quinta-feira, 28 de julho de 2016

Zero





Zero

Como de tanto resta tão pouco?

Dias, semanas, meses, anos, horas... Tantas horas.

Todas as horas que tivemos nós, horas de um significado tão profundo,

um mundo,

findam em um segundo.

E da soma de tudo, de tantas e todas as palavras ditas. escritas, lidas,

lindas,

nos resta apenas

zero.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Chuva no Mar



Para o menino mais lindo, 
                 de cor de canela 
                                   e olhos de mar.


domingo, 24 de julho de 2016

O Mundo de marcha à ré



O Mundo de marcha à ré

Hoje li que Donald Trump é a nova face dos republicanos americanos. Pobres republicanos, pode-se pensar. Afinal ter Donald Trump como seu representante oficial, ou mesmo extraoficialmente, é no mínimo uma grande vergonha. Contudo, não apenas muitos e muitos republicanos têm pesadelos nos quais o Sr.Trump figura como o próximo presidente dos EUA, mas também todo ser humano com um mínimo de compreensão da importância deste cargo; do que vem a ser o presidente dos Estados Unidos. Sim, Mr. Trump no comando de um país com o poderio bélico que têm os EUA nos dá calafrios n’alma. Pobre de nós!

O fato é que o que antes parecia ser uma piada tola: ter um completo falastrão ignorante, preconceituoso e com rasgos ditatoriais no comando de uma das maiores potências em nosso mundo, torna-se uma piada de muito mau-gosto ao passo que ela ganha, a passos galopantes, reais chances de tornar-se o nosso futuro. E de um repente absurdo George Bush filho, tão pouco bem quisto no mundo enquanto governava a nação dona das Américas, ganha contornos de presidente dos sonhos, quase um Abraham Lincoln moderno quando o colocamos ao lado do Sr. Trump. Como chegamos aqui? Como chegamos a uma situação onde a Grã Bretanha sai da comunidade Europeia, onde muros são construídos para separar países, onde Putin reina na Rússia e a laicidade do governo da Turquia se desfaz, onde Donald Trump tem chances de tornar-se o próximo presidente dos EUA?

Em 1989 eu vivia a minha adolescência e vi extasiada a queda do Muro de Berlim. O Mundo se expandia, fronteiras eram abertas, o mundo começava a se conectar mais velozmente e o futuro parecia muito promissor. A ciência e a tecnologia avançavam velozmente e uma nova era das luzes parecia aproximar-se. A democracia havia voltado ao meu país e à América Latina em geral, Mikhail Gorbachev trazia a Glasnost e a Perestroika à Rússia, os Protestos na Praça da Paz Celestial foram vistos ao redor do mundo e a China começava a abrir-se para todos nós. Em 11 de fevereiro de 1990 Nelson Mandela era libertado e eu estava certa de que a humanidade caminhava a passos largos na direção correta.


Pois, estamos em marcha à ré feroz quase 30 anos depois. E mesmo sabendo que a menina que eu era em 1989 tinha ainda muita fé na humanidade e, portanto, era ainda muito inocente, tola mesmo; ainda hoje não consigo atinar em como chegamos a este ponto tão ruim de nossa História. Como perdemos a chance de fazer a vida melhor para todos nós? Por que ao revés disso criamos um mundo onde os privilégios para poucos e as injustiças para muitos cresceram e crescem? Por que continuamos a vender o que temos de mais caro, a nós mesmos e aos nossos, por dinheiro?


quinta-feira, 21 de julho de 2016

Cora Colorida Coralinda Coralina





Aninha e suas pedras

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.


Todas as Vidas

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço…
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo…
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha…
tão desprezada,
tão murmurada…
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera
das obscuras!


( Cora Coralina )


segunda-feira, 18 de julho de 2016

Céu - Perfume do Invisível




Perfume do Invisível
Céu
 
No dia em que eu me tornei invisível
Passei um café preto ao teu lado
Fumei desajustado um cigarro

Vesti a sua camiseta ao contrário
Aguei as plantas que ali secavam
Por isso um cheiro impregnava

O seu juízo, o meu juízo
Invisível e o mundo ao meu favor

Para me despir e ser quem eu sou
Logo que o perfume do invisível te inebriou

Você meu viu e o mundo também

E o que tava quietinho ali se mostrou, meu bem


sábado, 16 de julho de 2016

A Revolução





A Revolução


Bombástico mundo canibal renova-se

a devorar a si mesmo e aos seus, glutonamente.

O sangue no chão tornou-se vício; primeiro e último objetivo

que em si mesmo se encerra

e que nos comunica: já não sabemos mais usar palavras.

Às armas irmãos!

