segunda-feira, 30 de maio de 2016

O Mundo dos Homens


O Mundo dos Homens

Na Grécia e Roma antigas, como muitas civilizações, a mulher era tida como um ser de categoria inferior. Seu âmbito de atuação era definido de acordo com suas funções definidas pela criação divina: trabalhos domésticos e a procriação. Uma mulher não era vista como uma cidadã e pertencia aos homens de sua família; pai, irmãos e marido num mundo onde o assassinato de meninas recém-nascidas era algo comum. Mais de uma filha numa família era um problema; quase um castigo dos céus.

Lembro-me de estudar as civilizações antigas durante meus anos de escola e de me assombrar com a situação das mulheres naquela época. Lembro-me de sentir um grande alívio por não ter sido uma mulher da antiguidade e de não conseguir imaginar e compreender como poderia ser um mundo assim. Bom, somos realmente muito inocentes, parvos mesmo, durante a adolescência, não?

Sim. Pois apesar de eu nunca ter sofrido qualquer tipo de violência ou preconceito para além das tolas brincadeiras de alguns, apesar de ser uma mulher completamente independente e livre para ir e vir quando e para onde eu quiser, apesar de eu poder fazer o que quiser sempre e de ter sido sempre tratada com respeito por todos, homens e mulheres, até hoje. Apesar de tudo isso, a verdade é que o mundo não mudou quase nada desde o tempo das togas e que eu, como muitas outras mulheres, sempre tive muita sorte nesta vida. Meu anjo da guarda deve ser completamente maníaco por trabalho; tenho certeza.

Ainda hoje vivemos num planeta onde meninas recém-nascidas são mortas, como na Índia e na China, porque elas são vistas como um peso para a família. Neste mesmo mundo, tão moderno, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, há mais de 200 milhões de mulheres e meninas que sofreram mutilação genital em mais de 29 países.

Se nada for feito até 2030 teremos, em nosso planeta azul, mais de 1 bilhão de meninas casadas durante sua infância segundo previsão do Fundo de População das Nações Unidas. Prática que condena estas futuras mulheres à violência doméstica, à pobreza já que são retiradas da escola para se casar, a problemas sérios de saúdo ligados às DSTs e à gravidez precoce. Apesar de ser um crime, o casamento infantil é ainda comum em muitos países asiáticos, africanos e americanos.

E se, por acaso, nós imaginarmos que tudo isso é uma realidade muito distante de nós, coisa de países exóticos e distantes, basta abrir um pouco mais os olhos para saber que:

1. De acordo com estatísticas da ONU 7 em cada 10 mulheres sofrerá violência sexual pelo menos uma vez durante sua vida.
2. 35% dos assassinatos de mulheres no mundo são cometidos por seus parceiros enquanto 5% das mortes de homens são cometidas por suas parceiras.
3. Entre os 10 países com maiores porcentagens de violência sexual contra mulheres no mundo figuram os Estados Unidos, México, Canadá, Alemanha, França e Reino Unido.
4. Cerca de 50 mil mulheres são estupradas no Brasil por ano e na grande maioria das vezes por um homem conhecido; algum parente ou amigo. Em muitos e muitos casos ninguém é preso ou sofre qualquer punição.

Nesta semana uma menina brasileira de 16 anos foi estuprada por vários homens e o que mais foi questionado pela grande maioria dos brasileiros foi a conduta desta menina. E o que mais me entristece nisso tudo é que se não houvesse um vídeo do crime, (que deveria ser por si só prova segura de que ele ocorreu), a menina nada teria dito sobre o ocorrido. Pois, no mundo que pertence aos homens, mulheres e meninas ainda se calam porque elas sentem que este mundo não pertence a elas.  

domingo, 29 de maio de 2016

Pessoas


Um poema que ecoa n'alma minha...



Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu ?”
Deus sabe, porque o escreveu.


Poema de Fernando Pessoa

terça-feira, 24 de maio de 2016

Nuvens



Nuvens

Tênues e vaporosos seguem os dias despreocupados

de uma vida sem muito sentido;

sem sentido algum.

