” Vou sentir muitas saudades de Gabo e esperar, pela eternidade, para ouvi-lo, uma vez mais, a contar-nos uma de suas estórias. Gabo sempre será genial!


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Samba à Italiana


Por mais que não queiramos, não conseguimos evitar e somos repetitiva e humanamente previsíveis em tudo que fazemos. Vira e mexe perguntam-me se prefiro São Paulo à Fortaleza, tal como minhas tias quando eu era menina me questionavam sobre quem eu mais amava nesta vida, minha mãe ou meu pai. E vamos e venhamos; isso é lá pergunta que se faça? Ô coisa besta, não?

 E, apesar de sempre tentar ser o mais politicamente correta que sei ser, (o que não é muita coisa, sei disso), parece-me mais do que óbvio que não há como comparar as duas cidades mesmo para quem não tem nenhuma ligação afetiva com elas, pois são muito distintas e fazer um julgamento de qualidade será sempre algo subjetivo.

Contudo, não há como negar: sou paulista e paulistana e amo, mais do que qualquer cidade neste mundo, aquela que me viu crescer. É claro que gosto muito mais de São Paulo do que de Fortaleza, e isso não se discute. Contudo, também não se discute que tenho fortes razões para viver em Fortaleza e que minha morada não tem previsões de mudança por enquanto. C’est la vie!

Porém, tal gostar escancarado e descarado não tem relação alguma com o fato de uma cidade ser melhor do que a outra, não mesmo. A verdade é que em nós há muito do tudo que vivemos e o lugar onde crescemos estará sempre no cerne daquilo que nos constitui. Eu, por este princípio, sou muito do que é São Paulo.

Durante estes dias aqui, em Sampa, perto da família e dos amigos que trago comigo por dezenas de anos, ouvindo sambas de Adoniram Barbosa, percebo tão claramente esta minha essência e sinto-me em casa. Sei quem sou e o que sou. Sei que sou o samba à italiana com sotaque paulistano, que trago comigo a garoa e os dias cinzentos na alma; e que a introspecção típica de quem é desta terra me constitui. Sou a falta de classe e alinhamento típica das nossas ruas, o pastel de feira que é sempre feito por um japonês e as conversas sem fim sobre política e futebol nos bares e padarias; as padarias que sempre pertencem aos portugueses. Sou as cantinas dos italianos, os festivais de jazz e blues, o rock pesado, o hip-hop social e as muambas dos libaneses e coreanos; sou o trânsito sem fim e sem solução desta capital.


Ser paulistano é ser brasileiro e ter suas origens em outros países numa mescla típica dos aqui nascidos, somos sempre uma mistura de pedaços de gentes que vieram para cá em busca de algo melhor e que deram origem a este povo que tem uma identidade universal. Qualquer um é paulistano, ou pelo menos poderia ser, porque não temos uma cara definida e somos, literalmente, qualquer um. Nós somos europeus, africanos, japoneses, judeus, muçulmanos, mineiros e cearenses, como eu sou, hoje em dia, um pouco também. 



domingo, 6 de abril de 2014

Sete

 

Há sete anos ganhei um presente, um dentre alguns dos mais caros que ganhei pela vida; Pedrão nasceu. Há sete anos tornei-me madrinha, e esta é uma felicidade que pode parecer tola para muitos, mas que para mim teve e tem um significado especial. Não sou mãe, não serei mãe nesta vida, já está decidido por mim e por Deus (pois assim fizemos com que as coisas se dessem). Então, ter ao meu pequeno a chamar-me de madrinha tem um significado especial para mim por ser o mais próximo à maternidade que eu chegarei nesta vida.

É verdade que me tornei mãe de faz-de-conta com o Lucas, minha primeira paixão nesta vida, aquele que vi crescer e que me fez compreender o que é sentir a felicidade de ter um pequeno a segurar minha mão para sentir-se completamente seguro. Depois dele vieram Gigi e Fábio Antônio que juntos, hoje, formam o trio de filhotes-adolescentes que me assombra e encanta. Ando a lutar com a ideia de que muito em breve haverá uma barba feita em seus rostos ou que o corpo de menina terá desaparecido por completo. Difícil isso. Contudo, vez ou outra, eles ainda vêm em busca da minha mão; e isso é muito bom. É genial.