Às armas cidadãos! Gritaram de Marselha o brado que ainda ecoa.

A Revolução é francesa,

burguesa,

americana,

russa

e do autoproclamado Estado do Islã.

As armas são a solução, clamaram e clamam os que buscam a paz pela guerra

numa incongruência estupida; porém rentável.

O dinheiro move o mundo. O dinheiro move aos homens que mandam no mundo

onde morremos e matamos indiscriminadamente.

A democracia a se consolidar na terra onde todos somos alvos e algozes;

terra de homens-lobo, anônimos, que nos devoram, e devoram-se a si mesmos.

                                                                                       Homens perdidos.

Mundo covarde onde, ao revés do que deveria ser se alguma justiça quisera ser feita,

devoramos aos mais frágeis, àqueles que não conseguem sequer correr.

Aux armes, citoyens,    
Formez vos bataillons, 
Marchons, marchons! 
Qu'un sang impur          
Abreuve nos sillons!

terça-feira, 12 de julho de 2016

Mima...



Mima...

As saudades doem e talvez por esse detalhe fatal
elas tragam  em si a beleza que apenas têm as cores mais fortes.
Elas se fazem sempre presentes.
Vivas e vibrantes mesmo quando apenas podemos observá-las desde  muito longe
e com o canto dos olhos.
Cores que estarão aqui pela eternidade da minha vida                         (e além)
num tempo no qual
o tempo
não importa.



domingo, 10 de julho de 2016

Maior que Eusébio!



Maior que Eusébio!


Talvez seja realmente demais, uma heresia mesmo, afirmar que Cristiano Ronaldo é maior que Eusébio. Afinal, como comparar o vaidoso gajo com o Senhor Eusébio, o Rei encarnado da Copa de 66, um mito e semideus em Portugal? Sim, é difícil. E, apesar do fato de que toda e qualquer comparação é mesmo algo sem sentido, não há como não fazê-la depois de ver ao famoso gajo e a sua seleção, Portugal, sortuda e heroicamente, serem campeões da Eurocopa ao derrotar a França em casa. Este foi, seguramente, um momento épico da história do futebol!

Primeiro, vale lembrar que o futebol é um esporte tão apaixonante por ser, ainda nos dias capitalistas e tecnológicos de hoje, imprevisível. Nem sempre os maiores e mais fortes vencem, e o fato de ainda haver espaço para a vitória dos pequenos que creem e lutam com armas menos poderosas nos devolve um bocado a crença na beleza da imprevisibilidade da humanidade. Ainda há espaço para a luta de um moderno David, bravo e corajoso, contra seu Golias. Ainda há espaço para ver o miúdo Portugal a vencer a grandiosa França. Oxalá!

Segundo, apesar de ser complicada a comparação acima, não há como negar que a importância da figura de Cristiano Ronaldo cresceu abundantemente dentro do esporte quando percebemos que o gajo demonstra ter um novo peso ímpar muito para além das quatro linhas. Muito mais do que um atacante disciplinado, forte e talentoso – um craque da bola; vimos nesta Eurocopa um homem que inspirou e liderou aos seus companheiros até nos momentos em que estava à beira do campo. Cristiano foi definitivo para a vitória mesmo quando não tinha nos pés a bola.


Venceu, mesmo contra todas as expectativas e contanto com a sorte, é fato, e me convenceu de que fui injusta com ele durante todos esses anos. Nutria  certa antipatia pelo vaidoso moço, devo admitir. Não que a minha injustiça fizesse qualquer diferença para CR7; profundamente não. Eu sei. Contudo, devo admitir agora que além de talentoso, o gajo é, deveras, um exemplo de atleta e um cidadão a ser respeitado por seus atos dentro e fora do futebol. Não apenas por essa vitória, mas por tudo que ele tem feito nos últimos anos mesmo quando não há ninguém a olhar. Luís Figo que me perdoe, mas Cristiano ganhou, definitivamente, o posto de jogador português que mais admiro. Pois, que venha mais uma Bola de Ouro pa o gajo, ó pá, que ele merece!

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Poesía de Gabo



Soneto casi insistente en una noche de serenatas

Quisiera una mujer de sangre y plata.
Cualquier mujer. Una mujer cualquiera,
cuando en las noches de la primavera
se oye a lo lejos una serenata.

Esa música es alma. Y aunque no fuera
verdad tanta mentira sería grato
el saber que su voz siempre retrata
el corazón de una mujer cualquiera.

Quiero querer con música. Y quiero
que me quieran con tono verdadero
Casi en azul y casi eternamente.

Será porque ese ritmo me arrebata,
o tal vez porque oyendo serenatas
me duele el Corazón musicalmente.