Bela e importante como as brancas e efêmeras nuvens,

ela passará como as chuvas de verão;

um evento vulgar.

Cumulosnimbus diante de meus olhos,

gigantes pálidos e desimportantes criados pelas estórias que invento,

serão poucas gotas a secar no chão depois de algumas horas.

Visto de perto tão caro e raro,

meu mundo de nuvens, que  aos meus olhos de menina se mostrava tão amplo,

entre os dedos escorre

e percebo como ele mingua com a distância do tempo que corre.

Pouco tempo.

Minhas cordilheiras andinas feitas de sonhos e vapor d’água

sumirão,

definitivas e instantâneas,

assim que engolidas pelo chão.

Tênues seguem os dias...


segunda-feira, 23 de maio de 2016

Billie Holiday



Fine & Mellow Lyrics

My man don't love me
Treats me oh so mean
My man he don't love me
Treats me awfully
He's the lowest man
That I've ever see

He wears high trimmed pants
Stripes are really yellow
He wears high trimmed pants
Stripes are really yellow
But when he starts in to love me
He's so fine and mellow

Love will make you drink and gamble
Make you stay out all night long
Love will make you drink and gamble
Make you stay out all night long
Love will make you do things
That you know is wrong

But if you treat me right baby
I'll stay home everyday
If you treat me right baby
I'll stay home everyday
But you're so mean to me baby
I know you're gonna drive me away

domingo, 22 de maio de 2016

O Nosso Jogo




O Nosso Jogo

O Brasil é um país de dimensões continentais e aparece gigantesco abaixo da linha do Equador dominando uma parte tão extensa da América do Sul que nos faz pensar, equivocadamente, que somos grande coisa neste Mundão que Deus nos deu. Quando eu era criança e nada entendia do mundo, era esta a impressão que eu tinha. Quando eu era criança o Brasil era o melhor e o maior país do mundo, porém, mais do que o nosso tamanho no mapa, talvez isso se desse pela mistura que eu tinha de pouca televisão com informações sobre o planeta azul e um grande ufanismo presente nos bancos escolares dos anos de chumbo por cá. Talvez.

Bom, em extensão somos gigantes e realmente há muita gente por aqui; mais de 200 milhões há alguns anos já. Porém, em questões e matérias de grandiosidades andamos num déficit melancólico de realizações desde que o mundo é mundo para nós, ou seja, desde que os Portugueses nos avistaram, Terra Brasilis selvagem e mítica, de suas pequenas e frágeis caravelas. Desde então somos a promessa de uma terra de riquezas, o país de futuro promissor que nos parece nunca se cumprirá. Pois, somos grandes, porém, desde sempre, somos um país de oportunistas muito mais do que de oportunidades, e esta tem sido nossa sina.

Um dia destes, li algo que Mia Couto, escritor moçambicano, disse e que me pareceu encaixar-se feito luva na descrição de como é o nosso país. Principalmente de como ele tem se mostrado mais uma vez ao mundo depois de anos de uma farsa burlesca durante a qual acreditamos, cegos e tolos, que o futuro por cá havia chegado. Disse ele: “A maior desgraça de um país pobre é que em vez de produzir riquezas, produz ricos.”  

Pois, não fomos, nem somos, capazes de produzir um país justo onde suas riquezas são distribuídas de forma leal e honesta para todos os cidadão, entretanto, na qualidade de produzir ricos somos pródigos. Tão bons e ágeis somos nisso que daqui a alguns dias seremos dignos de medalha de ouro no esporte mais tradicional desta nação: o desvio de dinheiro público para bolsos privados. “Habemus” Jogos Olímpicos em nosso país onde a educação pública, que deveria ser o berço do esporte, é praticamente inexistente há décadas e onde o sucesso nos esportes depende do esforço individual de cada atleta. Teremos Olimpíadas no falido estado do Rio de Janeiro com direito a águas poluídas da Guanabara, a balas perdidas e àquelas que têm uma direção certa, e a obras arquitetônicas caras e mal projetadas. E a pergunta que não nos sai da cabeça enquanto o bolso aperta em nossa falida pátria amada é: meu Deus, quanto mais as tais Olimpíadas ainda vão nos custar?