Amanhã, dia 07 de Abril de 2014, meu Pedro completa sete anos e, por mais que eu queira evitar, não há como não perceber que ele não é mais o meu bebê. Já não cabe mais no meu colo de jeito algum, sobra Pedro para todos os lados quando ainda teimo em acomodá-lo nos meus braços; Pedro cresceu. Cresceu e mostra-se um rapazinho inteligente, simpático, pensativo e dono de uma criatividade incomum. Pedro cria mundos todos os dias e eu me admiro com as estórias que ele cria cheia de orgulho. Sou definitivamente babona!

Amo meu Pedro, e com ele aprendi que aos filhos amamos de maneira igualmente intensa apesar de eles constituírem-se em amores completamente diferentes. E como brinco, a sério, os pequenos são a garantia d’alguma sanidade nesta nossa vida, e eu não me imagino sem meus pequenos e não tão pequenos assim. Fábio Antônio, Lucas, Giovana, Pedro, Diego, Bianca e Nicolas são, sem sombra alguma de dúvida, o meu porto seguro, a minha felicidade incondicional e a garantia de que as benzodiazepinas não são necessárias nesta vida.

De presente de aniversário, ao meu Pedro desejo que a fantasia nunca saia de sua vida, que ele cresça saudável e feliz, e que seja o que quiser nesta vida. Eu, de minha parte, garanto que sempre estarei aqui para apoiá-lo e ajudá-lo, incondicional e apaixonadamente. Amo-te muito, meu Pedrão! Mais do que a todo mundo (como você gosta de ouvir).


Feliz aniversário meu afilhado, meu filho do coração.







quarta-feira, 2 de abril de 2014

Eduardo Galeano y sus abrazos

EL LIBRO DE LOS ABRAZOS




- RECORDAR: del latín re-cordis, volver a pasar por el corazón.
- Porque todos, toditos, tenemos algo que decir a los demás, alguna cosa que merece ser por los demás celebrada o perdonada.
- Lo único que yo sé es esto: el arte es arte, o es mierda.
- A la corta o a la larga, los escritores se hamburguesan.
- En los barrios altos, se vive como en Miami, se vive en Miami, se miamiza la vida, ropa de plástico, comida de plástico, gente de plástico, mientras los vídeos y las computadoras se convierten en las perfectas contraseñas de la felicidad.
- Los nadies: que no hablan idiomas, sino dialectos; que no profesan religiones, sino supersticiones; que no hacen arte, sino artesanía; que no practican cultura, sino folklore; que no son seres humanos, sino recursos humanos. Los nadies, que cuestan menos que la bala que los mata.
- A muchos mata la policía, y a muchos más la economía.
- ¿A cuántos desarrolla el desarrollo?
- El sistema, que no da de comer, tampoco da de amar.
- Yo bien sé que el pecado carnal está mal visto en el alto cielo; pero sospecho que Dios condena lo que ignora.
- Yo creía en Él y creía que Él creía en mí.
- Desnúdeme, desdúdeme.
- Nacer es una alegría que duele.
- Todos prometen y nadie cumple. Vote por nadie.
- Dios vive. De puro milagro.
- En Colombia, es raro morir de enfermedad.
- Y a nadie molesta mucho, al fin y al cabo, que la política sea democrática, siempre y cuando la economía no lo sea.
- Hasta que los leones tengan sus propios historiadores, las historias de cacería seguirán glorificando al cazador.
- Y así nos enseña a repetir la historia en lugar de hacerla.
- Ni el proprio hijo de Dios se salvó de la paradoja: nació en un desierto subtropical donde nunca nieva, pero la nieve se convirtió en un símbolo universal de la navidad desde que Europa decidió europear a Jesús.
- Los policías no combaten los crímenes, porque están ocupados en cometerlos.
- A los libros ya no es necesario que los prohíba la policía: los prohíbe el precio.
- Che Guevara: un raro tipo que decía lo que pensaba y hacía lo que decía.
- Y nada tenía de malo, y nada tenía de raro, que se me hubiera roto el corazón, de tanto usarlo.

- Ayude a la policía: Tortúrese.