segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Sara






Descanse em paz e música menina.




Miragens

 


Miragens

Há imagens tênues e incertas que me habitam pela vida

E quando cerro meus olhos

Lá estão elas, por detrás da retina,

Fotos antigas

Amigas

Miragens desimportantes

lembranças queridas

O rosto do menino garçom num bar em Valparaíso,

ao perceber que eu falava espanhol,

cheio de alegria e alivio

O sorriso aberto do homem africano no Castelo de São Jorge

depois de um “obrigada e bom dia”

O homem velho sem camisa no outono escaldante pela manhã a observar o dia no seu quintal

no meio do caminho de minha reunião um tanto cinza

O rosto da mulher que há mais de dez anos pedia dinheiro no semáforo e me disse:

não fique triste menina; não há razões para isso na vida

Gosto dessas imagens que são só minhas

belos presentes dados de bom grado por que gente que não conheço

apesar da dor

que em todos nós habita

escondida por detrás da retina

domingo, 5 de novembro de 2023

Depois De Ter Você

reflexo

 


reflexo

Uma senhora espia-me pelo espelho

Não a conheço; mas me reconheço

Vendo assim o futuro, assustador e certo,

e quem um dia eu serei

Eu seria

Eu não sei

Não sei o quanto isso importa para mim ou para qualquer um

Deixei de ser eu mesma e, por isso mesmo, tornei-me quem eu deveria ser

Sinto saudades

Minhas vontades todas continuam a tagarelar na cachola, e tudo que ainda há por fazer

me assombra

deixando apenas uma única dúvida que paira sombria: o tempo será o bastante?

o bastante para tudo que preciso fazer acontecer

Vou segurar os ponteiros, feito Superman, a voar contra o tempo

e quiçá...

Quiçá o tempo me traga, com bons ventos, a nau que há muito perdeu-se pelo mar

Sinto uma paz que não imaginei sentir e me vejo, fora do espelho,

a gostar mais de mim

a lembrar-me com muito carinho de ti como se fora um sonho bonito

Ando a sonhar pouco

Quase nada

Talvez mais preocupada com a realidade que por cá sentou-se no meu colo há anos

E daqui não sairá

Não sinto mais medo, apesar de perceber que o corpo começa a despedir-se

E sei

Serei estrela ínfima na via láctea a vagar

Depois de uma vida inteira a ser estrela no fundo do mar