segunda-feira, 16 de maio de 2016

O Tempo


O Tempo

O tempo dobrou-se sobre minhas coxas,
fita colorida sem fim; chita
de flores miúdas e fundo azul celestial,
plácido e delicado como se nada fosse.
E ali ficou ele tranquilo, gato adormecido,
numa tarde lenta de verão cujo fim não diviso.
Com seus primeiros anos escondidos,
tão antigos e roídos pelas traças de minhas memórias,
mesmo imóvel ele foge de mim.
Não sei mais como contar suas estórias com o passar dos dias,
dos meses,
dos anos.
Pousado em camadas suaves e onduladas,
segue dormindo o tempo passado,
esquecido,
tão cheio de curvas múltiplas e tramadas que se tornam indivisíveis;
invisíveis,
impossíveis para mim
os momentos mais caros.
Os momentos mais raros,
onde você ainda mora,
hoje repousam perdidos em meio aos tantos outros minutos passados
e esquecidos pela falta de qualquer sentido.
Repousa, sobre minhas coxas, o tempo
em seu sono infinito.



Levanta e Anda!




Levanta e Anda (Part. Rael da Rima)
Emicida
 
Era um cômodo, incômodo, sujo como dragão de komodo
Úmido, eu homem da casa aos seis anos
Mofo no canto, todo, Tv, engodo, pronto pro lodo
Tímido, porra, somos reis, mano
Olhos são eletrodos, sério, topo, trombo corvos
Num cemitério de sonhos, graças a leis, planos
Troco de jogo, vendo roubos, pus a cabeça a prêmio
Ingênuo, colhi sorrisos e falei -- vamos!
É um novo tempo, momento pro novo, ao sabor do vento
Me movo pelo solo onde reinamos
Pondo pontos finais na dor, como doril, anador
Somos a luz do senhor, pode crer, tamo
Construindo, suponho não, creio, meto a mão
Em meio à escuridão, pronto, acertamos
Nosso sorriso sereno hoje é o veneno
Pra quem trouxe tanto ódio pr'onde deitamos

Quem costuma vir de onde eu sou
Às vezes não tem motivos pra
Seguir
Então levanta e anda, vai
Levanta e anda, vai
Levanta e anda
Mas eu sei que vai, que o sonho te traz
Coisas que te faz
Prosseguir
Vai, levanta e anda, vai
Levanta e anda, vai
Levanta e anda, vai
Levanta e anda, vai

Irmão, você não percebeu que você
É o único representante do seu sonho na face da Terra?
Se isso não fizer você correr, chapa
Eu não sei o que vai

Eu sei, sei, cansa
Quem morre ao fim do mês
Nossa grana ou nossa esperança?
Delírio é
Equilíbrio entre nosso martírio e nossa fé
Foi foda contar migalha nos escombros
Lona preta esticada, enxada no ombro e nada vim
Nada enfim, recria
Sozim, com alma cheia de mágoa e as panela vazia
Sonho imundo
Só água na geladeira e eu querendo salvar o mundo
No fundo é tipo David Blaine, mãe assume, pai some
De costume, no máximo é um sobrenome
Sou terror dos clone
Esses boy conhece Marx, nóiz conhece a fome
Então cerre os punhos, sorria
E jamais volte pra sua quebrada de mão e mente vazia

Quem costuma vir de onde eu sou
Às vezes não tem motivos pra
Seguir
Então levanta e anda, vai
Levanta e anda, vai
Levanta e anda
Mas eu sei que vai, que o sonho te traz
Coisas que te faz
Prosseguir
Então levanta e anda, vai
Levanta e anda, vai
Levanta e anda, vai
Levanta e anda

Somos maior, nos basta só

Sonhar, seguir!


domingo, 15 de maio de 2016

Pessoas


Releio passivamente, recebendo o que sinto como uma inspiração e um livramento, aquelas frases simples de Caeiro, na referência natural do que resulta do pequeno tamanho de sua aldeia. Dali, diz ele, porque é pequena, pode ver-se mais do mundo do que da cidade; e por isso a aldeia é maior que a cidade…

“Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura.”

