quarta-feira, 25 de abril de 2018

O Padrinho Mágico

Meu padrinho, Antônio, e seu neto, meu primo, Dani.


O Padrinho Mágico

Meu mundo nunca existiu sem a figura de meu padrinho, meu tio Antônio Lazzaro Ballesteros Diaz, muito presente na minha memória como ícone de uma personalidade a seguir e admirar. Seja porque fora sempre muito presente em nossas vidas, ou porque na minha infância ele era o único homem que tinha uma tatuagem no braço. Seja porque tocava pandeiro e contava piadas como ninguém, ou porque era decidido e impunha-se. Não sei bem.

Eu, de menina, olhava a tatuagem de soslaio como se fora falta de respeito mirá-la descaradamente. A admirar a declaração de amor à minha madrinha, símbolo da rebeldia que naquele homem havia, pensava o quão corajoso e maluco era meu padrinho. Ele era tudo, menos um homem comum. Não senhores. Meu padrinho era muito diferente de todos. Ele  era múltiplo.

Seu Antônio, o Balê, era genioso, cheio de personalidade, e um homem capaz de um amor e um carinho que beiravam ao infinito. Não creio que era fácil viver com alguém tão cheio de opinião, de força e vida como ele, entretanto, tenho plena certeza de que a vida a seu lado era sempre única.

Ele era um senhor de família espanhola de pandeiro na mão a cantar sambas com voz melódica e bonita. Careca desde que eu me entendo por gente, meu tio Antônio nunca deixou de ser um moleque irrequieto; um adulto que brincava. Ele era capaz de subir alto no telhado apenas para dar vida a uma piada, a fazer o que nenhum dos outros adultos faria porque a prudência não o comandava o tempo todo. O meu tio Balê em tudo que fazia era um homem muito sério que era pouco capaz de passar um dia sem, da vida, fazer graça.

Eu o admirava. Admirava sua capacidade de ser querido por todos, de passar um tempão a nos fazer rir, por cantar tão bonito de violão nas mãos, e por contar milhões de vezes, cheio de paciência, a mesma piada para o meu irmão, bem miudinho, que pedia sempre para ouvir repetidamente a estória do menino na bicicleta e se ria a ouvir o final: “Mira mamá, mira. Sin los dientes!”.

Mira tío, que ya te echamos mucho de menos. ¡Qué estés con Dios! Contigo siempre estaremos.

Te llevo em mi corazón.




O Meu Amor





O Seu Amor

Caetano Veloso
 

O seu amor
Ame-o e deixe-o livre para amar
Livre para amar
Livre para amar
O seu amor
Ame-o e deixe-o ir aonde quiser
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
O seu amor
Ame-o e deixe-o brincar
Ame-o e deixe-o correr
Ame-o e deixe-o cansar
Ame-o e deixe-o dormir em paz
O seu amor
Ame-o e deixe-o ser o que ele é
Ser o que ele é

sábado, 21 de abril de 2018

Conversas com o Cajueiro



Conversas com o Cajueiro

Já conversei algumas vezes com o cajueiro que está plantado no terreno de uma das escolas onde trabalho desde que cheguei à Fortaleza. Ele não me responde, claro. Apenas observa de toda a sua altura as minhas indagações durante todos esses anos. Dezoito anos depois da primeira vez que o vi, o cajueiro me encanta mais e mais. Pois a mim me parece que demonstra, com o passar dos anos, a autoridade e a imponência que só o passar do tempo dá às coisas vivas. O cajueiro é hoje um jovem e sábio senhor.

Cumprimento-o pela sua beleza, que não tenho certeza ser vista por todos os olhos que por ele passam, todas as vezes que o vejo. O fato é que meus olhos o viram cajueiro-menino ainda: tronco fininho que minhas mãos quase conseguiam abraçar, árvore baixota de frutos ao alcance dos meus quase 1.60 metros de altura, menino dono de pouca sombra aos seus pés. Antes tímido, agora ele já se impõe na paisagem e possui uma sombra que quase alcança a largura toda do seu espaço. Agora meus braços não são suficientes para abraçá-lo e seu tronco ganhou força e uma casca que denota respeito.

É bem verdade que tenho grande amor e admiração pelas árvores como um todo; um tipo de adoração. Acho-as lindas com sua tranquilidade e sabedoria de quem observa a vida passar à sua volta. Elas são abrigo, repouso; retiro mais próximo do divino para mim. Se pudesse escolher, adoraria na próxima vida ser uma árvore alta a morar numa colina. Deve ser tão bom ser vizinha de flores e casa de passarinho. Ver borboleta e beija-flor a namorar minhas flores, ser esconderijo de meninos.

Porém, com o tal cajueiro a relação é outra. O tenho como meu velho conhecido, um amigo. E por isso, mais do que às outras árvores da cidade, desejo a ele que continue sempre ali; que jamais serra alguma ponha seu tronco abaixo, e que ele continue a me ouvir. A verdade é que ao meu velho calado confidente eu quero muito bem.

No dia da Terra, 22 de abril, uma homenagem ao meu querido cajueiro que, como toda árvore e o nosso planeta, é de todo mundo e não pertence a ninguém.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

TE AMO




TE AMO

Te amo,
te amo de una manera inexplicable,
de una forma inconfesable,
de un modo contradictorio.

Te amo
con mis estados de ánimo que son muchos,
y cambian de humor continuamente.
por lo que ya sabes,
el tiempo, la vida, la muerte.

Te amo…
con el mundo que no entiendo,
con la gente que no comprende,
con la ambivalencia de mi alma,
con la incoherencia de mis actos,
con la fatalidad del destino,
con la conspiración del deseo,
con la ambigüedad de los hechos.

