segunda-feira, 14 de abril de 2014

Samba à Italiana


Por mais que não queiramos, não conseguimos evitar e somos repetitiva e humanamente previsíveis em tudo que fazemos. Vira e mexe perguntam-me se prefiro São Paulo à Fortaleza, tal como minhas tias quando eu era menina me questionavam sobre quem eu mais amava nesta vida, minha mãe ou meu pai. E vamos e venhamos; isso é lá pergunta que se faça? Ô coisa besta, não?

 E, apesar de sempre tentar ser o mais politicamente correta que sei ser, (o que não é muita coisa, sei disso), parece-me mais do que óbvio que não há como comparar as duas cidades mesmo para quem não tem nenhuma ligação afetiva com elas, pois são muito distintas e fazer um julgamento de qualidade será sempre algo subjetivo.

Contudo, não há como negar: sou paulista e paulistana e amo, mais do que qualquer cidade neste mundo, aquela que me viu crescer. É claro que gosto muito mais de São Paulo do que de Fortaleza, e isso não se discute. Contudo, também não se discute que tenho fortes razões para viver em Fortaleza e que minha morada não tem previsões de mudança por enquanto. C’est la vie!

Porém, tal gostar escancarado e descarado não tem relação alguma com o fato de uma cidade ser melhor do que a outra, não mesmo. A verdade é que em nós há muito do tudo que vivemos e o lugar onde crescemos estará sempre no cerne daquilo que nos constitui. Eu, por este princípio, sou muito do que é São Paulo.

Durante estes dias aqui, em Sampa, perto da família e dos amigos que trago comigo por dezenas de anos, ouvindo sambas de Adoniram Barbosa, percebo tão claramente esta minha essência e sinto-me em casa. Sei quem sou e o que sou. Sei que sou o samba à italiana com sotaque paulistano, que trago comigo a garoa e os dias cinzentos na alma; e que a introspecção típica de quem é desta terra me constitui. Sou a falta de classe e alinhamento típica das nossas ruas, o pastel de feira que é sempre feito por um japonês e as conversas sem fim sobre política e futebol nos bares e padarias; as padarias que sempre pertencem aos portugueses. Sou as cantinas dos italianos, os festivais de jazz e blues, o rock pesado, o hip-hop social e as muambas dos libaneses e coreanos; sou o trânsito sem fim e sem solução desta capital.


Ser paulistano é ser brasileiro e ter suas origens em outros países numa mescla típica dos aqui nascidos, somos sempre uma mistura de pedaços de gentes que vieram para cá em busca de algo melhor e que deram origem a este povo que tem uma identidade universal. Qualquer um é paulistano, ou pelo menos poderia ser, porque não temos uma cara definida e somos, literalmente, qualquer um. Nós somos europeus, africanos, japoneses, judeus, muçulmanos, mineiros e cearenses, como eu sou, hoje em dia, um pouco também. 



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