Frases como estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse dito, limpam-me de toda a metafísica que espontaneamente acrescento à vida. Depois de as ler, chego à minha janela sobre a rua estreita, olho o grande céu e os muitos astros, e sou livre com um esplendor alado cuja vibração me estremece no corpo todo.

“Sou do tamanho do que vejo!” Cada vez que penso esta frase com toda a atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir consteladamente o universo. “Sou do tamanho do que vejo!” Que grande posse mental vai desde o poço das emoções profundas até às altas estrelas que se reflectem nele e, assim, em certo modo, ali estão.

E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objectiva dos céus todos com uma segurança que me dá vontade de morrer cantando. “Sou do tamanho do que vejo!” E o vago luar, inteiramente meu, começa a estragar de vago o azul meio-negro do horizonte. Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvageria ignorada, de dizer palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova personalidade larga aos grandes espaços da matéria vazia.

Mas recolho-me e abrando-me. “Sou do tamanho do que vejo!” E a frase fica sendo-me a alma inteira, encosto a ela todas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer.

Do “Livro do Desassossego”


Fernando Pessoa

sábado, 14 de maio de 2016

Mia




O Espelho

Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.

Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me a sós, perplexo,
com meu súbito reflexo.

A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos.

No livro “Idades Cidades Divindades”

Mia Couto

domingo, 8 de maio de 2016

Dia das Mães



Dia das Mães

Primeiro dia das Mães sem a Mima e o segundo domingo de Maio ganha cores dantes nunca vistas. Porque dia das mães sem mãe é o mesmo que Natal sem Papai Noel e Menino Jesus, o mesmo que Páscoa sem chocolate, igualzinho a jogo de futebol sem gol. Perde-se todo o sentido do evento, não? Bom, quase todo ele.

Pode-se então, imaginar que este seja um dia muito triste, cinza e de ter os olhos vermelhos de chorar para mim. Porém não, ele não é assim. Este não é um dia triste, apenas um cadinho melancólico já que as saudades apertam um pouco mais hoje. Mima não anda mais por cá e isso atrapalha a celebração, contudo isso não faz de mim uma menina sem mãe.  Ela sempre será minha mãe sem importar o que aconteça comigo ou com ela. Sou filha de Dona Odila Jorge Paroli, menina forte como os samurais e os chefes das tribos e que esteve de pé até o seu último minuto neste planeta azul. Mima foi uma doce menina guerreira e tenho muito orgulho dela. Tenho muito orgulho de ti, Mima. Muito mesmo.

Bom, quanto ao dia. Bem, o dia está lindo com um céu azul de poucas nuvens suaves e um mar esverdeado. E eu ganhei de presente neste fim de semana a presença de amigos queridos com direito a muita conversa e passeio de bicicleta pela orla de fortaleza até o Passeio Público sob o sol nordestino. Sempre um pouco mais quente do que deveria, do que eu gostaria. Mas, a vida deve ser bonita, não perfeita.

O fato é que sem a Mima por aqui ando a descobrir mais sobre o meu pai. Nunca conversamos tanto e, principalmente, nunca tivemos as conversas que temos por esses dias. Agora, com a falta dela, sobra-nos mais tempo juntos e estamos mais próximos e mais companheiros já que se estreitam os laços à medida que se amplia a vida. É claro que não teríamos jamais escolhido por vontade própria esta alternativa de futuro. É óbvio que todos nós preferiríamos ter a Mima ainda aqui. Porém, e por não ser uma questão de escolhas, devo dizer que gosto muito desta nova fase da nossa viagem juntos. Tem sido muito bom conhecer mais quem é o meu pai.

Sendo sincera, e para dizer toda a verdade, sinto-me muito acolhida por todos os amigos, minha família dada de presente por Deus, que me parecem mais próximos desde que minha mãe ganhou suas asas. Então, no fim das contas, não há porque chorar de tristeza; não senhor.