Aún cuando te digo que no te amo, te amo,
hasta cuando te engaño, no te engaño,
en el fondo, llevo a cabo un plan,
para amarte mejor.

Te amo…
sin reflexionar, inconscientemente,
irresponsablemente, espontáneamente,
involuntariamente, por instinto,
por impulso, irracionalmente.

En efecto no tengo argumentos lógicos,
ni siquiera improvisados
para fundamentar este amor que siento por ti,
que surgió misteriosamente de la nada,
que no ha resuelto mágicamente nada,
y que milagrosamente, de a poco, con poco y nada
ha mejorado lo peor de mí.

Te amo,
te amo con un cuerpo que no piensa,
con un corazón que no razona,
con una cabeza que no coordina.

Te amo
incomprensiblemente,
sin preguntarme por qué te amo,
sin importarme por qué te amo,
sin cuestionarme por qué te amo.

Te amo
sencillamente porque te amo,
yo mismo no sé por qué te amo.

de Pablo Neruda
un gran amor en mi vida.

terça-feira, 17 de abril de 2018

As Voltas





As Voltas


Volta das voltas

(re)voltas

Sem perceber ao fim chega o recomeço

de novo e

outra vez.

Vida-rio que flui em direção ao seu destino

de qualquer maneira

queira eu ou

não queira.

Volta das voltas

e a vida gira em círculos perfeitos

com suas arestas pontiagudas

para dentro

a furar me as costelas

 e a cutucar meu cérebro cheio de sentimentos;

queira eu ou não

queira.

E de um repente,

o mar olha de frente o

meu mundo num chamamento

claro e puro,

vem, diz ele.

E muito antes do que o pensar pressente

a vida vai e  dobra a esquina violentamente;

nova curva de uma

vida nova

novamente.


domingo, 15 de abril de 2018

Sexo!?



Así, pues esta vez el nene se salió con lo más chulo y liviano para hablar en serio al respecto de lo que mueve nuestra vida.

domingo, 8 de abril de 2018

A Caixa



A Caixa


Meu coração assustou-se uns tempos atrás,

susto de morte,

e por isso, ele escondeu-se numa caixa de madeira

negra e branca

que guardo, cuidadosamente, do lado  direito da estante no meu quarto.

Não foi ato covarde o dele, não senhores. Foi ato de sobrevivência;

de preservação da própria existência.

De lá, desde seu esconderijo frio, o dono

do reino dos sentimentos observa a vida como se à ela não pertencesse.

Faltam-lhe janelas, verdade.

Mas, mais seguro,

ele bate sereno sem os atropelos que os sucessivos sustos

da vida no meu peito lhe causavam.

E eu, de peito mais leve, um tanto vazio, sigo e não o culpo por ter,

de certa forma, me abandonado.

Apesar de sentir tantas saudades de meu companheiro,

eu sei tão bem quanto ele  que a vida tornou-se mais

simples assim:

com o coração exilado, guardado numa caixa de madeira ao meu lado.

terça-feira, 3 de abril de 2018

And Still I Rise



The Great Maya Angelou

E a piscina continua cheia de ratos...



E a piscina continua cheia de ratos...

Amanhã, 04 de Abril, Agenor de Miranda Araújo Neto completaria 60 anos. Poderíamos, então, chamá-lo de Seu Agenor sem grande risco do vocábulo, o tal senhor, causar estranhamento ou ofensa ao ouvinte. Aos 60 anos começa a famigerada terceira idade e somos oficialmente, creio eu, considerados idosos. Porém, acontece que o tal senhor chamava-se Cazuza desde sempre e mais oficialmente do que o nome em certidão. E Cazuza poderia ser tudo o que quisesse, ele poderia ser muitas coisas. Entretanto, ser um senhor é algo que não me parece plausível para alguém tão exagerado como ele. O destino de Cazuza seria sempre ser menino.

Pois que o menino tinha muito talento, escrevia bem que só e, entre tantas coisas, cantou para que o Brasil mostrasse sua cara.

Brasil, mostra a tua cara.
Quero ver quem paga pra gente ficar assim!
Brasil, qual é o teu negócio? O nome do teu sócio?
Confia em mim.

Amanhã, dia 04 de Abril de 2018, o Brasil colocará o nariz para fora a espiar pela porta entreaberta  e saberemos se nosso ex-presidente, o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, poderá ou não ser preso depois de julgado culpado em segunda instância. Ideologias a parte, já que não considero que qualquer ideologia justifique crimes, não há como ignorar e/ou negar o envolvimento do senhor ex-presidente nos atos de corrupção que ocorreram durante os anos do governo do Partido dos Trabalhadores no Brasil. Da mesma maneira, a bem da verdade, que não há como ignorar e/ou negar o envolvimento do atual presidente em fatos do mesmo calibre. Assim como não há como ignorar e/ou negar o envolvimento em fatos de igual gênero, número e grau do Senhor Fernando Henrique Cardoso, de Fernando Collor de Mello, de José Sarney... o Brasil repete-se num looping injusto e cruel.

Cazuza morreu aos 32 anos em 1990, e a verdade é que pouco mudou em quase 30 anos no que tange às práticas da politica feita em Terra Brasilis. Hoje sabemos mais do que sabíamos sobre a tal cara do país no qual vivemos, somos muito menos inocentes e muito mais descrentes no futuro que nos parece um bocado sombrio visto de onde estamos. E amanhã, dia do aniversário de Cazuza, seja qual for o resultado da tal celeuma, não haverá motivo para comemoração de qualquer coisa que seja. Pois, por cá, passam os anos, até mudam as moscas, mas o fato é que as merdas continuam as mesmas. O tempo não para e a nossa piscina continua cheia de ratos.