1945



Drama en tres actos

Kornelius, el poeta resfriado,
iba para una fiesta.
Llevaba un sobretodo sobre el brazo
y un sombrero en la testa.
Una camisa blanca y una rosa
en la solapa negra.

II

Y Kornelius el alto
renombrado poeta
al salir a la calle
saludó a su colega
el famoso Francisco de Quevedo Villegas.
Estaba lloviznando
—el ciclo sin estrellas
mostraba a los humanos
una sonrisa negra—
y Kornelius, el alto
renombrado poeta
se resfrió esa noche
sin que se diera cuenta.

III

El salón se alistaba
todo para la fiesta.
Estaba el rey, la reina
y la corte suprema,
el señor secretario,
el conde de Lucrecia.
Ahí llego Konielius,
con su rosa y su ciencia,
se quitó el sobretodo
en la ventana abierta;
y cuando le aplaudía
toda la concurrencia
pidiendo a grandes voces
una canción de guerra,
él sacudió el vestido,
sonrió, bajó la testa,
se aflojó la corbata,
hizo un gesto a la reina…
Dijo… Dijo… (no dijo):

Y estornudó un poema!


1945


Poema desde un caracol

Yo he visto el mar. Pero no era
el mar retórico con mástiles
y marineros amarrados
a una leyenda de cantares.

Ni el verde mar cosmopolita
—mar de Babel— de las ciudades,
que nunca tuvo unas ventanas
para el lucero de la tarde.

Ni el mar de Ulises que tenía
siete sirenas musicales cual siete islas rodeadas
de música por todas partes.

Ni el mar inútil que regresa
con una carga de paisajes
para que siempre sea octubre
en el sueño de los alcatraces.

Ni el mar bohemio con un puerto
y un marinero delirante
que perdiera su corazón
en una partida de naipes.

Ni el mar que rompe contra el
[muelle
una canción irremediable
que llega al pecho de los días
sin emoción, como un tatuaje.

Ni el mar puntual que siempre tiene
un puerto para cada viaje
donde el amor se vuelve vida
como en el vientre de una madre.

Que era mi mar el mar eterno,
mar de la infancia, inolvidable,
suspendido de nuestro sueño
como una Paloma en el aire.

Era el mar de la geografía,
de los pequeños estudiantes,
que aprendíamos a navegar
en los mapas elementales.

En el mar de los caracoles,
mar prisionero, mar distante,
que llevábamos en el bolsillo
como un juguete a todas partes.

El mar azul que nos miraba,
cuando era nuestra edad tan frágil
que se doblaba bajo el
peso de los castillos en el aire.

Y era el mar del primer amor
en unos ojos otoñales.

Un día quise ver el mar
—mar de la infancia— y ya era tarde.

1946

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Bombástico Mundo



Bombástico Mundo


Num mundo profundamente materialista, onde a boçalidade deixou de ser defeito e figura como qualidade esperada, um pré-requisito para todos aqueles que pertencem ao século 21, parece que explodir-se, e explodir a tudo que nos cerca, deixou de ser algo anormal. Afinal, entre a terça-feira da semana passada e este domingo foram três os atentados à bomba e mais de 170 mortos, e a mim me parece que há, definitivamente, uma nova agenda prolífera de explosões a ser seguida.

Ficam, então, a retorcerem-se as minhas ideias e caraminholas a questionarem até onde chegaremos antes que isso de bombas a minar a crença na humanidade cesse. Até onde teremos que ir para que compreendamos, todos nós, que chegamos ao fim? Ou não haverá o dito final e nós devemos, passiva e nada pacificamente, aceitar que esta é a nova ordem mundial. Daqui para frente será assim: vivemos num mundo explosivo, e teremos que admitir novos usos menos metafóricos da palavra bombástica.

Pois... Fica também a dúvida de qual o peso real do tal materialismo inútil e desenfreado na multiplicação de explosões covardes e injustas que pululam ao redor do mundo e que podem acontecer em qualquer tempo e lugar; que podem vir a ocorrer aqui. Resta também compreender mais claramente que não há mais um inimigo número 1 a perseguir, posto que os líderes, em relação direta às injustiças cometidas ao redor do mundo, multiplicam-se e pulverizam a noção, que hoje nos confortaria, de que o mal tem uma face em especial. Ele não tem.


Sem inimigos ou heróis definidos seguimos a nos blindar com desconfianças e muros altíssimos contra tudo e todos em busca de uma tranquilidade e segurança utópicas em tempos nos quais não há necessidade alguma de irmos à guerra para corrermos risco de morte. Nesses tempos modernos e velozes é a guerra que vem, silenciosa e inesperadamente, ao encontro de todos nós.