Por tudo isso, hoje, na falta da minha mãe, vai o meu Feliz Dia aos Queridos que me ajudaram e me ajudam nos momentos difíceis e que tornam a minha vida melhor e mais divertida. Ao meu pai e meu irmão, às meninas da minha vida: Karin, Ana Paula (sis), Cristiane, Ana Paula (flor) e a Cris (minha comadre); aos meus meninos Marcus, Vagner, Luiz Fernando, Fábio e Fabiano. Aos amigos mais novos, Laice, Fábio, Julie e Gibs. E, principalmente, à Baba que é nesta vida minha mãe 2.



Amo-vos profundamente para sempre.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Passarinha





Passarinha


Hoje és nuvem, todo passarinho que cruza meu caminho,
és as flores, tudo o que há de doce nesta vida
e o cheiro das manhãs de domingo.
Um ser tão completo neste meu vazio de coração partido
onde falta um pedaço, pois faltam os teus passos.
Não estás mais aqui, e não estará porque o tempo passou
e levou consigo todos os minutos que a nós pertenciam.
Estou sozinha.
Então, e assim, agora estás em todos os lugares sorridente e
flutuas, bolha de sabão, colorida na minha mente todo santa dia.
Santa minha, particular e única; mais e mais perfeita à medida que o tempo passa
e afasta de mim todas as rugas, as rusgas,
as marcas fundas que deixamos a ferro da teimosia em nossa rotina.
Em intermináveis conversas por telepatia te conto todos os meus segredos
que não conhecias; meus medos.
Não sabias, mãe, mas sou mais menina do que pareço, do que mereço
e, apesar de todo o tempo, mesmo agora que não sou mais a filha,
sinto-me perdida pelas ruas traçadas com meus pés decididos.
Sinto saudades de ti, dona da minha vida antes de eu ser quem sou;
e queria ter asas para te ver mais uma vez,
minha passarinha.

domingo, 1 de maio de 2016

O País dos Chatos




O País dos Chatos


Desde que a situação político-econômica no Brasil tomou o rumo ladeira a baixo e nós deixamos de ser, mais uma vez, o país do futuro, nós vivemos patrulhados e julgados pela opinião alheia. Vivemos no país dos chatos! Pois, que de um repente temos amostras gratuitas e voluntárias de que vivemos, deveras, num país varonil. Num país varonil, extremado e dominado por cidadãos donos-da-razão maior e superior, quase divina, que estão sempre mais que prontos a nos convencer de que é nossa obrigação ter a mesma posição que eles têm. Pois, não é. Minha posição e opinião nesta vida são minhas, sempre foram minhas e assim serão para todo o sempre amém. Respeito a opinião alheia, contudo, ela não me faz falta para pensar, e vale lembrar que as liberdades de pensamento e de expressão ainda são os maiores bens que temos nesta vida.

E a verdade é que, não importando para o lado da questão para o qual se olha e quem está a defender o quê, faltam as análises mais profundas e fundamentadas da situação político-econômica de nosso país e sobram os gritos de ordem vazios e, em grande parte, falaciosos e desconectados entre si. Somos um povo que grita e, apesar de eu crer piamente que isso é extremamente melhor do que o silêncio,  me faria muito mais feliz ouvir um pouco mais de razão e bom-senso e um pouco menos de emoção e raiva saídos de tantas gargantas.

 Pois, falta muita razão e sobra muito extremismo por trás de tanto barulho e isso nunca é, ou será, bom quando o que se discute é a vida política de uma nação. Não estamos na seara do futebol e, portanto, não cabe aqui a paixão irracional e profunda, não há espaço para as ofensas de baixo calão, não devemos sustentar qualquer uniforme que nos classifique e separe. Não há um inimigo e nem ao menos dois lados claros e definidos nesta estória. Não há mocinhos, mas apenas uma coleção invejável de bandidos mais ou menos graduados por todos os lados.

Quando o que se busca é a democracia e o bem estar social, mesmo que seja esta pálida democracia com a qual estamos acostumados, o bom-senso e o diálogo devem sempre prevalecer. Portanto, e sabendo bem o que eu quero. Quero que as leis valham para todos os cidadãos e que não haja mais tantos privilégios absurdos em meu país, seja para os de esquerda ou os de direita.  Espero que a chatice cesse e que aprendamos mais uma vez a conversar, logo.