sábado, 19 de abril de 2014

GABO


Há alguns meses, Gigi entrou no meu quarto e pegou-me chorando. Eu estava nas últimas páginas de El Amor en los Tiempos del Cólera, e ela achou estranho isso de alguém chorar porque está a ler um livro. É bem verdade que sou chorona, eu sei. Mas o final daquele livro, em suas últimas linhas emocionou-me de forma única, pois, de repente, todos os sentimentos de Florentino Ariza represados durante as dezenas de anos pelos quais esperou Fermina Daza, o amor de sua vida, eram meus também. Gabo era genial!

Tanto o personagem, Florentino, quanto nós (os leitores) sofremos em silêncio e entregues aos nossos destinos durante todo o livro e, mesmo assim persistimos, seguimos. Seguimos resignados e ainda crentes por muitas e muitas linhas inconformados com a dureza da realidade quando, de chofre, o livro revela-se e nos captura. Só então, nas últimas páginas do livro compreendemos a dimensão verdadeira daquela estória e nos apaixonamos por ela para todo o sempre; como Fermina por Florentino. E dá-nos uma vontade insana de começar tudo de novo, outra e outra vez, pois, sentimos saudades das palavras, das linhas e das letras que ali estão contidas.

"El capitán miró a Fermina Daza y vió en sus pestañas los primeros destellos de una escarcha invernal. Luego miró a Florentino Ariza, su dominio invencible, su amor impávido, y lo asustó la sospecha tardía de que es la vida, más que la muerte, la que no tiene límites. ¿Y hasta cuándo cree usted que podemos seguir en este ir y venir del carajo? le preguntó.

Florentino Ariza tenía la respuesta preparada desde hacía cincuenta y tres años, siete meses y once días con sus noches.

Toda la vida – dijo."

Hoje, pensando bem, não sei dizer o porquê de ter demorado tanto tempo assim para ler este livro já que é o sétimo ou oitavo Gabo que cai em minhas mãos. Sim, gosto de ler Gabriel García Márquez porque adoro a língua espanhola e porque, a meu ver, ele é um dos melhores contadores de estórias que eu já li. Suas linhas fluem como flui uma conversa sem fim. Uma vez começado um de seus livros, mesmo aqueles nos quais sentimos certo incomodo com o tema ou com os personagens, mesmo assim, não há como deixá-lo antes do fim. Há em suas estórias e seus relatos, mesmo os mais realistas como Aventura de Miguel Littin Clandestino en Chile, a beleza da possibilidade do fantástico, do sublime, daquilo que existe para além da vida cotidiana e mundana, mas que, ainda assim, é parte desta. Gabo faz possível a fantasia e nos torna crentes nelas. Gabo é genial.


Agora, pensando nos porquês de ter lido El Amor en los Tiempos del Cólera depois de tanto tempo, vejo que encontrei-me com este livro no tempo correto de mina vida. Há coisas que apenas o tempo permite-nos ver, perceber e sentir, e esta é a maior lição que este autor colombiano nos deixou. Como ele bem disse: “Es la vida, más que la muerte, la que no tiene límites.” Vou sentir muitas saudades de Gabo e esperar, pela eternidade, para ouvi-lo, uma vez mais, a contar-nos uma de suas estórias. Gabo sempre será genial!


Nenhum comentário:

Postar um comentário